Game of Thrones T07E03 – Um Encontro Muito Esperado Seguido de Muita Conveniência de Roteiro
Entre perdas e ganhos, somente uma certeza: essa temporada deveria ter seus dez episódios habituais.
*Contém spoilers
Neste último domingo tivemos o terceiro episódio da sétima temporada de Game of Thrones, que nos trouxe não só um encontro muito esperado, como também uma boa dose de conveniência de roteiro. Então abaixa quando o dragão passar, e vem comigo revisitar o episódio The Queen’s Justice, núcleo por núcleo:
Jon e Daenerys
Começamos o episódio novamente com o mar revoltoso de Pedra do Dragão, só que dessa vez tem um barquinho ali entre as ondas, trazendo um moço ensimesmado com cara de quem não sabe de nada. Sim, logo de cara já temos a chegada de Jon Snow e Davos na ilha natal de Daenerys, onde ele é recepcionado por Tyrion, Missandei e um grupo de dothrakis mal-encarados.
Depois de trocar algumas amenidades com Tyrion, em que somos relembrados do seu último encontro com Jon na Muralha, Davos e Missandei são apresentados. Missandei os recepciona com toda a pompa, mas termina sua fala pedindo-lhes que entreguem suas armas. Jon hesita, mas não é como se ele tivesse muita escolha – afinal, ele optou por desembarcar em Pedra do Dragão com apenas uma meia dúzia de guardas. Basta um olhar enviesado de um dothraki pra ele sacar quem é que está no comando ali.
É uma cena bem simpática, que nos lembra o quanto Tyrion e Jon se afeiçoaram um ao outro no passado. Como párias em suas próprias famílias, a identificação era inevitável e parece que os personagens não se esqueceram disso.
Já entre Tyrion e Davos eu esperava pelo menos uma torta de climão, dado que Davos perdeu filhos na Batalha de Água Negra. Nos livros, Davos pensa e se lamenta pelos filhos constantemente, mas infelizmente a série optou por não aprofundar sua identidade como pai. Como eu já disse em outro texto, os roteiristas da série parecem acreditar que somente mulheres podem ser definidas pela maternidade. Se por um lado nem lembramos que Davos tinha filhos, por outro várias personagens femininas foram limitadas ao papel de mães.
E punidas por isso.
Enfim, sobre Missandei, tem quem diga que ela está escondendo algo sobre si mesma. Existe uma teoria referente à personagem nos livros que diz que ela não é quem diz que é, e algumas pessoas acham inclusive que ela é na verdade um homem sem rosto. Essa teoria ganhou força agora por causa da reação de estranhamento de Davos quando ouve seu sotaque, mas na real, acho que ele provavelmente só ficou chocado por ver uma pessoa negra em Game of Thrones.
Tem mais dragão do que gente negra nessa série, sérião.
Muito bem. Durante a longa subida até o castelo, Tyrion fala de seu casamento falso com Sansa, e diz que gostaria de saber como é que um comandante da Patrulha da Noite se transformou em Rei do Norte. Em resposta, Jon pergunta como é que um Lannister se tornou mão da rainha para Daenerys Targaryen. Infelizmente, ninguém parece muito interessado em contar a sua história, e Jon confessa que seus vassalos pensam que ele é um tolo por estar ali. Tyrion diz que pensaria a mesma coisa, acrescentando que nunca fez nenhum bem aos Starks seguirem para o sul. Jon, muito engraçadinho, diz “Não sou um Stark”, e bem nessa hora um dos dragões de Daenerys dá uma rasante na sua cabeça, como quem diz: “Eu sei bem o que que tu é, maluco!”.
Jon impactado.
Vemos nessa cena a confirmação de que ninguém mais em Westeros dá a mínima para o fato de que Jon Snow é um desertor da Patrulha da Noite. Ok, tecnicamente ele não é um desertor, dado que morreu e ressuscitou, mas parece que essa informação não foi divulgada. O que é estranho, porque um bom motivo para segui-lo seria saber que o cara passou mais de dia morto e depois acordou. A falta de tentativa de punição para o Jon por ter supostamente desertado me incomoda – afinal, todos sabemos que o juramento feito para a Patrulha é algo a ser levado muito a sério. Aliás, uma das primeiras cenas da série mostra Ned decapitando desertores da Patrulha.
