Game of Thrones T07E02 – Finalmente um Pouco de Coerência (apesar das obviedades e caricaturas)
Apesar de alguns núcleos estarem fraquejando, Stormborn foi um episódio valioso por restabelecer links e se esforçar para manter a coerência na história.
*Contém spoilers!
Mais um domingo se passou e, com ele, mais um episódio de Game of Thrones com título que remete à rainha dos dragões – Stormborn. O segundo episódio dessa sétima temporada trouxe alguns diálogos dolorosamente explicativos, mas também muitas revelações e um pouco mais de coerência nessa série que vem se tornando enlouquecedoramente incoerente ao longo dos anos. Sem mais delongas então, vem se enfiar comigo nessa tempestade, núcleo por núcleo:
Daenerys
O episódio abre com uma tempestade em Pedra do Dragão, que Daenerys e seus comparsas observam do alto de sua sala de guerra. Tyrion comenta que Dany nasceu em uma noite como aquela (Nascida da Tormenta, sacou?), ao que a rainha resmunga que esperava mais de sua chegada a Westeros. Ela então observa que os Lannisters parecem controlar pouco do reino agora, e Varys confirma, dizendo que os lordes de Westeros desprezam a Cersei e conspiravam contra ela mesmo antes da chegada de Daenerys.
Nisso, Dany pergunta ironicamente se agora serão todos leais a ela; se durante todos esses anos o povo brindava à sua saúde às escondidas, acrescentando que era isso que diziam ao seu irmão Viserys, e que ele foi burro por acreditar. Ela reflete que se o irmão estivesse na sua posição, já teria invadido Porto Real, ao que Tyrion diz que isso seria péssimo, que ela não está lá para ser rainha das cinzas.
Em seguida, ela resolve ter aquela conversa muito necessária com o Varys sobre o quão estável é a sua lealdade, já que ele não hesitou em trair reis no passado, e que inclusive ordenou a sua morte quando ainda servia ao rei Robert. Varys responde irritado que sua lealdade está junto ao povo e que ela não terá lealdade cega vindo dele.
Varys revolts.
É um discurso bem bonitão: eu fui escravo, vivi na sarjeta, o que importa é o povo comum, seja boa com o reino e eu serei bom pra você, etc. Daenerys fica meio impactada com esse discurso e pede a ele que se ela falhar com o povo de alguma forma, que ele a olhe nos olhos e lhe diga o que está fazendo errado, ao invés de tramar por trás de suas costas. Quando ele concorda, ela diz que se ele a trair, vai queimá-lo vivo, o que…bem, me parece desnecessário pela crueldade, mas acertado na ameaça, dado que Varys já foi um de seus maiores inimigos no passado.
Muito que bem. Essa era uma interação que simplesmente precisava acontecer, e eu fiquei feliz de terem sido coerentes nessa parte. Teria sido bizarro se Daenerys simplesmente aceitasse a presença de Varys ali, sem nenhum questionamento sobre suas ações no passado.
Dito isso, eu fiquei aqui pensando no quão sincero o mestre dos sussurros foi no seu discurso. Ele é um cara esperto, um cara que sabe ler o que as pessoas querem e como usar esse conhecimento. E é óbvio – a não ser para aqueles que estiveram em coma desde a segunda temporada – que Varys disse exatamente o que a Daenerys queria ouvir. Só de ver a trajetória dela dá pra sacar que essa é uma rainha que se importa com o povo, dado que ela passou boa parte das últimas temporadas tentando acabar com a escravidão em Essos.
Mas, contudo, todavia, porém…estamos falando da série, e a série está cada vez mais perdendo sua capacidade (além de não ter mais tempo) de nos oferecer complexidades e plot twists significativos. Se estivéssemos falando dos livros, é bem possível que as intenções do Varys não fossem tão puras assim, mas acho isso improvável na série, pelo menos a essa altura do campeonato. De qualquer forma, realmente espero ainda ser surpreendida.
Estou aprendendo aos poucos a deixar de ser tão otimista.
Bom, na próxima cena Melisandre chega em Pedra do Dragão e logo de cara já faz todo mundo se lembrar que Daenerys é a “quebradora de correntes”. Em um diálogo que é basicamente só explicação, ela diz a Dany que a Longa Noite está chegando e fala sobre a profecia do príncipe que foi prometido. O diálogo se passa em valiriano, e Missandei chama a atenção para o fato de que a palavra usada para “príncipe” não tem gênero em valiriano, o que significa que a profecia pode se referir a um príncipe ou a uma princesa. Dany gosta disso, mas Melisandre diz que não acredita que ela seja a tal princesa, mas que terá um papel a desempenhar junto a um outro, Jon Snow, o Rei do Norte.
