Jackson Katz: Violência contra a Mulher – Um Problema Masculino
Em um TED Talk imperdível, o educador anti-sexista Jackson Katz entra na raiz do problema da violência contra a mulher: homens.
Durante os 16 dias de ativismo na luta contra a violência à mulher, blogs envoltos pelo #feminismonerd se propuseram a discutir as problemáticas em torno da representação de mulheres como uma matriz que reitera os discursos de violência e ódio, quanto veículos que visibilizam a discussão. Sabemos que apenas a exposição e discussões possibilitam o combate direto, a resolução e identificação do problema. Como reitera a escritora e teórica feminista Audre Lorde: “é preciso transformar o silêncio em linguagem e ação”.
Ao longo das últimas duas semanas, trouxemos textos que refletiram sobre a violência contra a mulher na mídia como parte de uma iniciativa nerd pelos 16 dias de ativismo contra esse tipo de violência (confira o nosso Twitter e Facebook para acompanhar as postagens dos outros blogs!). Hoje, para fechar esse ciclo maravilhoso de postagens, eu quis trazer uma perspectiva masculina sobre a violência contra a mulher na forma de um TED Talk bastante certeiro com o educador anti-sexista Jackson Katz.
Educador, autor, cineasta e acadêmico, Jackson Katz é pioneiro na área de educação para a prevenção de violência de gênero e co-fundador do Mentors in Violence Prevention, uma organização que recruta homens na luta pelo fim da violência contra a mulher. Com mais de vinte anos de atuação, a organização se tornou referência na prevenção de violência sexual e doméstica nos EUA, atuando principalmente em universidades, organizações esportivas, escolas, centros comunitários e em todos os principais ramos do complexo militar americano.
Nesse TED Talk, Katz argumenta que o problema da violência contra a mulher, embora seja frequentemente invisibilizado e tratado como um problema feminino, é na verdade um problema essencialmente masculino. Afinal, ele só existe porque homens agridem mulheres, certo? Com isso, mostrando como esse comportamento violento está atrelado a definições tóxicas de masculinidade, Katz reposiciona a questão e se concentra no foco do problema, perguntando: qual o problema dos homens?
Veja o TED Talk legendado e a transcrição completa abaixo.
Transcrição:
Eu vou compartilhar com vocês uma perspectiva de mudança de paradigma sobre as questões de violência de gênero — agressão sexual, violência doméstica, abusos no relacionamento, assédio sexual, abuso sexual de crianças. Toda essa gama de problemas, que eu irei chamar daqui para frente de “questões de violência de gênero”, elas têm sido encaradas como questões femininas, em que alguns homens bons ajudavam, mas eu tenho um problema com esse ponto de vista e não aceito isso. Eu não vejo isso como questões femininas que são auxiliadas por homens. Na verdade, eu vou discutir que essas são questões masculinas, primeira e principalmente.
(Aplausos)
Obviamente, claro, também são problemas femininos, eu entendo isso, mas chamar a violência de gênero de “questão feminina” é parte do problema, por inúmeras razões.
A primeira é que ela dá aos homens uma desculpa para não prestar atenção. Certo? Muitos homens escutam o termo “questões femininas” e nós tendemos a não prestar atenção, e nós pensamos: “Ei, eu sou homem. Isso é para garotas”, ou “Isso é para mulheres”. E muitos homens, literalmente, não vão além da primeira frase, como resultado. É quase como se um chip em nosso cérebro fosse ativado e os caminhos neurais mudassem a nossa atenção para uma direção diferente, quando escutamos o termo “questões femininas”. Isso também é verdade, a propósito, para a palavra “gênero”, porque muitas pessoas escutam a palavra “gênero” e acham que isso significa “mulheres”. Então eles pensam que questões de gênero são sinônimos de questões femininas. Existe uma certa confusão sobre o termo “gênero”.
