Livro x Filme – Loras Tyrell e a Estereotipização de Personagens LGBT em Game of Thrones
Surpresa! Game of Thrones tem um problema com a forma como retrata seus personagens LGBT.
*Contém spoilers de todas as temporadas e dos livros 1, 2 e 5.
**Este texto faz parte da nossa série Livro x Filme, que traz reflexões principalmente sobre personagens femininas da literatura, comparando-as com as suas adaptações para o cinema e televisão e identificando ideais e crenças machistas que muitas vezes pautam as diferenças que vemos das páginas para as telas. No momento, o foco da série está nos personagens de Game of Thrones e nos livros nos quais ela é baseada. Para ler os outros textos escritos até agora, visite a seção Livro x Filme.
Antes de mais nada, deixa eu dar os parabéns para você que é veterano dos nossos textos Livro x Filme por ter sobrevivido ao texto sobre as Serpentes de Areia e estar aqui de novo, pronto pra outra. Acredite em mim, eu sei que não foi fácil.
Conseguimos.
Bom, nesse novo texto, decidi aproveitar que estamos no mês do Orgulho LGBT para me desviar um pouco das personagens femininas de Game of Thrones e falar de um dos poucos personagens LGBTs da série, e de como ele se compara com sua contraparte literária: Loras Tyrell.
Pois bem, vamos começar falando sobre o personagem na série para depois passar para os livros. Para fazer isso eu vou dividir os momentos do Loras na televisão em dois blocos principais e muito diferentes entre si: Antes da Morte do Renly e Depois da Morte do Renly.
O bloco Antes da Morte do Renly começa com Loras logo na primeira temporada como um cavaleiro galante e habilidoso, único filho homem da Casa Tyrell e, portanto, seu principal herdeiro. Apesar de muito popular entre as mulheres, logo descobrimos que ele tem um relacionamento amoroso com Renly Baratheon, o irmão mais novo do rei Robert.
É principalmente em cenas com Renly que conhecemos mais da personalidade e caráter de Loras. Em um momento de intimidade, os dois conversam sobre suas existências mimadas como filhos de duas das maiores Casas de Westeros, e Loras comenta que Renly daria um rei muito melhor do que Robert, ou mesmo Stannis e Joffrey. Mais pra frente, quando Robert morre, Renly resolve que isso faz bastante sentido e, com o apoio da Casa Tyrell, se declara rei dos Sete Reinos, em oposição a Stannis e Joffrey. Para firmar a aliança com os Tyrell, ele se casa com a irmã de Loras, Margaery, que sabe do relacionamento dos dois e entende quando Renly não quer se deitar com ela.
A alegria dura pouco, no entanto, porque logo temos aquela famosa cena em que a Melisandre quase mata o Davos de susto ao parir uma sombra assassina no formato do Stannis que vai direto até a tenda do Renly e o mata antes que qualquer batalha entre eles aconteça. Na sequência temos uma cena em que Loras vela desolado o corpo de Renly e diz a Margaery e Mindinho que tem certeza de que Stannis é o culpado e que vai se vingar. A Casa Tyrell se alia então a Casa Lannister contra o Stannis, e garante a sua vitória na Batalha de Água Negra, em que Loras luta envergando a armadura de Renly.
Tchããã
E com isso encerramos o bloco Loras Antes da Morte do Renly, uma época que nos encheu de esperança por trazer dois personagens gays que, apesar de um tantinho hipersexualizados, ainda assim não eram reduzidos unicamente à sua sexualidade e tinham uma caracterização mais complexa, além de terem papel de destaque em uma trama central que nada tinha a ver com o fato de eles serem gays. É nesse bloco que conhecemos Loras como um cavaleiro um tanto arrogante sim, mas também orgulhoso, ambicioso e extremamente competente (ele só perde na luta para a Brienne, que sabemos que é muito foda).
Lamento, mas é verdade.
Infelizmente, essa época chega ao fim com a morte do Renly, quando toda a caracterização e desenvolvimento do Loras como personagem passa a ser resumida a: ele é gay.
Vejamos.
Depois da Batalha de Água Negra, o Joffrey quer recompensar os Tyrell por terem lhe garantido a vitória, e Loras pede a ele que se case com sua irmã Margaery, para unir as duas famílias. Joffrey aceita, o que livra a pobre Sansa do seu compromisso com ele. Com isso, os Tyrell (que não são bobos nem nada) decidem casar Sansa com ninguém menos que Loras, o que nos proporciona algumas cenas dela babando sobre ele (coincidentemente, é a partir daí que a caracterização da Sansa também começa a descer pelo ralo), enquanto ele age de maneira desinteressada. E para garantir que ninguém em casa esqueça que o personagem é gay, os roteiristas fizeram questão de incluir um diálogo em que eles discutem o casamento e Loras parece mais empolgado com a organização da festa do que com a noiva. Porque, haha, ele é gay, né gente!