Continuando. Do alto de um penhasco, Melisandre e Varys observam o avanço do grupo, ao que o eunuco questiona a mulher vermelha sobre a distância que ela está mantendo dos visitantes que tanto insistiu que fossem convidados. Mel diz sua função de juntar gelo e fogo está feita, e vagamente afirma que não tem boas relações com Jon e Davos por causa de erros terríveis que cometeu. Ela diz que vai para Volantis, ao que Varys, ofensivo, fica satisfeito e meio que a ameaça, dizendo que seria perigoso para ela ficar em Westeros. Mel não se intimida e afirma que ainda voltará ao continente, pois terá que morrer naquela terra estranha, assim como Varys.
Varys impactado.
Algumas pessoas não entenderam por que o Varys foi tão agressivo com a Mel, mas temos que lembrar que esse é um personagem que desconfia profundamente de religiões – e principalmente da religião da Melisandre. Afinal, ele só se tornou um eunuco por causa de um sacerdote do deus vermelho. Na temporada passada, ele também tratou bem mal a outra sacerdotisa vermelha, lá em Meereen.
Bom, enquanto isso, Daenerys aguarda os visitantes toda bela, sentada em seu trono. Jon e Davos ficam meio atordoados depois de uns quinze minutos da Missandei listando todos os títulos da Dany, e após alguns instantes de silêncio, Davos apresenta Jon simplesmente como Rei do Norte. Dany questiona isso, dado que o antepassado de Jon, Torrhen Stark, dobrou os joelhos e jurou fidelidade perpétua ao seu antepassado, Aegon Targaryen. Jon relembra que o pai de Daenerys assassinou seu tio e seu avô, ao que Dany pede perdão e pede que ele não a julgue pelos crimes de seu pai (há, coisa que o próprio Jon pediu aos seus vassalos dois episódios atrás, no caso dos traidores Umber e Karstark). Ela também faz um discurso bem bonito e pede que ele dobre o joelho para que juntos possam se tornar aliados mais uma vez.
Jon parece gostar do pedido de perdão, mas afirma que não deve ficar preso aos juramentos de seus antepassados. Dany pergunta então o que ele está fazendo ali e Jon fala sobre o Rei da Noite, o exército dos mortos e, para arrematar, ainda chama todo mundo de criança mimada por estar lutando pelo trono de ferro (o que irrita a Dany, com razão).
A questão aqui é: Jon Snow é péssimo em explicar as coisas, mas mesmo se fosse muito bom nisso, ainda assim convencer Daenerys seria muito difícil. Os caminhantes brancos são tidos como nada mais do que mitos e lendas para assustar criancinhas em Westeros. Não é só Daenerys que não acredita neles – ninguém acredita neles. Por isso não é de se surpreender que Dany se irrite com tudo isso e faça um discurso falando que o que a manteve firme durante todos os anos em que foi usada e abusada foi fé nela mesma, não em deuses, mitos ou lendas. Sei que muita gente não viu sentido nesse discurso, mas eu gostei bastante. Com ele, ela não só reafirma que o seu objetivo não é lutar contra seres que muito possivelmente nem existem, como também se humaniza – tanto para Jon, como para a audiência.
Bom, Davos então fala que Jon Snow também não é pouca bosta, e lista seus feitos, o que também serve para humanizar o personagem. Nessa hora temos a confirmação de que a morte do Jon não é algo amplamente divulgado, porque ele pára o Davos antes que ele conte essa história – o que não passa batido para Tyrion e Dany. No fim, nenhum dos dois cede, mas antes que Daenerys possa acusá-lo como traidor, Varys aparece com a notícia de que a frota de ferro foi atacada. Ela dispensa os convidados e diz que eles ainda não são prisioneiros.
Gostei bastante dessa cena toda. Achei um primeiro encontro bem realista, e gostei que o texto e os enquadramentos nos deram bem a noção de que Jon e Daenerys são, na verdade, muito parecidos um com o outro, tanto em termos de valores, como de trajetória. Para mim isso reforça a ideia de que o tal príncipe que foi prometido pode ser mais de uma pessoa, com Jon e Dany como grandes candidatos.
