Cosplay sim, Assédio não – Uma Breve História do Cosplay + Entrevistas com Cosplayers

Cosplay é arte que agrega muitas expressões artísticas, mas o machismo ainda torna as coisas mais difíceis para as mulheres nesse meio.

cosplay

Vestir-se do seu personagem favorito não é novidade no mundo. O registro mais antigo de um cosplay (na época era conhecidos por mascarades, pois o nome cosplay só passou a ser usado a partir de 1984) foi o de Myrtle Rebecca Douglas Smith Gray Nolan e Forrest J. Ackerman, em uma convenção de ficção científica de 1939.

cosplayTambém conhecida como Morojo, Myrtle  editou fanzines e escreveu editoriais para várias revistas de ficção científica. 

 

Embora o registro seja antigo, caracterizar-se de personagens só ficou popular na década de 1990, com a popularização de animes e mangás. Hoje em dia é comum a presença de cosplayers em todos os eventos que prestigiam a cultura pop e o mundo nerd, como o Comic Con Experience, Brasil Game Show, eventos de animes, festivais de quadrinhos e bienais. Mas a ignorância sobre o que realmente representa fazer cosplay e o machismo que afetam as mulheres do meio ainda é grande e continua sendo alimentado por mídias tradicionais. Exemplo disso foi o caso da matéria da UOL que mostrou os cosplayers como pessoas com problemas mentais (a matéria saiu do ar, mas ainda pode ser encontrada) ou a atitude ridícula de lamber o braço de uma cosplayer que um dos entrevistadores do Pânico na TV teve na Comic Con Experience.

“Por que estas pessoas estão fantasiadas?”

Este tipo de pergunta é bem comum de ser feita por mães, pais, avós e pessoas toppers.

Fazer cosplay é agradar a si mesmo em primeiro lugar. Todos já pensamos o quanto determinado personagem tem em comum conosco ou o quanto gostaríamos de ter a sua coragem e determinação. Muitos cosplayers confeccionam suas próprias fantasias, trabalhando fortemente a criatividade para dar forma às armaduras que até então só existem em um mundo fantástico – como é o caso de Layze Michelle, 23 anos, que trabalha como cosmaker em São Paulo e já se caracterizou de mais de 18 personagens, a maioria deles pertencentes à Nintendo. Tudo leva tempo, custa dinheiro e exige dedicação.

A finalização deste trabalho se dá na aparição em eventos. As pessoas que conhecem o personagem ficam admiradas, pedem para tirar fotos e trocam ideias sobre. Há eventos que separam uma área específica para que os cosplayers possam apresentar, desfilar e atuar como os personagens que eles representam. Por fim, cosplay é arte que agrega muitas expressões artísticas.

cosplayLayze trabalha como cosmaker e estava na BGS fazendo cosplay de Rosalina, personagem do Mario Galaxy.

 

E o machismo…

O machismo começa quando os autores, ilustradores ou diretores de determinada obra criam todas as suas personagens femininas seminuas, sendo que na vida real elas não poderiam se vestir desta forma por causa do assédio, desconforto ou incompatibilidade da vestimenta com a sua função, habilidade ou personalidade. Falta coerência com a realidade e representatividade. Graças a muitas reclamações sobre roupas de personagens e de movimentos na internet como “Cosplay não é consentimento”, o cenário vem mudando lentamente. Algumas garotas passaram a fazer cosplay após alguns games mudarem a postura, como é o caso da Aline, que fez seu primeiro cosplay na Brasil Game Show 2016:

“As personagens femininas eram muitos sexualizadas nos jogos e isso não me representava. Nesse jogo, Overwatch, é muito diferente. Tem a Mei, que na hora que vi, eu pensei: ‘Um personagem gordinha, isso me representa!’” –Aline, 20 anos, cosplay da personagem Mei.

cosplayAline caracterizada como Mei, personagem de Overwatch.

 

O assédio durante o evento se dá através de elogios desrespeitosos e mão-boba na hora da foto. Kauana, que já perdeu a conta de quantos cosplays fez desde 2014, quando começou, já passou esse tipo de situação.

“Uns caras pedindo para tirar foto e sentir a mão chegando ali atrás… tipo, ‘dá licença, cara!’”

cosplayKauana de cosplay de Ashe, a Cupida Mortal, personagem de League of Legends.

 

A melhor forma de lidar com a situação é deixar verbalmente claro que está desagradada com a situação, independente do tamanho do seu incômodo. O meio tem melhorado para as mulheres e não vão ser uns caras sem noção que vão desanimar as mulheres de fazer cosplay do seu personagem favorito. Como disse Kauana:

“Vai ter cara chato, sim, mas se elas querem, devem fazer. É a sua vontade, ninguém manda na sua vida.”

Confira abaixo as entrevistas feitas na BGS 2016 com as cosplayers Aline, Layze Michelle e Kauana.


Visite a página da cosplayer Layze Michelle.

Confira todas as entrevistas feitas pela colaboradora Natália Santos na BGS 2016 no nosso canal do YouTube!

Leia também BGS 2016 – O que nos Contam as Mulheres Desenvolvedoras de Jogos no Brasil; e YouTube, Comunidade Gamer e Misoginia.

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