E na verdade, deixem-me ilustrar essa confusão com uma analogia. Vamos falar por um momento sobre raça. Nos Estados Unidos, quando ouvimos a palavra “raça”, muitas pessoas acham que significa “afro-americano”, “latino”, “asiático-americano”, “nativo americano”, “sul-asiáticos”, “descendentes das ilhas do Pacífico” e assim por diante. Muitas pessoas, quando escutam a palavra “orientação sexual”, pensam que isso significa “gay”, “lésbica”, “bissexual”. E muitas pessoas, quando escutam a palavra “gênero”,pensam que ela significa “mulheres”.
Em todos estes casos, o grupo dominante não presta atenção.Certo? É como se pessoas brancas não tivessem nenhum tipo de identidade racial ou pertencessem a alguma categoria racial ou conceito, como se indivíduos heterossexuais não tivessem orientação sexual,como se os homens não tivessem gênero. Essa é uma das maneiras de os sistemas dominantes se manterem e se reproduzirem, ou seja, é como dizer que o grupo dominante raramente é desafiado a pensar sobre sua dominância, porque essa é uma das características chave do poder e privilégio. A habilidade de não ser examinado, a falta de introspecção, de fato, tornando-se invisível, em grande medida, no discurso sobre questões que são primariamente sobre nós. E é fantástico como isso funciona com a violência doméstica e sexual, como os homens foram apagados de tantas partes do diálogo sobre um tema que diz respeito essencialmente aos homens.
E vou ilustrar o que estou falando, usando velha tecnologia. Prefiro as coisas à moda antiga em alguns aspectos fundamentais Eu trabalho — faço filmes — e trabalho com alta tecnologia, mas ainda sou conservador, como educador, e quero compartilhar com vocês esse exercício que ilustra, no nível da estrutura de uma frase, como nós pensamos. Literalmente, a forma como usamos a linguagem conspira para manter nossa atenção longe dos homens. É sobre violência doméstica, em particular, mas você pode utilizar em questões análogas. Vem do trabalho da linguista feminista Julia Penelope.
Começa com uma frase básica: “João espancou Maria”. Essa é uma boa frase. João é o sujeito. Espancou é o verbo. Maria é o objeto. Boa frase. Agora, vamos para a próxima frase, que diz a mesma coisa, mas na voz passiva. “Maria foi espancada por João.” Agora, muita coisa aconteceu nesta frase.Mudamos de “João espancou Maria” para “Maria foi espancada por João.” Mudamos nosso foco, nesta última frase, de João para Maria. e dá para ver que João está quase no fim da frase. Bem, quase caindo do mapa da nossa mente. Na terceira frase, João caiu, e ficamos com “Maria foi espancada”, Agora é somente Maria. Não estamos nem pensando em João. O foco está totalmente em Maria. Ao longo da última geração, o termo que usamos, sinônimo de “espancada”, é “agredida”. Então ficamos com “Maria foi agredida.” E a frase final desta sequência, a partir das anteriores, é “Maria é uma mulher agredida.”.
Veja, a verdadeira identidade de Maria — “Maria é uma mulher agredida” — é aquilo que João causou a ela no primeiro exemplo. Mas mostramos que João há muito não faz parte da conversa. Nós que trabalhamos no campo da violência doméstica e sexual sabemos que culpar a vítima é algo difundido nesse campo, o que significa culpar a pessoa que sofreu o abuso, em vez de culpar a pessoa que cometeu o abuso. E dizemos coisas do tipo: “Por que essas mulheres saem com esses homens? Por que sentem atração por esses homens? Por que sempre voltam para eles? O que ela estava usando naquela festa? Que idiotice a dela. Por que ela estava bebendo com aquele grupo de homens naquele quarto de hotel?”