Mais tarde, Jon está irritado porque não pode ir embora e porque ninguém acredita nele. Tyrion sugere que Jon vá conhecer mais sobre Daenerys, afirmando que ela é alguém que sempre protegeu as pessoas de monstros (como o próprio Jon). O problema é que seria insensato da parte dela seguir um homem que ela não conhece contra um inimigo também desconhecido. Ele pergunta a Jon se há algo sensato que ele pode pedir a Dany, e finalmente Jon lembra o motivo pelo qual veio a Pedra do Dragão: vidro de dragão.
Tyrion leva o pedido do Jon a Daenerys, que está super impaciente por causa da perda dos Greyjoy. Novamente, ele precisa praticamente desenhar para que a situação seja compreendida: Jon é um possível aliado, por isso não custaria nada dar o vidro de dragão, já que ele não serve de nada para eles.
Preciso falar uma coisa sobre isso. Desde o primeiro episódio dessa temporada, tenho a sensação de que o Tyrion se tornou o cabeça por trás do núcleo Daenerys. Os planos e explicações se tornaram todos dele. O problema é que a consequência disso acabou sendo o emburrecimento dos outros personagens – Jon e Daenerys, principalmente. Claro, os planos do Tyrion estão dando tudo errado, então talvez as coisas mudem. Veremos.
Como perder guerras dando ouvidos a mansplaining, cortesia de (gasp!) Game of Thrones???
Enfim, uma coisa que eu gostei nessa cena foi que Dany ficou intrigada com a história mal contada da morte do Jon. No entanto, quando ela fala sobre isso com o Tyrion, ele faz uma piada e desconversa. Será que ele realmente não levou aquilo a sério? Ou será que chegou a conversar com Jon sobre isso? E mais importante de tudo: será que algum dia descobriremos por que Jon quer manter isso em segredo?
Bom, mais tarde Jon encontra Daenerys nas escadarias que levam ao castelo e eles têm uma conversa mais amena. Dany fala que nomeou dois de seus dragões em homenagem aos irmãos mortos, Viserys e Rhaegar, e comenta Jon também perdeu dois irmãos (alguém andou maratonando as temporadas passadas de Game of Thrones). Ela se mostra um pouquinho mais disposta a acreditar em Jon (apesar de reforçar que ainda pretende reinar sobre todos os sete reinos), e anuncia que vai deixá-lo minerar o vidro de dragão, além de lhe fornecer todos os recursos e mão-de-obra que precisar. Isso é ótimo, porque não sei como bonito pretendia escavar o material e levá-lo para o Norte no seu único barquinho.
Prepare-se para dizer adeus a Viserion e Rhaegal, pois eles provavelmente vão morrer.
Por último, Daenerys se reúne com Varys, Tyrion e Missandei e diz que quer usar os dragões para destruir a frota do Euron. Tyrion e Missandei a convencem a não fazer isso, porque ela teria que montá-los e seria um risco muito grande em alto mar. Eles então falam sobre Casterly Rock, e Tyrion fala que Cersei sabe que eles estão chegando, e explica como os imaculados vão entrar.
Achei muito bizarra essa parte. Como assim, a Daenerys mandou o exército sem saber como é o castelo e qual o plano para conquistá-lo? De novo, quem é a rainha aqui, Dany ou Tyrion? Talvez eu tenha entendido errado, mas pareceu muito que Daenerys estava ouvindo aquilo pela primeira vez. Estou errada?
Cersei e Jaime
Em Porto Real, Euron chega aclamado pelo povo, trazendo Yara, Ellaria e Tyene como prisioneiras. Ele oferece Ellaria e Tyene a Cersei como presentes, e a rainha mal consegue disfarçar a excitação. Ela parece um animal que acabou de farejar uma presa. Lena Headey está incrível nessa cena, suas expressões são de apavorar. Enfim, Euron, sendo o Euron, fala umas besteiras, tira uma da cara do Jaime, e cobra de Cersei uma decisão sobre o seu pedido de casamento. Fingindo emoção e admiração, ela lhe diz que ele terá o que quer depois que a vencerem a guerra, o que é bem acertado da parte dela. É bem provável que Euron a mate depois que eles se casarem, então é questão de quem vai matar quem primeiro.
