Heroínas Masculinizadas e a Síndrome da Mulher “Mais Macho que Muito Homem”
Por trás das heroínas masculinizadas está o poder que frases (nem tão) inocentes têm e a dose de machismo que elas carregam.
Então, vamos começar esse texto falando um pouquinho sobre a autora: eu sou bem jovem. Isso significa que eu cresci nessa geração que veio, de uns anos pra cá, virando de cabeça pra baixo (ainda bem). Agora que eu tenho 18 anos, eu acho que posso me chamar de adulta – eu ainda não me decidi sobre isso – mas lá na minha adolescência (vamos chamar isso de 2012) eu lembro dos dias quando não questionávamos a cultura machista. Então, nas épocas de outrora, quando eu ouvia alguma coisa do tipo: “Você é mais macho que muito homem” eu ficava muito orgulhosa, e eu nem sabia exatamente o porquê. A única coisa que eu sabia é que eu tinha ganhado a admiração (geralmente de um amigo homem) e estava sendo reconhecida como igual na sociedade estudantil (ou seja, no grupinho).
O tempo passou e eu nunca mais pensei nisso, até que me disseram algo desse tipo num grupo de amigos em que eu era a única mulher e, ao invés de me sentir aceita e especial, tudo o que eu senti foi um gosto amargo na boca. E lembro de não entender o porquê. O que tinha mudado?
Demorou um pouco pra eu entender que tudo tinha mudado. De uns anos pra cá, eu construí uma identidade. E no meu cartão de visita consta ser mulher. Meu cérebro e meu corpo estão perfeitamente de acordo neste quesito e, quando eu me pergunto quem eu sou, eu respondo que sou uma menina – é, eu definitivamente não aceitei ser adulta ainda – de X anos, atendo por um nome feminino que me serve muito bem e no futuro serei muitas coisas enquanto continuo sendo uma mulher. Eu nasci assim e me tornei assim; foi com os anos que eu reafirmei meu gênero e assumi minha identidade. E foi tudo isso que me levou a perguntar por que eu tinha ouvido aquilo. Foi então que cheguei à conclusão de que ser homem é um elogio.
Considerando a cultura em que vivemos, é quase natural que seja assim. A indústria cultural é dominada por homens e, até mesmo quando vemos uma representação feminina, ela é na maioria das vezes inferiorizada, idealizada por homens e para homens. Isso significa que o protagonismo masculino é bem mais significativo, os personagens masculinos são mais trabalhados e com isso criamos um estereótipo do que significa agir como um homem – e é evidente o quanto isso pode prejudicar os homens também – e encaixamos os diferentes modos de agir na visão patriarcal.
Desse modo, crescemos vendo homens sendo protagonistas, tomando decisões, pensando por si próprios, tendo coragem, sendo valorizados e tendo seu lugar ao Sol e, quando uma mulher age desse jeito, o elogio que ela recebe é um certificado de macheza. Parabéns, agora sua existência é quase tão importante quanto a existência de um homem!
Nesta campanha da Always, é evidente o quanto essa visão interfere em nossa vida desde que nos conhecemos por gente.
Isso tudo se torna muito claro quando vemos uma personagem feminina ser masculinizada para assumir o protagonismo. Muitas vezes, essa personagem enterra sua feminilidade e nutre um profundo desprezo por tudo que seja, por assim dizer, “coisas de mulher”. Ela não se permite experimentar – e quem dirá gostar – dessas coisas e até mesmo ridiculariza as outras personagens femininas que se encaixam no padrão, o que contribui para a crença da superficialidade e futilidade da mulher. A popularidade dessas personagens é grande até mesmo quando elas não são, de fato, protagonistas: Arya Stark, uma guerreira nata, é incrivelmente popular entre os fãs de Game of Thrones (e de fato, a Arya é uma personagem feminina extremamente forte e que tenta quebrar todos os padrões que lhes são impostos) mas tamanha popularidade se resume majoritariamente ao fato de que ela é “badass” e “age feito homem” – e isso a torna melhor do que sua irmã lady Sansa, por exemplo.
Vale muito a pena você ler esse texto sobre a Sansa Stark.
