Respeita as Cosplayers! Conversamos com Cosplayers na BGS sobre Assédio e como Abordá-las para uma Foto

Perguntamos a cosplayers qual a etiqueta adequada para abordar e tirar foto com uma cosplayer sem ser inconveniente, inapropriado ou violento.

cosplayers

Cosplay é a arte de se caracterizar e interpretar um personagem real ou ficcional. Popularizado na década de 1990, hoje em dia é comum encontrar cosplayers em todo tipo de evento voltado para a cultura pop, como a Brasil Game Show ou o Comic Con Experience. Como nossa colaboradora Natália Santos bem explicou:

“Fazer cosplay é agradar a si mesmo em primeiro lugar. Todos já pensamos o quanto determinado personagem tem em comum conosco ou o quanto gostaríamos de ter a sua coragem e determinação. Muitos cosplayers confeccionam suas próprias fantasias, trabalhando fortemente a criatividade para dar forma às armaduras que até então só existem em um mundo fantástico – como é o caso de Layze Michelle, 23 anos, que trabalha como cosmaker em São Paulo e já se caracterizou de mais de 18 personagens, a maioria deles pertencentes à Nintendo. Tudo leva tempo, custa dinheiro e exige dedicação.

A finalização deste trabalho se dá na aparição em eventos. As pessoas que conhecem o personagem ficam admiradas, pedem para tirar fotos e trocam ideias sobre. Há eventos que separam uma área específica para que os cosplayers possam apresentar, desfilar e atuar como os personagens que eles representam. Por fim, cosplay é arte que agrega muitas expressões artísticas.”

Infelizmente, no entanto, o meio ainda é um pouco mais difícil para meninas e mulheres, que frequentemente precisam lidar com o assédio por parte de homens nos eventos. Quanto mais revelador o uniforme –  que muitas vezes já trazem uma carga machista intrínseca por parte dos criadores das personagens -, maior o nível de assédio que elas sofrem, o que demonstra na prática o pensamento de que mulheres “estão pedindo” ou “merecem” ser assediadas quando usam roupas curtas. 

Ano passado, a Natália já conversou com algumas cosplayers na Brasil Game Show, que falaram um pouco sobre essa arte e sobre as suas experiências com “mãos bobas”. Esse ano, portanto, nós voltamos à BGS para saber se alguma coisa mudou e qual a etiqueta adequada para abordar e tirar foto com uma cosplayer sem ser inconveniente, inapropriado ou violento (spoiler alert: trate-as como seres humanos). O resultado você vê a seguir!

Dominique Martins (@nickmartinss)

Cosplay de: Miss Fortune Fliperama (League of Legends).

Experiência: Já fez cosplay várias vezes, inclusive em eventos de LoL, e escolheu a personagem porque gosta muito e já jogou muito com ela. Sobre assédio nos eventos:

“Homem…primeiro que não sabe muito como reagir a esse tipo de coisa. Na rua normalmente já é ruim…aqui é pior ainda. Porque, bom…ela tem um decote. E eles não sabem reagir a isso. É horrível. Já tive gente que quis botar a mão. Só que aí eu brigo na hora, já falo com uma voz mais séria.”

Como abordar um cosplayer:

É só chegar de uma maneira tranquila comigo que eu vou ser tranquila com a pessoa. Eu vou retribuir o que ela me dá. Se ela for rude comigo, aí eu vou ser também. Eu adoro tirar foto, então se chegar pra mim eu vou querer tirar foto na hora! É só ser legal.”

Nathália Grimes (@infernaty)

Cosplay de: Quiet (Metal Gear Solid).

Experiência: Primeira vez de cosplay na BGS, já teve várias experiências de assédio como cosplayer:

“Tem muita gente que abusa pra tirar foto com a gente, quando está com cosplay. Principalmente garota, quando faz cosplay que é muito sensual, os caras às vezes já nem falam com você. Já chegam e tiram a foto. Ou passam a mão em você. Isso rola bastante. Só que aqui nem chega a ser tão ruim. Lá no Rio, que eu moro lá, já tiraram uma peça de roupa minha. Aqui, no máximo, passaram a mão. Eu, por exemplo, não posso andar sozinha com cosplay muito sensual. Eu tenho medo, alguém pode fazer alguma coisa.”

Como abordar um cosplayer: 

“A pessoa tem que primeiro ser educada. Perguntar se pode tirar foto. Aí eu posso ver com a pessoa como eu posso tirar a foto. Mas sem sair me agarrando, sabe? É…respeito! Apesar de eu estar numa personagem, eu ainda sou uma menina normal. Eu não sou fictícia, entendeu? Eu sou real.”