Só um comentário sobre a chegada do Euron em Porto Real: como pode o povo aplaudir tanto um cara desconhecido por trazer duas prisioneiras também meio desconhecidas, e não se revoltar nem um pouco contra uma rainha que explodiu o maior templo religioso do país? Eu entendo que a Cersei está governando pelo medo, e que o povo muito provavelmente teme o que ela possa fazer se eles se rebelarem. Mas a série podia pelo menos incluir uma cena numa taverna qualquer com a galera falando sobre isso, né? Do jeito que está sendo feito, o povo acaba sendo bastante infantilizado pelo roteiro.
Bom, nas celas da fortaleza Vermelha, Cersei finalmente executa sua vingança contra Ellaria. Com mãe e filha amordaçadas e acorrentadas em paredes opostas, ela beija Tyene na boca, envenenando-a da mesma forma que Ellaria envenenou Myrcella. O castigo de Ellaria será então ficar viva para ver Tyene morrer e apodrecer na sua frente. Em suma, o que mais atormentou Cersei quando Myrcella morreu.
Cersei sobre a morte de Myrcella na temporada passada.
Esse é aquele tipo de cena agridoce, em que temos um embate entre dois vilões. É terrível, um nível de crueldade absurda, mas ao mesmo tempo essa crueldade é aplicada contra personagens que também fizeram coisas horríveis. É o mesmo tipo de sentimento que tivemos quando a Cersei explodiu o septo de Baelor – por um lado, ficamos felizes com a destruição do alto pardal e seus pardaizinhos; mas por outro, ficamos horrorizados com a crueldade da coisa. Seja como for, a cena é poderosíssima, e a atuação das atrizes foi impecável.
Indira Varma quase me fez chorar, que atriz!
Outra coisa que gostei nessa cena é que Cersei não usou nenhum tipo de violência sexual contra as prisioneiras. Algo muito problemático na cultura pop é o fato de que o tipo de violência que mulheres costumam sofrer nas telas é quase sempre de cunho sexual. Esse costume tanto objetifica, pois mais uma vez reduz mulheres aos seus corpos, como faz com que as personagens femininas recebam uma violência indissociável de gênero, o que as coloca eternamente na condição de vítimas. E para piorar, na maioria das vezes a violência sexual sofrida costuma servir apenas como recurso narrativo para avançar a trama ou o desenvolvimento de outros personagens. Felizmente, Game of Thrones não fez isso dessa vez. Só nos resta agora torcer pela Yara.
Bom, depois de torturar as dornesas, Cersei fica super excitada e vai atrás do Jaime, que não está muito afim, mas acaba cedendo.
Acima, uma das fotos que aparecem debaixo do verbete “relacionamento abusivo” no dicionário.
Na manhã seguinte, Jaime observa Cersei dormir como um maldito passarinho apaixonado, quando alguém bate na porta. Cersei levanta para atender e quando Jaime protesta dizendo que ninguém pode vê-los juntos, ela diz que não está nem aí, que é a rainha e vai fazer o que bem quiser. Na porta, ela é informada que o visitante de Bravos chegou.
A secretária da Cersei é tipo aquela amiga sem estilo próprio que adora copiar o seu cabelo e suas roupas.
Fico me perguntando se o foda-se ligado da Cersei ainda vai ter alguma consequência. Acho que não, mas ao mesmo tempo, a olhada que a secretária dá no Jaime na cama é muito incisiva e talvez ainda tenha alguma relevância. Quanto ao Jaime, ainda não vemos nenhum conflito no personagem, nada que nos leva a pensar que ele se incomoda com os atos da Cersei. Mais pro final do episódio há um pequeno indício, mas veremos.
Bem, na cena seguinte ficamos sabendo que o visitante é Tycho Nestoris, do Banco de Bravos. Ele insinua que é provável que o banco apoie outro pretendente para o trono caso as dívidas da coroa não sejam quitadas, ao que Cersei o questiona se estariam realmente dispostos a apostar em uma revolucionária (Daenerys) ou naqueles que sempre pagam suas dívidas (os Lannisters). Ela pergunta como ficaram os investimentos do banco desde que Daenerys aboliu a escravidão em Essos, o que sinceramente NÃO FAZ SENTIDO NENHUM, pois Bravos é uma cidade livre, fundada por ex-escravizados. Faria até sentido se o Banco de Bravos apoiasse a Daenerys por puro princípio, aliás, justamente porque ela lutou contra a escravidão. Mas enfim, entra mais essa para a lista de coisas para as quais a série cagou.