Em outros casos, mesmo negando a vaidade, a personagem conta com um sexappeal natural e que serve também para alavancar sua popularidade e estimular o imaginário masculino. De certa forma, esse tipo de personagem é ainda mais inatingível para as mulheres: são aquelas que lutam com os vilões sem borrar a maquiagem, sem ganhar nenhuma cicatriz e sem sair um fio do lugar além do que já tinha sido previsto. Em todo o caso, esse é o tipo de heroína que até pode ser uma heroína e ter habilidades tipicamente masculinas, mas ela também tem que servir de símbolo sexual pros homens.
Realmente só sendo uma super heroína para conseguir combater o crime vestida assim.
Isso tudo também contribui para a rivalidade feminina. Geralmente essa protagonista é cercada de personagens extremamente superficiais que a invejam e ela, por sua vez, despreza. Dessa forma, grande parte de seus relacionamentos são com homens. Não foi incomum, nos meus tempos de adolescência, ouvir dizer que amizades masculinas são melhores do que as amizades femininas porque as mulheres não são tão confiáveis ou sinceras como os homens. Essa desconfiança que mulheres são estimuladas a ter em relação à outras mulheres (e por que não mencionar; em relação à si mesmas) não permite que elas se unam.
Ou seja, frases “inocentes” sobre a macheza de certos atos contém raízes muito mais profundas do que podemos imaginar. Dizer a uma mulher que ela faz algo como um homem é quase como parabenizar alguém dizendo: “Que atitude ótima a que você tomou, nem parece que partiu de você.”
Pausa para citar Clarice Lispector, em seu conto Mensagem:
“Sobretudo a moça já começara a não sentir prazer em ser condecorada com o título de homem ao menor sinal que apresentava de… De ser uma pessoa. Ao mesmo tempo que isso a lisonjeava, ofendia um pouco: era como se ele se surpreendesse de ela ser capaz exatamente por não julgá-la capaz.”
É uma forma sutil – e fácil de ser usada no cotidiano – de subestimar e inferiorizar tudo que seja convencionalmente classificado como feminino. É dizer aos homens que desconfiem de tudo que parta de uma mulher (a escritora J.K Rowling foi aconselhada a assinar com suas iniciais devido à crença de que leitores meninos não se interessariam por uma história escrita por uma mulher), dizer à eles que mulheres são muito complicadas (em suas superficialidades, é claro) e que é dever delas buscar compreendê-los, e nunca ao contrário – por isso, talvez, nem seja realmente necessário escutá-las. É dizer às mulheres para ou se encaixarem nesses padrões ou renegá-los completamente, mas sem esquecer do objetivo principal que é agradar e conquistar a admiração de um homem. É dizer à uma mulher que, pra ela ser boa o suficiente, é necessário que ela abra mão de parte de sua identidade; e que prove constantemente isso.
Um brinde às mulheres fortes. Que nós possamos conhecê-las. Que possamos sê-las. Que possamos cria-las.
Quando você é uma mulher, ou melhor, está crescendo para ser uma mulher, frequentemente você se pergunta qual tipo de mulher você vai escolher ser. Você vai ser a badgirl? Vai ser a princesa? Você está disposta a abdicar do que for preciso para se encaixar nessas personagens?
Na maioria das vezes não estaremos. Porque ser mulher faz parte de ser quem você é, e não o contrário. Porque não existem tipos de mulheres, existem mulheres. Mulheres duronas que choram vendo filmes, mulheres sensíveis que sabem sim ter pulso firme, mulheres que rejeitam as imposições da sociedade mas acabam se encaixando no padrão de vez em quando e ainda assim continuam sendo elas mesmas. Ser mulher, ou ser homem, não é qualidade – é uma condição.
Por agora, por questões que vem do nosso histórico machista, campanhas como o #doitlikeagirl e girl power são extremamente importantes para, num mundo onde crescemos chamando as mulheres de “o sexo frágil”, mostrarmos que estamos aqui, não iremos à lugar nenhum e nossa existência é completa e significativa. Que somos capazes. Mas, se a mídia nos representar de forma mais honesta e realista, se dermos espaço para mulheres em todos os setores mostrarem sua competência – um espaço honesto, um espaço que realmente tenha interesse e preste atenção na nossa participação, que pasmem, não é só decorativa; um espaço igualitário – talvez um dia sejamos somente nós, sendo quem somos e fazendo o melhor que pudermos.
