Por que Meninas de 12 Anos Parecem Adultas em Ensaios Fotográficos?
Sexualizar meninas contribui diretamente para uma cultura que faz vista grossa para pedofilia.
Em 2016, a atriz Millie Bobby Brown – a Eleven, de Stranger Things – fez um ensaio fotográfico para a revista Interview que deixou todo mundo enlouquecido.
Bem, quase todo mundo. Algumas pessoas acharam bem esquisita a forma como a revista retratou Millie, essencialmente porque a atriz de 12 anos poderia ser facilmente confundida com uma adulta de 20 em boa parte das fotos.
É verdade que nem todo o ensaio é esquisito. A Interview até trouxe algumas fotos em que Millie aparenta a sua idade. O problema é que ela as alternou com outras que ou não são lá muito naturais para uma criança de 12 anos, ou são simplesmente inapropriadas mesmo.
Olhos semicerrados, lábios abertos (ou mordendo alguma coisa), dedos nos lábios. É possível que o que eu vou dizer seja novidade para muita gente, considerando-se o quanto é naturalizada a imagem do corpo feminino erotizado ou objetificado na mídia, mas aí vai: tudo isso denota sensualidade. A expressão de Millie na capa da revista é inclusive uma das coisas que a quadrinista Renae De Liz diz ser necessário eliminar ao se desenhar personagens femininas a fim de não sexualizá-las. Que justo uma foto em que a jovem atriz está com essa expressão tenha ido para a capa da revista, como chamariz, diz muito sobre a nossa mídia.
De Liz publicou no seu Facebook em julho desse ano um comparativo de como heroínas de quadrinhos são desenhadas vs como deveriam ser desenhadas.
Há quem diga que é exagero. E talvez eu até concordasse, não fosse o longo histórico da mídia de testar o limite do que é apropriado ao retratar jovens atrizes e modelos.
Em 1980, uma Brooke Shields de quinze anos de idade se viu no meio de uma polêmica ao estrear em uma propaganda da Calvin Klein em que diz que “não tem nada entre eu e meus jeans”, ao mesmo tempo em que sustenta uma pose absurda. Duas emissoras de televisão de Nova York chegaram a banir a propaganda por suas insinuações sexuais na figura de uma menor. Kate Moss, por sua, vez, foi fotografada de topless quando tinha apenas dezesseis anos para a revista The Face. Aos 38 anos de idade, Moss contou que se trancava no banheiro durante o ensaio para chorar. “Nunca me senti à vontade sobre isso”.
Mais recentemente, tivemos o exemplo de Emma Watson, que interpretou Hermione Granger na saga Harry Potter dos 11 aos 20 anos de idade. Com apenas 14 anos, a atriz já posava para ensaios bem inapropriados para a sua idade.
Emma entre os 14 e 16 anos.
O caso de Emma, aliás, é emblemático da diferença de tratamento dado a homens e mulheres. Mulheres de todas as idades são objetificadas sexualmente na mídia, enquanto que, se acontece de um homem ser objetificado, é sempre um homem adulto. Daniel Radcliffe, o ator que interpretou Harry Potter, chamou a atenção para esse fato em uma entrevista.
– Entrevistador: Você está meio que se tornando um sex symbol. O que, para alguns dos seus fãs, é meio esquisito porque nós vimos você crescendo nas telas e, agora, aqui está você.
– Daniel: Na época do lançamento do What if, muita gente estava dizendo ‘você é protagonista romântico não convencional’. Eventualmente eu me cansei de ouvir isso e meio que parei alguém e perguntei: ‘O que eu tenho de não-convencional? Tipo, me fala’. E ela disse ‘Bem, acho que é provavelmente o fato de que, você sabe, nós associamos você com o Harry, o jovem menino bruxo’. Minha resposta imediata foi ‘Bem, a população masculina não teve problema nenhum em sexualizar a Emma Watson logo de cara.’
Sei o que algumas pessoas estão pensando:
“Mas elas toparam fazer essas propagandas e ensaios! São elas que posaram e fizeram essas caras!”.
Eu vi muito esse argumento sobre a Millie Bobby Brown. Muitas pessoas falando que meninas de 12 anos são assim mesmo, que querem parecer mais adultas, etc e tal. E que elas “toparam fazer”, então tudo bem. Pois bem, então se Millie tivesse abaixado as calças e mostrado a bunda em uma das fotos seria ok publicá-la? Quem é o adulto, com poder de decisão sobre o que será veiculado, e quem é a criança?