Divagando sobre broches.
Na sequência, provavelmente atormentados porque não ia dar para ficar inventando interesses estereotipicamente gays para o personagem para sempre, os roteiristas introduzem nada menos que um novo interesse amoroso para ele: Olyvar (que na verdade não passa de um espião do Mindinho). Com isso, somos presenteados com uma boa dose de hipersexualização e planificação do personagem, que a partir daí é mostrado ou na cama com Olyvar, ou trocando olhares safados com o Oberyn, ou levando foras da Cersei (quando o noivado com a Sansa não vai pra frente, o Tywin oferece a filha no seu lugar).
As coisas continuam dessa forma até a morte de Tywin, quando o noivado de Loras com Cersei é interrompido, para a felicidade dos dois. Ele continua então curtindo a vida com muito sexo com Olyvar até o momento em que a Fé Militante o prende por, você adivinhou, ser gay.
E é aí que o desenvolvimento do personagem morre de vez, pois se antes da sua prisão ainda existia a possibilidade de Loras ter algum tipo de caracterização além de sua sexualidade, depois dela isso se torna impossível, já que toda a história do aprisionamento dos irmãos Tyrell acontece justamente por ele ser gay. Desse momento em diante, vemos Loras completamente quebrado, uma sombra do que foi no passado, e um acessório na trama da Cersei e da Margaery.
As cenas entre os dois irmãos são muito tristes e belas, mas não precisava ser desse jeito.
O final vocês já sabem: Loras admite toda a culpa por ser quem é, abre mão de seus títulos e herança, tem a testa marcada a faca pela Fé Militante, e em seguida é explodido junto a sua irmã, pai e mais uma cambada de gente pelo fogovivo da Cersei.
Certo então, como vimos, o desenvolvimento do Loras como personagem estava indo até que bem até a morte do Renly, que marcou o começo do fim da sua caracterização. Mas e nos livros, é muito diferente?, você pergunta.
Bastante. No começo, o personagem dos livros é bem parecido com o da série nas primeiras temporadas. Loras é um jovem rapaz muito galante e excelente guerreiro. Ele ganha uma justa contra o Montanha, tal como na série; é salvo pelo Cão de Caça, tal como na série; se alia ao Renly quando este se declara rei, tal como na série.
Até aí, ok GoT.
Uma grande diferença, no entanto, é que até pouco antes do Renly morrer, a relação entre os dois pode muito bem ser confundida com uma linda amizade por muitos leitores. Isso porque o relacionamento entre eles nunca é abertamente mostrado nos livros, apenas insinuado ou comentado pela narrativa e pelos outros personagens:
“- O javali ficou com Robert e eu fiquei com Margaery. Ficará feliz por saber que chegou às minhas mãos donzela.
– Na sua cama é provável que morra donzela.” [Discussão entre Renly e Stannis]
(…)
“De tempos em tempos, Rei Renly dava de comer a Margaery algum pedaço especial, com a ponta da adaga, ou se inclinava para colocar o mais leve dos beijos no seu rosto, mas era com Sor Loras que dividia a maior parte dos gracejos e confidências.”
(…)
“- Talvez fizesse bem em rezar também – ela acrescentou.
– Por uma vitória?
– Por sabedoria.
Renly soltou uma gargalhada.
– Loras, fique e ajude-me a rezar. A última vez foi há tanto tempo que me esqueci de como se faz. Quanto ao resto de vocês, quero todos os homens em seus lugares à primeira luz da aurora, armados, com as armaduras postas e montados. Daremos a Stannis uma alvorada de que não se esquecerá tão cedo.” [Em conversa com Catelyn Stark]
As pistas são várias, mas é só quando Renly morre que realmente temos uma noção do que significava o relacionamento entre eles. A começar pela reação de Loras logo que Renly é morto, que é a de ter um acesso de fúria e matar dois de seus companheiros da guarda real, Sor Robar Royce e Sor Emmon Cuy, que deixaram Brienne, a suposta assassina, escapar. Depois disso, seu luto é profundo demais para uma simples amizade, e nunca chega a passar. Tanto que ele faz então algo que seria impossível na série: quando Joffrey pede como ele quer ser recompensado por seu papel na batalha de Água Negra, Loras pede para ingressar na Guarda Real. Isso porque, ao contrário da série, Loras não é herdeiro dos Tyrell nos livros, pois possui mais dois irmãos mais velhos. Mais tarde, Tyrion o questiona sobre sua decisão, o que revela um pouco mais sobre o personagem:
“- Se perdoa a pergunta, sor…por que é que alguém escolhe se juntar à Guarda Real com dezessete anos?
