#ExpressiveAsians – Como Estereótipos Racistas Influenciam o Whitewashing em Hollywood
A ideia de que atores asiáticos não são expressivos é baseada no estereótipo antigo que os retrata como uma massa robótica sem individualidade e pouco confiável.
Foto: Cristina Yang.
Whitewashing, para quem não sabe, é a prática racista de escalar atores brancos para interpretar personagens não-brancos. Talvez isso o choque, mas esse tipo de coisa acontece tanto, mas tanto, que temos mais de um texto sobre isso aqui no Nó de Oito (aqui e aqui).
Apenas alguns exemplos recentes: Johnny Depp, Jake Gyllenhaal, Rooney Mara, Angelina Jolie, Tilda Swinton, Gerard Butler, Jennifer Lawrence, Russell Crowe, Emma Stone, Christian Bale, Giovanna Antonelli, Luis Melo e Scarlett Johansson – todos atores brancos interpretando personagens não-brancos.
Em um desses textos, discuti e argumentei contra as principais justificativas que Hollywood tem dado ao público para o whitewashing que promove em seus filmes, como por exemplo, o fato de uma produção precisar de um Grande Nome™ para acontecer; e a ideia de que o público só consegue se identificar e sentir empatia por personagens brancos. Recentemente, no entanto, eis que surge uma nova justificativa, especificamente em relação ao whitewashing praticado em personagens asiáticos. Em um artigo recente da revista Paste, o autor trouxe a seguinte citação do livro Reel Inequality: Hollywood Actors and Racism, por parte de um diretor de elenco anônimo:
“Eu trabalho com muitas pessoas diferentes, e asiáticos são um desafio para selecionar principalmente porque a maioria dos diretores de elenco sentem que eles não são muito expressivos. Eles são muito fechados em suas emoções…Se for uma coisa de visual para um negócio, em que eles entram e ficam em um computador ou se eles são tipo um cientista ou algo assim, então tudo bem; mas se é algo que eles realmente precisam atuar e fazer uma performance, é um desafio”.
A citação é enfurecedora e hilária em partes iguais, mas também muito esclarecedora, pois nos mostra como estereótipos racistas influenciam na escalação de atores o tempo todo. No caso, existe o estereótipo de que asiáticos são frios e inexpressivos, ótimos com números e hiper produtivos, mas não muito bons em expressar sentimentos – o que não só serve de justificativa mal-ajambrada para ignorá-los em testes de elenco, como também os desumaniza, apresentando-os como uma massa robótica sem individualidade e pouco confiável. Também vemos na citação o reforço dos estereótipos promovidos pela indústria, pois de acordo com o entrevistado, Hollywood não parece ter problemas com asiáticos se for para escalá-los em papéis estereotipados.
Felizmente, o Twitter reagiu ruidosamente à ideia de que asiáticos não são expressivos, com inúmeros usuários provando justamente o contrário com a hashtag #ExpressiveAsians.
A autora Maurene Goo começou os trabalhos. Descrição do tweet: uma foto da autora com o dedo do meio levantado e a chamada “Podemos começar #ExpressiveAsians?”
E outros seguiram com muitas fotos de atores asiáticos sendo super expressivos.
Tweet: Ana May Wong literalmente fez sua carreira sendo expressiva…elas era uma ESTRELA DE FILMES MUDOS. Hollywood, aprenda sua própria história.
Descrição do tweet: Quatro fotos inexpressivas de Scarlett Johansson em Ghost in the Shell seguidas da chamada: Ufa…ainda bem que escalaram essa atriz super expressiva então.
Tweet: Ver: basicamente toda cena do Bruce Lee comprometido com um filme.
E muitos trouxeram fotos até de si mesmos e suas próprias expressividades. (Tweet: “Eu amo essa hashtag, meu deus do céus É A MINHA VEZ DE BRILHAR)
Tweet: Aparentemente diretores de elenco acham que asiáticos não são expressivos. Eles claramente nunca conheceram um asiático antes.
Felizmente, toda a discussão sobre whitewashing tem gerado alguns frutos positivos. Recentemente, o ator Ed Skrein abriu mão do papel de Major Ben Daimio no reboot de Hellboy, personagem de origem Japonesa/americana nos quadrinhos. Para explicar sua decisão, o ator soltou um comunicado no Twitter:
“Na semana passada foi anunciado que eu estaria interpretando Major Ben Daimio no reboot de Hellboy. Eu aceitei o papel sem saber que o personagem dos quadrinhos era de origem asiática. Houveram muitas conversas e uma compreensível preocupação/decepção desde o anuncio, e eu devo fazer aquilo que me parece certo.
Está bem claro que representar este personagem de maneira culturalmente correta é importante para as pessoas, e continuar a negligenciar essa responsabilidade seria continuar uma preocupante tendência de excluir a história de minorias étnicas nas artes. Eu sinto que importante honrar e respeitar isso. Por isso eu decidi desistir do papel para que ele possa ser apropriadamente ocupado.
Representação de diversidade étnica é importante, especialmente para mim que também sou possuo uma origem multifacetada. É nossa responsabilidade tomar decisões morais em tempos difíceis para dar voz à inclusão. Eu tenho esperança que um dia essas discussões se tornem menos necessárias e que nós possamos ajudar a fazer uma representação igualitária nas artes realidade.
Eu estou triste em deixar Hellboy, mas se essa decisão nos trás mais para perto deste dia, então vale a pena. Eu espero que faça a diferença.
Com amor e esperança,” – Tradução do Collant.
De fato, há esperança. Mas só se continuarmos falando sobre isso.
Leia também Invisibilidade Não-Branca – Ghost in the Shell e o Whitewashing Nosso de Cada Dia.
Anna P.
September 13, 2017 @ 6:16 pm
Se eles são inexpressivos, porque diacho eu choro assistindo doramas.😒
Bruna s.
September 13, 2017 @ 7:22 pm
Eu também, Anna p. Doramas me deixam marejada! Esse estereótipo de que asiáticos são frios e inexpressivos é totalmente injusto.
Daniel
September 14, 2017 @ 2:58 am
Como se eles fossem diferentes da gente para não serem expressivos. é cada uma viu
Julia
October 14, 2017 @ 12:46 am
pergunta: porque toda essa comoção com Hollywood? se eles não representam, que percam sua audiência. eles movimentam dinheiro porque a gente paga.
Lara Vascouto
October 15, 2017 @ 9:17 pm
Porque é a indústria cultural com maior alcance. 🙂