Falar que “elas toparam e fizeram assim, então tudo bem” é, mais uma vez, culpar a vítima. Será que não cansamos de fazer isso nunca? Crianças e adolescentes são vulneráveis e fortemente influenciáveis. É esse fato, aliás, que faz com que consentimento não interfira em caso de estupro de vulnerável. No caso, mesmo que a vítima jure de pés juntos que quer transar, sexo entre adultos e menores de 14 anos é crime. Sem exceções.
Precisamos parar com essa história de “elas sabem muito bem o que fazem” (frase especialmente usada contra menores que engravidam). Meninas não amadurecem mais cedo, como dizem por aí. Meninas são simplesmente mais cobradas a se comportar de forma madura mais cedo, e se adaptam como podem. Se meninos parecem mais imaturos e infantis que meninas, temos de nos perguntar se eles são assim irremediavelmente ou se simplesmente permitimos que eles sejam assim.
Vou só deixar isso aqui.
Millie (e Emma, Brooke, Kate e muitas outras, em suas épocas) faz o que é esperado dela. Por mais madura que pareça (e esse é um comentário que eu tenho visto muito sobre a atriz), ela ainda assim é uma criança. E como toda criança, Millie aprende rápido. Arrisco dizer que não seria nem preciso alguém dizer a ela para semicerrar os olhos e abrir a boca em um ensaio de moda. Não quando tantos ensaios de moda retratam mulheres dessa forma.
A mídia cria e reforça uma visão de mundo que se entranha na nossa percepção de como as coisas são. Sexualizar ou mesmo “adultizar” meninas contribui diretamente para uma cultura que vive passando pano pra pedofilia. Nada menos que 70% dos estupros no Brasil tem crianças ou adolescentes como vítimas. E quando não são estupradas, a maioria das meninas ainda precisa lidar com assédio sexual desde muito novas. Em 2015, quando uma participante de 12 anos do programa Masterchef Junior foi alvo de comentários de teor sexual na internet, mais de 80 mil mulheres usaram a hashtag #meuprimeiroassédio, lançada pela ONG Think Olga, para contar sobre a primeira vez que foram assediadas. Depois de analisar todos os relatos, a ONG constatou que a idade média do primeiro assédio é de 9,6 anos.
Por esse motivo, precisamos ter o olhar crítico para as mídias que consumimos. E precisamos cobrar conscientização e mudança. Devemos isso tanto às Millies e Emmas, como a nós mesmas.
Nota da autora: O texto não debate se crianças tem sexualidade ou não, ou quando elas deixam de ser crianças, mas sim a exploração da mídia em cima disso. Não é uma questão de invalidar ou desconsiderar a sexualidade de crianças e adolescentes, mas sim de chamar a atenção para como essa sexualidade é explorada por adultos. Existe um desequilíbrio de entendimento e de poder muito grandes. Não à toa sexo entre adultos e menores de 14 anos é crime de estupro, independente de consentimento: porque entende-se que a criança ainda não tem entendimento pleno para poder consentir.
Leia também: Objetificação Masculina NÃO é a Mesma Coisa que Objetificação Feminina. Entenda.
Mariana
November 21, 2016 @ 10:51 pm
Matéria mais do que excelente! Concordei com seu ponto e acho que essa sexualizaçao, tanto de jovens quanto de mulheres mais adultas tem que ser repensada mesmo e problematizada, sobretudo no que diz respeito a mídia, mas ainda será um longo caminho para que se alcance algo ideal nesse sentido mesmo :/
paulo amoreira
November 22, 2016 @ 12:19 am
é verdade. lembro de um fotógrafo de moda contar que certa vez conseguiu que uma adolescente tímida parecesse sexy ao pedir pra ela imaginar que estava olhando para sobremesa favorita dela (bolo de chocolate) enquanto olhava pra câmera.
Andreia
November 22, 2016 @ 1:00 am
Me lembra quando o Daniel Radcliffe, já adulto, fez a peça Equus, onde ele aparece nu, e que houve o maior escândalo, inclusive papo de boicote, a respeito. Agora a Emma Watson fazer ensaio sensual com 15, 16 anos tá suave.
Kat Rockenbach
November 22, 2016 @ 9:57 am
Ótima análise de tudo isso. Me senti muito estranha com as fotos da Millie =/
Kiliano
November 22, 2016 @ 11:50 am
Mais um texto fantástico. Gosto muito desse tipo de desconstrução.
Cilene Macedo
November 22, 2016 @ 12:55 pm
Ótimo tema, matéria muito bem escrita e gostosa de ler, mas acima de tudo leva à reflexão. Parabéns!