Giovanna Sayuri (@SayuChanCosplay)

Cosplay de: Syndra (League of Legends)

Experiência: Cosplayer há seis anos e cosmaker há cinco, escolheu a Syndra por ser um cosplay mais desafiador, tanto para fazer, como para vestir. Em relação a assédio nos eventos, ela já teve teve experiências ruins, mas afirma que é muito raro.

“Não sei se é porque eu ando sempre com muitos garotos, se é porque eu ando em grupo…ou se porque a roupa que eu uso não dá nem a liberdade de a pessoa encostar em mim. Mas teve uma vez que eu estava num evento – não era nem evento de anime, nem de jogo, era de livros, que eu imaginei que o pessoal ia ser mais respeitoso, inclusive – e um cara, ele tentou me beijar do nada. Ele foi retirado do evento por seguranças. Fiz a denúncia, consegui o nome dele. Ele foi expulso do evento, o que já resolveu boa parte do problema. Mas ainda assim é chato. Ele não conseguiu encostar em mim, porque eu fui um pouco escandalosa na hora – justamente pra afastar, eu resolvi assustar ele pra se afastar – mas é chato mesmo assim. Mas em cinco anos foi o único problema que eu tive. Na BGS eu nunca sofri nenhum problema, o pessoal sempre foi muito carinhoso comigo. Nunca tive nada de assédio pesado, nem verbal. Tem um bobinho ou outro que fala ‘ah, você pode me dar um beijo?’, mas aí eu falo ‘tenho namorado!’. Limites, apenas.”

Como abordar um cosplayer: 

“O mínimo é ser educado. Espera a pessoa estar livre pra foto. Se ela está andando por aí, vê se ela não está indo fazer algo importante primeiro. Se ela está sentada ou se trocando, evita pedir. Mas se ela estiver de boa andando, tirando foto com todo mundo, só pede, educadamente ‘posso tirar uma foto contigo?’. E tira a foto. Mas sem aquela coisa de pôr a mão no quadril, pegar na bunda e por aí vai. Mão no ombro é o suficiente. Ou pose, se quiser. É só pedir. Mas nada sem o consentimento do cosplayer.”

Michelley (@ChelleyCosplay)

Cosplay de: Katarina (League of Legends).

Experiência:

Cosplayer desde 2015, gosta muito tanto da parte artística, como da parte social do cosplay. Escolheu a Katarina por ser uma personagem forte e espera um dia conseguir trabalhar com isso. Sobre assédio:

“Infelizmente, pelo menos uma pessoa, em todo evento que eu vou, tenta tirar uma foto com segundas intenções. Colocando a mão onde não deve…ou então, simplesmente chega na maior falta de educação, tipo “tira uma foto comigo”, chega do seu lado e mete o celular na sua cara. É bem chato, muito chato isso. Já aconteceu aqui hoje, por exemplo. Às vezes eu fico só incomodada, mas tem vezes que eu já consigo reagir, tipo, peraí, vai com calma. Mas tem vezes que é tão surpresa que você não consegue reagir. É muito chato. Já aconteceu na rua também. Eu tava vindo pro evento com parte do cosplay e aparece um babaca e começa a falar coisas bem nojentas.”

Como abordar um cosplayer:

“Isso vale pra qualquer pessoa, tanto homem quanto mulher. Pra tirar foto não custa você perguntar: ‘Com licença, posso tirar uma foto com você? Posso tirar uma foto de você sozinha?’. E evitar ficar pegando muito. Abraçando. Isso é incômodo. Você não está aqui pra ser objeto pra passarem a mão. Fora que, assim, alguns cosplays são mais frágeis, alguns são bem complicados, e a pessoa simplesmente vai e te abraça…pode desmontar, danificar, pode quebrar alguma coisa, e o prejuízo a gente acaba pagando, né. Pra tirar foto, você não precisa ficar longe, mas evitar ficar pegando no cosplayer ou então pergunta se você pode pegar. Não mata ninguém, não custa nada, e é até melhor, tanto pro cosplayer como pra pessoa que vai tirar a foto. Porque você vai tirar uma foto com uma pessoa que está feliz por fazer parte da sua foto e não com alguém que está irritada porque você está passando a mão nela, ou pegando no cosplay sem a permissão e até mesmo danificando.”

Paola Shizue (paola.shizue e @ps_takayagui)

Cosplay de: Lux elementalista, de League of Legends.

Experiência: Foi o segundo cosplay da Paola e a primeira vez na BGS. Felizmente, ela nunca teve experiências ruins com assédio enquanto cosplayer.

Como abordar um cosplayer: “Quem quer tirar foto, é só chegar e pedir ‘moça, com licença, posso tirar uma foto’? Só isso!”


Resumindo: respeito é bom e todo mundo gosta! A Comic Con já está quase aí, então fica a dica. 🙂


Leia também Cosplay sim, Assédio não – Uma Breve História do Cosplay + Entrevistas com Cosplayers.

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