– O príncipe Aemon, o Cavaleiro do Dragão, proferiu os votos aos dezessete – disse Sor Loras -, e o seu irmão Jaime era ainda mais novo.
– Eu conheço os motivos deles. Quais são os seus? A honra de servir junto a modelos de cavalaria como Meryn Trant e Boros Blount? – deu ao rapaz um sorriso zombeteiro. – Para defender a vida do rei, desistiu da sua. Abriu mão de suas terras e títulos, perdeu a esperança num casamento, em filhos…
– A Casa Tyrell continua por meio de meus irmãos – disse Sor Loras – Não é necessário que um terceiro filho se case ou se reproduza.
– Não é necessário, mas há quem ache isso prazeroso. E o amor?
– Depois de o sol se pôr, não há vela que possa substituí-lo.”
“Não é justo!” – Eu lendo essa passagem.
E isso basicamente limita todo o romance experimentado por Loras nos livros às suas experiências com o Renly. Seu luto nunca realmente desvanece, e ao invés de encarnar estereótipos hipersexualizados, ele opta por se abster completamente de qualquer relacionamento. Em alguns momentos temos novas amostras de seus sentimentos. Quando Brienne aparece em Porto Real, ele vai até ela enfurecido, porque ainda acha que ela matou Renly:
“Sor Loras rodeou-o.
– Será tão covarde quanto assassina, Brienne? Terá sido por isso que fugiu, com o sangue dele em suas mãos? Desembainhe a espada, mulher!
– É melhor ter esperança que ela não o faça. – Jaime voltou a bloquear o caminho dele. Senão é provável que seja o seu cadáver que levaremos daqui. A garota é tão forte quanto Sandor Clegane, embora não seja tão bonita.
– Isso não lhe diz respeito. – Sor Loras empurrou-o para o lado.
Jaime agarrou o rapaz com a mão boa e obrigou-o a virar-se.
– Eu sou o Senhor Comandante da Guarda Real, seu cachorrinho arrogante. O seu comandante, enquanto usar esse manto branco. E agora embainhe a sua maldita espada, senão vou ter que tirá-la de você e enfiá-la num lugar que nem mesmo Renly encontrou”.
Mais tarde, em um diálogo com Jaime:
– O que fez com Renly?
– Enterrei-o com minhas próprias mãos, num lugar que me mostrou um dia quando eu era escudeiro em Ponta Tempestade. Nunca ninguém o encontrará lá para perturbar o seu descanso. – Olhou para Jaime em desafio. – Protegerei o rei Tommen com todas as minhas forças, juro. Darei a minha vida pela dele se for necessário. Mas nunca trairei Renly por palavras ou por atos. Ele era o rei que devia ter sido. Era o melhor de todos.”
É triste, pô, me deixa.
Sua trajetória depois da morte de Renly é, portanto, completamente diferente da da série. Basicamente, ele se junta à Guarda Real e se torna um grande exemplo para o Tommen (e uma pedra no sapato para Cersei, justamente porque o menino o admira tanto). Em vários trechos, temos amostras da personalidade e competência do personagem, principalmente através dos olhos do Jaime, que se reconhece nele quando era mais jovem.
“Então, o Cavaleiro das Flores montou e reduziu todos os outros ao embaraço. Jaime sempre achara que três quartos de uma justa eram equitação. Sor Loras montava de forma soberba e manejava uma lança como se tivesse nascido com uma na mão…o que sem dúvida explicava a expressão aflita da mãe. Ele coloca a ponta precisamente onde pretende colocá-la e parece ter o equilíbrio de um gato. Talvez não tenha sido assim tão por acaso que me derrubou.” (…)
“Ele sou eu, compreendeu Jaime subitamente. Estou falando comigo mesmo tal como era, cheio de uma arrogância convencida e de cavalaria sem base. Isso é o que acontece quando se é bom demais e novo demais.”
O Loras dos livros nunca é aprisionado pela fé militante por causa de sua sexualidade. O que acontece é que em determinado momento os homens de ferro invadem a Campina, só que a coroa não pode despender homens para defender a região por causa do cerco a Pedra do Dragão e a Ponta Tempestade. Revoltado, Loras então se voluntaria para invadir Pedra do Dragão ele mesmo para livrar a frota de navios de lá. Uma missão praticamente suicida.
