Game of Thrones T07E06 – Soluções Fáceis, Heróis Invencíveis, e Muito Gelo e Fogo

Beyond the Wall trouxe algumas das cenas mais espetaculares que já vimos na série, junto com uma incoerência sem igual em toda a sua história.

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Beyond the Wall, o penúltimo episódio da sétima temporada de Game of Thrones, trouxe à tona muitos sentimentos. Muitos deles do tipo que me fazem criar diálogos imaginários com os roteiristas na minha cabeça, todos começando com a pergunta “o que vocês estavam pensando?!”.

Eu já havia ficado bem desgostosa com o episódio da semana passada e estava torcendo para que Beyond the Wall compensasse as suas falhas. Mas embora ele tenha tido seus méritos (principalmente no quesito ação, cenários e efeitos especiais), eu não consigo deixar de me sentir roubada.

Vem comigo, então, destrinchar esse episódio para lá da coerência, núcleo por núcleo:

Pedra do Dragão

Em Pedra do Dragão, Tyrion e Daenerys conversam na frente da lareira. Dany reclama de pessoas (= caras que ela gosta) que querem dar uma de herói e ficam arriscando a vida, fazendo coisas absurdas. Ela lista algumas dessas pessoas: Drogo, Jorah, Daario e, claro, Jon Snow. Tyrion saca tudo e diz que a lista dela é muito interessante, pois é composta por caras que se apaixonaram por ela. Dany diz que não o Jon, ao que Tyrion levanta a sobrancelha e basicamente pergunta“tem certeza?”. Dany dá uma bufadinha descrente para esconder a satisfação.

Até aí eu curti a conversa. Cenas como essa estavam fazendo falta: personagens simplesmente conversando como seres humanos. Daenerys ficou parecendo uma garota adolescente apaixonada? Sim, mas isso porque ela é uma garota adolescente apaixonada. Além de rainha, além de mãe de dragões, além de quebradora de correntes. Uma pessoa pode ser muitas coisas ao mesmo tempo e foi legal mostrar esse seu lado também.

beyondQuerido diário, será que ele gosta de mim?

 

Bem, na sequência, eles conversam sobre Cersei e sobre as armadilhas que ela estará tramando para o encontro em Porto Real. Dany pergunta a Tyrion se eles próprios armarão alguma armadilha, e aí eu já começo a bufar de exasperação, pois mais uma vez o roteiro dá a entender que Dany não sabe nada de seus próprios planos. Enfim, Tyrion começa novamente o seu discurso sobre violência, e assassinato em massa, e sobre como ela é diferente de tudo isso, e blablabla. É a deixa para a Dany-que-supostamente-está-ficando-doida aparecer.  Ela fica impaciente com a ideia de ir para Porto Real de coração aberto e Tyrion diz que Jaime garantiu que controlaria os Lannister, desde que ele próprio controlasse a Daenerys.

Dany compreensivelmente fica confusa com isso e Tyrion fala sobre os Tarly, que não era necessário queimá-los. Daenerys vai ficando cada vez mais irritada e diz que ele está tomando o lado da família. Tyrion fala sobre a tal roda que ela quer quebrar, que essa é uma tarefa hercúlea e que eles precisam garantir que o seu projeto de mundo sobreviva a ela. Ele escolhe, então, esse momento para falar com ela sobre sucessão, mencionando os métodos da Patrulha da Noite e dos homens de ferro. Dany não gosta nada desse papo e o acusa de querê-la morta, dizendo que só vai pensar em sucessão depois que estiver usando a coroa. Ele diz que está planejando a longo prazo e ela rebate dizendo que se ele pensasse a curto prazo, eles não teriam perdido Dorne e Jardim de Cima.

Não querido, não esquecemos.

 

Isso já está ficando cansativo. Novamente, a cena acaba enquadrando o Tyrion como o senhor da razão e Daenerys como uma déspota violenta. O pior é que quando pensamos sobre o diálogo objetivamente, vemos que Dany tem razão em não gostar das falas do Tyrion. Vejamos.