Update: O texto não critica a Arya ou qualquer outra personagem, e sim o apelo junto ao público de personagens que rejeitam o que é socialmente construído como “feminino”.
Leia também Beleza Interior? A Misteriosa Síndrome dos Caras “Feios” com Minas Gatas na Cultura Pop; De Sonsa a Sansa – Como Fomos Criadas para Odiar Sansa Stark.
Rafaela
January 30, 2017 @ 6:38 pm
Bárbara, parabéns pelo texto. Você levantou importantes questões sobre a representação de mulheres na indústria cinematográfica e como isso está atrelado a estereótipos de gênero. De fato, características positivas e admiráveis – como resiliência, coragem e força – são majoritariamente atribuídas ao masculino. Mas eu também te convido a refletir sobre o quanto naturalizamos um certo essencialismo em relação a essas construções.
Quer dizer, todas essas características, independente do julgamento feito sobre elas (boas ou más), não nascem conosco, certo? Aprendemos desde muito cedo – desde a época do azul pra menino e rosa pra menina – a forma como somos diferentes e devemos ter comportamentos e expectativas distintas. Essa socialização, que é reiterada durante toda a nossa vida, se perpetua na ideia de que sempre esteve lá, que é naturalmente assim. Mas nós sabemos que não é.
Mulheres não precisam ser frágeis, maternais, mais sensíveis, menos racionais, etc. Esse é apenas o modo como aprendemos que mulheres devem ser. E o mesmo vale para as características atribuídas aos homens. Por isso, talvez o problema real não esteja em heroínas “masculinizadas”, quer dizer, com características masculinas, e sim no fato de masculinizarmos essas características. Nessa perspectiva, a maior perversidade desses estereótipos de gênero seja naturalizar coisas como “habilidades tipicamente masculinas”.
E se o problema não for mulheres sendo “masculinizadas” para se tornarem heroínas, e sim o fato dessas características heróicas serem entendidas como naturalmente masculinas?
Bárbara (autora)
January 31, 2017 @ 3:15 am
Ah como é gostoso receber um comentário desses! Concordo inteiramente com você. Essa é a ideia por traz do texto – o qual eu reli pra responder teu comentário. A masculinidade, é claro, é uma construção social – a crítica é sobre como a midia reforça isso fazendo com que as personagens fortes reneguem TODO tipo de coisas consideradas femininas apenas para que elas pareçam mais fortes. Isso tudo contribui para que as mulheres pareçam fracas, entende? Fora isso, questiono também o porquê dessas personagens fazem tanto sucesso com o público. Então sim, o problema é masculinizarmos as caracteristicas – e o texto fala em como as representações na midia colaborem para que façamos isso de forma até mesmo subconsciente. O “tipicamente” – e até mesmo o “masculinizada” neste caso, se referem não à uma questão biológica, e sim histórica/social.
Agradeço demais o comentário!
Luiz
January 30, 2017 @ 9:53 pm
Pra quem um dia for trabalhar com a sétima arte, é obrigação ler os textos desse site. Parabéns.
Bárbara (autora)
January 31, 2017 @ 3:17 am
Muito obrigada, Luiz!!!
Fernanda
January 30, 2017 @ 10:32 pm
Acho que o grande espanto com a Arya é a gente admirar ela por ela ser como um homem. O espanto está, principalmente, em nós mesmxs, em gostar dela por esse motivo. Por outro lado, tem a Daenerys na série, uma personagem feminina, construída de forma completamente diferente. Ela libertou escravos, rebaixou tiranos, juntou rebeldes, fez isso de forma inteligente e ativa. Ela tem três amantes, nenhum deles a tem como amante. Ela decide com quem vai se casar, pelos motivos dela. Joana Darc ou Cleópatra, duas personagens da nossa história, caminhos diferentes para resistir ao destino imposto. Foi o que cada uma deu conta, diante do mundo que as construiu. Temos que tomar cuidado com o nosso olhar, sempre bom questionar “nós amamos a Arya por ela parecer um homem?” isso é questionar o machismo em nós. George Martin, um homem, machista por construção? muito provável. Mas não podemos deixar de reconhecer o papel de resistência das mulheres de game of thrones; Olenna Tyrell, Margaery Tyrell, Até a Cercei, do jeito capenga dela, todas com seus planos de resistência.
