Mulher-Maravilha e +10 Filmes Recentes com Protagonistas Femininas que Arrebentaram nas Bilheterias
Agora não tem mais como ignorar, mas já há um tempo a desculpa de que filmes com mulheres não dão dinheiro não cola mais.
Certo, antes de começar esse texto, vamos relembrar alguns números alarmantes, sim? De acordo com o Center for the Study of Women in Television and Film, 29% dos protagonistas nos 100 maiores filmes de 2016 foram mulheres. Achou isso ruim? Pois saca só essa: em 2015, mulheres foram apenas 22% das protagonistas, enquanto em 2013 foram meros 15%. Então eu acho que isso significa que temos que encarar os resultados de 2016 como uma vitória.
Eu sei, mas a gente tem que ver o copo meio cheio né.
Para piorar, temos números pífios de participação feminina também por trás das câmeras, o que rendeu inclusive uma investigação federal de discriminação de gênero nas contratações tanto dos Big Six (os seis maiores estúdios de Hollywood), como das maiores redes de televisão e agências de talento dos EUA. Aliás, no quesito diretoras, não tivemos vitória nenhuma de um ano para cá: em 2016, apenas 6,3% filmes dos Big Six foram dirigidos por mulheres, enquanto em 2017 a previsão é de que esse número será de 6%.
Durante muito tempo, a justificativa dos estúdios para esses resultados absurdos foi tanto a ideia de que o público não tem interesse em filmes com protagonistas femininas, como a pouca confiança depositada em mulheres para carregar grandes blockbusters nas costas. Isso é algo de conhecimento comum em Hollywood: entregar uma grande produção nas mãos de uma mulher é sempre visto como “uma aposta”. De acordo com Paul Feign, diretor do sucesso Missão Madrinha de Casamento:
“A indústria estava hiper focada no resultado, se ia se sair bem. Roteiristas que eu conheço estavam inspirados pelo filme e estavam propondo ideias similares, e tudo o que os executivos diziam é que teriam que esperar para ver como Missão Madrinha de Casamento iria se sair”.
Diretoras aclamadas também já fizeram críticas semelhantes. De acordo com Diablo Cody:
“Se um filme estrelado, dirigido ou escrito por um homem falha, ninguém atribui o fracasso ao gênero de quem o criou. É estranho como a culpa sempre cai imediatamente sobre as diretoras mulheres”.
Por esse e outros motivos, a pressão sobre Mulher-Maravilha era enorme. Pra começo de conversa, não só a produção é protagonizada por uma mulher, como essa mulher é uma super-heroína (dois agravantes para a indústria, que equivocadamente acredita que 1) somente garotos gostam de filmes de super-herói e 2) garotos não estariam interessados em ver uma super-heroína como protagonista). Além disso, a direção do filme é assinada também por uma mulher, Patty Jenkins – uma das primeiras a dirigir um filme com orçamento superior a 100 milhões de dólares.
No fim das contas, qualquer temor de que o filme seria um fracasso se provou completamente infundado: no seu fim de semana de estréia, Mulher-Maravilha teve uma bilheteria histórica, com US$ 100,5 milhões (mais de R$ 325 milhões) arrecadados só nos EUA, na maior abertura de um filme dirigido por uma mulher na História. Além disso, a produção também arrecadou mais do que outras produções do gênero (Homem de Ferro, Thor e Capitão América, estamos olhando pra vocês), e foi um sucesso internacionalmente, com bilheteria global de US$ 223 milhões (R$ 722 milhões). E por último, mas não menos importante, o filme também está sendo um sucesso de crítica, e 52% do seu público até agora é composto de – adivinha – mulheres.
Com isso, Mulher-Maravilha está sendo considerado uma grande vitória contra quem acredita que mulheres não são capazes de gerar interesse, de contar suas próprias histórias ou de trazer milhões de dólares para casa. Mas sinceramente, como a comediante Michelle Wolf bem explicou, um sinal de que ainda estamos longe da igualdade no cinema é o fato de termos que ficar elencando todas essas conquistas, como se precisássemos provar que merecemos o espaço conquistado.
De qualquer forma, se provar é preciso, Mulher-Maravilha com certeza não deixou nenhum ponto sem nó e conseguiu deixar até o machista mais cético sem argumentos. E o melhor de tudo é que o filme é o mais recente em uma longa e variada sequência de produções que trouxeram mulheres protagonistas e provaram que Hollywood só tem a perder quando exclui mulheres, tanto cultural como financeiramente. É bom que a indústria tome tento e comece a produzir mais filmes encabeçados por mulheres (tanto na frente, como por trás das câmeras), porque a desculpa de que filmes com mulheres não dão dinheiro não cola mais.
Então vamos lá! Além de Mulher-Maravilha, confira abaixo dez filmes recentes que contribuíram para mostrar que mulheres têm que ser levadas a sério sim.