“- Vossa Graça, permita-me que tome Pedra do Dragão.
A mão da irmã subiu à boca.
– Loras, não.
Sor Loras ignorou a súplica.
– Levará meio ano ou mais obrigando Pedra do Dragão à submissão pela fome, como Lorde Paxter pretende fazer. Dê-me o comando Vossa Graça. O castelo será seu dentro de uma quinzena, nem que eu tenha de derrubá-lo com as mãos nuas.
Ninguém dava a Cersei um presente tão delicioso desde que Sansa Stark correra para junto de si a fim de divulgar os planos de Lorde Eddard. Ficou feliz por ver que Margaery empalidecera.
– Sua coragem deixa-me sem fôlego, Sor Loras – a rainha disse. – Lorde Waters, algum dos novos dromones está pronto para ser lançado ao mar?
– O Doce Cersei está, Vossa Graça. Um navio rápido e tão forte quanto a rainha que lhe deu o nome.
– Magnífico. Que o Doce Cersei leve imediatamente nosso Cavaleiro das Flores a Pedra do Dragão. Sor Loras, o comando é seu. Jure-me que não regressará até que Pedra do Dragão pertença a Tommen.
– Juro, Vossa Graça – e pôs-se em pé.
Cersei beijou-o em ambas as faces. Também beijou a irmã do cavaleiro e murmurou:
– Tem um irmão galante – ou Margaery não teve a elegância de responder, ou o medo lhe roubara as palavras por completo.”
Na sequência, a última notícia que temos de Loras nos livros é de que ele conseguiu conquistar Pedra do Dragão, mas foi gravemente ferido e está à beira da morte na fortaleza. Existem teorias que dizem que ele está vivo e bem, porém.
Estamos na torcida.
Pois bem, então o que temos nos livros é um personagem melhor construído, muito embora o fato de ele ser gay seja somente insinuado e nunca realmente confirmado. E eu sei o que você está pensando.
“Mas como você chama isso de representatividade se a sexualidade do personagem nunca nem chega a ser confirmada com todas as letras?!”
Pois é, a questão é que eu nunca disse que os livros são uma maravilha em termos de representatividade LGBT. Tanto que quando eu vi a série, achei que ela estava se saindo melhor do que os livros ao trazer dois personagens comprovadamente gays.
E não é só com Loras e Renly que George R.R. Martin deixa as coisas nas entrelinhas. Muitos outros personagens são envoltos em rumores e insinuações. Infelizmente, quase nenhum deles é mulher. Sim, Cersei e Daenerys têm experiências com outras mulheres, mas pessoalmente não acho que elas sejam indicativas de que as personagens são bissexuais. A experiência de Cersei é uma viagem de poder, em que ela basicamente encena com a Taena a própria violência sofrida nas mãos do Robert, e serve para mostrar o quão profunda é a sua misoginia internalizada. Já a de Daenerys é bem problemática – uma porque a Irri é sua aia e a questão de consentimento é bem embaçada nesse caso; e outra porque ela se imagina com Daario enquanto as cenas acontecem. Enfim, eu sei que existem muitas interpretações para essas cenas, então se você discorda, fala lá nos comentários que a gente conversa melhor!
De qualquer forma, o ponto positivo dos livros é que, sim, existem personagens LGBT na história, o que coloca As Crônicas de Gelo e Fogo anos-luz à frente de outras obras de alta fantasia. O negativo é que nem todo mundo consegue reconhecê-los, justamente porque as coisas não estão escritas claramente. Por que não poderíamos ter um personagem de ponto de vista que fosse abertamente gay, por exemplo? Se não me engano, o único que temos é o Jon Connington, mas mesmo com ele o Martin teve que confirmar nos bastidores.
Escreve lá no livro, George, pô.
Há de se reconhecer, no entanto, outro ponto positivo dos personagens nos livros (e nisso o Loras é o melhor exemplo): eles definitivamente são personagens muito mais completos, que não têm a caracterização limitada por sua sexualidade. O que é bem mais do que a série conseguiu fazer.
Com tudo isso concluímos que se os livros pecam por omissão, a série peca pela estereotipização de seus personagens. Loras, como vimos, começa bem, mas em seguida acaba descambando para a hipersexualização até se tornar vítima de uma religião fanática – uma trama claramente surrupiada do nosso mundo e não daquele no qual a série é baseada.
Se isso acontecesse só com o Loras, talvez pudéssemos deixar passar, mas o mesmo acontece com Oberyn (e com Ellaria, diga-se de passagem), como já vimos no texto sobre Dorne. Vou repetir aqui o trecho do texto da Lívia sobre estereótipos de bissexuais:
“O personagem [Oberyn] não é alguém que é bissexual, mas sim um homem que tem um apetite sexual insaciável e por isso não discrimina gêneros. Sua sexualidade é um simples meio de caracterização de um personagem hedonista que busca o prazer em todas as suas formas, seja sexual, físico ou acadêmico. Essa forma de representação é muito conveniente pois transforma bissexualidade, uma característica renegada socialmente, em uma faceta de um tipo de masculinidade aceitável: um homem que busca prazer de todas as formas e não abre mão de seus desejos.”
E por último descobrimos que a Yara é lésbica na temporada passada, mas infelizmente ela também recebe uma representação bem grosseira e não-saudável. Nos livros, Yara é definitivamente hetero, mas o problema não é terem feito essa mudança. O problema é terem trazido essa mudança acompanhada de uma masculinidade tóxica por parte da personagem, começando com um discurso abusivo contra o seu irmão (um cara que já foi abusado pra uma vida toda) até chegar na hora que ela diz que “vai foder as tetas fora” de uma escrava sexual em Volantis. E por último vemos que agora que é lésbica tudo sobre ela tem que ser sobre sua sexualidade, porque mesmo em um momento de aliança política com Daenerys sentimos uma vibe sexual entre as duas.
Aliás, em um dos trailers para a nova temporada Yara aparece fazendo o que? Se pegando com a Ellaria, claro.
Tudo isso pra dizer que o caso do Loras não é isolado. A série tem um problema com a forma como retrata seus personagens LGBT, reduzindo-os a estereótipos ou caindo na armadilha recorrente de fazer com que a sua sexualidade seja a coisa mais importante sobre eles, ao invés de apenas uma de suas características. Vale sempre lembrar: representação não é a mesma coisa que representatividade.
Leia os outros textos da nossa série Livro x Filme.
O dia 28 de junho é o Dia Internacional do Orgulho LGBT. Nessa mesma data, em 1969, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e drag queens se uniram contra as batidas policiais que ocorriam com frequência no bar Stonewall-Inn, em Nova York. O episódio marcou a história do movimento LGBT, que continua lutando por direitos e visibilidade. Em homenagem à data, durante o mês de junho, portais nerds feministas se juntaram em uma ação coletiva para discutir de temas pertinentes à data e à cultura pop, trazendo análises, resenhas, entrevistas e críticas que tragam novas e instigantes reflexões e visões. São eles: Prosa Livre, Collant Sem Decote, Séries Por Elas, Delirium Nerd, Valkirias, Momentum Saga, Nó de Oito, Ideias em Roxo e Preta, Nerd & Burning Hell.
jagër
February 9, 2019 @ 2:29 pm
Realmente a serie deixa uma visão ruim, pra não dizer horrível e ofensiva, dos personagens LGBT
Natália
September 20, 2020 @ 6:53 am
A questão da sexualidade em GOT, ao meu ver, só atesta o quão incompetentes D&D são para escreverem personagens que estão fora do espectro homem-branco-cis-hétero. Eles são escritores ruins num geral, mas isso fica muito evidente com as mulheres e personagens LGBT, também. Falta de criatividade e mente pequena, no mínimo.
E quanto a representatividade nos livros, concordo que as evidências deveriam estar mais claras (embora o monólogo do Jon Connington sobre o Rhaegar seja inesquecível de tão lindo), mas acho que as coisas são contadas e percebidas de maneira muito velada de propósito, para representar a percepção das pessoas num contexto social como aquele. Não se comentaria abertamente sobre isso, ainda entre as pessoas mais próximas, por conta do tabu que isso carrega. Mas isso, ao meu ver, se resumiria aos Sete Reinos e aos Sete Reinos somente, por conta de toda a questão de sucessão, sociedade patriarcal, etc.
Mas ainda acho que isso não justifica não ter um personagem claramente LGBT por Essos, ou ainda por Dorne, a região mais sensata dos Sete Reinos. Fora Oberyn ou Daemon Sand (Que eu me lembre), não temos mais evidências.
E sobre a Mãe dos Dragões, sempre fica aquele questionamento, “É bissexual ou não?”. e uma possível resposta seria que ela não se reprimiria quanto a isso, já que não lhe foi ensinado como uma coisa errada, necessariamente. E nada a impede de ser uma mulher bissexual que se sente mais atraída por homens, já que ela pensa com mais frequência em Daario… Enfim, um mundo de possibilidades que seria bem legal de se explorar.
E enquanto os ventos do inverno não chegam, vamos de aproveitar textos foda como esse. 😉