Bárbara (autora)
January 31, 2017 @ 3:22 am
Com toda a certeza, Fernanda! Eu mesma confesso que a Arya é minha personagem preferida e no começo eu, de maneira inconsciente, a preferia justamente por ela parecer um homem – sendo que existem outros inúmeros motivos que a fazem ser espetacular e que tudo o que ela faz é considerado masculino pelo padrão medieval, o que não quer dizer que o de fato seja e sim que nosso cérebro está socialmente construído para interpretarmos dessa forma. E com toda a certeza, Game of Thrones é uma obra repleta de personagens femininas bem construídas e que merecem a admiração do fandom tanto quanto a Arya – afinal, seja qual for o padrão de masculinidade/feminilidade que elas acabem se encaixando, elas são capazes de grandes feitos.
Obrigada pelo comentário!
Desi
January 31, 2017 @ 2:23 am
Pra variar, adorei o texto.
O machismo está tão inserido na nossa sociedade, que várias pessoas leriam um texto desse e achariam frescura e que “nossa, vcs problematizam tudo”. Outras pensariam que ” não adianta nada, as coisas são assim e não vão mudar”
Mas as coisas só não mudam se a gente desiste antes de tentar. Então vale sim a discussão, vale sim tentar (e conseguir) construir um mundo melhor. Todo movimento é melhor do que a inércia, qnd estamos insatisfeitos =]
Bárbara (autora)
January 31, 2017 @ 11:50 pm
As raízes do machismo são tão profundas que até inconscientemente praticamos machismo; por isso é tão importante questiornarmos até mesmo coisas que parecem pequenas, porque por trás delas existe uma estrutura gigantesca que se sustenta na opressão. E de fato, muitas pessoas pensaram isso! Hahaha mas saber que outras entenderam a importância disso tudo é muito gratificante. Vale a pena. Obrigada pelo comentário, Desi <3
Juliano
February 1, 2017 @ 5:53 pm
Lindo texto, Bárbara. Mas tenho que defender a Arya. Acho que ela fez o necessário pra sobreviver, inclusive fantasiando-se de menino o que de fato foi útil pra esconder a identidade de uma procurada. Ela é inteligente, sagaz, forte, tem uma espada coerente com a idade em Que a adquiriu, é preparada pra luta e se veste de acordo. Coisa de mulher.
Lara Vascouto
February 1, 2017 @ 9:52 pm
Amamos a Arya, Juliano! O texto não critica ela, e sim o apelo junto ao público de personagens que rejeitam o que é socialmente construído como “feminino”. Concordo que ela fez o que precisava pra sobreviver, e isso incluiu ter de se fazer de menino, mas desde o começo Arya era uma tomboy (não é a toa que o Jon dá a ela uma espada logo nos primeiros episódios e ela ironicamente a chama de Agulha, numa referência a atividade de costura que detesta). E foi esse tipo de coisa que a consolidou como favorita do público desde o começo. O texto fala sobre mais sobre nós do que sobre a Arya. 🙂
Bárbara (autora)
February 5, 2017 @ 6:53 pm
Super te entendo, Juliano! Eu também amo a Arya. Eu estou consciente da trajetória dela e a crítica não é nem pra série, que trabalha muito bem todas as personagens femininas. Mas como a Lara já respondeu, a crítica é para nós mesmos. No contexto da Idade Média, a Arya acaba sendo masculinizada – e talvez se a mesma personagem vivesse na nossa época ela não fosse vista como “”””””masculina””””””” – e ai entra tudo o que a Lara disse. Estar ou não estar no padrão não devia ser um quesito para acharmos a Arya melhor que a Sansa, porque né, temos muitos outros motivos hahaha (brincadeirinha)
Espero que tenha esclarecido mas, de qualquer forma, agradeço muito seu comentário!