Em primeiro lugar, ela está certíssima em querer ter algum plano para ir enfrentar Cersei em Porto Real – ainda mais porque na mesma cena eles concordam que com certeza a rainha está tramando alguma coisa. Em segundo lugar, o Tyrion diz que prometeu a Jaime que iria controlá-la – o que, convenhamos, é quase um insulto. Daenerys não é uma criancinha birrenta para ter que ser controlada – tanto que ela diz que o que fez com os Tarly foi de caso pensado, nada impulsivo. Pode ser que eles discordem sobre isso, mas o que o Tyrion está fazendo é reduzir à mera impulsividade as decisões dela com as quais ele não concorda. Faz muito sentido que Daenerys se sinta ofendida por isso. E por último, Tyrion escolhe justo esse momento para falar sobre sucessão? Ela tem razão – que história é essa, se ela nem conseguiu sentar no trono ainda? O que parece é que os roteiristas precisavam resgatar a informação de que Daenerys não pode ter filhos e jogaram isso ali no meio da conversa. Infelizmente, isso não fez muito sentido.

No fim das contas, tudo depende do que sentimos com essa cena. Eu senti que Daenerys está ficando paranóica e difícil de lidar – um sentimento bastante recorrente em suas cenas com o Tyrion. Acho que o problema é que a narrativa nunca coloca ninguém para questionar o anão e nos fazer pensar de forma saudável “poxa, mas será que ele está certo?”. Ao mesmo tempo, ele próprio (de reputação intacta) está sempre questionando a Daenerys. Isso ajuda a nos fazer tomar o lado dele nessas discussões. É problemático, principalmente quando levamos em consideração que nos livros o Tyrion é um personagem muito mais cinza do que o sensato e sensível anão que vemos nas telas. Assim como Daenerys é uma personagem muito mais complexa e humana.

Mas isso é assunto para outro(s) texto(s).  

Winterfell

Enquanto isso, em Winterfell…*suspiro*…Arya tem um monólogo imenso em que conta para a Sansa uma história de anos atrás, quando Ned Stark a aplaudiu quando ela acertou o alvo ao praticar arco e flecha escondida. Infelizmente, ela continua sendo a mesma psicopata do episódio passado, pois termina a história dizendo que agora o pai delas está morto por causa da Sansa.

Sansa fica confusa com isso e Arya saca do bolso a tal carta que encontrou no colchão do Mindinho no episódio passado, lendo-a em voz alta. Sansa explica que foi obrigada a escrever a carta e Arya age como uma criança de cinco anos ao dizer que Sansa foi burra ao acreditar que aquilo salvaria o pai delas.

Engraçado, porque o Ned também acreditou que se confessasse ser um traidor, o Joffrey pouparia sua vida.

 

Arya diz que lembra da Sansa no dia da execução, toda bonitona, ao que Sansa rebate perguntando por que, se ela também estava lá, Arya não atacou os soldados Lannister e salvou o pai.

Sansa bela e impassível na execução do próprio pai.

 

Arya continua inflexível, mas Sansa recobra a compostura, dizendo que a irmã devia agradecer a ela o fato de terem Winterfell de volta. Ela termina dizendo que Arya não teria sobrevivido ao que ela sobreviveu, mas Arya não se abala. Sansa pergunta o que ela pretende fazer com a carta, e Arya fica supondo que a irmã tem medo do que o Jon vai pensar, para depois concluir que no fundo ela teme o que os lordes nortenhos vão pensar. No fim ela diz que prefere agir impulsivamente por raiva do que por medo, e se retira.

Gente. Mas que raios estão fazendo com a Arya? Ou melhor, o que raios estão fazendo nessa trama? É ofensivo o fato de os roteiristas não terem concedido nenhum desenvolvimento no relacionamento dessas duas irmãs, mesmo depois de anos separadas e de tudo o que elas passaram.

Para piorar, o discurso da Arya também é cheio de elementos misóginos. Ela ridiculariza Sansa por ficar tricotando enquanto ela “quebrava as regras”, ou mesmo os vestidos e penteados bonitos da irmã. Mas isso, pelo menos, é coerente com a Arya da série: ela sempre ativamente menosprezou tudo o que é estereotipicamente feminino. Essa, inclusive, é uma das grandes mudanças entre a Arya dos livros e da série. Nos livros, ela se sente muito insegura e inadequada por não ser como a Sansa. Já na série, ela parece não ter sua autoconfiança afetada pelo fato de não se encaixar naquilo que o mundo espera de meninas.  A impressão que dá é que ela sabe que a audiência está aplaudindo o quanto ela é Badass™, por isso se sente tão bem ao se adequar a uma visão machista do que uma mulher empoderada deve ser. 

