Moana: Um Mar de Aventuras – Protagonismo Feminino, Sutileza e Desconstrução de Estereótipos

Moana: Um Mar de Aventuras é uma animação que encanta visualmente, mas a grande magia reside no olhar sutil que o filme traz para questões importantes. 

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*Contém alguns spoilers sobre a trama

Moana: Um Mar de Aventuras conta a história de Moana (dublada por Auli’i Cravalho of Oahu no original, e pela jovem e talentosa Any Gabrielly, na versão brasileira), uma adolescente determinada de origem polinésia. Filha do chefe de sua aldeia, Moana é escolhida pelo oceano para reestabelecer o equilíbrio da natureza, quebrado quando uma pedra – que servia de coração à deusa Te Fiti – foi roubada por Maui (dublado por Dwayne Johnson no original, e por Saulo Vasconcelos na versão brasileira), um semideus que já foi muito poderoso e continua destemido e cheio de si. Para achar e devolver a pedra, Moana precisará seguir em uma jornada pelo oceano enfrentando seus próprios medos (e contra a vontade de seu pai, que quer que ela seja uma líder comunitária em terra firme, seguindo os passos dele), para encontrar Maui e convencê-lo a ajudá-la em seu propósito de devolver a pedra e salvar o seu povo.

O filme reúne uma combinação de elementos da cultura e mitologia polinésia com lindas e contagiantes canções, animaizinhos fofos para garantir muitos momentos de fofura, efeitos gráficos de tirar o fôlego, e diálogos engraçados e ao mesmo tempo estrategicamente construídos para desconstruir de maneira leve e descontraída a imagem estereotipada de princesa-à-espera-do-príncipe que a própria Disney ajudou a reforçar por muitos anos (o que é um progresso bastante significativo).  

 Moana literalmente rejeita o título de “Princesa Disney”.

 

Os diretores da animação são a já consagrada dupla John Musker e Ron Clements (que também dirigiram A Pequena Sereia, A Princesa e o Sapo, Aladdin), já conhecida por tentar trazer um viés maior de diversidade étnica e cultural para as animações e sair um pouco dos modelos clássicos de contos de fadas.

Em Moana, a “ousadia” deles foi um pouco maior: em uma das cenas os personagens brincam com o próprio estereótipo da princesa das animações. No caso, Maui fala para Moana que ela é uma princesa, porque é filha de alguém importante e tem um animalzinho de estimação como companheiro (como é o padrão na maioria das animações da Disney), e ela prontamente rejeita este título dizendo que ela é a filha do chefe, mas não é princesa. E mostra na sequência que está pronta pra lutar, pilotar barco, subir em pedras, derrotar vilões e tudo mais sem que alguém precise salvá-la dos perigos.

Não tem príncipe encantado (e não precisa ter mesmo).

 

Em nenhum momento da trama há sequer sugestão de alguma chance de romance entre a dupla de protagonistas: eles começam a trama se estranhando um pouco, depois ficam amigos, se desentendem e depois se reconciliam e continuam amigos. Simples assim.

Isso é ótimo porque ajuda a reforçar a ideia de que homens e mulheres podem ser amigos sem haver nenhum tipo de interesse além da amizade em si. E também mostra a importância deste tipo de relação, que nem sempre é lembrada nos filmes porque o amor romântico sempre acaba sendo o tema preferido a ser abordado.

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Maui é um personagem cheio de defeitos e que subestima Moana por um bom tempo durante a trama, além de ser bastante vaidoso e preocupado em fazer sucesso. Porém, ela contorna todo o preconceito e machismo dele e se mostra tão inabalável que ele passa aos poucos a enxergá-la com mais respeito e admiração, chegando a afirmar o óbvio: que ela é uma guerreira e não apenas uma princesa. Não deveria ser algo tão difícil, mas é bonito o desenvolvimento da redenção do personagem. Maui comete erros, como por exemplo roubar a pedra da deusa do oceano simplesmente porque tinha um complexo de rejeição muito forte e achava que com a pedra ganharia o respeito e carinhos dos humanos (o que não acontece). Ele tem muitos dilemas e conflitos morais e sua aparente arrogância esconde na verdade uma insegurança enorme. Cada uma de suas tatuagens conta uma parte de sua história e a tatuagem que ele ganha no final representa muito sobre seu crescimento e o desenvolvimento da amizade com Moana.

Há alguns pontos a melhorar no personagem, mas a ideia geral é positiva: amizade e companheirismo ao invés de um romance. E no final das contas, embora a relação deles seja bacana e um ponto alto da animação, a relação mais significativa para a trama foi a de Moana com sua avó.

Representatividade Feminina

O filme é cuidadosamente trabalhado na ideia de superação, girl power e desconstrução dos estereótipos normalmente reservados para as personagens femininas.

Moana desde a infância mostra que tem personalidade forte e enfrenta o seu pai em vários momentos para tentar fazer suas próprias escolhas e definir seu destino. Seu pai quer que ela siga seus passos e se torne uma líder para o seu povo em terra firme, mas Moana sente que seu lugar é no mar, e mesmo contra a vontade de todos (exceto de sua adorável avó), ela segue em frente em sua aventura pelo mar.

Mais adiante ela também enfrenta Maui em diversas situações, mostrando que não desistiria fácil de seus objetivos e também que estava disposta a lutar usando toda a sua garra e pouco se importando com a descrença de Maui, que a achava frágil demais para combater os perigos e vilões que teriam que enfrentar juntos.  

Importante ressaltar que mais de uma vez Maui a deixa abandonada à própria sorte, sem se importar com o que vai acontecer com ela, além de não demonstrar muita confiança na capacidade da garota. No entanto, ele acaba tendo que rever seus conceitos e posteriormente reconhece a determinação, habilidade e coragem da jovem.

moanaEscuta aqui, queridinho!

 

A personagem Moana representa uma enorme evolução, mas a animação vai além, dando voz e personalidade a outras personagens femininas que também se destacam e têm papel de destaque na trama.  Uma das personagens femininas mais carismáticas e importantes da animação é a avó de Moana, Tala. A idosa de espírito livre e que, assim como Moana, tem uma forte e intensa ligação com o oceano, é vista por alguns como uma pessoa excêntrica, porém trata-se na realidade de uma mulher cheia de vivência e sabedoria e que não se importa com opiniões alheias. A personagem carrega em si enorme simbolismo em cada gesto e palavra ao mesmo tempo em que entrega uma boa dose de senso de humor.

De uma maneira leve e sincera, Tala ensina a menina a acreditar nela mesma, a persistir em seus sonhos, a lutar pelo que acredita, a enfrentar o que for preciso, ao mesmo tempo em que também se coloca à disposição para apoiá-la caso decidisse seguir outro caminho. E é na avó que Moana busca inspiração e apoio quando se vê já quase sem forças para lutar e sem a ajuda de Maui. A relação entre neta e avó é muito bonita e sensível, sem dúvida um dos pontos altos do filme.

Conclusão

Moana acertou muito mais do que errou: tem músicas maravilhosas que grudam na nossa cabeça, tem ação, tem visual de encher os olhos, tem diversidade étnica e cultural, tem simbolismo, tem protagonismo feminino, tem um humor leve e descontraído para passar lições importantes, tem emoção, tem amizade, tem relações familiares, e tem metáforas para falar de temas importantes como a necessidade que temos de tentar agradar aos outros e o aprendizado de que as aparências enganam e que a garota com cara de princesa também pode ser corajosa, valente, forte, esperta. Ainda há coisas a serem trabalhadas e melhoradas, mas o filme é lindo, traz lições valiosas e avançou em muitos pontos importantes.

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