Como Skam Deu um Show de Representatividade Gay em 10 Episódios
Considerada por alguns o “Skins dos dias atuais” a série norueguesa Skam supera expectativas.
*Atenção! Esse texto contém spoilers sobre a 3ª temporada de Skam.
A produção norueguesa Skam (“vergonha”, em norueguês) foi criada em 2015 por Julie Andem como uma web-série pela emissora de televisão NRK. Como o nome sugere, a série tem a mesma proposta da consagrada série britânica Skins (2007), ou seja, mostra o cotidiano de um grupo de adolescentes.
A cada temporada o enredo se concentra em desenvolver um de seus personagens. Com isso, Skam aborda temas como amizade, feminismo, abuso sexual, aceitação da própria sexualidade, neuroatipicidade e islamismo. Esses temas, além de atuais, são extremamente necessários de serem abordados de uma forma responsável e com uma linguagem acessível, principalmente para os jovens (que são seu público alvo).
Atualmente, Skam está em sua quarta temporada. Esse texto irá focar em sua terceira temporada, que foi ao ar em 2016. Nessa rodada tivemos apenas dez episódios, mas a série teve muito a dizer. O personagem principal da vez foi Isak Valtersen, interpretado pelo jovem Tarjei Sandvik Moe. O arco narrativo foi sobre a descoberta da homossexualidade de Isak e sua relação com Even, que sofre de um transtorno de personalidade.
Esses ingredientes já são incríveis, não é mesmo? Levando em conta a autenticidade de se ter um garoto adolescente em seu processo de descoberta da sexualidade como personagem principal de uma produção, não sendo apenas parte de uma história, mas sim o foco da narrativa em si. Só que a ousadia de Skam não pára por aí: além dos tabus relacionados à descoberta da sexualidade ainda se pretende abordar neuroatipicidade no meio de tudo isso.
Descoberta a ambição dessa série europeia é compreensível que surja um frio na barriga, já que os mesmos elementos que podem fazer algo ser incrível, se abordados de forma inadequada podem ser um desastre. E pior, se tornar um desserviço à uma temática tão delicada e necessária nos dias de hoje. Mas aguenta coração, porque vamos mostrar como Skam conseguiu abordar de forma poética e sensível esse momento decisivo da vida de um adolescente.
Enfrentando os próprios preconceitos
Uma coisa que os telespectadores de Skam aprenderam desde sua primeira temporada é que apesar de todas as temporadas terem arcos românticos a serem desenvolvidos, esse não é o foco. Skam é sobre o processo de amadurecimento passado por cada um de seus personagens, e como eles têm de enfrentar as próprias limitações para seguir em frente.
Na primeira temporada, fica claro o interesse romântico de Isak por seu melhor amigo Jonas. Esse sentimento parece ter ficado latente tanto em Isak como no enredo da história, que estava centrada em outros personagens. Contudo, na medida em que a sexualidade de Isak começa a se manifestar com mais força, ele tem de enfrentar os próprios preconceitos para se aceitar.
Um ponto no mínimo inusitado de Skam foi trazer episódios de homofobia vindos do próprio personagem homossexual da série. Acontece que Isak, quando estava em seu processo de descoberta, passou a ter atitudes nada saudáveis em relação a outros gays. Ou seja, a dificuldade de aceitação de si mesmo o levou a reproduzir ódio contra outros homossexuais. Felizmente ele é repreendido por seus amigos, que estão sempre lá para mostrar quando ele não está agindo da forma mais correta.
Aquele cara precisa mesmo ser tão gay?
Qual é a sua, criticando pessoas por serem gay?
Outro episódio de amadurecimento acontece quando Isak descobre que Evan, o menino com quem ele começa a se relacionar, tem transtorno bipolar. Sua mágoa com sua mãe, que também é neuroatípica, faz com que ele comece a questionar os sentimentos de Evan com base unicamente na palavra de outra pessoa em um momento de emoção. Mais uma vez um de seus amigos mostra como essa atitude está errada e como ele deve rever seu posicionamento.