A maioria das garotas é idiota. 

 

Também me incomoda o fato de os roteiristas nos fazerem comparar as jornadas dessas duas personagens. Quem sofreu mais? Quem se saiu melhor? Isso é incomparável, até porque o ponto é que nem Arya teria sobrevivido à jornada da Sansa e nem Sansa teria sobrevivido à jornada da Arya. Ambas usaram habilidades próprias muito diferentes para sobreviver, e nenhuma é melhor que a outra, porque ambas sobreviveram. 

Mas, bem, isso é assunto para outro texto.

Na cena seguinte, Sansa conversa com Mindinho sobre a carta. Ela está preocupada que os lordes nortenhos deixem Winterfell se a descobrirem – o que não faz muito sentido. Esses caras entenderiam muito bem a posição que a Sansa estava quando escreveu aquilo, dado que eles próprios tiveram que se submeter aos Bolton depois que os Starks caíram. De qualquer forma, Mindinho fala que Arya não trairia a família, mas Sansa reflete que ela faria isso sim se achasse que trairia o Jon, e completa dizendo que não conhece mais a irmã. Mindinho sugere que Brienne talvez possa ajudar, porque ela jurou proteger as duas garotas Stark. Sansa fica pensativa.

Na cena seguinte, Sansa recebe um corvo de Cersei, convidando-a a Porto Real. Felizmente, ela diz que não vai colocar os pés em Porto Real de novo e manda Brienne em seu lugar. Brienne resiste e tenta convencê-la que não é seguro ficar sozinha em Winterfell, mas Sansa não muda de ideia e faz Brienne partir.

Existem duas possibilidades aí. A primeira delas é que a conversa com o Mindinho foi uma jogada para descobrir o que ele está pretendendo. Ao que parece, ele pretende usar a Brienne nos seus planos, então Sansa vai contra isso e dá um jeito de tirar a mulher de Winterfell. Já a segunda possibilidade é a de que Sansa esteja planejando fazer algo com a Arya e tirou a Brienne do caminho para que ela não tenha proteção. Mas isso não faz muito sentido, porque a Arya é bem capaz de se proteger sozinha, então eu voto na primeira opção.

Enfim, a última cena em Winterfell traz Sansa no quarto de Arya, procurando a tal carta. Ao invés disso, no entanto, ela encontra a mala da irmã com os rostos e, compreensivelmente, fica horrorizada. Arya aparece (claro) e começa a querer jogar o jogo das faces com Sansa, novamente atormentando-a com acusações de que a irmã quer dar o golpe em Jon e roubar o seu lugar. Sansa se recusa a jogar e insiste em saber o que são aqueles rostos. Arya explica o seu treinamento em Bravos e diz que agora pode ser quem quiser, inclusive Sansa. Ela pega a adaga e se aproxima ameaçadoramente da irmã, mas ao chegar bem perto ela vira a adaga, entrega-a a Sansa e deixa o quarto.

*Ok, hora de começar a barricar a porta antes de dormir.*

 

Novamente, um diálogo cheio de toques de misoginia (“o seu belo cabelo”, “os seus belos vestidos”) e sem muito sentido. Por que Arya está está ameaçando Sansa desse jeito? Eu tinha a esperança que isso tudo fosse um plano das meninas para pegar o Mindinho, mas me parece que a encenação está elaborada demais para ser isso. De qualquer forma, é bom que isso se resolva no finale, para o bem ou para mal, porque vai ser difícil aguentar a Arya psicopata também na temporada oito. Uma pena que os roteiristas tenham optado por essa traminha fraca para as garotas Stark nessa temporada

Para lá da Muralha

Para lá da Muralha, encontramos o nosso dream team, composto por Jon Snow, Jorah Mormont, Thoros de Myr, Beric Dondarrion, Sandor Clegane, Tormund, Gendry, e mais um grupinho de figurantes nos quais a gente só repara quando eles começam a morrer.