Bem, para finalizar, Cersei pede uma quinzena para quitar suas dívidas. Thycos concorda e ficamos todos tensos com a confiança desmedida da rainha.
Sansa e Bran
Enquanto isso, em Winterfell, Sansa está governando e preparando o castelo para o inverno. O único problema é que quando o Mindinho não está encostado no seu nicho na parede com aquele maldito sorrisinho na cara, ele está grudado na garota, falando coisas sem sentido. Felizmente, parece que Sansa continua imune a ele, dando patadas sempre que necessário. Nessa cena em especial, Mindinho começa um papo meio metafísico sobre lutar todas as batalhas dentro da própria cabeça, prever todos os possíveis desdobramentos das coisas e considerar todo mundo como amigo e inimigo ao mesmo tempo. Ele termina a falação dizendo que se ela fizer isso, nunca vai se surpreender, pois tudo o que acontecer será algo que ela já viu antes. O que, sinceramente, parece um monólogo de apresentação para o que virá a seguir:
Esse cara.
Sinceramente, o Bran é o motivo pelo qual a Sansa não deve seguir o conselho do Mindinho. Olha o que acontece com quem vê tudo ao mesmo tempo! Dá vontade de dar uns tapas nele pra ver se acorda. A reação da Sansa quando o vê é emocionante, mas o garoto permanece distante, como se algo dentro dele tivesse se quebrado. É enfurecedor e triste ao mesmo tempo.
Na cena seguinte, os dois estão sentados debaixo do represeiro e Sansa diz que queria que o Jon estivesse ali. Bran concorda, naquele tom de morto dele, e diz que precisa falar com o irmão (imagino que vai ser mesmo o Bran quem vai contar para o Jon quem são seus pais de verdade). Sansa diz que Bran é o último homem Stark, e que deveria ser o Lorde de Winterfell no lugar dela (note que o Jon é o rei do Norte, e o que Sansa diz é que Bran deveria ser o lorde de Winterfell – são coisas diferentes). Bran responde que nunca poderá assumir esse papel, porque agora é o corvo de três olhos. Sansa pede que ele explique o que é isso, e ele diz que consegue ver tudo, tudo o que aconteceu com todo mundo. Quando ela pergunta como ele aprendeu isso, ele responde que foi o corvo de três olhos que ensinou, o que obviamente causa confusão.
Bran, o Mestre dos Magos de Westeros.
E para provar, o moleque vai lá e começa a falar de quando Sansa foi estuprada pelo Ramsay pela primeira vez.
Mano, sério mesmo?!
Obviamente, isso perturba a Sansa e, com cara de quem está prestes a ter um ataque de pânico, ela pede licença e se retira.
O que dizer dessa cena? Bom, vamos começar pelo Creepy Bran. O que houve com esse moleque? Buscando aqui na minha mente, ele era um garoto normal até a temporada passada, e só nessa se transformou nessa versão morto-por-dentro. A última vez que vemos o menino se comportando de maneira mais normal é quando ele se conecta na árvore para ver a morte da Lyanna (e nascimento do Jon). Antes de fazê-lo, no entanto, Meera pergunta se ele está pronto, ao que ele responde que precisa estar. Só posso supor que todo o upload de informações fez com com que ele ficasse desse jeito.
Se a gente parar para pensar, a esquisitice do Bran é compreensível, porque ele viu todos os acontecimentos e horrores do passado – inclusive tudo o que foi feito contra a sua família. Além disso, eu imagino que quando se tem uma visão ampla como a que ele adquiriu, todo o tato social, as amenidades, e até mesmo as gentilezas perdem o sentido. O que me incomoda é que a série não mostrou o personagem lutando com todas essas informações e se transformando nessa pessoa desconectada do mundo real, e é por isso que estranhamos tanto o seu comportamento. Minha esperança é que a Sansa converse com a Meera e a garota nos informe como foi esse processo para o Bran. Uma pena que não pudemos acompanhar isso.
Ajuda, Meera!