Um modelo de sociedade a ser seguido
Como bem lembrou Stephanie Moreira para o site TvHistória, Skam também é um retrato da sociedade norueguesa, o que fica claro quando um personagem se assume para seus amigos. Como bem disse Moreira:
“(…) eles recebem a notícia com a maior naturalidade, acontecimento que espanta a nós brasileiros, que moramos num país em que infelizmente ainda é o que mais mata LGBTQ+ no mundo”.
Assim, a série nos remete a um modelo de sociedade que podemos almejar para o nosso país.
Vale destacar que é na sutileza de seus diálogos que a web-série norueguesa passa sua mensagem. No momento em que Isak começa a assumir sua sexualidade, ele passa por um caminho comum para muitos jovens gays: aceitar sua sexualidade, mas não admitir fazer parte da categoria “gay”.
Numa conversa emblemática com seu amigo e colega de casa Eskild, Isak diz que gosta de um garoto mas que isso não significa que ele é gay. Ele continua:
“Não há nada de errado em ser gay, é só que não sou gay, como você. Você sabe o que quero dizer, como você fala sobre chupar pau e Kim Kardashian e fragrância de lavanda. […]”.
Parece que todos associam a homossexualidade a ser “assim”, e isso é um tanto pavoroso para aqueles que não são “assim”.
Esse é um pensamento que se repete não só em jovens que estão começando a descobrir sua sexualidade, mas também (lamentavelmente) muitas vezes persiste tanto em gays como heteros. Quem nunca ouviu: “Pode ser gay, só não pode dar pinta”? Essa ideia é inclusive fruto do machismo de nossa sociedade, que hostiliza os homens afeminados, pois eles estariam se colocando em uma posição vista como “inferior”, ou seja, numa posição feminina.
Com maestria Eskild responde ao jovem Isak e deixa bem claro como esse seu posicionamento é errado e desrespeitoso com todos aqueles que lutaram pelo direito de ser quem eram e aqueles que morreram e ainda hoje morrem por isso. Eskild faz Isak refletir com sua fala e chegar à conclusão sozinho de que estava errado.
São pessoas que, ao longo dos anos, escolheram aguentar o assédio…e o ódio…que foram espancadas e mortas. E não porque eles realmente querem ser diferentes.
Assim, Isak é levado a perceber que ter o privilégio de viver um uma sociedade em que seus amigos heterossexuais o aceitam e até dão conselhos românticos a ele sobre Evan em um dos episódios, não veio do nada. Fica evidente que a sociedade norueguesa só chegou naquele ponto depois de muita luta daqueles que vieram antes dele e só por isso ele tem a oportunidade de, por exemplo, ter amigos que o aceitam e o acolhem depois dele se assumir, ou uma mãe extremamente religiosa que diz que o ama independente de sua sexualidade quando ele decide contar para ela que tem um namorado.
“Para meu filho Isak: Eu amei você desde o primeiro segundo que eu vi você em 21 de junho de 1999 as 21:21, e eu vou te amar para sempre.”
Aliás falando de religião em Skam, uma das personagens mais queridas da série é Sana, uma garota mulçumana, que surpresa: é a melhor amiga de Isak. Em vários momentos a série discute a tolerância e o amor ao próximo e coloca em cheque estereótipos preconceituosos que resumem o islã ao fundamentalismo.
“O Islã diz o mesmo de sempre. Que todos os humanos nesse mundo são igualmente importantes e nenhum humano deve ser falado pelas costas, ser violado, julgado ou ridicularizado. Então se ouvir alguém usando religião para argumentar seu ódio, não escute. Porque ódio não vem da religião, vem do medo.” – Sana na 3ª temporada.
Pode ser gay só não pode ser babaca
Como destacou Steven Perkins em seu texto “Todas as coisas que Skam fez certo” há um tópico em que a produção quase perde sua desenvoltura. Um estereótipo muito usado na ficção (e até desgastado) é o da mulher que impede que casais gays fiquem juntos. Steven confessa que temeu que Skam fosse cair nessa “armadilha”.
Apesar desse receio, Skam mais uma vez se utiliza da verossimilhança trazendo outros momentos muito recorrentes na vida de jovens homossexuais. Primeiramente, a série mostra quando Isak conhece uma garota e alimenta as esperanças dela de que eles possam ter algo. Em uma cena emblemática, a garota, Emma, tendo descoberto que Isak tinha ficado com Evan, conversa com ele e diz que o problema não era ele ser gay, e sim ele tê-la deixado interessada sem ter intenções de ficar com ela.
Naquele momento de embate, Emma também diz a Isak: “É 2016 Isak, saia do armário”. Isso soa insensível, mesmo que a sociedade norueguesa se mostre mais tolerante. Os estigmas que Isak sente em relação a si mesmo são reais, seu sofrimento e dificuldade de aceitação demonstram que apesar da Noruega ser mais tolerante, a homofobia e machismo ainda estão presentes no inconsciente coletivo daquela sociedade como em toda a cultura ocidental.
Independente das circunstâncias ninguém deve ser pressionado a sair do armário, pois cada pessoa tem seu tempo. Claro que as pessoas têm que ter responsabilidade emocional por quem se relacionam, e enganar alguém nunca é legal ou justificável. Contudo, nessa fase em que Isak está – de descoberta da sua sexualidade – cobrar dele que assuma algo que ele ainda não entende direito não faria sentido.
Mesmo com essa bola fora de Emma, como Steven assinala em seu texto, a abordagem apresentada o deixou aliviado já que “a série não estava interessada em demonizar Emma” e no final Isak pede desculpas e a convida para uma festa como amiga. Ela declina o convite educadamente, porém o clima entre eles se suaviza. Esse tipo de solução de conflitos que a série traz mostra como pessoas boas podem falar coisas ruins em determinados momentos de emoção, mas que isso não impede que elas consertem seus erros e revejam seus posicionamentos.
Nessa mesma linha, um outro conflito se constrói: Even, o garoto com quem Isak se envolve, tem uma namorada. Eventualmente, eles decidem terminar, já que o relacionamento de Isak e Evan começa a tomar contornos reais. Contudo, Isak não sabia que Even era bipolar e depois de uma noite romântica juntos Even tem um episódio maníaco e sai sem roupas – no frio da Noruega – para comprar um McDonald’s de madrugada.
Preocupado, Isak recorre a ex-namorada de Evan, Sonja, mas ela, ainda com rancor do término do relacionamento, insinua que Even não gosta dele de verdade que aquilo que eles estavam vivendo era só algo que ele colocou na cabeça naquela vez, pois ele era bipolar e o interesse dele por Isak seria só mais uma fase passageira de sua condição…
“Isak: Você também tem uma mãe louca? Magnus: Ela não é louca. Ela é bipolar. Isak: Sim, mas… Como ela é? Magnus: Ela é maravilhosa! Você já a conheceu, certo?”
Como vimos anteriormente, Isak é repreendido por um de seus amigos, Magnus, por acreditar em outra pessoa sobre como Evan se sentia sem ao menos conversar sobre os sentimentos dele. Mais uma vez o roteiro arma um o momento de redenção: Isak liga para Sonja, porque ele não tinha o número dos pais de Evan, para avisar queo garoto estava bem e seguro após seu o incidente do McDonalds.
Nesse momento, Sonja pede desculpas por ter se deixado levar pelas emoções. Isak aceita suas desculpas e diz que entendia que ela estava apenas brava e assustada e acabou se exaltando. Na mesma conversa, Sonja admite que acredita que Isak está fazendo bem para Even e o aconselha a viver um dia de cada vez, e estar lá quando ele precisar. Isso dá insumo para um dos diálogos mais bonitos da série, no qual Isak sugere a Evan que não tema o futuro, e que vivam o seu relacionamento “minuto a minuto”.