Sofia
November 22, 2016 @ 1:27 pm
Não sei se é só no meu computador, mas as últimas palavras das linhas estão escondidas. Isso foi um problema desagradável porém contornável, deu pra entender do que se tratava e a argumentação. Adorei o texto!
Patrícia
November 22, 2016 @ 7:21 pm
Sexualizar é indiscutível e fácil de detectar. E é uma merda.
Mas eu tenho francas dúvidas a respeito do que está sendo considerado como “adultizar”.
Qual é a imagem “média” de um adolescente em 2016?
É só com meninas que tem ensaios como esse da Millie, com esse tipo de roupas, cabelos etc?
Quais são os “ícones” (tipo de roupa etc) que vocês consideram ideal pra poder dizer que um adolescente em um ensaio de fotos parece suficientemente adolescente para ser aceitável?
Como a Millie deveria estar vestida, então?
Não é só questionar, é preciso enxergar e encaixar dentro da realidade.
Eu acho que essa crítica ao ensaio da Millie em particular dialoga com um conceito visual estereotipado e/ou idealizado de adolescência, que não corresponde ao que existe hoje.
Matheus
November 24, 2016 @ 5:08 pm
Concordo totalmente com você, Patrícia!
A sociedade tem uma imagem muito idealizada de como é o mundo infantil, quando na verdade a realidade é outra. Ainda há uma imagem muito forte de que a criança/adolescente é totalmente ingênua e pura, e que a ela cabe apenas, além dos estudos, o lazer e a diversão, e então tentam impedi-la de participar e impor suas opiniões e vontades no ambiente social no qual estão cada vez mais inseridas devido principalmente à exposição e acesso aos meios midiáticos. A ideia de “adultização” ocorre devido à crença de muitos de que esse público deveria obrigatoriamente estar desligado dos ambientes laborais e de consumo por serem ambientes supostamente exclusivo aos adultos.
Acho válido frisar que existe, sim, muitas vezes a sexualização da criança, e isso com certeza é um ponto bem negativo quando avaliamos a exposição desse público na mídia, porém acreditar que o mundo que elas vivem é (ou tem que ser) um mundo à parte, nos dias de hoje, é pura ingenuidade.
Também não considero problemática a forma como Millie e Emma estão produzidas (roupas, penteados, acessórios, etc.) nas imagens presentes no texto.
Lara Vascouto
November 24, 2016 @ 5:55 pm
Concordo com ambos sobre a realidade da adolescência hoje, mas penso que a questão é o quanto dessa precocidade não é promovida e incentivada pela mídia – e incluo aqui a adultização e sexualização de menores discutidas no texto. Esse é o ponto do texto, inclusive – a mídia acaba por criar ou reforçar visões de mundo que muitas vezes ajudam a manter e/ou fortalecer opressões e violências (no caso, como a objetificação sexual e a pedofilia). Obrigada pelo comentário!
Maicon
November 23, 2016 @ 9:21 am
Não tinha nem reconhecido pela foto, por isso não fotografo criança em estúdio
alice
November 23, 2016 @ 4:40 pm
achei que só eu tinha achado as fotos da atriz (e o romance da eleven) de péssimo gosto.
Ivan C Z Maraschin
November 23, 2016 @ 10:48 pm
Praticamente tudo é vendável hoje em dia, a erotização encontra seu mercado. Deveria-se preservar a infância e a adolescência, afinal ainda não são adultos e não existe maturidade suficiente para fazer boas escolhas. Crianças e adolescentes precisam ser preservadas de qualquer tipo de indústria erótica. Tudo a seu tempo, e é preciso respeitá-lo!
Francine
November 24, 2016 @ 12:46 am
Pior de tudo é que a mídia já chegou na cabeça de meninas de 12, 13 anos. Elas mesmas postam fotos no facebook mostrando parte dos seios, usando miniblusa com microshorts, dedinho na boca, mordiscando os lábios… e o pai e a mãe curtem essas fotos. Sei de meninas que perderam virgindade com 13 anos e depois tomam fora do “namorado”.
Eu simplesmente tenho medo do que nossa sociedade passou a aceitar e incentivar tais coisas. Postam falando que vão beijar quem comentar a foto … postam abertamente beijando o namorado. Tudo porque essas meninas se tornam populares fazendo tudo isso. E são inseguras nessa idade, então fazem qualquer coisa para serem aceitas. A avó tem 45, a mãe 29, filha 14.
Esse mundo tá totalmente perdido.
Marcos Freire
November 25, 2016 @ 10:52 am
Esse comparativo de heroínas dos quadrinhos como são desenhadas e como devem ser desenhadas é ridículo! Pra começar já tá cagando regra sobre como os outros devem fazer seus próprios desenhos. Tem que ser do jeito que você gosta agora? E outra, esse que vocês acham o certo mais parece um homem. Toda a feminilidade foi embora, e quando eu desenho uma mulher é pra sair uma MULHER!
Thaís
November 25, 2016 @ 8:55 pm
Marcos, sugiro que você leia esse artigo, que inclusive está linkado no texto: super.abril.com.br/cultura/7-dicas-para-nao-sexualizar-uma-heroina-em-hqs/
Ninguém quer cagar regra nos seus desenhos, mas, se a maioria absoluta dos desenhos hipersexualizam as mulheres, acho que podemos dizer que são eles quem cagam regras em como o corpo feminino deve ser.
O conceito de feminilidade, que você cita, é muito subjetivo. Pense em todas as mulheres que você conhece no seu dia a dia: quantas tem realmente um corpo escultural como o do desenho da esquerda e quantas tem seios de tamanho normal ou pequeno, quadris maiores, cinturas mais retas?
Além disso, os super heróis normalmente tem corpos condizentes com seus poderes: se o cara tem super força e habilidades de luta, sua figura será mais musculosa e forte. Porque com as mulheres isso não acontece? Afinal, se você ver as lutadoras reais, vai perceber que elas têm braços e pernas grossas e músculos condizentes.
Por fim, digo mais uma coisa: “corpo de mulher” não é apenas o que você acha bonito. Fica a dica.
Júlia
November 28, 2016 @ 3:22 am
Obrigada.
Marcos Freire
December 28, 2016 @ 3:07 am
Me arrependi de ter clicado no link, antes fosse um vírus.
Olha o que diz logo de início:
“A lógica deveria ser simples: se um personagem masculino ficaria ridículo em uma situação, não deveria ser apropriada também para as personagens femininas.”
Isso não é lógica nenhuma. Um personagem masculino ficaria ridículo numa saia, usando sutiã ou de batom, mas pega muito bem para personagens femininos, igual na realidade. E nem consigo responder lá porque os comentários estão desativados!
“Ninguém quer cagar regra nos seus desenhos”
Querem sim, na imagem diz claramente “como DEVERIAM ser desenhadas”. Não é mais uma opção, é o certo na visão de vocês.
“mas, se a maioria absoluta dos desenhos hipersexualizam as mulheres, acho que podemos dizer que são eles quem cagam regras em como o corpo feminino deve ser.”
As heroínas e também os heróis são geralmente pessoas com os corpos perfeitos. Uma porque é desenho, e outra porque devem representar seres superpoderosos, logo não devem apresentar corpos frágeis como de seres humanos normais.
“O conceito de feminilidade, que você cita, é muito subjetivo. Pense em todas as mulheres que você conhece no seu dia a dia: quantas tem realmente um corpo escultural como o do desenho da esquerda e quantas tem seios de tamanho normal ou pequeno, quadris maiores, cinturas mais retas?”
Realmente é minoria, mas pense como isso diminui quando se trata de pessoas famosas, o mesmo aconteceria com super-heróis se fosse real.
“Além disso, os super heróis normalmente tem corpos condizentes com seus poderes: se o cara tem super força e habilidades de luta, sua figura será mais musculosa e forte. Porque com as mulheres isso não acontece? Afinal, se você ver as lutadoras reais, vai perceber que elas têm braços e pernas grossas e músculos condizentes.”
Não são necessariamente musculosas, mas tem o corpo malhado. A diferença é que nos homens o volume muscular é bem maior.
“Por fim, digo mais uma coisa: “corpo de mulher” não é apenas o que você acha bonito. Fica a dica.”
Eu sei, mas nesse caso tem que agradar o público.
Marcos Freire
December 28, 2016 @ 3:23 am
Tá ok, até concordo com os anteriores, mas vou discordar do 4:
“Número 4
Os detalhes contam: enquanto na esquerda as mãos são desenhadas de forma que transmite suavidade (e que diminui seu poder), na direita o desenho mostra firmeza e força.”
Eu descobri um excelente exemplo num anime. Em CDZ existem 12 cavaleiros de ouro, todos homens e extremamente poderosos, no entanto possuem personalidades distintas. Sendo assim nem todos mostram essa firmeza e força, alguns mostram calma, e um deles demonstra essa suavidade (Afrodite de Peixes), o que não o faz menos poderoso. Além deste existem inúmeros exemplos de personagens homens que parecem frágeis e que na verdade são fortes em animes, como Saitama e Meliodas.