Sobre ele não explicar as coisas direito para a Sansa, isso tem um nome: conveniência de roteiro. É o mesmo motivo pelo qual o Jon não conseguiu explicar as coisas para a Daenerys. A trama exige um conflito entre Jon e Daenerys, da mesma forma que ela precisa que o Bran permaneça um mistério por enquanto. Por isso os personagens são privados de informações.
Por último, sobre Sansa. Por um lado eu fiquei irritada que o seu estupro tenha sido trazido de volta, e justo em um momento em que ela está tão confiante no comando. Por outro, achei válido terem nos mostrado que o trauma permaneceu de alguma forma – ainda mais quando lembramos que Game of Thrones acabou reforçando a ideia de que um estupro fortalece uma mulher, ao transformar Sansa em uma força da natureza na temporada passada. É mais ou menos a mesma história com o Theon. Sim, as pessoas são capazes de superar, mas violência não cria caráter, e a superação não acontece de uma hora para outra. Mesmo assim, o timing está todo errado, e no fim a cena com o Bran acabou descendo mal.
Sam e Jorah
Na Citadela, o meistre Slughorn examina o Jorah e descobre que ele está completamente curado do escamagris. Ele lhe dá alta, e Jorah anuncia ao Sam que vai encontrar Daenerys. Eles se despedem amigavelmente.
Mais tarde, o meistre Slughorn dá uma dura no Sam por ter contrariado suas ordens e tratado o Jorah. No fim, porém, ele sorri e o congratula, dizendo que muitos meistres formados já tentaram essa cura sem sucesso. Sam espera uma recompensa, mas Slughorn diz que a recompensa é não ser expulso da Cidadela, e lhe dá a tarefa de fazer cópias de um monte de livros e pergaminhos que estão apodrecendo.
Meistre Slughorn: uma mistura de Dumbledore e McGonagall.
Eu sei que falei que não reclamaria mais dos furos de tempo e espaço que a série tem trazido, mas esse é grande demais para ignorar. No último episódio, o Slughorn disse que o Jorah só tinha mais um dia na Cidadela. Então como é que agora o vemos com a pele toda cicatrizada já? Quanto tempo se passou? E por que ele não foi expulso antes? Também me irrita o fato de terem dado uma doença aparentemente incurável para o personagem apenas para curá-la tão facilmente alguns episódios depois. Por que o Jorah teve que passar por isso?
Por outro lado, o motivo pode ser o Sam. Pode ser que o Sam tivesse que ser punido com aqueles pergaminhos apodrecidos, porque ele vai descobrir algo importante neles sobre os caminhantes brancos. Mesmo assim, para Sam chegar naquele ponto ele podia ter transgredido qualquer regra, não necessariamente a ordem de não tentar curar o Jorah.
Enfim, por mais que eu me divirta com essas cenas do Sam e meistre Slughorn, eu quero muito que algo de útil aconteça logo nesse núcleo. E que a Gilly volte! Sim, por onde será que anda a Gilly?
Casterly Rock e Jardim de Cima
Na sequência final do episódio vemos duas batalhas: a primeira contra o Rochedo Casterly, comandada pelo Verme Cinzento; e a segunda contra Jardim de Cima, comandada pelo Jamie.
A primeira é narrada pelo Tyrion, que explica que quando seu pai lhe deu a tarefa de construir os esgotos do castelo, ele fez algo para si: uma passagem secreta para levar prostitutas para dentro do castelo. É por ali que os imaculados entram e abrem as portas para o exército que está lá fora. Eles derrotam todo mundo, mas Verme Cinzento nota que tem poucos soldados ali, e ao ver que a frota do Euron chegou para destruir todos os seus navios, se volta para um soldado Lannister moribundo e pergunta onde está o restante do exército.
Nessa hora vamos para Jardim de Cima, de onde Jaime, Bronn e os Tarly se aproximam com o grosso do exército Lannister. Do topo do castelo, Lady Olenna observa. Depois disso, só vemos o depois da batalha ao som de As Chuvas de Castamere: os Tyrell derrotados e os Lannister ocupando o castelo e saqueando o seu ouro.