Infelizmente, ser homossexual não impede que um homem seja machista e misógino. Quantas vezes já ouvimos gays falarem que tem “nojo de buceta” – isso não é nada legal. Da mesma forma, ser mulher não impede de alguém de ser homofóbica. Entretanto, Skam subverte ao mostrar pessoas reais que tem defeitos, mas que sempre tentam melhorar e consertar seus erros e posturas inadequadas. Assim, mesmo que em Emma e Sonja tenham se exaltado com Isak, elas não caem no clichê ficcional de “Vadias que impedem casais gays de ficarem juntos”, e isso é muito importante.
“Magnus: Como estão as coisas com Evak. / Isak: Bem, eu acho. Nós estamos levando isso dia após dia, minuto após minuto” – Evak é o nome do casal Isak e Evan dado por Magnus.
A estética de Skam
Como podemos perceber na cena mencionada acima, além de didático, Skam é extremamente poético. Sua junção de trilha sonora (com artistas como Lorde, Hozier e até rappers clássicos dos anos 90 como Nan) e enquadramentos de câmera intimistas, focando nos detalhes e nas expressões dos personagens, torna a experiência de quem assistem tocante. Além disso, a série faz um uso muito bom dos silêncios, deixando muitas vezes que os não ditos passem sua mensagem.
Mas o que isso tem a ver com o tema em questão? Essa estética trazida na séria ajuda a construir uma narrativa que torna os personagens queridos pelo público, e que seus problemas, sentimentos e angústias toquem quem assiste. Isso é extremamente importante, pois gera empatia e identificação das vivências dos personagens com as vivências da vida real do público.
Com isso, a série apresenta cenas extremamente bonitas visualmente, trazendo um tom artístico e poético para a narrativa. Uma cena que merece ser mencionada nessa temporada é o primeiro beijo de Isak e Evan, que foi nada mais, nada menos que debaixo d’água. Essa leitura poética de um momento tão íntimo chama atenção por mostrar a inocência, pureza e a naturalidade do sentimento dos dois personagens. É impossível não se emocionar.
O que seria mais importante que mostrar como amor é puro e lindo de todas as formas que se apresenta no mundo? Ainda mais se tratando daquele amor que ninguém nunca esquece: o primeiro. Assim, os recursos audiovisuais empregados na fotografia de Skam são um tempero a mais na série, mostrando que além de um roteiro bem amarrado, a produção se preocupa com a experiência estética de seus telespectadores.
Pessoas reais
Ainda falando em fatores que geram identificação no público, uma característica que faz Skam se destacar das demais séries assistidas hoje em dia é a aparência dos personagens. Os atores contratados para interpretar os adolescentes são realmente muito jovens e além disso, em várias cenas as meninas aparecem sem maquiagem, os meninos com o cabelo bagunçado e marcas da adolescência como as espinhas não são escondidas. Com isso a série mais uma vez enfatiza que quer tratar de jovens reais.
Um sentimento de choque muito grande que ocorre na geração que cresceu assistindo filmes como High School Music e Garotas Malvadas foi chegar ao ensino médio e não parecer em nada com os atores dos filmes que assistiam. Muitas vezes esses atores eram muito mais velhos que os personagens que interpretavam, além de serem maquiados e até já terem realizado intervenções cirúrgicas para se adequar mais ainda aos padrões estéticos da época.
Essa representação de adolescentes como adultos impecavelmente bonitos é prejudicial, porque gera frustrações nos jovens que assistem. O sentimento de inadequação na adolescência já é grande, levando em conta que a puberdade é um período de mudanças consideráveis. Consequentemente, se trata de um momento de estranheza dos jovens com aquele corpo que não é mais de criança, mas que também ainda não é um adulto completo.
E ainda, no contexto atual essa fase se torna ainda mais complicada com as pressões estéticas na nossa sociedade, que fazem com que meninos e meninas fiquem desconfortáveis com sua aparência, o que pode inclusive ocasionar distúrbios alimentares e psicológicos. Trazer adolescentes reais – in natura – para representar adolescentes é um passo na direção certo para fazer com que os jovens fiquem mais confortáveis com si próprios nessa época de suas vidas.