Tudo bem, só discordei desse mesmo, os outros fazem sentido.
Luiza
November 27, 2016 @ 4:49 pm
Não achei muito isso que estão falando não, para ela continua parecendo com uma criança e falar que a maioria dos shoots de moda são assim é foda, só se for GQ e talvez a W magazine. Olhe os recentes editorials de Vogue, Elle e Harper’s Bazaar para ver que dependendo da modelo, do styling e do local as fotos passam uma “mensagem” diferente e raramente são essas expressões que você falou (se modelo só tiver essa rsrs). Sobre a CK, bom óbvio que a campanha iria ser assim, a marca vende lingerie, só tinha que colocar outra modelo. Mas enfim, achei bem melhor que muitas modelos por aí rsrs
Thais
November 28, 2016 @ 11:20 pm
Meu coração tá apertado… Fotos de uma criança de 12 anos até com o dedo na boca…
Sou mulher, meu desenvolvimento foi muuuuuuuuito rápido, e com 9 anos de idade já tinha parado de crescer (quase 1,70cm) e menstruado, com o corpo totalmente formado.. E ainda brincando de boneca. Ter sido brutalmente sexualizada com 9 anos de idade tendo a inocência de uma criança foi tão surreal que só posso agradecer por ler textos assim. Tá de parabéns, Lara! Quero ser sua amiga <3
roberto quintas
February 14, 2017 @ 3:32 pm
meninas, eu tenho uma noticia que não irá lhes agradar. o conceito de que a infância e a adolescência é uma época separada, uma época onde o indivíduo é inocente, ingenuo e assexuado vem do pensamento de Jean Jaques Rousseau, um filósofo do século XVIII. foi necessário Freud e Kinsey para que nós notássemos, percebêssemos e aceitássemos o óbvio: a criança e o adolescente possuem uma sexualidade, os limites etários são um conceito arbitrário sem base biológica, psicológica, anatômica ou clínica. até o início da Era Moderna, era bastante comum crianças não apenas se vestirem como adultos, mas também eram vistas como uma fase para a pessoa adulta, sendo comum até o trabalho infantil. ainda nos dias de hoje, muitas famílias vestem sua prole com roupas mais “adultas” e as crianças mesmo procuram imitar e querer ser como um adulto. não me levem a mal, mas vocês estão soando igualzinho ao carola católico.
Lara Vascouto
February 16, 2017 @ 11:40 am
Oi Roberto! O texto não debate se crianças tem sexualidade ou não, ou quando elas deixam de ser crianças, mas sim a exploração da mídia em cima disso. É sempre bom lembrar que a mídia acaba por criar ou reforçar visões de mundo que muitas vezes ajudam a manter e/ou fortalecer opressões e violências (como a objetificação sexual e a pedofilia, no caso). Obrigada pelo comentário!
Michelle
March 7, 2017 @ 8:46 pm
Oi Lara, estava procurando um texto que resumisse o que eu sentia sobre esse assunto e finalmente encontrei. Eu me assusto demais quando a mídia e as pessoas em geral adultizam demais as crianças. Porque fazem elas lidarem com coisas que Ainda não estão prontas para lidar. E Ainda passa pano pra pedofilia, como você disse. Ao ler a parte do “consenso” dessas meninas, a primeira coisa de que lembrei foi do filme Lolita, baseado no livro de mesmo nome. Apesar de não gostar da personagem da história, me incomodei pelo fato dela ser uma criança, que apesar de ter uma sexualidade muito aflorada para a idade, Ainda era uma criança e um homem se aproveitou disso, o que me causa calafrios até hoje. Não importa o que ela dizia ou sentia, é obrigação da pessoa de maior idade barrar esse tipo de comportamento e pronto. Sem mais conversa. Até porque, como retrata no filme, a vítima não consegue considerar o resultado de suas ações, e quando o faz, se desespera.
Lara Vascouto
March 31, 2017 @ 12:38 pm
Pois é. Não é uma questão de invalidar ou desconsiderar a sexualidade de crianças e adolescentes, mas sim de chamar a atenção para como essa sexualidade é explorada por adultos. Existe um desequilíbrio de entendimento e de poder muito. Não à toa sexo entre adultos e menores de 14 anos é crime de estupro, independente de consentimento – porque entende-se que a criança ainda não tem entendimento pleno para poder consentir.