Miga, deixa eu te apresentar o meu amigão, Jon Snow.
Ela sugere que Dany convoque Jon a Pedra do Dragão para que ele possa lhe contar o que viu além da Muralha – o que Tyrion apoia, dizendo que conheceu Jon e que confia nele. Daenerys concorda, e diz a Tyrion que envie um corvo a Winterfell, convocando Jon a vir lhe dobrar os joelhos.
Mais tarde, Daenerys está em sua sala de guerra com todos os seus aliados, incluindo Ellaria Sand, Yara e Lady Olenna, e todas querem que ela invada Porto Real. Tyrion discorda, ele e Ellaria discutem (afinal, Ellaria matou a sobrinha de Tyrion envenenada, e é bom saber que alguém ainda se lembra disso), mas Dany interrompe as briguinhas e repete o que Tyrion lhe disse antes: que ela não está lá para ser rainha das cinzas.
Não me agrada essa Daenerys-papagaio.
Ela diz a todos que aprecia os conselhos, mas que está lá porque eles a escolheram, por isso que agora a escutem. Na sequência, Tyrion explica a todos qual é que é: os exércitos Tyrell e Martell cercarão Porto Real, enquanto os Imaculados conquistarão Rochedo Casterly, a sede da Casa Lannister. Para tanto, a frota de Yara acompanhará Ellaria até Dorne para buscar seu exército. É um bom plano, todos concordam, mas até agora não entendi que doidera é essa de ficar andando pra lá e pra cá pra pegar exército. Estava na cara que isso ia dar ruim. Mas enfim, desisti de tentar entender as linhas do tempo e a logística das coisas nessa série. É melhor pra minha sanidade.
Bom, a cena fecha com Daenerys conversando com Olenna, que está super sangue nozóio e quer que Daenerys use seus dragões. Ela termina dizendo que só sobreviveu a homens ditos super inteligentes porque os ignorou – uma daquelas frases que eu tenho certeza que os roteiristas acham que é super Empoderada™, mas que é só meio tonta mesmo. De qualquer forma, eu gostei muito do ar cansado da Olenna nessa cena, ainda mais depois de tudo que aconteceu, e faz sentido que a personagem seja meio sanguinária. Afinal, foi ela que envenenou o Joffrey no próprio casamento.
Paciência zero com homens inteligentes e burros.
Bom, por último, o núcleo Daenerys acaba com uma cena muito bacana entre a Missandei e o Verme Cinzento, que finalmente ficam juntos antes que ele vá para o Rochedo Casterly. A atuação dos dois atores é muito bonita, e temos bem a noção do quão sofrida foi a vida de ambos e como aquela interação é única e significativa para eles. Em uma série que objetifica tanto as mulheres como Game of Thrones, foi bom assistir a uma cena de sexo consensual e saudável pra variar.
Prepare-se para a morte de um desses dois até o fim da temporada.
Ok, dito tudo isso, é hora de falarmos sobre algo muito importante nesse núcleo: o completo desleixo com o desenvolvimento da Daenerys como personagem. Na semana passada, eu comentei com algumas leitoras que Daenerys é muito mal-construída na série, e que eu só gosto dela porque provavelmente transfiro contexto que eu conheço dos livros para a personagem na televisão. Esse episódio de agora é um exemplo gritante do quanto os roteiristas não se aprofundam na construção da Dany. O diálogo com Varys, por exemplo, foi ótimo para entendermos mais do Varys, mas não mudou nada para a Dany. E o pior é que teria sido muito fácil fazer desse momento enriquecedor para os dois, dado que, assim como o eunuco, Dany também não teve uma vida nada fácil. Ela passou a infância mendigando abrigo em Essos com o irmão, foi vendida para os Dothrakis e passou por muitos perrengues até chegar de volta a Westeros como rainha.
Ela não resolveu se enfiar em uma fogueira porque a sua vida estava super da hora, sabe.
Mas não. O que tivemos foi uma via de mão única, e um repeteco do tipo de cena que costumamos ter com a Daenerys, que já há algumas temporadas se resume a frases de efeito, poses solenes e expressões indecifráveis. E não, eu não acredito que isso seja um problema de atuação, até porque ela era uma personagem ótima nas primeiras temporadas. O que Daenerys está sentindo? Quais são seus medos, suas preocupações, suas vulnerabilidades? Poxa, até o seu retorno para Pedra do Dragão, que foi tão belamente filmado no último episódio se tornou quase insignificante em Stormborn.
Ao invés de um personagem complexo, por quem o público possa se identificar, temos uma rainha indecifrável, que acaba sempre aparentando uma segurança sem fundamento, simplesmente pelo fato de que suas fraquezas nunca são mostradas. É muito mais difícil gostar de personagens planos e cheios de si – um exemplo disso é a Melisandre, que se tornou muito mais interessante desde que tomou um chazinho de humildade na temporada passada. Aliás, sabe que tipo de personagem costuma ser plano como a Daenerys? Vilões. O que nos leva a um ponto interessante: estará Daenerys se transformando em uma vilã?
Pessoalmente, penso que não, simplesmente porque existem pouquíssimos fatos a favor disso. Ok, ela é filha do rei louco, mas Daenerys não é o pai. Aliás, já nos foi dito que não devemos julgar um filho pelos pecados do pai, se lembram?
Eu estaria mais inclinada a achar que Dany está ficando louca pelo massacre que ela promoveu no templo das Dosh Khaleen na temporada passada. No entanto, como estamos falando de uma série que acredita que uma personagem feminina precisa se alinhar com violência e noções tóxicas de masculinidade para ser empoderada, eu não acho que esse seja o caso.
Se fosse, então a maioria das personagens femininas Empoderadas™ da série teriam que estar ficando loucas, o que seria bizarro. (Embora a Cersei definitivamente esteja ficando louca mesmo).
Aliás, os próprios roteiristas disseram que a cena de Daenerys queimando o templo foi feita para mostrar que ela é capaz de se salvar por conta própria. Que ela não é foda só por causa dos dragões. Então definitivamente não, aquela cena não nos mostra um início de loucura. Na minha humilde opinião, Daenerys é simplesmente uma personagem mal escrita e, principalmente, mal adaptada. Mas isso é assunto para outro texto.
Jon e Sansa
Em Winterfell, vemos o exato momento em que Jon recebe a mensagem de Tyrion, convocando-lhe a Pedra do Dragão. Sansa recorda que Tyrion não é como os outros Lannisters, mas ainda assim está desconfiada, assim como Davos. Nesse momento, temos o diálogo mais dolorosamente óbvio e explicativo provavelmente da história da televisão.
“Não vá, é perigoso. Mas pera…Ela tem dragões. Fogo mata os wights. O QUE SOLTA FOGO???????”
Juro, foi tipo aqueles programas bem ruins de perguntas e respostas. De qualquer forma, Davos chega à óbvia conclusão de que dragões seriam muito úteis na guerra contra os caminhantes brancos e Jon fica pensativo.
Mais tarde, Jon recebe o corvo de Sam sobre o depósito de vidro de dragão em Pedra do Dragão e chama uma reunião com a galere no grande salão. Eu já tô que não aguento mais ver essa galera nesse mesmo salão episódio após episódio, sinceramente.
Enfim, no episódio passado o Jon fica bravo com a Sansa por tê-lo questionado na frente de todo mundo, e eu super concordei com ele. Mas agora me parece que as decisões sob o regime Jon são tomadas dessa forma mesmo, com a galere toda participando e dando pitaco, porque ele escolheu aquele momento, na frente de todo mundo, pra informar que vai aceitar o convite do Tyrion. Todos ficam alvoroçados, dizendo que não se pode confiar em um Targaryen e muito menos em um Lannister. Até a Lyanninha vai contra a decisão, mas parece que Jon é a única pessoa que a garota não consegue convencer. No entanto, ninguém fica mais perturbado do que Sansa, que relembra que o avô deles foi queimado vivo pelo pai de Daenerys, e completa dizendo que Jon deve enviar um emissário ao invés de ir em pessoa, e que sair naquele momento seria abandonar sua casa e o Norte.
Eu adorei essa cena, porque a Sophie Turner entregou uma atuação realmente tocante, deixando bem claro que ela teme ser abandonada pelo irmão, que não quer ser deixada sozinha novamente. Sansa finalmente está em casa, se sentindo segura com seu irmão, e agora ele decide ir para o Sul. A revolta dela é completamente compreensível.
Mesmo assim, Jon não muda de ideia e diz a todos que eles o escolheram como Rei do Norte e agora precisam confiar em suas decisões (um bom paralelo com a cena de Daenerys e seus aliados). Além disso, ele diz que vai deixar o Norte em boas mãos: as de sua irmã. O voto de confiança do irmão parece dar segurança a Sansa e ela se acalma. Enquanto isso, o Mindinho observa tudo do seu nicho escuro na parede, com um sorrisinho desgraçado no rosto.
“Eu moro aqui agora.”
Antes de Jon e Davos partirem para o sul, Jon visita as criptas de Winterfell. Ele observa a estátua de Ned Stark quando Mindinho surge como um maldito morcego desasado, para falar sobre…quem sabe?! Eu não faço ideia qual a intenção do Mindinho ao interromper a visita do Jon ao túmulo do seu pai para falar sobre como ele amava a Catelyn e como agora ama a Sansa.
A não ser que seja para fazer esse paralelo bacanudo entre o Jon e o Ned, na primeira temporada.
Seja como for, o Mindinho está tramando algo e eu temo pelo o que ele pode fazer agora que Sansa ficará sozinha em Winterfell. Se ele conseguir manipulá-la eu vou ficar bem chateada, porque já deu, né?
Cersei e Jaime
Em Porto Real, Cersei convoca os vassalos da Campina, liderados por Randyll Tarly (o pai do Sam), e tenta convencê-los a lutar com a Coroa contra Daenerys e os Tyrell. Para tanto, ela pinta um cenário bem xenófobo de destruição pela chegada de “selvagens dothrakis” e soldados eunucos a Westeros, e consegue a atenção da galera. Apesar disso, Tarly – que pode ser um bosta, mas não é bobo nem nada – pergunta a Cersei como é que ela espera lutar contra três dragões. Qyburn pega o microfone e diz que estão trabalhando numa solução.
Durante o coffee break, o Jaime se aproxima do Tarly para agradecer a sua presença e tentar descobrir se o homem vai lutar por eles ou não. Tarly resiste e deixa claro que honra é algo importante para ele ao citar com desprezo o que os Lannister fizeram no Casamento Vermelho.
Nunca pensei que eu ia ficar feliz com alguma coisa que sai da boca do Randyll Tarly.
Além disso, fica claro que o velho só está ali porque sabe do que a Cersei é capaz de fazer, e não parece estar inclinado a trair Olenna Tyrell. Porém, Jaime oferece a ele o cargo de Protetor do Sul caso eles ganhem a guerra, que é uma promoção e tanto para os Tarly e pode fazer com que eles lutem pelos Lannister afinal.
Fiquei feliz por essa sequência toda mostrar que os atos da Cersei na temporada passada (e dos Lannisters desde o começo da série) não estão sendo ignorados pelos lordes de Westeros. Aliás, Cersei tem muita cara de pau ao falar sobre a sede de vingança de Olenna, porque foi ela própria que provocou essa revolta ao explodir toda a família da mulher. De qualquer forma, agora só faltava mesmo era o povo se rebelando contra a rainha depois que ela explodiu o templo religioso mais importante do reino, mas bem. Acho que isso seria pedir demais.
Mais tarde, vemos o que o maléfico Qyburn está tramando contra os dragões de Daenerys. Com aquele seu sorrisinho enviesado, ele desce com Cersei até onde os crânios de dragões estão guardados e lhe mostra uma arma que parece uma besta enorme (se você souber o nome dessa arma, por favor, deixa lá nos comentários!). Apontando-a em direção ao enorme crânio de Balerion (ninguém menos que o dragão com o qual Aegon conquistou os Sete Reinos e um artefato HISTÓRICO), ele diz a Cersei para puxar a alavanca, ao que uma lança é atirada diretamente entre os olhos do crânio. Cersei sorri satisfeita, como uma boa vilã da Disney.
Sério, esses dois estão virando tipo uma versão da Yzma e do Kronk para adultos.
Tá tudo muito bem, Qyburn querido, quando você atira essa besta direto no crânio. Mas um dragão vivo tem pele, e essa pele é extremamente resistente. É dito inclusive que o ponto mais vulnerável dos dragões são os olhos, porque a pele é durona. Mas os dragões da Daenerys ainda não são adultos, então sei lá. Talvez dê certo e é muito provável que pelo menos um dos dragões morra.
Sam e Jorah
Enquanto isso, Sam continua seu treinamento na Cidadela assistindo o meistre Slughorn em um atendimento médico. O paciente, no caso, é ninguém menos que Sor Jorah, que recebe o pior prognóstico possível: seu escamagris já está avançado demais para tratamento e ele estará louco em seis meses, embora só deva morrer dali uns 10 anos. Porque Jorah é um cavaleiro, Slughorn dá a ele mais um dia antes de enviá-lo para Valíria, para que ele possa tirar a própria vida.
Sam fica todo sensibilizado com o caso do Jorah e fica impactado quando descobre que o homem é filho de Jeor Mormont, o ex-comandante da Patrulha da Noite. Ele tenta de todo jeito fazer com que Slughorn dê mais atenção ao caso de Jorah, lembrando do caso da princesa Shireen, e desenterrando um livro sobre doenças raras que traz um tratamento para escamagris. Mas em ambos os casos ele é rechaçado – no primeiro, porque Shireen só foi curada bem no início da doença, quando ainda era bebê; e no segundo, porque o tal do tratamento seria proibido, por ser muito perigoso. É engraçado, porque, por algum motivo, o Sam fica desmerecendo o conhecimento do Slughorn, como se ele soubesse mais sobre escamagris do que um meistre formado, e eu achei ótimas as patadas que ele recebe em resposta.
Jim Broadbent, que delícia são as cenas com ele.
Enfim, o Sam não se conforma e resolve fazer ele mesmo o tal do tratamento proibido no Jorah. A isso se segue o que foi provavelmente a cena mais repugnante de toda a série, com muito pus jorrando enquanto Sam descama lentamente a pele infectada do pobre Jorah.
Não chega tão perto, Sam, droga!
Foi uma boa sequência, e gostei da solução que deram pra cura do Jorah – o tratamento existe, os meistres o conhecem, mas é perigoso demais para ser feito. A questão é: por que o Jorah precisa viver? Definitivamente ele ainda terá alguma importância na série e eu não vejo a hora de descobrir qual é.
Arya
A cena do pus do Jorah corta diretamente para um prato de sopa cremosa em uma estalagem nas terras fluviais onde Arya está. Ela ouve atenta a conversa de dois viajantes sobre um possível cerco a Porto Real. De repente, ninguém menos que Torta Quente aparece, e é meio estranho como Arya mal e mal o cumprimenta. Ela age meio desvairada, comendo torta enquanto eles conversam, e só parece ser afetada quando Torta Quente lhe pergunta o que aconteceu com ela.
Há quanto tempo alguém não pergunta a Arya como ela está? Há quanto tempo alguém não demonstra preocupação com ela? Achei muito acertado como Arya apenas o encara nessa hora, sem saber como responder.
Ele então lhe pergunta sobre Brienne, e depois por que ela não vai pra Winterfell. Nessa hora descobrimos que Arya não sabia que Jon e Sansa derrotaram os Boltons. Juro, nunca fiquei tão feliz vendo Game of Thrones. Ela não sabia! E a melhor parte é a sua reação: atordoada, ela imediatamente se levanta para ir embora.
Não sem antes desejar boa sorte ao Torta Quente, que é um amorzinho e nos relembra que Arya ainda tem amigos.
Na sequência, temos uma cena em que Arya, já no cavalo, observa uma carroça indo em direção a Porto Real e hesita por um instante, antes de dar meia volta e seguir para o Norte.
Euzinha nessa hora.
Mais tarde, temos outra cena de estourar o coração com Arya. Sozinha no meio das árvores e em um clima já muito frio, ela tenta se aquecer em uma fogueira quando seu cavalo começa a ficar agitado. De repente, a garota se vê rodeada por lobos raivosos, e mesmo de Agulha na mão, ela parece bem assustada. Mas o pior (ou melhor?) está por vir, quando ela se vira e dá de cara com um lobo gigantesco a encarando. Depois de um momento de horror, ela olha nos olhos da loba e a reconhece. Sim, é Nymeria.
Socorro, meu coração não aguenta.
Arya diz a Nymeria que está indo pra casa, e convida a loba a ir com ela. Maisie Williams, atriz maravilhosa que é, está perfeita nessa cena, e temos aí (finalmente!) uma humanização da personagem depois de tantas atrocidades que ela sofreu e cometeu.
Nymeria a observa intensamente, mas depois de alguns instantes dá as costas à garota e vai embora, com todos os lobos. Depois de um momento de dor e confusão, Arya sorri e diz:
Que bela cena, e mais bela ainda por trazer essa fala da Arya lá da primeira temporada, quando ela diz ao pai que casar com um grande senhor, usar vestidos e ser uma lady “não é ela”. Da mesma forma, Nymeria não poderia voltar a ser um animal de estimação para Arya, porque isso também “não é ela”.
Depois de entender o que essa frase significa, algumas pessoas estão questionando se isso não significa que Arya vai desistir de ir para Winterfell, porque se antes ela já não pertencia a esse mundo, agora então muito menos. Mas eu não vejo dessa forma. Não é do feitio da Arya ser uma lady, mas ela definitivamente pertence a Winterfell. É possível que a frase tenha um sentido também relacionado à humanização da personagem: talvez ali a garota esteja reconhecendo em voz alta que ser uma assassina vingativa não é ela; que ela deve mesmo voltar para casa.
Nos livros, as mortes pelas quais a Arya é responsável têm um impacto muito mais profundo e explícito na personagem do que é mostrado na série. Em A Tormenta de Espadas, quando Arya é capturada pela Irmandade sem Bandeiras e descobre que eles pretendem entregá-la a Robb em troca de uma recompensa, a garota fica genuinamente preocupada se sua família a aceitará de volta se souber que ela matou pessoas.
“Mas e se Robb não quiser pagar o preço deles? Ela não era nenhum cavaleiro famoso, e era de se esperar que os reis colocassem o reino à frente das irmãs. E a senhora sua mãe, o que diria? Ainda a quereria de volta, depois de todas as coisas que havia feito?”
Arya aprendeu a matar, mas ela é muito mais do que isso. E eu fico feliz que a série não tenha se esquecido disso.
Yara e Theon
A última sequência do episódio nos traz a frota dos homens de ferro navegando a noite para levar Ellaria e as serpentes de areia até Dorne. A primeira cena nos mostra as serpentes de areia sendo mais irritantes do que de costume, o que é um bom prenúncio de que algo vai dar ruim pra elas (e a gente vai ficar feliz por isso). Enquanto isso, Yara e Ellaria conversam em uma cabine e logo rola um clima entre elas.
Porque não vai ser agora que a série vai parar de hipersexualizar e dar falas esdrúxulas a personagens não-brancas e bissexuais, né?
Nada chega a acontecer, no entanto, porque de repente todos sentem um tranco e quando correm para o convés dão de cara com um ataque protagonizado por ninguém menos que Euron e seus navios mágicos, que aparentemente soltam bolas de fogo nos inimigos (se alguém puder me explicar as bolas de fogo, eu agradeço). Euron desembarca no navio delas alucinadão – certeza que ele usou várias dorgas – e é até divertido ver como ele é maluco.
A luta começa, é sangue pra todo lado, e é particularmente bacana como a câmera acompanha as mulheres lutando – Yara, Obara, Tyene e Nymeria. Elas fazem o possível (se bem que, caramba Nymeria, dentre todas as armas possíveis você vai e me escolhe UM CHICOTE?), mas Obara e Nymeria acabam mortas pelo Euron, e Tyene e Ellaria capturadas.
Devem estar sendo embrulhadas para presente nesse momento.
Yara se dá um pouco melhor lutando com o Euron, mas ele consegue dominá-la mesmo assim. A câmera corta para o Theon lutando, mas ele pára quando escuta uma voz maligna chamar “Little Theon!” e dá de cara com Euron doidão com um faca no pescoço da Yara. Euron tenta atrair Theon para salvar a irmã, mas o coitado hesita, e observa os homens do tio arrancando línguas e orelhas por toda parte. No fim, o estresse pós-traumático bate forte e ele foge, se atirando na água. O episódio acaba com os navios queimando e o Theon boiando sozinho.
Particularmente, eu não super curto cenas de batalha, ainda mais quando eu não consigo entender como foi que eles foram pegos de surpresa daquele jeito. Mas o Euron malucão valeu a pena (como eu ri!) e achei bacana finalmente ver as serpentes sendo competentes em algo. Mas mais bacana ainda foi o fato de duas delas terem morrido, porque já estava na hora, né?
No entanto, as estrelas da cena mesmo foram Theon e Yara.
Alfie Allen a gente já sabe que é um ator fenomenal, e Gemma Whelan também entregou muito!
Eu sei que a galera está odiando o Theon por ter abandonado a irmã, mas além do fato de que não havia outra alternativa possível naquela situação, não faria sentido para o personagem se tornar super corajoso do nada. Em um outro texto eu comentei como me incomodou aquele discurso tóxico da Yara na temporada passada ter aparentemente funcionado (“ou você melhora ou se mata”). Uma pessoa que sofreu abuso como Theon sofreu não vai simplesmente melhorar depois de ouvir um discurso abusivo disfarçado de palestra motivacional.
Por isso fiquei feliz de ele ter surtado nesse último episódio. Não, Theon não está melhor. Aliás, é possível que ele nunca melhore – isso seria totalmente plausível. Minha aposta é que ele ainda vai morrer fazendo algum sacrifício pelos Stark. Acho que seria um dos únicos fechamentos possíveis e redentores para o personagem.
Conclusão
Apesar de alguns núcleos estarem fraquejando (Cersei fazendo cosplay de vilã da Disney, estou olhando para você) e de alguns diálogos terem sido comicamente explicativos, Stormborn foi um episódio valioso por restabelecer vários links com temporadas passadas e mostrar aos espectadores um esforço de manter a coerência da história. Fica apenas a esperança de que os roteiristas comecem a se dedicar um pouco mais ao desenvolvimento da Daenerys como personagem, mas nesse ponto eu sou menos otimista.
Dessa vez, fecho essa review com um trecho dos livros sobre o bando da Nymeria, que infelizmente ficou de fora da série.
“No dia seguinte, Sor Dermot da Mata da Chuva regressou ao castelo de mãos vazias. Quando lhe perguntaram o que encontrara, respondeu:
– Lobos. Milhares dos malditos bichos – tinha perdido dois sentinelas para os lobos. Tinham saltado da escuridão para atacá-los. – Homens armados, revestidos de cota de malha e couro fervido, e mesmo assim as feras não tiveram medo deles. Antes de morrer, Jate disse que a alcateia era liderada por uma loba de tamanho monstruoso. Um lobo gigante, a julgar por suas palavras. Os lobos também penetraram em nossas linhas de cavalos. Os malditos bastardos mataram meu baio preferido.
– Um anel de fogueiras em volta do seu acampamento poderia mantê-los afastados. – Jaime sugeriu, embora tivesse dúvidas. Poderia o lobo gigante de Sor Dermot ser o mesmo animal que atacara Joffrey perto do entroncamento?”
Leia também Game of Thrones T07E01 – Um Possível Resgate dos Temas Centrais da Obra de George R.R. Martin?; e a nossa série Livro x Filme.
Wesley
July 27, 2017 @ 1:01 am
Balestra é o nome da arma
Lara Vascouto
July 27, 2017 @ 1:44 am
Obrigado, Wesley!
luiz
July 27, 2017 @ 9:09 pm
na verdade BESTA e balestra são nomes diferentes para a mesma arma. o nome dessa é balista. ela é fixa no solo.
Lara Vascouto
July 28, 2017 @ 11:11 am
Entendido! Valeu pela contribuição, Luiz!
Carol
July 27, 2017 @ 4:21 am
Texto excelente, traduziu meus sentimentos em relação a série!
Lara Vascouto
July 28, 2017 @ 11:12 am
Que bom, Carol! Obrigada!
Gabriel
July 27, 2017 @ 9:31 pm
NOS LIVROs ELES chamam essa arma de escorpião, inclusive foi essa arma que matou o dragão da irmã do Aegon enquanto ela atacava dorne. E Belo texto!
Lara Vascouto
July 28, 2017 @ 11:11 am
Legal, obrigada, Gabriel!
Léo
July 28, 2017 @ 4:40 am
As bolas de fogo que vieram dos navios do Euron provavelmente foram disparos efetuados por uma arma chamada “trabuco” ou “trebuchet” acopladas aos barcos! Aliás, bela análise, parabéns!
Lara Vascouto
July 28, 2017 @ 11:10 am
Obrigada, Léo! 😀
Juliana
August 1, 2017 @ 3:37 am
Eu amo suas análises de GOt, são muito esclarecedoras e com a dose certa de humor, RS, continue assim!
Lara Vascouto
August 1, 2017 @ 5:12 pm
Obrigada, Juliana!