Shane e Duck – Faking It (MTV)
Wil – Shannara Chronicles (MTV)
Jace and Clary – Shadowhunters (Netflix)
Isso também se se aplica às pressões estéticas passadas pela comunidade LGBTQ+, em seu próprio meio. Séries como as produzidas pela MTV, que trazem apenas personagens impecavelmente bonitos e dentro dos padrões de beleza contribuem para a insatisfação dos jovens com seus corpos e para a reprodução de estereótipos – como o do menino gay de pele de porcelana e cabelo sempre arrumado – o que não é e nem deve ser uma regra. Cada pessoa é única e não existe só um tipo de beleza.
Esse tipo de representação também cria o sentimento extremamente prejudicial que se uma pessoa não for bonita igual aos personagens da televisão, do cinema e das séries ela não é digna de ser amada. E adolescentes, estando numa fase de vulnerabilidade em relação a adequação com seus corpos, ficam suscetíveis a esse tipo de mensagem.
A linguagem de Skam
Um outro diferencial de Skam é a interatividade. Mais uma vez cumprindo seu objetivo de falar de jovens para jovens, a série utiliza os recursos das redes sociais para ficar ainda mais perto de seu público. Todos os personagens da série têm perfis ativos, como se fossem pessoas reais e eles mesmo postassem seu conteúdo.
Além disso, a grande sacada da produção da série foi trazer tudo em tempo real. Por exemplo, se uma foto de uma festa é postada em um dos perfis é porque naquele momento os personagens da série estariam realmente em uma festa. Também são divulgadas conversas entre os personagens e pequenas cenas do próximo episódio a ser exibido.
Esse grande trunfo de temporalidade somado ao uso das redes sociais mostra como a equipe por trás de Skam conhece seu público e está comprometido a passar sua mensagem da forma mais acessível possível, utilizando a linguagem e o cotidiano dos próprios jovens para chegar até eles. Essa abordagem faz com que mais pessoas se interessem pela série, e que os assuntos tão importantes que ela aborda sejam discutidos e toquem mais pessoas.
Finalmentes
Com duração de 20 a 30 minutos por episódio, e temporadas que variam de 10 à 12 episódios, Skam com certeza é um fenômeno singular no universo das produções seriadas – ainda mais se tratando de uma série que não é americana. Todos os esforços da equipe em criar um produto diferenciado não foram em vão e justificam o seu sucesso.
Há um ditado no ramo do audiovisual que diz que “nada é colocado no ar por acaso” e Skam personaliza isso. Sua narrativa é extremamente concisa e vai direto ao que interessa. Outras séries de drama precisam do dobro de episódios para aprofundar seus personagens e plots.
Mesmo assim, a produção norueguesa consegue nos surpreender fugindo dos lugares comuns e dos caminhos já muito percorridos nas produções americanas. E isso não impede que a fotografia explore os clichês do gênero como cenas de grupos de jovens descolados em câmera lenta chegando na escola.
Na terceira temporada o tema da descoberta da sexualidade foi apresentado com uma verossimilhança considerável. Foram abordados assuntos importantíssimos para a construção do caráter dos jovens. A série ainda emocionou com sua estética e sensibilidade. E mais importante: de forma didática e responsável. O amadurecimento de Isak é inquestionável e o público acompanhou os sofrimentos e dilemas que o garoto enfrentou nesse período, como o isolamento de seus amigos e seus problemas para dormir.
Claro que como qualquer outra produção, Skam não fica acima de críticas. Há questionamentos inclusive sobre a representatividade étnica da série, que poderia ser mais diversa. Outro ponto destacado foi a falta de um casal lésbico na trama. Contudo, foi interessante a abordagem da segunda temporada,que mostrou que mulheres fortes e feministas como Noora não precisam necessariamente serem lésbicas – um estereótipo muito usado por aí.