A câmera segue Jaime pelos corredores até chegar em uma sala onde Lady Olenna aguarda pacientemente. Eles conversam sobre a batalha, e Olenna diz que lutar nunca foi o forte da casa Tyrell. Ela pergunta então qual o plano do Jaime, e ele diz que o plano era levar o exército para onde ninguém estava esperando: Jardim de Cima (tal como Robb Stark fez com ele, no Bosque dos Murmúrios). Com o Rochedo desabastecido e os navios de Daenerys destruídos pela frota de Euron, os imaculados seriam forçados a atravessar Westeros em campo aberto para voltar para Pedra do Dragão.
Lady Olenna, então, dá umas tiradas no Jaime, no Tywin e no Joffrey, até chegar na Cersei. Ela chama a rainha de praga e de monstro, além de dizer a Jaime que ele perdeu o controle e que Cersei vai destruí-lo. Jaime finge não ficar incomodado com tudo isso (aleluia, alguma reação mais conflituosa vinda dele em relação a Cersei!), e acaba concordando com Olenna.
No fim, ela pergunta como vai morrer, e Jaime diz que convenceu a irmã a desistir dos seus planos de decapitação e esfolamento em praça pública. Ao invés disso, ele despeja um veneno no vinho e o serve a Olenna, garantindo que não será doloroso. Ela fica satisfeita e bebe tudo numa só virada, escolhendo o momento logo depois para contar para Jaime, de um jeito bem sádico, que foi ela quem matou Joffrey em seu casamento (deixando bem claro que sabe que o garoto era filho de Jaime, diga-se de passagem). Jaime fica putaço e sai da sala, deixando Olenna sozinha para morrer.
Rainha até o fim.
Apesar da morte épica da Lady Olenna, toda essa sequência final do episódio me deixou bem triste, porque não faz muito sentido.
Por que Tyrion convenceu Daenerys a atacar o Rochedo se ele já não valia de nada? Por que eles prosseguiram com o ataque, mesmo sabendo que os Lannisters os esperavam? Como o Euron consegue chegar tão rápido e repentinamente nos lugares? Aliás, como foi que o exército Lannister esvaziou o Rochedo e conquistou Jardim de Cima em apenas quinze dias? E por último, mas não menos importante: como foi que Jardim de Cima caiu tão facilmente?
Para as primeiras questões, podemos pensar que Tyrion favoreceu seu interesse pessoal ao insistir na conquista do Rochedo, ou mesmo que existe um traíra entre os conselheiros da Daenerys (isso seria muito legal – mais legal ainda se não for o Varys!). Vamos manter as esperanças e torcer.
Sobre as movimentações em tempo recorde, também estou disposta a fazer vista grossa. É irritante, mas ok.
Agora, que Jardim de Cima perdeu porque não é o seu forte lutar é difícil de engolir. Da onde foi que tiraram isso? Tanto nos livros como na série o exército dos Tyrell é poderosíssimo – inclusive, foi só por causa dele que os Lannisters ganham a batalha de Água Negra na segunda temporada, lembram?
Saudades, Loras.
E ainda me colocam uma piadinha sobre o fato de o símbolo da casa ser uma flor. Então não só privaram o Loras de ser o grande cavaleiro que é nos livros porque ele é gay, como insinuaram que os Tyrell perderam a luta porque gostam de flores. Ah, as maravilhas da masculinidade tóxica – mais uma vez cortesia de Game of Thrones!
Mas enfim, só podemos supor que todos os vassalos da Campina seguiram os Tarly e se voltaram contra os Tyrell. Mesmo assim, não deveria ser tão fácil conquistar um castelo. Os Tyrell são ricos, eles habitam uma região muito fértil e provavelmente teriam provisões para sobreviver a um cerco durante meses – senão anos.
Mas não é isso que o roteiro precisa que aconteça. Então as soluções são atropeladas e às vezes não fazem muito sentido mesmo, fazer o quê.
Conclusões
Para descrença e indignação geral já estamos chegando na metade da sétima temporada. Talvez se a série tivesse se comprometido a filmar os dez episódios de costume, ao invés de somente sete, ela não precisaria fazer tanto malabarismo para fazer a história andar do jeito que precisa. Os roteiristas precisavam que Daenerys ficasse sem aliados para poder se unir a Jon Snow, então foi isso que aconteceu – em tempo recorde e de uma forma bem difícil de acreditar.
Por outro lado, pudemos sentir uma pontinha de esperança pelo Jaime, que parece ter ficado bem incomodado com as provocações de Lady Olenna sobre Cersei. Será que ele vai reassumir o seu arco de redenção?
