My Mad Fat Diary – Uma Série Adolescente que tem Muito a nos Ensinar

My Mad Fat Diary nos mostra que quando se trata de compreender e respeitar o outro (ou até nós mesmos), temos ainda muito o que aprender.

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My Mad Fat Diary é uma série adolescente britânica, baseada no livro My Fat, Mad Teenage Diary, escrito pela Rae Earl. Conta a história de Rae e seus amigos, e as dificuldades enfrentadas por eles no período mais confuso da vida.

A protagonista é uma adolescente gorda – uma das poucas que se vê na televisão, o que já foi motivo suficiente para me deixar curiosa sobre a série. Além disso, é uma personagem gorda que não é apenas alívio cômico, motivo de piada, ou que fica escondida, tímida, à sombra de suas amigas. Pelo contrário: Rae é o centro da narrativa.

Mas não se engane, pois a história não é apenas sobre uma menina gorda. My Mad Fat Diary é uma série tão rica, tão cheia de detalhes, tão honesta (às vezes, dolorosamente honesta) que é impossível não se apaixonar, e não lembrar de como éramos com quinze anos de idade, com todas aquelas nossas inseguranças que, tenho certeza, ainda podem estar rondando por aí. Apesar de tudo isso, a série não traz uma trama apenas sobre auto-estima e auto-aceitação. Esses temas estão presente, sim, e são parte importantíssima da evolução não só de Rae, mas de todos e todas as personagens, mas My Mad Fat Diary consegue ser muito mais do que isso.

A série começa com Rae saindo do hospital psiquiátrico em que esteve internada por quatro meses, após uma tentativa de suicídio. Nesse momento, ela reencontra sua amiga de infância, Chloe, que já está diferente e fez novas amizades. E é a partir deste ponto que a narrativa começa a se desenvolver. Seguimos Rae em suas tentativas de deixar o período que passou no hospital no passado para viver uma vida normal com seus novos amigos, de quem ela tenta esconder seus problemas.

MMFD é extremamente precisa e verdadeira quando trata sobre saúde mental na adolescência. Aliás, ela realmente trata sobre esse assunto com a seriedade que merece, o enfrenta sem medo, sem julgamentos e sem diminuir sua importância.

Uma das maiores dificuldades de Rae é que ela simplesmente não gosta de si mesma, se enxerga como um peso morto no mundo. Mas, ao longo da série, observamos conforme ela vai aprendendo, aos poucos, a aceitar e amar a si mesma. Acompanhamos suas sessões de terapia, onde ela tenta aprender a lidar com a visão e todos os sentimentos ruins que tem consigo, principalmente com relação a seu corpo.

Quando Rae sente que precisa voltar para o hospital pois está tendo problemas, sua amiga Tix tenta convencê-la que voltar não irá solucionar o problema. “Você não gosta de lugar nenhum porque não gosta de si mesma.”

 

A trama acompanha Rae até em seus momentos mais difíceis e vulneráveis. As sessões de terapia, seu relacionamento com seu psiquiatra, o Dr. Kester, assim como sua relação com sua mãe, seu grupo de amigos (que em certos momentos na narrativa nos perguntamos se eles deveriam mesmo ser tão amigos assim), e por último, com ela mesma, são elementos igualmente relevantes e estruturantes da série, e são também o que vai nos ajudar a desenvolver um vínculo com as histórias de cada personagem, fazendo com que nos menos de vinte episódios do total da série, já seja possível sentir como se tivéssemos acompanhado cada uma das pessoas dessa história por uma vida toda.

Rae com seu psiquiatra, em seu esforço para aprender a gostar de si mesma. Uma das cenas mais emocionantes da série. Caiu um cisco no meu olho aqui.

 

Para mim é impossível falar sobre esse seriado sem que o texto fique um pouco pessoal, em algum momento. Eu sinto uma ligação especial com a série, uma conexão diferente, que é decorrente da minha identificação com a personagem principal. Assistir a My Mad Fat Diary me faz lembrar dos meus anos de adolescente, de como eu era tão insegura quanto Rae. Eu consigo ver um pouco de mim nela e no que ela passa, sendo eu também uma mulher gorda que lida com problemas como a depressão (e é claro, de maneira nenhuma ser gorda e ter depressão são necessariamente relacionados), a dificuldade de aceitação e amor próprio, e também a dificuldade de me encontrar em uma sociedade com padrões de beleza tão gordofóbicos.

my mad fat diaryRooney, a atriz que fez Rae na série: “’Se as pessoas não gostam de você por quem você é, elas podem ir se foder’- MMFD.  Isso sempre será relevante. Para mim. E para você.”

 

No entanto, não somente os problemas da protagonista Rae são foco da trama. Cada um/a dos/as personagens têm sua história explorada em algum ponto da narrativa; todas elas interessantes e que prendem o público, além de trabalhar questões tão importantes e sensíveis quanto os problemas da própria Rae: relacionamentos abusivos, sexualidade, distúrbios alimentares etc. Todos eles têm algo a nos ensinar.

Os roteiristas da série foram muito bem sucedidos ao explorar os atributos de cada um dos amigos de Rae: Chloe (a garota magra, linda e popular), Izzy (doce, inocente e adorável), Archie (garoto inteligente, charmoso e o primeiro que desperta o interesse de Rae), Finn (o que faz sucesso com as garotas) e Chop (engraçado e despreocupado, daquele jeito que só adolescentes são). Conforme a história se desenvolve, vemos que eles/as são muito mais do que pensamos à primeira vista. Descobrimos que todos tem também suas inseguranças, seus medos e suas falhas, e tudo isso só faz da série ainda melhor, pois aprendemos que até aquela menina popular da escola que achávamos que não poderia nunca ter problemas de auto-estima, ou com relacionamentos amorosos, tem suas incertezas e fragilidades.

Assim, sem idealizar as amizades, a série é, na minha opinião, uma das que fala sobre a adolescência mais genuinamente, sem fantasiar. Não há aquela relação de melhores amigas/bff sem conflito, como vemos na maioria dos filmes. Não, em My Mad Fat Diary há dúvida, há momentos de egoísmo, há divergências e enfrentamento.

Acredito que o fato de que essa série ter personagens tão verdadeiros e muito bem construídos ao longo da trama traz realismo para a história, fazendo com que seja muito fácil nos identificar e nos emocionar com cada um/a deles/as.

Vale lembrar também que My Mad Fat Diary não é só drama, e apesar do tema principal que aborda e dos inúmeros problemas nada cômicos da protagonista, a série consegue ser genuinamente engraçada, mesmo tratando de assuntos muito delicados. Boa parte das risadas que a série causa vem dos desenhos na tela, que são das pequenas anotações que Rae escreve em seu diário – ela escreve como uma forma de terapia, e vemos seus registros ganharem vida na tela.

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Outro ponto muito positivo na série é que ela explora o tema da sexualidade sem medo e sem papas na língua (mesmo!). É rara a existência de personagens gordas, seja na televisão ou no cinema, que tem uma vida romântica e sexual. Geralmente esse aspecto da vida, essas experiências, são reservadas apenas para as pessoas magras.

E para finalizar, My Mad Fat Diary se passa nos anos 90, entre 1996 e 1998, ou seja, muitas referências, figurino super divertido e uma trilha sonora incrível, cheia daquelas bandas de rock inglesas que a gente adora.

É um seriado adolescente sim, mas que no final consegue ser muito maduro, muito emocionante e muito honesto; e, ainda, extremamente necessário.

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