Aline Marques
January 31, 2017 @ 1:33 pm
Vc tem muita maturidade no seu texto.
Se não tivesse dito sua idade, eu nem saberia que vc era tão jovem!
Lembre-se de não ficar se justificando ou pedindo desculpas por dar sua opinião.
Isso já faz com que as pessoas te olhem “de cima pra baixo”.
Tem uma campanha da Pantene que se chama Shine Strong.
Têm dois vídeos dessa campanha que mudaram a minha vida:
https://www.youtube.com/watch?v=p73-30lE-XE Não peça desculpas
https://www.youtube.com/watch?v=OEAnYmpBxFw Rótulos sobre mulheres
Claro que podemos cometer erros, e aí sim vem as desculpas.
Mas enquanto você está escrevendo um texto tão maravilhoso, é melhor não.
Beijos.
Aline Marques
January 31, 2017 @ 1:59 pm
Voltei a ler o começo e percebi que vc não estava muito “pedindo desculpas”, só centextualizando mesmo auHAUhauhAUH
Mas, enfim… Parabéns pelo texto! Espero ter a oportunidade de ler mais.
Bárbara (autora)
January 31, 2017 @ 11:41 pm
Sim, foi só uma contextualização pro leitor entender de onde saiu essa reflexão toda. Vira e mexe baixa a Clarisse em mim e alguns momentos aparentemente insignificantes da minha vida viram um texto.
Mas olha, Aline, você pode até ter se enganado na interpretação do meu texto, mas se você me conhecesse pessoalmente saberia que eu tenho essa mania de pedir desculpas mesmo! Hahahaha Muito obrigada pelos elogios – é maravilhoso quando alguém entende e gosta da nossa escrita – e pelos videos também, vou assisti-los com muito carinho.
Roberta
January 31, 2017 @ 1:57 pm
Tão novinha e escrevendo bem assim, dá até um quentinho no coração! Adorei o texto não só pelo conteúdo, mas também pela coesão e coerência! Perfeito!
Bárbara (autora)
February 1, 2017 @ 12:11 am
Meu coração que fica quentinho (e honrado!) de receber um comentário fofo desses. Muito obrigada, Roberta <3
Amanda
January 31, 2017 @ 2:35 pm
Quando eu penso em personagens femininas masculinizadas, sempre lembro da Katniss de Jogos Vorazes. Parece que, na saga, a autora decidiu inverter os papéis. O Peeta tem todas as características femininas e a Katniss as masculinas. Eu gosto muito da história, mas sempre me incomoda quando isso acontece. É muito difícil se identificar com um personagem tão diferente.
Bárbara (autora)
February 1, 2017 @ 12:27 am
Sabe que eu não tinha pensado nisso, Amanda? Mas isso me lembrou que esses
dias no VideoShow estava o Cauã Reymond falando que tinham feito isso com o personagem dele e da Débora Falabella na novela Avenida Brasil. Me incomodou um pouco a fala dele porque ele deu a entender que isso ocorria pelo fato do personagem dele ser mais frágil. Enfim, vou pensar nisso! Muito obrigada pelo comentário!
André Kelles
February 1, 2017 @ 9:12 am
Muitos parabéns pelo texto, ótimos pontos, e mto bem colocados. Isso da mulher como condição e não qualidade lembra ao mesmo tempo de Beauvoir e de reflexões taoistas. Em um mesmo dia uma mesma pessoa pode mostrar mtas facetas, e elas nao sao menos validas c relação uma a outra. D todo modo, espero ler mais coisas tuas, mandou bem =)
Bárbara (autora)
February 1, 2017 @ 9:10 pm
“Em um mesmo dia uma mesma pessoa pode mostrar muitas facetas, e elas não são menos validas em relação uma a outra.” É JUSTAMENTE ISSO!!! Vou te usar de citação pra quem não tiver entendendo, pode? hahah Muito obrigada, André. E pode esperar que mais textos virão! 😉
Jessica
February 2, 2017 @ 12:41 am
Querida, muito bom! Parabéns pela reflexão.