Infelizmente, os criadores da série confirmaram que a quarta temporada, que está sendo exibida agora e tem Sana como personagem central, será a última. Julie Andem, a criadora de Skam (viram a importância de ter mulheres por trás das câmeras?), confirmou em nota oficial que essa decisão zela por manter a qualidade da produção, já que foi um processo e tanto todo o desenvolvimento da série:
“Skam tem sido um trabalho de alta demanda, 24h por dia. O processo é divertido e os assuntos continuam relevantes, surpreendentes e engraçados. Sei que algumas pessoas irão ficar tristes, mas eu estou segura que a decisão de terminar a série na 4ª temporada é a correta”.
Enfim, Skam mostra como um roteiro conciso e extremamente consciente de seus objetivos pode criar uma produção incrível com um orçamento razoável. Depois de toda essa análise não é surpresa que a produção tenha virado um fenômeno e provado que se adaptar às novas linguagens tecnológicas é fundamental para o sucesso. E que tratar de temáticas LGBTQ+ não é nem de longe tão arriscado a ponto de tirar a audiência (lê-se lucro) de uma série. Muito pelo contrário.
Leia também Livro x Filme – Loras Tyrell e a Estereotipização de Personagens LGBT em Game of Thrones.
O dia 28 de junho é o Dia Internacional do Orgulho LGBT. Nessa mesma data, em 1969, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e drag queens se uniram contra as batidas policiais que ocorriam com frequência no bar Stonewall-Inn, em Nova York. O episódio marcou a história do movimento LGBT, que continua lutando por direitos e visibilidade. Em homenagem à data, durante o mês de junho, portais nerds feministas se juntaram em uma ação coletiva para discutir de temas pertinentes à data e à cultura pop, trazendo análises, resenhas, entrevistas e críticas que tragam novas e instigantes reflexões e visões. São eles: Prosa Livre, Collant Sem Decote, Séries Por Elas, Delirium Nerd, Valkirias, Momentum Saga, Nó de Oito, Ideias em Roxo e Preta, Nerd & Burning Hell.
Jessica
June 29, 2017 @ 12:45 am
oi, você mandou muito bem no texto sobre skam. Assisti todas as temporadas e senti tudo isso que você abordou e realmente tem todo esse impacto. é uma das melhores produções da atualidade, junto com the handmaids tale.
melissa
August 18, 2017 @ 1:28 am
Gostei do texto e entendo a temática por causa do dia internacional do orgulho LGBT mas acho que é importante frisar que a 4 temporada é toda focada na Sana, uma menina mulçulmana em um país branco. apesar de não termos esse tema tão gritante na nossa sociedade brasileira quanto na europeia, ela ainda é uma temática importante e que deve ser debatida e pensada sobre. surgiram várias críticas a respeito da série e dos fas na 4 temporada. houve um debate mt grande a respeito do white-washing feitos nos gifs pelos fas (o que foi utilizado nesse texto é um exemplo bem claro disso). a série falhou muito também ao abordar o tema do racismo e da islamofobia. acho interessante abordarmos mais as diferenças gritantes que existem no movimento feminista quando comparamos as sociedades eurocentricas ocidentais com as outras, principalmente quando nós, no Brasil, nos encontramos no meio do caminho. também rolou um debate grande do porque a série foi tão bem nessa representação do gay homem e branco, mas não apresentou nenhuma personagem lésbica. mesmo existindo a grande possibilidade de fechar o arco da Vilde com ela descobrindo sua própria sexualidade e tendo várias fas esperando por isso.
meu ponto é: muito bom o texto, mas sendo um blog focado principalmente em discutir temáticas feministas, acredito que seria positivo a análise da 4 temporada também. principalmente tendo em vista que é uma temática com a qual temos muito pouco contato! bjs 🙂
Lara Vascouto
August 18, 2017 @ 6:20 pm
Reflexão super importante e relevante, Melissa! Obrigada pela sugestão!