Isto é culpar a vítima e há inúmeras razões para isto, mas uma delas é que toda a nossa estrutura cognitiva é programada para culpar as vítimas. É inconsciente. Toda a nossa estrutura cognitiva é programada para fazer perguntas sobre as mulheres e suas escolhas e o que elas estão fazendo, pensando e vestindo. E não vou brigar com as pessoas que fazem perguntas sobre as mulheres, certo? É algo legítimo de se perguntar. Mas sejamos claros: fazer perguntas sobre a Maria não vai nos levar a lugar algum, em termos de prevenir a violência. Precisamos fazer um tipo diferente de perguntas. Vocês sabem onde quero chegar com isso, não? As perguntas não são sobre a Maria. São sobre o João. Elas incluem coisas como: “Por que o João agride a Maria? Por que a violência doméstica ainda é um grande problema nos Estados Unidos e em todo o mundo? O que está acontecendo? Por que tantos homens abusam física, emocional e verbalmente, e de outras maneiras, das mulheres e garotas, e dos homens e garotos que eles dizem amar? O que há de errado com eles? Por que tantos homens adultos abusam sexualmente de meninas e meninos? Por que isso é um problema comum em nossa sociedade e em todo o mundo, hoje em dia? Por que ouvimos constantemente notícias de novos escândalos ocorridos em instituições importantes, como a Igreja Católica ou o programa de futebol da Penn State ou o Boy Scouts of America, de novo, e de novo, e de novo, e em comunidades locais em todo o país e em todo o mundo, certo?
Ouvimos notícias assim o tempo todo. O abuso sexual de crianças. O que está acontecendo com os homens? Por que tantos homens estupram mulheres, em nossa sociedade e em todo o mundo? Por que tantos homens estupram outros homens? O que está acontecendo com os homens? E qual o papel das várias instituições, em nossa sociedade, que estão ajudando a produzir homens abusadores, em ritmo pandêmico. Porque não se trata de agressores individuais. É uma forma ingênua de entender um problema social muito mais profundo e mais sistemático. Sabe, os agressores não são monstros que saem do pântano e entram na cidade para fazer seu trabalho sujo e depois retornam para a escuridão. É uma visão muito ingênua, não? Os agressores são muito mais normais que isso, e mais comuns do que isso.
Então, a questão é: o que estamos fazendo aqui em nossa sociedade e no mundo? Qual é a participação de diversas instituições na geração de homens agressores? Qual o papel de sistemas religiosos, da cultura dos esportes, da cultura da pornografia, da estrutura familiar, da economia e como essas coisas se relacionam, e da raça e da etnia e como isso está relacionado? Como tudo isso influi? Uma vez que começamos a fazer essas conexões e a fazer estes grandes e importantes questionamentos, aí podemos falar sobre como sermos transformadores, em outras palavras: como podemos fazer diferente? Como podemos mudar as práticas? Como podemos mudar a socialização de rapazes e as definições de masculinidade que levam aos atuais resultados?
São esses questionamentos que precisamos fazer e o trabalho que precisamos realizar, mas se estivermos eternamente focados naquilo que as mulheres estão fazendo e pensando em relacionamentos ou em outras coisas, não vamos chegar ao ponto. Bom, entendo que muitas mulheres que têm tentado falar abertamente sobre esses problemas, hoje e ontem e há anos e mais anos,geralmente são repreendidas por causa disso. São chamadas de coisas desagradáveis como “inimigas de homem” ou que são “contra os homens”, e são chamadas lamentável e ofensivamente de “feminazis”. Não é? E você sabe o que isso tudo significa? Chama-se “mate o mensageiro”. É porque as mulheres que se posicionam e falam abertamente por si mesmas e por outras mulheres, bem como por homens e meninos, ouvem que devem se sentar e se calar, deixar o sistema atual intacto, porque não gostamos quando as pessoas criam problemas. Não gostamos quando as pessoas enfrentam o nosso poder. Basicamente, é melhor se sentarem e se calarem. Mas graças a Deus que as mulheres não fizeram isso. Graças a Deus que vivemos em um mundo onde existem tantas mulheres líderes que podem combater isso.