Só queria levantar um pontinho, que talvez você possa explorar em outro texto.
No quadrinho acima que diz “mulher pra CARALHO, mulher da PORRA” você percebe que até as palavras usadas pra defender que a mulher não é mais MACHO que muito HOMEM são do universo masculino? Será que temos mesmo que falar de caralho e porra pra dar intensidade às nossas vozes FEMININAS? Será que não existem outras palavras melhores para usarmos nessa defesa?
Fica minha contribuição (espero que seja uma!)
Um beijo
Bárbara (autora)
February 5, 2017 @ 6:56 pm
Vivendo e aprendendo não é mesmo? Que ÓTIMA observação Jéssica, confesso que até mesmo demorei pra relacionar o significado masculino dessas palavras de tão naturais que elas são. Vou sim procurar explorar isso nao só em outros textos, mas como na minha vida.
Obrigada pelo seu comentário!
Jessica Souza
February 2, 2017 @ 8:08 pm
Que texto incrível e inteligente! Parabéns! Você se aprofundou bastante no assunto e me fez perceber algumas coisas que eu nunca tinha parado pra pensar.
Aliás, o desenho As Meninas Super Poderosas retratou muito bem a mensagem do seu texto – sobre as mulheres não precisarem abandonar seu “jeito feminino” para serem duronas – em um dos seus episódios chamado “Era uma vez em Townsville” (o desenho todo passa essa mensagem, mas achei esse episódio mais genial). Recomendo você assistir.
Bárbara (autora)
February 5, 2017 @ 7:02 pm
Menina, eu pensei MUITO nas Meninas Super Poderosas enquanto escrevia esse texto! É um exemplo ótimo até porque, temos a Docinho e a Lindinha, que são personagens completamente opostas, trabalhando juntas e arrasando! Não sei se assisti esse alguma vez quando criança, mas garanto que assistirei agora como “””””””adulta”””””””” . Obrigada pelo seu comentário; saber que você pensou nelas enquanto lia meu texto fez eu ganhar meu dia!
aiaiai
February 4, 2017 @ 9:59 am
18 anos e escrevendo e refletindo bem desse jeito? você é incrível. eu tenho 53. aos 18 ficava bem incomodada com tudo isso (sempre era também elogiada por agir como homem) mas não refletia sobre o assunto. pensava apenas em mim. ñ via que era uma questão social complexa que afetava a todas as mulheres e a todos os homens. demorei bem pra perceber. você me enche de esperança de que tudo o que fizemos não foi em vão. vc e outras mulheres incríveis ainda terão que lutar muito por uma sociedade igualitária. mas estamos avançando. e estamos avançando lindamente. muito obrigada.
Bárbara (autora)
February 5, 2017 @ 10:05 pm
Sabe que eu demorei mais pra responder seu comentário, porque eu fiquei olhando pra ele pensando em como eu responderia à altura, e acho que não vou conseguir. Você tem a mesma idade que minha mãe está completando hoje e acho que você deve ser uma mulher tão inspiradora quanto ela. Como autora do texto, eu tenho que saber lidar com todas as críticas, as más interpretações, enfim. Ás vezes é difícil porque autoconfiança, principalmente para as mulheres, é difícil. Mas ai surgem esses comentários tão lindos e vemos que estamos no caminho certo e que vale a pena. O seu, em particular, me deixou emocionada. Muito obrigada <3
Rodrigo Delli
February 6, 2017 @ 2:57 pm
Existem importantes componentes históricos nesse processo de atribuir virtudes às mulheres masculinizadas – visto que foi exatamente isso que, em épocas mais complicadas, algumas mulheres tiveram que fazer, como Joana D’Arc, a escritora Amandine de Francueil, que assinava como George Sand e muitas outras. Shakespeare, considerado por Harold Bloom o centro do cânone literário ocidental, também usou deste expediente – quando Lady Macbeth abdica de sua feminilidade para lutar pelo poder. Em virtude do ambiente sufocante em que viveram, tal expediente mostrou-se oportuno inclusive como estratégia de superação social e valorização, ainda que pelo avesso, do feminino. O tema central do seu texto diz respeito à herança legada por estas iniciativas – que talvez hoje soem como inoportunas, mas que outrora tiveram sua importância.
