4 Coisas que Hollywood me Ensinou sobre Asiáticos
Hollywood e seus estereótipos atacam novamente.
Hollywood ama estereótipos. Afinal, através deles é possível tirar um roteiro fresquinho do rabo a cada 45 minutos e ainda ganhar milhões nas bilheterias em tempo recorde. Já tendo falado sobre estereótipos femininos (duas vezes) e racistas que Hollywood realmente precisa aposentar, sinto que chegou a hora de falar sobre o retrato limitadíssimo que ela pinta de asiáticos. Não chega a ser uma surpresa, na verdade. Hollywood tem tão pouco interesse neles, que dá pra contar nos dedos quantos atores asiáticos tem o privilégio de mostrar a cara e o talento em seus filmes. Já há décadas a prática de contratar atores caucasianos para interpretar personagens asiáticos é corriqueira, e isso sem contar os filmes baseados em mangás ou animes que descaradamente contratam atores caucasianos para interpretar asiáticos.
No filme Avatar: A Lenda de Aang, baseada em uma série animada que se passa em uma versão fantasiosa da Ásia, todos os personagens deixaram de ser orientais para serem interpretados por atores caucasianos (com exceção do vilão. Claro.)
Na televisão, a coisa é um pouco melhor, com atores como Sandra Oh, Steven Yeun, Aziz Ansari, Hettiene Park, Lucy Liu e Mindy Kaling se destacando em papéis originais e mais complexos. Mas ainda assim deixa muito a desejar. Na maior parte das vezes – tanto em filmes, como em programas de TV – quando atores asiáticos são contratados, é para ser o eterno coadjuvante engraçadinho, ou para personificar estereótipos cansativos e ultrapassados. Com isso em mente, me peguei pensando: o que esses filmes todos me ensinaram sobre asiáticos? E a minha conclusão foi bizarra. Basicamente, Hollywood me ensinou que…
Todos os asiáticos sabem artes marciais
É batata. Especialmente em filmes de aventura e ação, basta aparecer um personagem oriental na história para eu saber que em breve terei que aguentar demonstrações intermináveis e fantasiosas de kung fu, ou karatê ou sei lá o que mais. Se é um filme sério de ação, é provável que aquele personagem oriental esteja ali justamente por causa de suas habilidades em artes marciais. Agora, se é uma comédia, muito provavelmente ele é um estrangeiro meio nerd, desengonçado e sem noção que de repente faz o queixo de todo mundo cair ao demonstrar seus poderes kung-fuianos em um momento extremamente oportuno. No clássico de Kurt Russell Os aventureiros do bairro Proibido, por exemplo, dois funcionários de restaurante e um guia de turismo asiáticos são, inesperadamente, profissas em artes marciais.
E praticamente todos os asiáticos no filme tem algum poder místico.
É verdade que esse é um estereótipo que vem sendo lentamente questionado, principalmente em seriados de televisão. Mas ainda assim, de vez em quando ele é ressuscitado nas produções mais improváveis.
Todos os velhos asiáticos são sábios
Junto com o Negro Mágico, o Velho Asiático Sábio é um recurso muito usado por roteiristas que morrem de preguiça de pensar em resoluções realistas para suas histórias. O herói precisa de uma epifania para seguir pelo caminho certo? Jogue um velho oriental taciturno para lhe dar algum conselho enigmático e poderoso. Precisa de um remédio rápido, mas não pode ir ao hospital? Calma, é só enfiar na história um curandeiro oriental de bairro capaz de diagnosticar todas as doenças e de criar remédios milagrosos com duas ou três ervas culinárias.
Embora na maioria das vezes o velho sábio tenha pouco destaque, existem filmes que giram inteiramente em torno desses personagens.
Sim, estou falando com você, sr. Miyagi.
O interessante é que, diferente do Negro Mágico, o Velho Asiático Sábio costuma ser meio ou inteiramente cretino, e gosta de fazer o “herói” aprender as coisas do jeito mais penoso e bizarro possível. Tipo, sério, sr. Miyagi, será que era realmente necessário fazer o menino passar o dia lavando e encerando aquele carro só para ensiná-lo a deter golpes de karatê? Isso que o sr. Miyagi não é nem de longe o pior exemplo desse estereótipo.
Mestre Pai Mei detém esse título.
Todos os asiáticos são super inteligentes e nerds (a não ser que eles sejam garotas)
Talvez o estereótipo oriental mais batido de todos, o Japa Nerd se pauta no fato de as culturas orientais valorizarem a educação e o sucesso profissional. Muitas vezes, esses personagens sofrem grande pressão da família para tirarem as melhores notas e serem os mais inteligentes da turma. Como inteligência e dedicação aos estudos é a mesma coisa que ser nerd para Hollywood, esses personagens costumam também ser esquisitos, antissociais, reclusos e ruins em esportes (ou seja, eles seguem os estereótipos hollywoodianos de pessoas nerds). Antigamente, asiáticos da Ásia Oriental eram os clássicos escolhidos para esses papéis, mas hoje em dia está cada vez mais comum colocar indianos para protagonizar cenas de profundo embaraço social.
Quase 70% dos indianos nos EUA tem ensino superior. Isso só pode significar que eles são todos nerds, certo? – Hollywood interpretando estatísticas.
Curiosamente, está cada vez mais comum o estereótipo oposto deste para garotas asiáticas. Ao invés de esquisitas e super inteligentes, elas são belas e podem ser ou cruéis com o sexo oposto (vide a turminha de asiáticas gostosas de Garotas Malvadas), ou tão ingênuas e/ou irritantes que dá vontade de comer o próprio pé (como a única detenta asiática em Orange is the New Black que sabe falar inglês):
Oi, machismo!