Mas um dos vigorosos papéis que os homens podem exercer nesse trabalho é que podemos dizer algumas coisas que, às vezes, as mulheres não podem dizer, ou, melhor, podemos ser ouvidos dizendo algumas coisas que, geralmente, as mulheres não podem ser ouvidas dizendo.Agora, reconheço que isso é um problema. É sexismo. Mas é a verdade. Então, umas das coisas que digo aos homens e aos meus colegas, e sempre digo isto, é que precisamos de mais homens com força e coragem de tomar atitude e dizer coisas como as que estou dizendo, e de se colocar ao lado das mulheres e não contra elas, fingindo que, de alguma forma, essa é uma guerra entre os sexos e outras besteiras como esta. Vivemos juntos neste mundo. A propósito, uma das coisas que realmente me aborrecem, no que diz respeito a algumas das retóricas contra feministas e pessoas que criaram, em todo o mundo, movimentos contra a crise de estupro e agressão às mulheres é que, de alguma forma, como eu disse, é como se elas fossem anti-homens. E quanto a todos os meninos que são profundamente afetados de forma negativa por algo que algum adulto esteja fazendo contra suas mães, contra eles, contra as irmãs deles? E quanto a todos esses meninos? E quanto a todos os rapazes e meninos que foram traumatizados pela violência de homens adultos?
Sabem de uma coisa? O mesmo sistema que produz homens que agridem mulheres produz homens que agridem outros homens. E se queremos falar de vítimas do sexo masculino, vamos falar de vítimas do sexo masculino. A maioria das vítimas de violência, do sexo masculino, são vítimas da violência de outros homens. Então, é algo que tanto mulheres quanto homens têm em comum. Somos todos vítimas da violência dos homens. Então, somos afetados diretamente por isso. sem mencionar o fato de que a maioria dos homens que conheço têm mulheres e filhas com as quais nos importamos muito, em nossas famílias e em nossos círculos de amizade e em qualquer outro ambiente. Temos muitos razões pelas quais precisamos que os homens falem abertamente. Parece óbvio quando dizemos isso em voz alta. Não?
Bem, a essência do trabalho que realizo e que meus colegas realizam na cultura dos esportes e no militarismo americano, nas escolas, fomos pioneiros nessa abordagem, chamada de abordagem do espectador, para gerar a prevenção da violência. Quero somente mostrar a vocês os principais pontos dessa abordagem, porque é uma grande mudança temática, embora haja diversos poréns, mas o mais importante é, em vez de enxergar os homens como agressores e as mulheres como vítimas, ou as mulheres como agressoras e os homens como vítimas, ou qualquer outra combinação assim… Estou usando o sistema binário de sexos. Sei que existe mais do que homens e mulheres, há mais do que macho e fêmea. E há mulheres que são agressoras e, é claro, há homens que são vítimas. Sabe, há toda uma gama de possibilidades.Mas, em vez de enxergar as coisas à moda do sistema binário, enfocamos todos, como o que chamamos de espectadores, e entende-se por espectador qualquer pessoa que não seja um agressor ou uma vítima em determinada situação. Em outras palavras, os amigos, parceiros de equipe, colegas,colegas de trabalho, membros da família, todos entre nós que não estejam diretamente envolvidos relação de abuso. Mas estamos inseridos em relacionamentos sociais, de família, trabalho, escola e outros relacionamentos culturais de parceria, com pessoas que talvez estejam numa situação assim. O que fazer? Qual é a nossa bandeira? Como contestamos nossos amigos? Como apoiamos nossos amigos? Mas como não permanecemos calados diante de uma situação de abuso?