Como sabemos, o grupo está se aventurando para lá da Muralha para botar em ação o plano mais estapafúrdio que eu já tive o desprazer de conhecer: sequestrar uma criatura e levar para a Cersei, para que ela suspenda as inimizades e se una à luta contra o Rei da Noite.

Pois bem, durante boa parte de um dia, a galere caminha em busca da “montanha que se parece com uma ponta de flecha”, que o Cão viu na sua visão no fogo. Felizmente, eles vão trocando ideia, o que nos deu a chance de ver como alguns dos nossos queridos personagens se relacionam uns com os outros.

Gendry conversa com Jon sobre o Norte, e confessa que nunca nem tinha visto neve. Ele pergunta como faz para as bolas não congelarem, ao que Tormund voluntaria alguns conselhos (andar, lutar e foder) e corrige Jon, dizendo que Winterfell fica no Sul.

Guarde bem a informação de que esta é a pessoa com menos experiência no Norte, porque isso vai ser importante daqui a pouco.

 

Um pouco depois, Tormund e Jon conversam sobre Daenerys. Jon explica que ela só os ajudará se ele dobrar o joelho, e Tormund reflete que Mance Rayder teria salvo muitas vidas se tivesse simplesmente se ajoelhado. Já é a segunda vez que o Jon ouve algo assim e ele fica pensativo.

Mais tarde, Tormund conversa com o Cão sobre como ruivos são beijados pelo fogo assim como ele, o que o deixa mais irritado do que de costume. Tormund pergunta como ele se queimou e conclui que o Cão não é mau de verdade, porque tem olhos tristes. Ele então fala com devoção sobre Brienne, e o Cão, chocado, diz que a conhece.

Eu só queria dizer o quanto eu me divirto com esses dois. Apesar de achar que a série teria ganho muito em drama se tivesse matado um deles nesse episódio, fico feliz que eles ainda estejam vivos. Eu sei que esses diálogos não foram nenhuma maravilha – acredite, eu sei -, mas foi gostoso simplesmente ver esses personagens conversando e interagindo.

Bem, enquanto isso, Gendry confronta Beric e Thoros. Ele diz que queria entrar na Irmandade sem Bandeiras, mas que os dois preferiram vendê-lo à Melisandre. Eles falam que precisavam do dinheiro, e Gendry, indignado, narra que Melisandre o amarrou nu e tirou o seu sangue. A narrativa tem um tom cômico e os caras dizem que não parece que foi tão ruim assim, porque…não sei, estupro e assédio sexual só são coisas ruins quando acontecem com uma mulher? Como isso é Game of Thrones, uma série que retratou o garoto Tommen como um cara sortudo ao ser manipulado sexualmente por uma mulher madura (Margaery), eu acho que é bem por aí mesmo.

Enfim, em outro ponto, Jon e Jorah conversam sobre seus respectivos pais, Ned e Jeor. Jon diz que foi Jeor quem lhe deu a espada Garralonga, uma relíquia em aço valiriano da família Mormont. Ele tenta devolvê-la, mas Jorah diz que decepcionou o pai e que Jon deve ficar com ela.

Não é a melhor hora para se ficar sem a sua espada de aço valiriano matadora de caminhantes brancos, Jon. 

 

Apesar do timing errado, eu gostei da cena. Com Jorah e Jon no mesmo lugar, seria absurdo não falar sobre Garralonga, e o diálogo foi interessante. O que me intriga, no entanto, é que Jon passou semanas em Winterfell com a líder atual da família Mormont, nossa querida Lyanninha, e nem passou pela sua cabeça falar com ela sobre isso? Entendo que a espada deveria passar de pai para filho, mas Garralonga é uma relíquia de família. Por que Jon escolheria devolver a espada para Jorah, um cara que seu pai tentou executar por traficar escravos, inclusive, ao invés de entregá-la para a chefe da família Mormont? Algo a se pensar.

Patriarcado em Westeros: só existe quando é conveniente para o roteiro.  

