Please Like Me – Uma das Séries Recentes que Melhor Traz Representatividade LGBT na Televisão
Please Like Me passa longe dos estereótipos e traz um retrato sincero da sexualidade de seus personagens.
*Não contém spoilers.
Please Like Me é uma daquelas jóias escondidas na Netflix que uma vez descoberta não dá mais para largar. Escrita principalmente por seu protagonista, Josh Thomas, a série de dramédia segue a vida de Josh, um jovem australiano de vinte anos, e todas as pessoas que habitam o seu mundo. Entre eles temos Claire, a ex-namorada que continua em sua vida como amiga; Tom, seu companheiro de casa e melhor amigo; e surpreendentemente, sua família, incluindo mãe, pai e uma tia-avó durona e sensível em medidas iguais.
💕 Tia Peg 💕
Logo de cara começamos a história com Josh se assumindo gay quando Claire termina com ele justamente por esse motivo. Em qualquer outra produção isso poderia ser a receita para o desastre, mas felizmente Please Like Me passa longe dos estereótipos e traz um retrato sincero e verdadeiro das primeiras descobertas, experiências e questionamentos de Josh como um homem gay.
Josh e seu primeiro namorado, Geoffrey.
É importante notar, no entanto, que Please Like Me não é uma série sobre um homem gay, mas sim uma série sobre um homem que tem entre uma de suas características o fato de ser gay. Isto é, embora a sexualidade de Josh seja uma parte importante de quem ele é, ela é apenas um dos elementos que o definem, não o todo. Dessa forma, o personagem, suas relações e sua trajetória não são limitados a somente uma de suas características.
Esse é um dos aspectos mais fortes de Please Like Me, pois se a produção seguisse a cartilha clássica de representação LGBT na mídia, provavelmente teríamos uma história planificada, focada principalmente no drama de “sair do armário” e na vida amorosa de Josh. Ao invés disso, a produção apresenta a homossexualidade tanto do protagonista como de outros personagens com o cuidado e complexidade que ela merece, ao mesmo tempo em que a trata como um não-evento – ou seja, como algo que é simplesmente uma das partes da vida dessas pessoas.
A amizade de Josh e Tom permanece maravilhosamente descomplicada e não sofre nem o mais leve tropeção com a notícia de Josh, trazendo uma representação saudável e positiva de masculinidade que quase não existe na televisão.
Isso não significa, no entanto, que a série se esquiva de falar sobre aceitação, identidade LGBT e homofobia. Embora a trajetória de seu protagonista seja relativamente suave, Please Like Me traz experiências diversas (dolorosas ou não) também de outros personagens homossexuais, mostrando muitas vezes que embora eles não sejam definidos pela sua sexualidade, a heteronormatividade que eles precisam enfrentar tem um custo alto. De acordo com estudos recentes, pessoas LGBT têm maior risco de ter depressão ou tentar o suicídio, e a série retrata essa realidade de forma sensível e sincera, tomando o cuidado de não limitar a representação de seus personagens.
Esses gigantescos acertos não só fizeram com que Please Like Me se tornasse uma das séries que melhor representa gays e lésbicas, como permitiu que ela se aprofundasse também nos dramas pessoais de todos os outros personagens – e consequentemente trouxesse representatividade também em outras frentes.
Um dos muitos acertos: a representação de um aborto feito por uma das personagens foi uma das melhores que eu já vi na televisão.
Com isso, Josh acaba dividindo o protagonismo com outros personagens igualmente complexos e cativantes. Sua mãe, por exemplo, luta com o transtorno bipolar e, começando a série com uma tentativa de suicídio, nos coloca em contato com uma realidade ainda considerada tabu entre a maioria de nós. Sua doença mental a leva a um hospital psiquiátrico, onde conhecemos outros personagens ao longo das temporadas, com seus próprios problemas e complexidades. Já seu pai é um homem que nem sempre acerta, mas está sempre tentando o seu melhor com Josh, conforme constrói uma nova família com sua namorada, Mae.
Amor, amizade, doenças, sexualidade, juventude, amadurecimento, envelhecimento. Please Like Me não se intimida com nenhum tópico, porque eles são parte da experiência humana – e se tem uma coisa que a série tenta fazer é ser sincera com o seu público. Mesmo que já tenha chegado ao fim após concluir suas quatro temporadas, fica a recomendação. Vale muito a pena apostar nela.
O dia 28 de junho é o Dia Internacional do Orgulho LGBT. Nessa mesma data, em 1969, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e drag queens se uniram contra as batidas policiais que ocorriam com frequência no bar Stonewall-Inn, em Nova York. O episódio marcou a história do movimento LGBT, que continua lutando por direitos e visibilidade. Em homenagem à data, durante o mês de junho, portais nerds feministas se juntaram em uma ação coletiva para discutir de temas pertinentes à data e à cultura pop, trazendo análises, resenhas, entrevistas e críticas que tragam novas e instigantes reflexões e visões. São eles: Prosa Livre, Collant Sem Decote, Séries Por Elas, Delirium Nerd, Valkirias, Momentum Saga, Nó de Oito, Ideias em Roxo e Preta, Nerd & Burning Hell.
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Vera
June 8, 2017 @ 12:57 pm
tentei assistir e falhei miseravelmente.
Achei o piloto bem chatinho 🙁
Lara Vascouto
June 8, 2017 @ 5:18 pm
Que pena! Eu gosto muito da temporada 3, se quiser dar mais uma chance. 🙂
Thaís
June 9, 2017 @ 9:00 pm
Uma das minhas séries preferidas <3 Ela tem um humor diferente, então assusta um pouco quem está acostumado com comédia sitcom (tipo Friends), mas é maravilhosa.
Acho que o tema central, muito mais do que sexualidade, é saúde mental – que vemos tanto pela mãe do Josh quanto pelo Arnold e vários outros personagens, em diferentes graus e formas de problemas.
Baboo
June 14, 2017 @ 5:16 pm
*Spoiler no comentário*
Achei a série bem fraca, comecei a assistir por uma recomendação de uma amiga minha, mas não consegui nem acabar a segunda temporada.
A maior parte das mulheres são tratadas como loucas histéricas. A mãe é o estereótipo de uma pessoa bipolar e não é fiel em seu retrato, apesar da atriz ser maravilhosa, a ex do melhor amigo é tratada como louca mas é sempre muito mal tratada pelo cara e pelos amigos dele, a atual (até onde eu parei a série) do melhor amigo é uma garota que acabou de completar 18 anos e que basicamente manic pixie dream, a Claire é nada, ela é absolutamente apagada e só serve como plot para os homens ao redor dela, a Mae está sempre gritando de maneira irracional e é representada como a imigrante cabeça quente (outro estereótipo).
Dai vem a representação gay da série, que basicamente é um monte de cara branco fortinho e novo, sendo o primeiro namorado do cara uma porta de tão “burro” que é, um cara que por sinal grita “fag!” (viado!) no meio de um jogo e ao invés da série abordar isso, simplesmente passa o pano por cima com ele justificando que ele pode falar isso pq ele é gay. Até o momento onde vi não há representação de nenhum outra sexualidade que não seja homem gay ou hétero.
Enfim, comentário longo que provavelmente poucos vão ler, mas achei tão estranho essa página divulgar essa série sem levantar esses pontos que quis comentar.