Com isso em mente, finalizo essa resenha com um trecho dos livros que mostra bem onde eu queria que o Jaime estivesse como personagem já há um bom tempo:
“Ouviu-se um leve toque na porta.
– Veja quem é, Peck.
Era o velho meistre de Correrrio, agarrando uma mensagem na mão enrugada e encarquilhada. O rosto de Vyman estava tão branco quanto a neve recém-caída.
– Eu sei – disse Jaime -, chegou um corvo branco da Cidadela. O inverno chegou.
– Não, senhor. A ave veio de Porto Real. Tomei a liberdade…não sabia…- estendeu-lhe a carta.
Jaime a leu no banco sob a janela, banhado pela luz daquela fria manhã branca. As palavras de Qyburn eram sóbrias e objetivas; as de Cersei, febris e ardentes. Venha imediatamente. Ajude-me. Salve-me. Preciso de você como nunca antes precisei. Eu o amo. Amo. Amo. Venha imediatamente.
Vyman pairava perto da porta, à espera, e Jaime sentiu que Peck também o observava.
– O senhor deseja responder? – perguntou o meistre, após um longo silêncio.
Um floco de neve caiu sobre a carta. Enquanto derretia, a tinta começou a borrar. Jaime voltou a enrolar o pergaminho, apertando-o tanto quanto uma única mão permitia, e a entregou a Peck.
– Não – respondeu. – Ponha isto no fogo.”
Leia também Leia também Game of Thrones T07E02 – Finalmente um Pouco de Coerência (apesar das obviedades e caritcaturas); e a nossa série Livro x Filme.
Vinicius
August 3, 2017 @ 2:54 am
O texto está excelente. Mas assim, só pra tirar algumas coisas do meu peito, porque acho que embora a série esteja muito abaixo do padrão de qualidade das primeiras temporadas, este ano tenho visto umas reclamações que não concordo.
Por exemplo:
“Os caminhantes brancos são tidos como nada mais do que mitos e lendas para assustar criancinhas em Westeros. Não é só Daenerys que não acredita neles – ninguém acredita neles.”
Os caminhantes brancos são desacreditados por várias pessoas. Tyrion, Cersei, Tywin… Basicamente todos os Westerosi que acompanhamos. Mas nem estas pessoas negam que os White Walkers já existiram. Existe uma evidência gigante: A muralha. As pessoas não acreditam na volta dos caminhantes brancos porque elas estão num meio cético criado pelos meistres que em geral, ensina a ideia de que a magia no mundo está morda. Daenerys, entretanto, tem todo o motivo para acreditar na volta dos White Walkers, porque ela presencia diariamente um milagre da magia: a volta dos dragões. Ela não acreditar no Jon é só por falha de roteiro do Jon ser completamente incompetente em se expressar, e não é de agora. Pessoalmente, concordo com cada decisão que ele fez nesta temporada, mas concordo das dúvidas da Sansa e da Daenerys porque em nenhum momento ele soube se justificar apropriadamente, e isto pra mim, é um problema bem grande de roteiro criado puramente para enfraquecer o personagem e causar conflito desnecessário.
Patthy
August 4, 2017 @ 8:02 pm
Eu fiquei agoniada com a (falta de) habilidade de discurso do jon: MEU DEEEEEUS, ele conseguiu convencer tanta gente, mas na hora de falar com a Daenerys (que precisaria de argumentos muito bons) ele explica marromenos e não deixa o Davos contar o feito que ganharia muito da atenção da Dany… mas acho que no fim é isso que você falou: conveniência de roteiro.
Aliás, bom saber que não sou a única incomodada com o fato de ninguém ligar para o fato de que o Jon deixou a Patrulha. Seja como suposto desertor ou como um cara que ressuscitou, é BIG DEAL, gente!
Quanto á cena em que o Arquimeistre dá uma bronca no Sam, eu imaginei uma versão meio coisa de Harry potter “Sam, o que você fez foi muito errado, mas como você se arriscou e no fim tudo deu certo… 300 PONTOS PARA A GRIFINÓRIA!” hahaha
NATHALIA
August 7, 2017 @ 12:49 pm
Eu to amando LER seus textos sobre a série, LARA! mUITO OBRIGADA! <3