Bárbara (autora)
February 9, 2017 @ 4:47 pm
Foi preciso muita luta dessas mulheres incríveis para dar a liberdade que temos hoje. Temos que fazer justiça à elas e sermos tão incríveis quanto – inclusive exigindo as mudanças que nosso tempo pede. Obrigada pelo comentário, Rodrigo 🙂
Mia
April 4, 2017 @ 12:41 pm
Eu comecei a perceber exatamente isso quando terminei de assistir ‘A Lenda de Korra’, onde a personagem é tão masculinizada q no fim ela fica com a Asami ao em vez do Mako, qualquer pessoa que assistiu, sabe que aquele final não tem pé nem cabeça, que não encaixa em nada com o que foi mostrado ao longo das quatro temporadas. Por fim concluí, que além de quererem empurrar a ideologia de gênero pra cima das crianças, a personagem foi tão masculinizada que por fim ficou com uma mulher. Pra mim isso é um verdadeiro machismo.
Bárbara (autora)
May 6, 2017 @ 5:57 pm
Eu respondi o comentário abaixo antes do seu, e acho que a resposta é basicamente a mesma. Eu não assisti “A Lenda de Korra” mas acho que o problema não são características entendidas como masculinas, e sim quando se cria um estereotipo de mulheres com essas características. Se os estereotipos de feminilidade não deram certo, não seria melhor quebrar esses estereotipos ao invés de criar um novo? Queremos mulheres retratadas como pessoas!
Obrigada pelo comentário! ❤
Letícia Godoy
April 7, 2017 @ 9:39 pm
Uma jovem e sábia mulher!
Parabéns!
Bárbara (autora)
May 6, 2017 @ 5:58 pm
Muito obrigada, Letícia! ❤
lyla
April 26, 2017 @ 4:06 pm
Cara, eu concordo e discordo contigo. Eu acho que deveriamos parar de usar o termo masculinizadas e feminilizadas. Porque na realidade, esses termos representam um conjunto de coisas que nada tem a ver com gênero. Mulher masculinizada, é alguem que tem vagina, e age como um homem. Como um homem age? Como uma mulher age? é toda aquela questão de gênero que a gente tanto odeia. Que vc é limitado pelo que vc tem no meio das pernas.
Agir como homem, é o que? Não se importar com aparência? Ser mais bruto, menos sensível? Gostar de futebol? ENTÃO UMA MULHER QUE É TUDO ISSO É O QUE? mASCULINIZADA? nÃO… É SÓ UMA MULHER QUE GOSTA DE FUTEBOL…?
aCHO QUE NÃO TEMOS QUE CONDERAR AS MENINAS TOMBOYS QUE TEM POR AI, PORQUE SUPOSTAMENTE ELAS QUEREM SER MELHORES POR TEREM SUPOSTAS QUALIDADES DE HOMENS. mUITO MENOS AO CONTRÁRIO. nÃO EXISTE QUALIDADE DE HOMEM E QUALIDADE DE MULHER. eXISTE GENTE. gENTE DIFERENTE, EXISTE MENINA QUE GOSTA DE JOGOS, FUTEBO, E NUNCA FOI LÁ MUITO DELICADA, E SE SENTE DESNORTEADA TENTANDO SER O QUE NÃO É, PORQUE TODO MUNDO DIZ QUE ELA DEVERIA SER DIFERENTE. eXISTE HOMEM QUE NÃO TEM VOCAÇÃO PRA MACHÃO COMEDOR E PROVEDOR E SE SENTE UM BOSTA POR NÃO CONSEGUIR SER ASSIM… NÃO EXISTE ESSA COISA, DE MULHER MASCULINIZADA, HOMEM FEMINILIZADO…. EXISTE GENTE COM CARACTERISTICAS DIFERENTES…. É O QUE EU PENSO
Bárbara (autora)
May 6, 2017 @ 5:35 pm
Então, eu acho que tudo isso que você falou tem muito sentido mesmo! O que eu tento abordar aqui nesse texto é uma solução pra essa visão de genero simplista que existe na sociedade, e eu acredito que se a midia passar a misturar aMbas qualidades, tanto as socialmente construídas como “femininas” quando as “masculinas” e mais ainda, valoriza-las igualmente; sem formar personagens estereotipadas, aos poucos iremos começar a ve-las simplesmente como qualidades.