Bom, no que se refere aos homens e à cultura masculina, o objetivo é fazer com que os homens que não são agressores contestem os homens que são. E quando digo agressor, não me refiro apenas aos homens que batem em mulher. Não estamos apenas dizendo que um homem cujo amigo esteja agredindo sua namorada precisa impedir o cara no momento do ataque. Essa é uma forma ingênua de criar mudança social. É algo constante, estamos tentando fazer com que os homens impeçam uns aos outros. Então, por exemplo, se você é homem e está num grupo de homens jogando poker, conversando, se divertindo, sem a presença de mulheres, e outro cara faz um comentário sexista, ou degradante, ou vexatório sobre as mulheres, ao invés de compactuar com a piada ou de fingir que não a ouviu, precisamos que os homens digam: “Ei, isso não tem graça. Sabe, você poderia estar falando da minha irmã. Dá para fazer piada sobre outra coisa? Ou poderia falar sobre outra coisa? Não gosto desse tipo de conversa.”
Da mesma forma, caso você fosse branco e uma outra pessoa branca fizesse um comentário racista, você gostaria, espero, que outros brancos repreendessem essa prática racista de outro colega branco. Como no caso do heterossexismo. Se você é heterossexual e você mesmo não adota um comportamento abusivo e vexatório contra pessoas com orientações sexuais diferentes, se você não disser algo para repreender outros heterossexuais que fizerem isso, então, de certa forma, não seria o seu silêncio uma forma de conivência ou concordância?
Bem, a abordagem do espectador é tentar fornecer às pessoas ferramentas para interromperem esse processo e para se manifestarem e criarem um clima e uma cultura de parceria, onde o comportamento abusivo seja visto como inaceitável, não apenas porque é ilegal, mas porque é errado e inaceitável na cultura da parceria. E se conseguirmos fazer com que os homens que agem de maneira sexista percam status, rapazes e meninos que agem de maneira sexista e vexatória contra meninas e mulheres, bem como contra outros meninos e homens, consequentemente, percam status por causa disso… adivinhem? Veremos uma queda radical da agressão. Porque o agressor típico não é doente e perturbado. É um cara normal em todos os aspectos.
Bem, entre as várias grandes coisas que Martin Luther King disse em sua curta vida foi: “No fim, o que mais vai doer não são as palavras dos nossos inimigos, mas o silêncio de nossos amigos.” “No fim, o que mais vai doer não são as palavras dos nossos inimigos, mas o silêncio de nossos amigos.” Tem havido silêncio demais na cultura masculina a respeito dessa tragédia persistente, que é a violência dos homens contra mulheres e crianças, não? Tem havido silêncio demais.
O que estou dizendo é que precisamos quebrar esse silêncio e precisamos que mais homens façam isso. Claro, é mais fácil falar do que fazer, porque estou falando isso agora, mas digo a vocês que não é fácil, no mundo masculino, os homens enfrentarem uns aos outros, o que é uma das razões pelas quais parte da mudança de paradigma que tem de acontecer é não somente entender essas questões como questões masculinas, mas também são questões de liderança para os homens. Porque, no fim, a responsabilidade de se posicionar a respeito desses problemas não deveria cair nos ombros de meninos e adolescentes no ensino médio ou na faculdade, mas sim dos adultos com poder. Os adultos que têm poder são aqueles que devem ser responsabilizados por serem os cabeças nessas questões porque, quando alguém se manifesta na cultura dos parceiros e enfrenta e contesta, ele ou ela está sendo líder, na verdade, certo? Mas numa escala maior, precisamos que mais homens adultos com poder comecem a priorizar essas questões, e ainda não vimos isso acontecer, vimos?
Bom, eu estava num jantar, alguns anos atrás, e trabalho amplamente com as forças armadas dos Estados Unidos, todos os serviços. E eu estava nesse jantar e uma mulher me disse — acho que ela se achava um tanto esperta — ela disse: “Há quanto tempo você está fazendo trabalho de sensibilização com os marinheiros?” Eu disse: “Com todo o devido respeito, não faço trabalho de sensibilização com os marinheiros. Eu dirijo um treinamento de liderança no Corpo da Marinha.” Sei que minha resposta foi um tanto pomposa, mas é uma distinção importante, porque não creio que precisamos de trabalho de sensibilização. Precisamos de treinamento de liderança, porque, por exemplo, quando um treinador profissional ou um gerente de uma equipe de basebol ou de futebol — e também trabalhei amplamente nessa área — faz um comentário sexista, faz um afirmação homofóbica, faz um comentário racista, haverá discussões nos blogs de esportes e programas de esportes no rádio. Alguns vão dizer: “Bem, ele precisa de um trabalho de sensibilização”. E outras vão dizer: “Ah, pare com isso. Sabe, é o politicamente correto que perdeu o controle, e acabou dizendo uma estupidez. Deixa pra lá.”
Eu digo que ele não precisa de um trabalho de sensibilização. Ele precisa de treinamento de liderança, porque está sendo um líder ruim, porque, numa sociedade com diversidade de gênero e diversidade sexual — (Aplausos) — e diversidade racial e étnica, se você faz esse tipo de comentário, está falhando em sua liderança. Se pudermos argumentar da maneira que estou fazendo,com homens e mulheres poderosos em nossa sociedade, em todos os níveis de autoridade institucional e de poder, isso vai mudar, isso vai mudar o paradigma de pensamento das pessoas.
Sabe, por exemplo, eu trabalho muito com atletismo em faculdades e universidades em toda a América do Norte.Sabemos tanto sobre como prevenir a violência sexual e doméstica, não? Não há desculpas para que uma faculdade ou universidade não tenha treinamento de prevenção à violência doméstica e sexual,obrigatória para todos os alunos atletas, treinadores, administradores, como parte do processo educacional deles. Sabemos o suficiente para percebermos que podemos facilmente fazer isso. Mas sabe o que está faltando? A liderança. Mas não a liderança de alunos atletas. É a liderança do diretor de atletismo, do reitor da universidade, das pessoas no comando, que decidem sobre os recursos e que decidem sobre as prioridades do ambiente institucional. É uma falha, na maioria dos casos, da liderança dos homens.
Vejam a Penn State. A Penn State é a mãe de todos os momentos de aprendizagem da abordagem do espectador. Houve tantas situações nesse ambiente, onde homens em posições de poder deixaram de agir para a proteção de crianças, neste caso, meninos. É realmente inacreditável. Mas quando você vê de perto, percebe que existem pressões sobre os homens. Há restrições sobre os homens, dentro da cultura de parceria, razão pela qual precisamos encorajar os homens a romper com essas pressões. E uma das formas de fazer isso é dizer que há muitos homens que se importam muito com essas questões. Sei disso. Trabalho com homens e tenho trabalho com dezenas de milhares,centenas de milhares de homens, há muitas, muitas décadas. É assustador, quando penso nisso. Quantos anos… Mas há tanto homens que se importam tanto com essas questões, mas se importar muito não é o bastante. Precisamos de mais homens com a valentia, com a coragem, com a força, com a integridade moral para romper o silêncio conivente e contestar uns aos outros e se posicionar a favor das mulheres, não contra elas.
A propósito, devemos isso às mulheres. Sem dúvida. Mas também devemos isso aos nossos filhos. Também devemos isso a jovens rapazes que estão crescendo, em todo o mundo, em situações onde não fizeram a escolha de ser homem numa cultura que os ensina que a masculinidade é assim. Eles não escolheram isso. Nós, que temos escolha, temos oportunidade e também responsabilidade para com eles. Espero que, no futuro, homens e mulheres, trabalhando juntos, possam dar início à mudança e à transformação que vai acontecer, para que as gerações futuras não tenham o nível de tragédias com o qual lidamos diariamente. Sei que é possível fazermos isso. Podemos fazer melhor. Muito obrigado. (Aplausos)
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