 

Bom, por último, Beric fala a Jon que ele não se parece com o Ned (o que é bizarro, porque nos livros é sempre comentado como Jon e Arya puxaram ao pai). Ele também diz que sabe que o Jon foi ressuscitado, e eles conversam sobre o Senhor da Luz. A conclusão do Beric – que Jon acata – é que ele os quer vivos para lutar pela continuidade da vida.

Essa cena pode não parecer nada, mas acho que foi bem significativa para o Jon. Embora a série peque ao não desenvolver essa questão, se formos generosos nas deduções dá para imaginar que ele se aflige muito com toda a história da ressurreição. Nesse diálogo com Beric, parece que Jon se conforma com o que aconteceu e encontra um motivo pelo qual permanece vivo.

Ou, sei lá, eu estou preenchendo as lacunas com a minha imaginação desesperada por significado e coerência.

Enfim. No geral, eu gostei das conversinhas, mas a real é que colocá-las todas para acontecer durante essa caminhada foi exagerado. A impressão que dá é que o roteiro correu a 200 por hora e só percebeu que precisava estabelecer um vínculo entre esses personagens quando eles já estavam andando pra lá da Muralha. Teria sido muito mais satisfatório se eles tivessem passado algum tempo em Atalaialeste, sei lá, planejando a missão suicida, e lá tivessem tido algumas dessas conversas. Até porque, todos esses diálogos durante a caminhada deram a impressão de que ela foi muito mais longa do que realmente foi, o que prejudica – e muito! – o entendimento do que acontece mais pra frente.

Estou falando com você, Gendry Balboa.

 

Antes de chegar nesse ponto, no entanto, o Cão avista a tal montanha que parece uma ponta de flecha, e o grupo é atacado por nada menos que um urso zumbi. Beric e Thoros metem fogo no bicho com suas espadas flamejantes, mas mesmo assim uns três figurantes que a gente nem tinha percebido que estavam lá são mortos, e Thoros é ferido gravemente ao salvar o Cão. A falta de coerência interna em Game of Thrones ultimamente está tão gritante que eu não sei se é um alívio ou se é simplesmente cômico o fato do Cão ainda sentir medo de fogo. De qualquer forma, Thoros tem suas feridas cauterizadas pela espada do Beric e segue em frente junto com os demais.  

Depois disso, ainda dá tempo para mais uma conversa, dessa vez entre Jorah e Thoros. Eles relembram de quando lutaram em Pyke e parece que Jorah tem um herói, o que é meio fofo.

Bem, até aí as coisas não estavam exatamente perfeitas, mas estava tudo muito bem. As conversas estavam bacanas, o cenário estava maravilhoso, o Tormund estava um amorzinho, e a gente estava quase esquecendo o motivo imbecil pelo qual eles estavam andando pra lá da Muralha. Mas como nada dura para sempre, as coisas mudam quando eles descobrem umas dez criaturas andando em fila, lideradas por um caminhante branco.

Para mim, toda a mágica acabou aí.

Caminhantes brancos deveriam ser amedrontadores. Eles acham você, não o contrário. Eu nunca vou esquecer do pavor que senti na temporada passada, quando o Rei da Noite toca o Bran e reúne a cambada na frente da caverna. Deu medo. É para dar medo. Mas nesse último episódio, tudo o que eu senti foi vontade de rir daquele grupinho patético de criaturas ineptas liderados por um caminhante branco desavisado. O simples fato do grupo do Jon Snow ter conseguido atacá-los de surpresa já foi o suficiente para acabar com toda a minha ansiedade em relação a eles.

E a conveniência!

Não é estranho como os caminhantes brancos só ficam burros e desavisados quando os nossos heróis inventam um plano igualmente burro de sequestrar uma criatura viva? Se você tinha alguma dúvida, está aí o exemplo perfeito: que se dane tudo o que a série já nos apresentou sobre essas criaturas no passado – o roteiro precisava que o plano desse certo, então ele fez dar certo.

Mas calma, que a conveniência não acabou. Porque quando Jon consegue matar o tal caminhante branco tapado, todas as criaturas do grupo também ‘morrem’. Mas saca só: SÓ UMA FICA VIVA.

Ok, então justo nessa hora eles descobrem que matando um caminhante branco, todas as criaturas que esse caminhante transformou também morrem, mas que felizmente tinha uma criatura ali no grupo que aparentemente não foi transformada pelo dito cujo.