Eu acho seu pensamento muito correto na esfera real da coisa, e é meu pensamento também. O problema é a representação midiaca e o o pensamento que ela constrói e perpetua.
Não precisa se desculpar pelo caps não! Eu agradeço muito seu comentário e espero ter respondido à altura! ❤
lyla
April 26, 2017 @ 4:07 pm
Meu caps tava ligado, e por algum motivo as letras maicusculas nao aparecem no caixa de comentario, sorry pelas maiusculas =\
Talita Sobrinho
April 27, 2017 @ 3:47 pm
acho importante destacar uma problematização quando você finaliza o texto com o termo “sexo frágil”, pois nem todas as mulheres são consideradas como o sexo frágil na nossa sociedade machista. Mulheres negras, não são consideradas como o sexo frágil, pelo contrario são descaracterizadas de todos os esteriótipos da condição da mulher branca frágil. São entendidas socialmente desde o período da escravidão como burros de carga, pelas suas ancas largas pronta para a exploração de seus corpos e trabalho. Traçar essas duas questões são importantes para não nós enganarmos que existe um machismo único que segue a mesma cartilha para oprimir mulheres. Contudo seu texto é muito importante e necessário. adoro o site, sempre leio! 😀
Bárbara (autora)
May 6, 2017 @ 5:48 pm
MUITO, muito obrigada por essa observação. Eu concordo sim que existem pautas completamente para pessoas negras. A única coisa que ainda me intriga é, mesmo que na prática as mulheres negras sempre tenham sido entendidas como fortes para o trabalho e a exploração será que socialmente elas também não são subestimadas por ser mulheres, mesmo que seguindo uma cartilha diferente, em mais um exemplo de hipocrisia machista? Vou refletir sobre isso e mais uma vez agradeço seu comentário porque esse não é meu local de fala, mas eu reconheço que é uma fala importante que deve orientar meus textos sempre. Desculpe se falei alguma besteira aqui, é um assunto delicado que tento tratar com respeito, mas não posso fingir que entendo o que é ser uma mulher negra, mas quero tentar entender o máximo que eu puder. Muito obrigada pelo seu comentário! ❤
Bárbara (autora)
May 6, 2017 @ 5:49 pm
*completamente diferentes, perdão 🙂
Carol
May 12, 2017 @ 6:16 pm
Bom texto. Discordo quando diz que admiram a Arya por “agir como homem”. Eu a admiro por ser badass, assim como existem outras personagens igualmente fortes no livro que são femininas (como as Serpentes de Areia) sem o menor problema. Mas temos que admitir: num mundo como o criado pelo GRRM, é muito mais produtivo e seguro agir como homem em algumas situações, vide o tanto que a Sansa sofreu :/
Lara Vascouto
May 13, 2017 @ 11:05 pm
Acho que depende, Carol. A Sansa é prova de que qualidades que não são estereotipicamente masculinas também podem ser muito valiosas. A Arya, justamente por ser tão badass, provavelmente nunca teria sobrevivido no lugar da Sansa. :/
Carlos klimick
September 7, 2017 @ 2:26 pm
Excelente texto. Gostaria de levá-lo para debate na minha aula de jogos narrativos. A questão central para mim é justamente o porquê do sucesso de Arya e de características heroicas e guerreiras terem sido consideradas masculinas, daí serem “masculinizadas”, e as características tradicionalmente consideradas femininas serem desvalorizadas. Aqui em casa eu cozinho para minha esposa e filha, e isso não causa estranhamento, mas quando digo que troquei quase todas as fraldas e levo minha filha para brincar dizem-me que sou “mãe” e não “pai”. Para mim há diferentes maneiras de viver o cuidar de uma criança, sejam elas paternas ou maternas, bem como de cuidar da família e agir no mundo. Cada pessoa exerce as atividades para as quais tiver maios vocação e aptidão. Enfim, parabéns pelo texto.