Star Wars: Os Últimos Jedi é Bem Consciente em Relação à Representatividade Feminina

Colocando mulheres bem construídas em todos os pontos de sua narrativa, a franquia Star Wars mostra que a representatividade de mulheres é valiosa na receita para o sucesso.

*Contém alguns spoilers*

Leia, Rey, Holdo, Rose, Maz, Phasma. Considerando o cenário da maioria dos filmes sci-fi, só a lista de personagens femininas de destaque em “Os Últimos Jedi” já dá a letra de uma película que tomou decisões muito conscientes em termos de representatividade feminina. Mais do que isso, este emplacou uma posição entre os três filmes de maior bilheteria de 2017 tendo uma mulher como protagonista. Mesmo fazendo parte de uma franquia que no seu passado já teve como personagem principal uma princesa de biquíni pedindo socorro.

Nessa nova trilogia, a franquia toma a decisão de mudar a lógica com que tinha operado no passado, não só com uma protagonista mulher, mas tratando-a de maneira diferente. Rey deixa bem claro que não precisa ser salva e traz em si o poder jedi, que parecia ser exclusividade dos personagens masculinos até então. Além disso, trazendo Leia como General Organa, à frente da resistência, Star Wars também compensa erros passados. Foi um grande passo, considerando que, na trilogia original, personagens femininas que não são Leia somam exatos 63 segundos de falas*.

Rey: abrindo o caminho para um novo tipo de mulher no sci-fi.

 

Com “Os últimos Jedi” a franquia continua seguindo em frente ao trazer mais personagens femininas do que nunca, adicionando complexidade e diversidade ao cenário. Com Rose Tico (Kelly Marie Tran), a saga amplia a sua compreensão por incluir uma mulher asiática fora do estereótipo. E por conta do papel que Rey teve no filme anterior, o roteiro não precisa que a personagem fique se auto afirmando como independente todo o tempo, fazendo com que a dinâmica com Finn fique ainda melhor.  Mesmo quando o interesse romântico se torna parte da equação, ele não toma conta da narrativa, nem apaga a importância da personagem. Resta saber se vão sustentar essa dinâmica no próximo filme.

Já a Capitã Phasma, apresentada em “O Despertar da Força” e interpretada por Gwendoline Christie, também é um elemento importante para a trama, uma vez que o Império, tão dominado pelos homens, tem uma mulher como Capitã. Por mais que ela não mostre o rosto, a voz feminina deixa bastante claro quem está por trás da armadura e isso nunca vira motivo para que os outros personagens desconfiem do seu poder. Mesmo escassa, é uma presença feminina marcante “do outro lado da força”, para que as mulheres não sejam nem apenas as “mocinhas” e nem somente vilãs.

Mas para mim, o destaque principal de “Os Últimos Jedi” é a Vice-Almirante Holdo, interpretada por Laura Dern (encerrando 2017 brilhantemente depois de sua também maravilhosa personagem em Big Little Lies). E me dói muito dizer isso, já que eu amo o personagem e o ator, mas Poe Dameron é um belíssimo exemplo do clássico  “esquerdomacho”. Na cena em que somos apresentadas à Holdo, Poe se surpreende ao descobrir que é uma mulher quem está por trás de um feito de coragem em uma batalha. Depois disso, ele desconfia da sua estratégia, a desobedece inúmeras vezes e sempre acha que está fazendo um trabalho melhor do que o dela.

Amigo, assim não dá pra te defender

 

A almirante, por sua vez, não só aguenta o mansplaining e todo o desrespeito que ele tem por ela com muita força, como também o prova errado diversas vezes. Essa foi uma das escolhas mais poderosas aqui: a de mostrar um personagem masculino que o público conhece como um dos mais poderosos símbolos de heroísmo da nova saga, cometendo o erro de não confiar em uma superior mulher. A conclusão dessa trama do filme, para mim, é uma das mais bonitas de todos os filmes Star Wars.

E falando em conclusões bonitas, não dá para falar de Os Últimos Jedi sem notar o belíssimo legado que deixa para o último papel de Carrie Fisher no cinema. O filme faz constantes homenagens à atriz durante as aparições da General Organa, que continua a ser a liderança mais inspiradora da Resistência, livre de estereótipos e sem perder a essência da personagem que a fez famosa durante todos esses anos.

Carrie para sempre em nossos corações.

 

Até esse ponto do texto eu dediquei um ou mais parágrafos para as principais personagens femininas da trama e, olha que beleza – ainda sobrou mulher. Maz Kanata (Lupita Nyong’o) e as pilotos Paige (Ngô Thanh Vân) e Tallie Lintra (Hermione Corfield) são alguns dos papéis secundários do filme que demonstram uma preocupação da produção em ter representação feminina em diversas esferas da narrativa. Mesmo assim, se Star Wars quer realmente ser um grande campeão da representatividade no cinema, precisa parar de fazer queerbaiting e nos entregar logo um casal LGBT, além de incluir mulheres negras entre suas personagens principais (a personagem de Lupita Nyong’o é quase 100% computação gráfica). Ainda temos um filme inteiro e mais algumas histórias paralelas, então vamos ficar na expectativa para ver isso em prática.

Ainda há, claro, os que dizem que ter mulheres como protagonistas é um “risco”. Vale lembrar, no entanto, que “Os Últimos Jedi” foi um dos filmes com maior bilheteria de 2017, e entrou na lista dos top 10 muito bem acompanhado, junto com A Bela e a Fera e Mulher Maravilha. Nos EUA, aliás, esses três foram os filmes de maior bilheteria do ano, enquanto mundialmente, A Bela e a Fera ficou em primeiro, enquanto Star Wars ficou em terceiro. A mim me parece bastante compensador.  


Leia também Rogue One e a Persistência do Princípio Smurfette.

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