As Mulheres de Hollywood Lutam Enquanto os Homens Passam Pano
A luta das mulheres tem se estendido por décadas, mas é quase nulo o questionamento por parte dos homens sobre o papel trágico que têm exercido contra nós.
No começo do mês, diversas atrizes e profissionais de Hollywood uniram-se para denunciar explicitamente uma das maiores figuras do cinema internacional, Harvey Weinstein, com sérias acusações de assédio e estupros. Weinstein não foi o único – a lista só vem crescendo com casos protagonizados por Ben Affleck, Oliver Stone e Lars Von Trier, entre outros tão citados que ousam defendê-los.
Björk revelou em seu Facebook que sofreu assédio sexual quando trabalhou com o diretor dinamarquês, Lars von Trier.
A cada dia mais histórias vêm à tona e provam que a realidade de muitas mulheres no mundo se repete e é acobertada por toda Hollywood. O suposto choque causado à maioria das pessoas sobre esses fatos não surpreende nenhuma mulher, mas reafirma cada preocupação feminina quando se trata de denunciar seus assediadores e estupradores – ato que pode colocar em risco suas carreiras e seus sonhos, tendo em vista a constante exposição e questionamento à essas mulheres sobre a veracidade de suas histórias, sejam elas famosas ou não.
Em meio a tudo isso, o queridinho do cinema Cult e parceiro de longa data de Harvey, Quentin Tarantino, afirmou em uma entrevista recente que sabia dos casos de assédio por parte de seu amigo. Sabia o suficiente, mas não fez nada.
Imagine essa situação: amigos homens em um bar falando sobre suas investidas abusivas contra mulheres na festa passada, ou sobre o comportamento abusivo que praticam contra suas parceiras. Nenhum deles irá apontar os erros do amigo ou até mesmo ousar se retirar incomodado. Nessa mesa você imagina os piores tipos de homens, mas agora sabemos que nela se sentam atores, diretores e produtores de Hollywood, seus agentes e todos os seus amigos que os acobertam e que, se bobear, incentivam e fazem igual. São homens que tem consciência plena de suas atitudes. Alguns podem até saber que isso não está certo, mas não farão nada para mudar a situação.
A luta das mulheres por reconhecimento, direitos, representação e contra a violência tem se estendido por décadas de debates acirrados e exposições constantes de rostos femininos, mas pouquíssimo questionamento por parte dos homens sobre o papel trágico e desgastante que têm exercido sobre nós. É possível analisar essa situação da seguinte forma: a maioria dos homens sabe como seus amigos são abusivos – eles próprios o são, muitas vezes – mas não podemos contar que pelo menos um deles estará ao nosso lado.
A união de mais de 40 atrizes e profissionais da indústria expõe abusos de longa data, o que me faz acreditar que toda a Hollywood sabia e corroborava com as suas práticas, demonstrando ainda que as mulheres sabiam que se fizessem as denúncias sozinhas colocariam em jogo suas carreiras e seriam desacreditadas. Quantas e quantas vezes nos deparamos com casos absurdos de diretores que foram violentos e abusivos com as atrizes em seus filmes, que foram acusados de estupro ou assédio por menores de idade, e que disseram absurdos machistas em outras inúmeras situações, somente para ver a mídia correr em suas defesas e seus fãs garantindo que não boicotariam seus filmes por conta de situações como essas.
“É preciso separar a obra do artista” é o escudo por trás do qual se escondem essas pessoas. Na imagem, Lupita Nyong’o, a mais recente das atrizes a denunciar Weinstein, em uma carta aberta ao The New York Times.
O cinema tem essa característica muito peculiar de ser muitas vezes uma ferramenta que reproduz os valores machistas e racistas da sociedade, valorizando figuras masculinas opressoras contra as mulheres e minorias em detrimento de grandes trabalhos e produções femininas e não-brancas.
No entanto, mais do que nunca essa lógica está sendo abalada pela luta das mulheres. A verdade está sendo exposta e ninguém poderá questioná-la, visto que o movimento de denúncia só cresce, com mais e mais nomes sendo apresentados dia a dia com relatos detalhados e dolorosos. Não é necessário que nenhum homem tome a dianteira da lutas das mulheres (seja em qualquer âmbito da sociedade que ela ocorra), pois essas mulheres tem se movimentado para isso. Elas estão articuladas para que nenhum comportamento machista seja encoberto, com ou sem a ajuda deles. Pela primeira vez, as mulheres de Hollywood lutam em massa contra uma realidade massacrante, para que o mundo saiba que responderão à altura – mesmo que os seus colegas homens silenciem diante disso tudo.
Leia também Harvey Weinstein – Abuso, Poder e Silenciamento.
Leticia
November 10, 2017 @ 6:14 pm
EU odeio COM TODAS AS MINHAS FORÇAS ESSE “ARGUMENTO” que diz que É PRECISO SEPARAR O PESSOAL DO PROFISSIONAL. pO**A, VAMOS AGORA ENTÃO NO tREMEMBÉ, CADEIÃO DE pINHEIROS E OUTROS E VAMOS SOLTAR METADE DOS PRESOS, VAMOS LÁ SOLTAR TODOS OS QUE ERAM BONS PROFISSIONAIS ANTES DO DELITO. sUZANE vON rIchthofen era uma ótima estudante de Direito na PUC, Vamos soltá-la. Há ótimos pedreiros, encanadores e profissionais braçais lá também, com certeza, vamos soltá-los. Pra mim é um dos argumentos mais patéticos que já vi.