Juro, isso está pior que filme da Sessão da Tarde.

 

Se torna claro que é esse o bonitão que eles vão apresentar pra Cersei, só que o bicho fica desesperado e começa a gritar pelos amigos. Em poucos segundos, Jon Snow e cia percebem que ferrou tudo, o que nos leva à mais uma decisão estapafúrdia por parte dos nossos heróis: Jon se vira para o Gendry – o cara que nunca viu na neve na vida, nunca tinha ido pro Norte e nem muito menos para lá da Muralha – e fala pra ele correr de volta para Atalaialeste e mandar um corvo para a Daenerys. A justificativa? Porque ele é o mais rápido.

Eu não tenho gifs de exasperação o suficiente pra esse texto.

 

Mais do que saber da onde o Jon tirou essa ideia, eu queria mesmo saber é porque ele mandou um cara que não conhece o caminho e nunca experimentou um frio daqueles quando eles ainda tem alguns figurantes selvagens dando sopa no grupo (eu sei porque são eles que morrem na grande luta que está para acontecer).

E o pior é que o Gendry vai que vai e chega direitinho de volta na Muralha. Tem até uma sequência dele correndo pela neve, subindo e descendo morro, que olha, eu achei que ia começar a tocar a trilha sonora de Rocky, de tão cômico. E como se não bastasse, depois de tanto auê com aquele martelo no episódio passado, os caras tiram o martelo dele (“vai só te atrasar”) e provavelmente o perdem durante a luta. Ou não, porque sinceramente, eu não sei mais nada.

Mas bem, enquanto isso, Jon e cia correm em outra direção (por quê, meu deus, se eles também teriam que ir para a Muralha???) e convenientemente chegam na beira de um lago semi congelado com um ilhota no meio. Eles conseguem atravessar, mas um monte de criatura quebra o gelo e afunda até que os outros param e se posicionam em torno da ilhota, aguardando.

Jon: Ok galera, agora é só esperar alguém fazer alguma coisa estúpida para a Daenerys aparecer e nos salvar quando estivermos quase perdidos.

 

A espera dura por volta de um dia e uma noite, à qual Thoros não sobrevive. Durante todo o tempo, a criatura capturada e amarrada – vamos chamá-lo de Zé – se contorce e estrebucha comicamente. Beric e Jorah dizem que eles precisam tentar matar o Rei da Noite, que os observa de longe, pois isso faria com que todas as criaturas morressem. Mas Jon não quer saber disso, não. Ele está muito resolvido a esperar a Daenerys e levar o pobre Zé para Porto Real de presente para a Cersei.   

Enquanto isso, o corvo do Davos já voou a 200 km/h e chegou em Pedra do Dragão, onde Daenerys está se dirigindo decidida aos seus dragões, com Tyrion no encalço. Ele tenta convencê-la a ficar, e quando ela lhe pergunta o que deve fazer, ele diz “nada”. Dany diz que já seguiu esse conselho antes e não vai seguir de novo. Ela monta em Drogon e voa junto com Viserion e Rhaegal, rumo à Muralha.

Tyrion e Elsa…quer dizer, Daenerys. 

 

Se tem uma coisa que consegue me distrair um pouco da bagunça que está esse roteiro são esses dragões. É de cair uma lágrima a perfeição desses efeitos especiais. Infelizmente, logo somos lançados novamente naquela trama sem sentido quando, na ilhota, alguém finalmente resolve fazer algo idiota. E esse alguém é o Cão. Ele joga pedras nas criaturas – o que é até meio divertido (eu já disse, adoro o Cão) – até que uma delas cai onde o gelo deveria estar frágil e não o quebra. Com isso, a criatura que estava sendo vitimizada por ele começa a andar em direção à ilhota, e várias outras fazem o mesmo.

Aí é aquela coisa. As criaturas atacam e morrem mais uns três figurantes. Infelizmente, assim como os caminhantes brancos, as criaturas não metem mais medo, pois são representadas com os clássicos clichês de zumbis. Também aí a conveniência de roteiro domina: algumas criaturas se desintegram com um chute, outras resistem a marteladas e até aprendem a nadar para puxar o pé do Tormund em um determinado momento.

Mesmo com tantas perguntas (por que esses bichos estão nadando? por que o Cão não usou o martelo do Gendry para manter o gelo quebrado ao redor da ilhota? por que o Jorah só tem duas faquinhas como armas?), temos um momento de verdadeira ansiedade quando parece que o Tormund será o escolhido da vez. É desesperador e de cortar o coração ver um homenzarrão daqueles gritando por socorro. Mas quando a gente começa a pensar que não, Game of Thrones não é um filme da sessão da tarde, porque alguém que a gente gosta vai morrer e vai ser doloroso e trágico e…o Cão vai lá e o salva.

Nessa hora já dá pra perceber que nenhum daqueles personagens vai morrer – pelo menos não naquele momento. E mesmo naquela confusão, pode apostar que o Zé ainda está ali estrebuchando, porque o roteiro precisa que o plano imbecil dê certo e eles levem o bicho para Porto Real.

Quem mete mais medo: o Zé ou a Cersei? Eu sei a minha escolha.

 

Aliás, é tentando manter o Zé longe das criaturas que o nosso último figurante bate as botas e Jon tem um momento em câmera lenta, em que eu realmente espero que ele esteja contemplando a meleca que foi aquele plano. Quando tudo parece perdido, no entanto, sabemos que Daenerys vai chegar, porque o roteiro é tão previsível que chega a doer.

Yep. Olha ela aí.

 

Novamente, todas as minhas perguntas (como ela chegou ali tão rápido? como ela sabia o caminho? como as orelhas dela não congelaram sem um capuz?) são empurradas para segundo plano para que eu possa curtir a maravilha que são aqueles dragões. Eles voam para lá e para cá queimando as criaturas até que Daenerys pousa na ilhota com Drogon, que mantém as criaturas afastadas enquanto a galera sobe atrás de Dany.

Mas não Jon Snow!

Não. O nosso herói fodão é bom demais para simplesmente fugir montado em um dragão e se afasta cada vez mais, lutando com as criaturas. Jon, eu te adoro, mas nunca serei capaz de te perdoar, porque a sua vontade de se exibir para a Dany acabou nos custando uma das únicas coisas que me deixa feliz como uma criança assistindo Game of Thrones ultimamente.

Minhas perfeições da computação gráfica 💔

 

Sim, porque é claro que o Rei da Noite tem um uso bem específico para aquelas lanças de gelo maneiras e, tendo praticado para esse momento nos últimos oito mil anos, acerta uma delas no pobre Viserion. Novamente, os efeitos nessa cena são espetaculares. O sangue jorra como uma cachoeira e ele despenca gritando até atingir o gelo e afundar nas profundezas do lago.

O mundo pára para que todos possam contemplar essa tragédia, e Dany está chocada. Me incomoda o fato de que Daenerys não profere uma única palavra a cena inteira. Nem um “não!”, ou “subam aqui!”, ou mesmo “Jon Snow, seu paspalho, onde você está indo?!”. Acho que a cena teria um senso de urgência maior se tivessem incluído alguns diálogos desesperados no meio da ação. O único que grita desesperado é o Jon, que ao ver que o Rei da Noite se prepara para arremessar outra lança, manda Dany ir embora. Ela espera um pouco, mas ele é empurrado por um monte de criaturas antes de conseguir cobrir a distância até o dragão e afunda no lago. Felizmente, Dany não espera e sai voando com o Drogon e o restante do dream team, e eu quase tenho um infarto quando a lança do Rei da Noite por pouco não os acerta.  

O DROGON NÃO MALUCO!

 

Parece que é o fim do nosso herói. Só que não, porque logo ele sai da água ofegante e meio congelado. E olha só que conveniente: sua espada ficou bem ali na beirinha esperando por ele o tempo todo. E se isso já não fosse um indicativo de que voltamos a assistir um filme bem clichê da sessão da tarde, o tio Benjen reaparece do nada matando criaturas com sua bola de fogo. Ele coloca o Jon sobre o cavalo e fica para trás porque…quem sabe? Na temporada passada ele dividiu esse mesmo cavalo com o Bran e a Meera, mas nessa ele decide mandar Jon sozinho e fica para se sacrificar.

Não sei se ainda vamos descobrir mais sobre o tio Benjen, mas é possível que ele também tenha algum tipo de visão verde. Sabemos que o personagem na série é na verdade o Mãos Frias dos livros, um cara que consegue controlar corvos e talvez até wargá-los? Com isso, eu vou ficar aqui imaginando que o tio Benjen viu algo que nós não vimos, e percebeu que teria que ficar para trás.

Bom, de volta à Atalaialeste, o Cão se prepara para ir embora com o Zé e de despede do Beric (ele vai ficar?). Do topo da Muralha, Dany observa o lado de lá com Jorah, que diz que eles precisam ir. Ela quer esperar mais um pouco porque por algum motivo ela ainda tem esperanças de ver o Jon (deve ter lido o roteiro vazado, sei lá). Dito e feito, lá vem ele, meio morto sobre o cavalo.

No navio, Davos tira a roupa congelada do Jon e Dany observa meio chocada os seus cortes na barriga e no peito. Mais tarde, ela senta ao lado dele quando ele acorda. Ele pega em sua mão, diz que sente muito e se arrepende de ter ido naquela missão (POIS É JON SNOW). Ela chora um pouco e diz que os dragões são os únicos filhos que ela jamais terá, e pergunta se ele entende o que isso significa. Ela diz então que vai lutar com ele contra o Rei da Noite, ao que ele agradece, chamando-a de Dany. Daenerys diz que apenas Viserys chamava-a assim, o que não é boa coisa, então ele a chama de “minha rainha” e diz que só não ajoelha porque está deitado. Ela fica super emocionada (eu queria muito que parte dessa emoção tivesse ido para o Viserion) e pergunta sobre os lordes nortenhos. Jon diz que eles a verão como quem realmente é, e Dany responde que espera merecer isso. Jon diz que merece.

Legal, sem pressa, mas depois você vai dobrar o joelho de verdade né?

 

Na sequência, rola um constrangimento entre eles e Dany se retira.

Gente. Me chama de brega, mas tirando a parte que ele a chama de Dany (porque a fanfic ficou escancarada demais aí), eu não achei essa cena ruim. Claro, estou usando a minha imaginação aqui pensando que Dany chorou pelo Viserion fora de cena, porque só assim para engolir o fato de que ela ficou mais emocionada quando ele “dobrou o joelho” do que quando o dragão morreu. Mas, no geral, fiquei satisfeita com essa aproximação. Já me conformei há muito tempo que esse romance vai acontecer e fiquei feliz que os personagens se abriram um pouco mais, mas ainda não se jogaram no lado romântico da coisa. Pelo menos isso está um pouco mais comedido. No geral, eu achei interessante a reação da Dany em todas essas cenas – contida, mas mesmo assim chocada. Só acho mesmo que deveriam ter mostrado em algum momento ela mais desesperada pela morte do Viserion.

Bom, enquanto isso, para lá da Muralha, as criaturas arrastam umas correntes gigantes, que logo puxam para fora um Viserion morto. Previsivelmente, o Rei da Noite se aproxima, coloca mão sobre sua cabeça e…TÃN TÃN TÃNN – o dragão abre os olhos azuis.

Resumindo: gostamos do espetáculo? Sim! Mas achamos que ele deve acontecer em detrimento da coerência e do desenvolvimento dos personagens? Não! Até porque isso atrapalha consideravelmente o aproveitamento do espetáculo. Eu tenho visto pessoas reclamarem que analisar demais os episódios dessa temporada está acabando com a graça da série, mas isso está errado. Não é necessário analisar nada para sentir que Game of Thrones está perdendo o rumo. Mesmo os acontecimentos espetaculares perdem um pouco do sabor quando temos tantos pontos problemáticos ao longo do episódio. A sensação de que falta algo é muito pungente para ser ignorada, mesmo com dragões maravilhosos voando pelo céu.

Ficam agora as esperanças: será que a trama de Winterfell vai fazer sentido, uma vez finalizada? Será que os caminhantes brancos sabiam que os dragões viriam e armaram aquela armadilha? Será que as coisas são mais complexas do que a série está dando a entender? Só nos resta esperar.


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