Star Wars – O Despertar da Força (Star Wars: Episode VII – The Force Awakens, 2015)
Aclamado pela crítica e pelo público, foi a maior bilheteria de 2015, a maior bilheteria da franquia Star Wars, e a terceira maior bilheteria de todos os tempos, tendo chegado a um bilhão de dólares em menos de duas semanas de exibição – o filme mais rápido da História a chegar a este valor. A produção é protagonizada por Daisy Ridley, no papel de Rey.
Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011)
Com um elenco principal composto inteiramente por mulheres, o filme arrasou ao se tornar o filme mais lucrativo do produtor-diretor Judd Apatow, um dos maiores nomes da comédia da última década, responsável por produções como Superbad, O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos. O longa ainda rendeu vários prêmios e indicações de Melhor Comédia, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz para o Oscar e para o Globo de Ouro.
Jogos Vorazes (Franquia Hunger Games)
Protagonizado por Jennifer Lawrence no papel de Katniss Everdeen, o filme bateu recordes de bilheteria e se tornou uma das maiores franquias do cinema. O segundo e o terceiro filme encontram-se na lista dos 65 filmes de maior bilheteria da História, enquanto o primeiro e o quarto estão na lista dos 100 maiores.
A Escolha Perfeita 1 e 2 (Pitch Perfect 1 e 2)
Outra comédia que se tornou queridinha do público e que traz um elenco principal composto por mulheres. O primeiro filme já foi uma surpresa nas bilheterias, se tornando a segunda comédia musical mais lucrativa da história, perdendo apenas para Escola do Rock. Já o segundo filme, dirigido por Elizabeth Banks, deu um verdadeiro show, arrecadando mais no seu fim de semana de estréia do que o primeiro arrecadou em toda a sua exibição e desbancando produções de orçamentos muito maiores, como Mad Max: Estrada da Fúria e Vingadores: Era de Ultron. A Escolha Perfeita 3 será lançado esse ano.
Frozen – Uma Aventura Congelante (Frozen, 2013)
Frozen dispensa apresentações, claro. Por isso eu vou logo trazer os fatos. Além de ganhar inúmeros prêmios, incluindo o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Animação, o filme ainda acumula os títulos de: a maior bilheteria de 2013, a animação de maior bilheteria de todos os tempos, e a nona maior bilheteria da história. Nada mal para uma animação da Disney que traz duas mulheres protagonistas e nenhum casamento no final.
Rogue One – Uma História Star Wars (Rogue One – A Star Wars Story, 2016)
Outro filme da franquia Star Wars protagonizado por uma mulher que estourou as bilheterias em todo o mundo. Rogue One foi a maior pré-estreia de uma quinta-feira em 2016, sendo que em suas primeiras vinte e quatro horas, o filme teve a segunda maior quantidade de ingressos vendidos na pré-venda, atrás apenas de O Despertar da Força no ano anterior. Arrecadando mais de 1 bilhão de dólares no mundo todo, foi o segundo filme de maior bilheteria de 2016.
Malévola (Maleficent, 2014)
Trazendo uma subversão bastante interessante na história original da Bela Adormecida, Malévola atraiu um público gigantesco e rapidamente se tornou a quarta maior bilheteria de 2014 e o filme de maior bilheteria estrelado pela Angelina Jolie.
Histórias Cruzadas (The Help, 2011)
O aclamado Histórias Cruzadas foi também um sucesso comercial, ficando em segundo nas bilheterias durante o seu fim de semana de estréia, e depois saltando para a primeira posição e permanecendo lá por três fins de semana consecutivos. No total, Histórias Cruzadas ficou no topo das bilheterias por nada menos que 25 dias seguidos, um feito que não era visto desde o Sexto Sentido, em 1999.
Gravidade (Gravity, 2013)
Sucesso de crítica e público, Gravidade se tornou um dos mais bem-sucedidos filmes de ficção científica de todos os tempos, e a produção de maior sucesso nas carreiras tanto de Sandra Bullock como de George Clooney. Além disso, o filme foi indicado e ganhou sete Oscars, incluindo Melhor Diretor.
Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures, 2016)
Se mulheres brancas são excluídas da indústria pelo machismo, mulheres negras são duplamente invisibilizadas pelo machismo e pelo racismo. Aliás, não é coincidência o fato de todos os outros filmes nessa lista serem protagonizados por mulheres brancas (sim, Histórias Cruzadas é protagonizado por uma mulher branca).
Felizmente, Estrelas Além do Tempo está aí para mostrar que mulheres negras podem sim carregar produções de sucesso. Não só o filme acumulou prêmios e indicações, incluindo ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Atriz Coadjuvante, como também ficou no topo das bilheterias por dois finais de semana seguidos, desbancando o favorito Rogue One. No total, Estrelas Além do Tempo foi o título que mais faturou entre os indicados ao Oscar de Melhor Filme de 2017, desbancando inclusive o queridinho La La Land.
Leia também 6 Curiosidades sobre Mulher-Maravilha para Quem (Ainda) Não está Animado para o Filme; e Como a Falta de Mulheres em Hollywood Influencia a Desigualdade de Gênero na Vida Real.
Você não precisa desapegar dessas histórias! Confira abaixo os livros que deram origem a alguns dos filmes da lista: