7 Clichês e Estereótipos Subvertidos em Mulher-Maravilha (e outros 4 que nem tanto assim)

Apesar de alguns soluços, Mulher-Maravilha conseguiu subverter diversos clichês e estereótipos de gênero clássicos do cinema. 

mulher-maravilha

Contém spoilers!

Chegou o momento: vamos falar sobre Mulher-Maravilha. Antes de mais nada, preciso deixar claro que fui ao cinema quase crua em conhecimentos sobre a super-heroína. Como já disse antes, tenho pouca familiaridade com super-heróis, e toda a minha empolgação com a produção adveio do que ela significa em termos de representatividade feminina. Afinal, é o primeiro filme solo da super-heroína mais icônica da cultura pop, com uma diretora por trás das câmeras e um trailer que mostrou zero objetificação sexual da personagem. Tudo isso elevou minhas expectativas a níveis perigosos. Afinal, quanto mais alta a expectativa, maior o tombo.

Por favor, que seja bom! – eu antes do filme começar.

 

Fico feliz em dizer, no entanto, que não houve tombo. Pelo menos não muito grande. No geral, Mulher-Maravilha apresentou uma história digna e bem recheada de subversões de clichês e estereótipos machistas. Listo e explico todos eles abaixo – inclusive aqueles que não foram tão subvertidos assim. Vamos a eles:

Objetificação Sexual Feminina

Veredicto: surpreendentemente subvertido.

Eu mal conseguia acreditar nos meus próprios olhos. Um uniforme revelador como aquele e nada de câmeras passeando pelo corpo da protagonista? Nada de sorrisinho safado? Nada de jogar o cabelo, fazer beicinho ou usar a sexualidade para conseguir o que quer? Acho que nunca tive uma experiência como essa no cinema, em que uma protagonista feminina de corpo escultural não é objetificada sexualmente em nenhum momento da trama. O que é ainda mais surpreendente quando lembramos que o filme abusa um pouco da câmera lenta em cenas de luta, e que o primeiro ato é cheio de mulheres lutando.

Normalmente usada para objetificar mulheres quando usada em personagens femininas, em Mulher-Maravilha a câmera lenta é usada para mostrar a força das personagens e suas habilidades.

 

Então lembramos que o filme é dirigido por Patty Jenkins, uma mulher com muita clareza a respeito da forma como mulheres são representadas no cinema, e tudo isso deixa de ser tão surpreendente assim. Jenkins nos mostra que é possível, sim, fazer um filme de ação de sucesso livre de objetificação sexual feminina. E mesmo quando ela inverte o jogo e apresenta uma cena típica de um protagonista (Diana) surpreendendo o par romântico pelado (Steve), ela o faz com bom gosto – sem ângulos absurdos e sem devorar o corpo de Steve com a câmera, como estamos acostumados a ver acontecer com personagens femininas. 

‘Heroína de Ação Fodástica mas Fria, tão Fria’

Veredicto: subvertido

O estereótipo da heroína de ação representa uma das primeiras tentativas hollywoodianas de criar Personagens Femininas Fortes™. São papéis como o de Uma Thurman em Kill Bill, o de Angelina Jolie em Salt, o de Milla Jovovich em Resident Evil ou o de qualquer personagem que a Michelle Rodriguez já tenha algum dia interpretado. Apesar de não ser muito fã, eu reconheço o valor desse tipo de personagem, pois ele subverte um dos maiores estereótipos femininos da cultura pop: o da donzela em perigo.

Não o caso da Diana.

 

Mas, no entanto, todavia, porém, existe um grande problema com a construção dessas personagens, pois ela pressupõe que para uma mulher ser forte basta que ela seja como um homem. Ou melhor, como um estereótipo de um homem. Ou seja, o que prevalece é uma ideia machista de empoderamento feminino. O resultado são personagens femininas que não só sabem lutar, como também são frias, distantes, calculistas e sanguinárias.

Felizmente, isso não acontece em Mulher-Maravilha. Diana é uma personagem complexa, e o que faz dela forte é tanto a sua força e habilidade físicas, como a sua bondade, o seu apreço por justiça e honra, e a sua capacidade de amar e de sentir empatia e esperança. São essas características interiores que tornam Diana uma Personagem Feminina Forte, não quantos caras ela consegue matar por minuto. Aliás, vale notar que as suas estratégias de luta são orientadas por essas características interiores: com um laço e escudos como armas principais, ela luta para desarmar, e não para matar.

‘Ela é Diferente das Outras Mulheres’

Veredicto: parcialmente subvertido.

No encalço do clichê da heroína de ação, temos o da garota que é diferente das outras garotas e, por isso, melhor. Normalmente, esse tipo de personagem abnega e desdenha todas as características estereotipicamente femininas (exceto estar dentro do padrão de beleza, claro) e por isso mesmo se destaca e se torna foda aos olhos dos outros personagens e do público. Como nossa colaboradora Bárbara nos lembrou recentemente, muitas personagens verdadeiramente inspiradoras podem se encaixar nesse clichê.  

“Não se encontra uma garota como aquela em toda a dinastia” é a frase usada pelo imperador para se referir à Mulan, um filme que fala basicamente sobre machismo sistêmico, como você pode ler nesse texto aqui.  

 

Esse poderia facilmente ter sido o caso em Mulher-Maravilha, mas a mensagem foi atenuada de diversas formas. Diana tem, sim, uma peculiaridade além de sua habilidade física que a torna diferente não só das outras mulheres, como de todos os seres humanos. No entanto, só descobrimos isso no final do filme, junto com ela. Durante a maior parte do longa, o que entendemos (e Diana também) é que ela é apenas uma entre muitas amazonas incríveis. Inclusive, na cena em que ela conversa com Steve logo depois da luta em Themyscira, Diana conta que tentou convencer sua mãe a enviar ela ou qualquer outra amazona junto com ele para ajudar a trazer um fim para a guerra.

mulher-maravilhaEu botava confiança.

 

Não só isso, mas o filme nos mostra claramente que as habilidades e os valores de Diana são aprendidos ao longo de toda a sua vida – e são aprendidas com outras mulheres. Como a Jess, do site Fandomentals, bem notou:

“De sua mãe ela aprende a nunca desejar a guerra, e de sua tia ela aprende a se preparar caso um dia ela aconteça. Não surpreendentemente, esses dois conceitos são o que representam as maiores forças de Diana.”

No fim, apenas Diana segue viagem com Steve, e embora se torne então a única personagem feminina de destaque da trama, ela não chega a renegar características estereotipicamente femininas (aliás, empatia e sensibilidade são traços que a deixam mais forte, não mais fraca). Mesmo assim, o fato de ser a única mulher ali com certeza prejudica a mensagem e pode passar uma vibe de “ela é diferente das outras, por isso está aqui”. O que nos leva ao próximo item.

Princípio Smurfette

Veredicto: parcialmente subvertido.

Cunhado por Katha Pollitt em um artigo do The New York Times de 1991, o termo faz referência à prática comum na cultura pop de ter exatamente uma única personagem feminina dentro de um grupo variado de homens (esse grupo pode ser todo o elenco, ou um subgrupo significativo dentro da narrativa). Como já escrevi recentemente em um texto só sobre esse fenômeno, embora durante muito tempo as Smurfettes tenham sido retratadas de forma estereotipada, como acessórios engraçadinhos ou peças de decoração, atualmente as obras que trazem esse clichê trazem também a ideia de que mulheres precisam ser excepcionais para participar de aventuras “masculinas”.

Em Mulher-Maravilha, essa ideia é subvertida de maneira parcial, pois embora tenhamos a chance de conhecer as amazonas logo no início, ainda assim Diana segue viagem com Steve sozinha e se torna a única mulher no grupo que vai para a guerra. E para completar, ela só está lá porque, adivinha, é excepcional (talvez não em relação às amazonas, mas definitivamente em relação às mulheres no “mundo real”).

Nesse sentido, Mulher-Maravilha me lembrou muito Rogue One, que também trouxe uma protagonista feminina que passa a maior parte do filme com um grupo de caras. Simplesmente não há motivos para não ter outras mulheres significativas ao longo da trama no mundo fora de Themyscira.

mulher-maravilhaE não, eu não esqueci da Dra Maru e da Etta, que tinham todo o potencial para ser personagens mais interessantes, mas não receberam praticamente nenhuma complexidade/profundidade.

 

Felizmente, no entanto, Diana não é a típica Smurfette fodástica que despreza as outras mulheres e tudo o que é estereotipicamente feminino. Nas suas poucas interações com outras mulheres fora de Themyscira ela as ouve e as trata com respeito. O que me lembra de outro clichê subvertido no filme.

‘Mulheres se Odeiam e são Rivais’

Veredicto: subvertido.

Rivalidade feminina é um clichê amplamente explorado no cinema e na televisão, que frequentemente reforça a ideia de que mulheres se odeiam e estão sempre rivalizando entre si por causa de um cara. Felizmente, em Mulher-Maravilha isso é subvertido.

mulher-maravilhaLindezas.

 

Para começar, em Themyscira vemos somente mulheres vivendo e colaborando entre si de diversas formas, sem rivalidades mesmo nas cenas de luta e treinamento. Ainda nesse núcleo, vemos uma cena raríssima na cultura pop, que é a morte de uma mulher de forma heroica, em combate (e para salvar outra mulher, diga-se de passagem), com direito a últimos momentos dramáticos nos braços de uma protagonista feminina. Esse tipo de cena acontece com frequência com personagens masculinos, mas nunca com mulheres, o que fez o coração bater mais forte no cinema.

Mais tarde, vemos que fora de Themyscira Diana é tão atenciosa e respeitosa com outras mulheres como dentro. Ela ouve Etta da mesma forma que Steve e é a única do grupo a não dar as costas para uma mulher que pede sua ajuda nas trincheiras.

Isso é muito coerente, afinal, Diana foi criada por mulheres, viveu entre mulheres, e todos os seus heróis e exemplos de vida são mulheres. E isso se reflete na forma como ela se porta no mundo fora de Themyscira. Não faria sentido ela sentir rivalidade ou desprezar mulheres, assim como não faria sentido ela se sentir intimidada ou acuada por homens (ou mesmo sentir medo ou culpa por dormir ao lado de um deles em um barco). Diana não foi criada em uma cultura de estupro e de inferiorização da mulher, e o resultado disso vemos nas telas: uma heroína segura de si, que confia na própria força (e na de outras mulheres), e que até escuta os homens, mas no fim toma suas próprias decisões.

‘Homens são Fortes, Mulheres são Belas’

Veredicto: parcialmente subvertido

Dentro do ideal machista, homens devem ser fortes e mulheres devem ser belas – lembrando que homens até podem ser belos, mas mulheres fortes são vistas com desconfiança e desagrado. Com os anos, no entanto, esse ideal foi perdendo força na cultura pop para permitir personagens femininas tão fortes quanto homens e personagens masculinos que não são nem belos, nem fortes. O que a cultura pop nunca permitiu, no entanto, foi mulheres fortes que não são também belas.

mulher-maravilhaSaiba mais sobre isso no nosso texto sobre a síndrome dos caras “feios” com minas gatas na cultura pop.

 

Em Mulher-Maravilha temos mulheres muito fortes e mais ou menos diversas em termos de aparência física entre as amazonas, o que é ótimo. De fato, a diretora Patty Jenkins fez questão de colocar atletas verdadeiras para interpretá-las, e impôs uma rotina de treinamento intensa para que todas tivessem o tipo físico mais adequado para mulheres guerreiras do que para modelos.

No entanto, embora Gal Gadot também tenha passado por um treinamento intenso, ela continua sendo uma protagonista que se encaixa perfeitamente nos padrões de beleza. De certa forma, é como a comediante Michelle Wolf bem disse:

mulher-maravilha

Mesmo assim, tem uma coisinha em Mulher-Maravilha que me deixou muito feliz e veremos no item a seguir.

Garota da Makeover

Veredicto: subvertido

mulher-maravilha

Se você nasceu entre as décadas de 1980 e 1990, provavelmente viu muitas garotas da makeover ao longo da adolescência. Em suma, essa é aquela personagem feminina patinho feio que em algum momento do filme passa por uma mudança física de cabelo/maquiagem/roupas que a transforma em um lindo cisne, belo e desejado. Hoje em dia, a garota da makeover já não é mais tão comum, mas infelizmente ainda permanece a crença de que beleza é a coisa mais importante na vida de uma mulher, e que basta ser bonita para estar feita na vida.

Pois bem, em Mulher-Maravilha temos uma protagonista que já é descaradamente bela, mas mesmo assim há dois momentos de makeover que subvertem totalmente o clichê original.

O primeiro acontece quando Steve leva Diana a uma loja com Etta para que ela possa se vestir com roupas “normais”. Vemos então uma sequência que poderia ter descambado para o desastre, com Diana escolhendo um vestido de gala e descobrindo os prazeres das compras e do que entendemos por “feminilidade”. Felizmente, no entanto, ela opta por uma roupa discreta de suffragette. E para melhorar, a cena termina com um detalhe espirituoso: Steve coloca um óculos na cara de Diana, ao que Etta imediatamente rebate: “O quê, você acha que ela vai chamar menos atenção se usar óculos?” – uma fala que tira sarro da garota da makeover clássica, cujos criadores costumavam tornar “feia” ao fazê-la usar óculos. 

Já o outro momento acontece na parte mais icônica do filme: a cena da Terra de Ninguém, quando Diana se apresenta pela primeira vez nos trajes de Mulher-Maravilha. A cena faz lembrar de longe a garota da makeover, pois envolve uma mudança de roupa e cabelos, mas felizmente qualquer semelhança acaba por aí, já que ela não se transforma para ficar mais bonita ou chamar a atenção de um cara, mas sim para se tornar uma super-heroína e salvar um vilarejo dos terrores da guerra.

Homens Agem, Mulheres São

Veredicto: subvertido.

Normalmente o que vemos nos filmes é o que ficou conhecido como o clichê Homens Agem, Mulheres São. Isto é, homens são os sujeitos das histórias, com autonomia e poder de decisão, enquanto as mulheres ocupam o papel de objeto, apenas reagindo às ações dos homens de forma passiva e secundária.

Obviamente que, tendo uma protagonista feminina, o esperado seria a subversão desse clichê em Mulher-Maravilha, mas nem sempre isso acontece. Inclusive, muita gente estava preocupada que Steve ocupasse muito tempo no longa e tomasse o protagonismo de Diana, como já vimos acontecer muitas outras vezes. Felizmente, isso não acontece e o que recebemos foi uma protagonista cheia de autonomia, força e determinação, que move a trama do filme do começo ao fim. Como já foi dito lá em cima, Diana escuta Steve e seus colegas, mas só faz o que acha que é certo, e são inúmeros os momentos em que ela ignora ordens e recomendações para seguir o seu próprio caminho.

*Arrepios*

 

Um desses momentos acontece na cena da Terra de Ninguém, quando Diana opta por ir resgatar o vilarejo do outro lado das trincheiras contra todos os avisos e tentativas de impedi-la. Vemos então uma sequência memorável em que ela abre caminho entre balas e bombas para que os soldados possam avançar. Uma mulher lutando e liderando homens em uma guerra? Uma raridade que precisa ser celebrada.  

Minorias Invisíveis, em Posições Subalternas ou de Lideranças Decorativas

Veredicto: não subvertido.

Infelizmente, um aspecto que o filme deixou muito a desejar foi o da representatividade não-branca e LGBT. Em suma: ou não teve, ou teve nos velhos e estereotipados moldes que já conhecemos.

Em termos de representatividade não-branca, o que o filme apresentou foram algumas figurantes negras entre as amazonas. Uma delas aparece em posição subalterna, como cuidadora de Diana quando criança. Já a outra aparece na posição de liderança decorativa, como uma senadora que mal consegue falar antes de ser interrompida.

Fora de Themyscira, Diana não encontrou nenhuma mulher não-branca (muito embora a Londres do começo do século XX fosse cheia de imigrantes africanos e asiáticos), mas pelo menos foi acompanhada por dois homens não-brancos não inteiramente estereotipados – um de origem indiana e outro de origem indígena norte-americana. E embora ambos os personagens tenham falas e papéis que criticam de certa forma a opressão de minorias não-brancas e a falta de representatividade que elas enfrentam, é decepcionante que sempre que os filmes nos trazem personagens não-brancos, na maioria das vezes eles são homens. Aliás, a configuração do grupo que acompanha Diana me lembrou muito (novamente) Rogue One: um grupo de homens de origens étnicas variadas, mas somente uma mulher, que é branca e dentro dos padrões de beleza.

Já em termos de representatividade LGBT o filme deixou a desejar porque optou por não abordar a sexualidade de Diana e das amazonas, que nos quadrinhos são bissexuais. A única dica disso acontece quando Antíope morre e uma das amazonas corre até ela em desespero – o que reforça o clichê recorrente de dar um final trágico a personagens LGBT.

E já que estamos falando em amor…

Mulheres na Geladeira

Veredicto: subvertido (com ressalvas)

O termo Mulheres na Geladeira refere-se a prática de matar, estuprar, mutilar, desempoderar, etc., uma personagem feminina, única e exclusivamente para motivar e colocar em andamento a história de um personagem masculino com quem ela se relaciona. Como a Tita Antunes já explicou em outro texto aqui no Nó de Oito, o termo foi cunhado em 1999 pela escritora de HQs Gail Simone, que notou que existia uma tendência no mundo das HQs de matar ou violentar personagens femininas para causar o desenvolvimento de personagens masculinos.

mulher-maravilhaEm Lanterna Verde #54 (1994), Kyle Rayner volta para casa um belo dia e encontra a namorada, Alexandra Dewitt, morta e enfiada dentro da geladeira. Ele surta de dor e ódio, e então vai atrás do responsável.