E já que entramos nesse assunto…
Todas as garotas do Sudeste Asiático são lindas e burras (ou prostitutas)
Ok, estou falando especificamente de garotas do Sudeste Asiático (e ocasialmente do Subcontinente Indiano). A verdade é que Hollywood é obcecada com a ideia de prostitutas e strippers tailandesas, cambojanas e vietnamitas – uma obsessão que começou na década de 60-70, quando o seu país resolveu meter o bedelho naquela parte do mundo. Programas de TV como Law&Order, por exemplo, são craques em retratar asiáticas nos papéis de prostitutas, escravas sexuais e mail order brides (noivas compradas pela internet).
Se é um programa/filme de comédia, é batata que vai ter alguma “situação” sobre o fato de algumas dessas mulheres serem transexuais.
Mas esse não é o único tipo de papel que asiáticas dessa região da Ásia conseguem. É comum encontrar também as asiáticas lindas e burras, que também mexe com o fetiche que Hollywood tem com o Sudeste Asiático. Ocasionalmente, uma indiana também tem a honra de assumir esse estereótipo.
Durante bastante tempo, a personagem da Cece, de New Girl, gira em torno do fato de ela ser linda, gostosa e não muito esperta.
Taí, então, algumas das coisas que eu aprendi com Hollywood sobre os asiáticos. Sorte que o jeito que eles retratam a Ásia em si é um pouco melhor.
É basicamente um lugar cheio de favelas, elefantes, prisões decadentes, templos, velhos monges sábios, prostitutas e bangalôs na praia, né?
Duas recomendações ótimas para quem quer saber mais sobre o tema e tem interesse em empoderamento asiático no Brasil: a página e canal de YouTube Yo Ban Boo; e o coletivo de mulheres brasileiras asiáticas Plataforma Lótus.
Bia
September 2, 2016 @ 6:42 pm
Se vc usou como exemplo um personagem de filme do Tarantino, vc definitvamente nao entende de filmes do Tarantino. Todos os personagens dele sao estereoptipos. Os filmes dele sao ironicos. Sao exatamente para trazer a tona isso! Assim, como Meninas Malvadas, eh todo envolto em esterotipos, a ideia do filme eh essa, ironizar os estereotipos.
Luana
September 2, 2016 @ 7:26 pm
Adorei o texto, mas tenho uma pequena correção a fazer: o correto é guia de turismo, pois “guia turístico” trata-se do material impresso e não do profissional… Beijinhos!
Lara Vascouto
September 2, 2016 @ 10:47 pm
Corrigido, Luana! Obrigada! 🙂
Olhos abertos: o apagamento das pessoas asiáticas na mídia – Blogueiras Feministas
September 5, 2016 @ 11:30 am
[…] Primeiro, vamos pensar um pouco sobre o apagamento das pessoas asiáticas na mídia. […]
Anny
December 14, 2016 @ 8:11 pm
Outra coisa é que sempre quando há uma gangueou algo assim e tem um asiático é ele que morre primeiro, SEMPRE. E às vezes porque ele fez algo muito estúpido, mas precisa morrer primeiro necessariamente.
Maristela
January 5, 2017 @ 4:40 am
Você não tem noção como há atores bonitos, altos, bem vestidos com pinta de galã na Coréia. Assisto muitas séries de lá. E pra Hollywood só trazem os mais feios e bobos, sem sex appeal
Jak
March 1, 2017 @ 1:17 am
Esse assunto veio à tona entre meu meio e, para ser sincera, nunca havia pensado que asiáticos sofressem preconceito. Talvez seja pq sempre admirei a cultura asiática em geral, sempre os enxerguei como superiores (pra exagerar na palavra, mas é quase isso rs). Sempre assisti a Doramas, Lakorns e todo e tipo de programas asiáticos (mais especificamente Coréia, China e Thailandia – indo algumas vezes em Filipinas rs) e digo com propriedade que são anos luz melhores que Hollywood.
Lara Vascouto
March 31, 2017 @ 12:50 pm
Jak, sobre esse assunto, te recomendo o texto O Mito da Minoria Modelo (https://motherboard.vice.com/pt_br/article/o-mito-da-minoria-modelo) e as páginas Yo Ban Boo e Lótus PWR, no Facebook! Obrigada pelo comentário!
Adriana
August 5, 2017 @ 8:31 pm
Você nunca treinou arte marcial.
já fiz aulas com mestres japoneses bem rígidos e eles realmente são faca-na-bota na hora de ensinar, com os orientais não tem massagem de ego, portanto Pay mei nas artes marciais existe sim
Adriana Tanaka
August 5, 2017 @ 8:44 pm
esqueci de colocar meu nome inteiro, sou descendente de japoneses.
Linkagem de Segunda #66 – S E M F O R M O L N Ã O A L I S A
February 5, 2018 @ 9:35 pm
[…] Sobre os estereótipos asiáticos na cultura pop aqui, aqui, e aqui. […]
Gabriela
February 23, 2021 @ 10:46 pm
Adorei seu texto! Concordo com a crítica do moço acima, sobre Tarantino e meninas malvadas, mas são raríssimas exceções. Na grande maioria das vezes os asiáticos são interpretados com fortes estereótipos mesmo. Tem mudado agora, mas bem raramente.
Gabriela
February 23, 2021 @ 10:48 pm
iNCLUSIVE, EU JÁ TINHA FICADO GRILADA COM A SELEÇÃO DOS ATORES DE AVATAR. dE FATO, O ATOR QUE INTERPRETA SOKKA é do leste asiático, não apenas descendência, ele nasceu em Singapura mesmo, mas era totalmente branco e não tinha nada a ver com sokka.