 

Você já viu onde quero chegar com isso, não é? Sim, em Mulher-Maravilha temos uma espécie de inversão desse estereótipo, mas não totalmente. No final do filme, quando Diana está enfrentando Ares, Steve pilota o avião cheio de gás venenoso da Dra Maru até uma altitude segura para explodi-lo, se sacrificando no processo. Diana então fica revoltada e quando Ares tenta convencê-la a ajudá-lo a exterminar os humanos, ela se lembra do sacrifício de Steve e decide que temos, sim, algum bem dentro de nós, e que somos dignos de proteção. Com isso, ela junta as forças necessárias para derrotar Ares.

Em suma, temos uma inversão do estereótipo, com um personagem masculino morrendo para motivar uma personagem feminina. No entanto, longe do que acontece com as Mulheres na Geladeira, o filme nos trouxe uma morte digna, heroica e voluntária. Por um lado isso é ótimo – seria uma hipocrisia sem tamanho torcer para que Steve fosse violentado como personagens femininas são em situações similares. Mas por outro fico meio triste pensando que isso só aconteceu porque ele é homem. Porque eu não consigo deixar de pensar que se fosse uma personagem feminina, não lhe teriam permitido preservar a integridade física e a autonomia para acabar com a vida nos seus próprios termos. Seria muito bom se a mulheres também fosse permitido a mesma complexidade de Steve como par romântico de um protagonista. E já que entramos nesse assunto, vamos para o derradeiro item dessa lista.

Mulheres Precisam de um Homem para ser Feliz

Veredicto: subvertido.

Sei que a discussão é acirrada em torno desse tópico e pensei muito antes de chegar na minha conclusão. A mim o romance de Diana com Steve não incomodou e não acho que ele reforçou estereótipos machistas sobre mulheres e amor romântico.

mulher-maravilhaChamei sua atenção? Ok, vamos lá.

 

Em primeiro lugar, temos o fato de que ele foi uma coisa pequena dentro da trama como um todo. Diana passa por inúmeras situações e toma inúmeras decisões independentemente de Steve ao longo do filme (aliás, ele dá todo o espaço necessário para que ela seja quem quer ser, o que é um ótimo exemplo para os meninos que assistem ao filme). Em algum momento ali no meio eles se afeiçoam um ao outro, rola uma química e eles ficam juntos (em uma cena de sexo sem objetificação de nenhum dos personagens e que transparece consentimento e autonomia feminina), mas de forma alguma isso define a personagem. Sim, é em Steve que Diana pensa antes de se voltar contra Ares, mas é para encontrar motivos pelos quais os humanos merecem ser salvos, não para lamentar e vingar um amor perdido.

De qualquer forma, eu entendo completamente o incômodo que o romance possa ter causado a algumas pessoas, porque a cultura pop é craque em usar romances aparentemente inofensivos para dizer que uma mulher precisa de um homem para ser feliz e completa.

Mas não é isso o que acontece em Mulher-Maravilha. Pense na vida feliz e completa que as amazonas levam sem homens em Themyscira. Pense na vida feliz e completa que Diana levava antes de conhecer Steve. Pense no fato de que ele morre e ela continua existindo, mais forte e resoluta do que nunca. Eu acho que o fato de muitas pessoas terem reduzido o filme ao relacionamento de Diana com Steve é um sintoma do quanto nós, em uma sociedade machista, somos ensinados a reduzir as mulheres aos homens com quem elas se relacionam. Diana é muito mais do que o Steve, e o filme deixou isso muito claro.

mulher-maravilhaFocada no que importa.

 

Além disso, seria pior se Diana não tivesse um par romântico, não só porque todos os outros super-heróis masculinos têm um, mas principalmente porque reforçaria a mensagem de que mulheres só podem ter uma coisa de cada vez. Pense nas personagens femininas que são profissionais bem-sucedidas: sempre frias, sempre emocionalmente distantes, e sempre solteiras. Agora pense no fato de que, na maioria das vezes, personagens masculinos bem-sucedidos têm também uma família, além do trabalho. Isso porque aos homens é permitido ser mais de uma coisa ao mesmo tempo, mas às mulheres nunca. Se é dona de casa, é só dona de casa. Se é profissional bem-sucedida, é só profissional bem-sucedida.  

Em Mulher-Maravilha, Diana não precisa fazer uma escolha entre ser uma super-heroína ou ser namorada de Steve, porque ela é uma personagem complexa. E adivinha só: ela pode muito bem ser as duas coisas (e muito mais).


E você, já assistiu ao filme? O que achou? Deixe sua opinião nos comentários!


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