Lisa Simpson – Uma Voz Feminista em Os Simpsons

Inteligente, talentosa e moralmente ética, Lisa Simpson é um respiro para toda a lama apresentada satiricamente em Os Simpsons. Ah! E ela também é feminista. 

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Se existe um programa de televisão que foi minuciosamente pensado para ser politicamente incorreto, esse programa é o desenho Os Simpsons. Apesar de ter certeza que todo mundo conhece, vou dar uma sinopse básica sobre ele: os Simpsons são uma típica família americana formada por pai, mãe e três filhos, sendo eles um menino e duas meninas. Nesse texto, gostaria de focar em uma das meninas, em especial: a filha do meio, Lisa.

Lisa parece ser um respiro criado pelos roteiristas para toda a lama apresentada satiricamente no desenho. Enquanto a maioria dos personagens são caracterizados pelos piores estereótipos imagináveis – bêbados machistas, prefeito mulherengo (baseado em quem? Ele mesmo, Clinton), esposa submissa, entre outros -, Lisa aparece nesse meio como uma espécie de ovelha negra. Lembrando que ovelha negra não é a errada. É apenas a diferente do bando.

Um dos primeiros episódios em que notei que Lisa é uma personagem que se destaca no desenho acontece na quinta temporada, quando ela ganha uma boneca falante tipo Barbie e, ansiosa para saber o que sua heroína tem para falar, se decepciona com frases como: “Pensar demais vai te deixar com rugas” e “Não me perguntem, sou apenas uma garota!” ( ai!). Enquanto as coleguinhas de Lisa ficam apaixonadas pela boneca, a menina se revolta e vai atrás de sua criadora para propor uma parceria entre elas. Juntas, elas criam uma outra boneca falante, que reproduz frases como “Confie em si mesma e conseguirá tudo que deseja”. No entanto, como “Os Simpsons” nasceu para criticar e não para ter final feliz, a boneca de Lisa não vende.

simpsons“Não me pergunte. Sou só uma garota.”

 

O desenho se passa numa típica cidadezinha pequena e protestante dos EUA. E sabemos como cidadezinhas pequenas são. Lisa sofre todo tipo de preconceito por parte de suas coleguinhas de escola. Ao anunciar que é vegetariana, ouve das outras meninas a piada “Você vai casar com uma cenoura Lisa?!”. Mais do que as colegas, no entanto, acredito que a principal barreira que Lisa encontra em sua jornada é sua mãe, Marge. Marge é submissa ao marido e não gosta de algumas escolhas da filha. Ao mesmo tempo que Lisa a ama e tenta, digamos, empoderá-la, ela se frustra porque gostaria que Marge fosse diferente, que a compreendesse mais e fosse um exemplo de mulher que ela própria gostaria de ser quando crescesse.

simpsons“Por que é que quando uma mulher é confiante e poderosa, ela é chamada de bruxa?”

 

Mas o que eu mais gosto em Lisa é que ela não é perfeita. Ela entra em conflito consigo mesma um milhão de vezes e, em vez de fechar os olhos, reflete sobre as coisas. Lisa já entrou na paranoia de competir com outra garota inteligente da sala, já teve transtorno alimentar e, em um dos meus episódios favoritos, tenta “se encaixar” num grupo “legal” após ser excluída pelos coleguinhas de escola. Nesse episódio em especial, a família vai passar férias na praia e ela decide que vai mudar sua personalidade para conseguir seus tão sonhados amigos. Ela finge que é popular na escola e esconde seu amor por livros para entrar numa turma de skatistas. Alerta de SPOILER: o fofo do Bart revela a verdadeira identidade nerd da irmã para os novos amigos dela e…eles continuam adorando a garota! Foi libertador para minha cabecinha nerd de 12 anos entender que não preciso fingir ser “cool” para agradar ninguém.

Enfim, eu assisto Os Simpsons desde os onze anos de idade e seus episódios sempre me fizeram questionar muitas coisas. Numa família que condena tudo que parece diferente aos seus olhos, Lisa toma decisões baseada apenas no que acredita e não no que os outros irão pensar. Ela se torna vegetariana por achar errado a matança de animais, e budista, após sua igreja ser usada para propagandas. Acompanhar uma personagem tão dona de si ao longo da minha adolescência foi muito importante e me ajudou a entender que que quem realmente vale a pena gostará de mim pelo que sou. Valeu Lisa!

PS: Aqui está um trabalho ótimo sobre Simpsons/feminismo como leitura complementar.

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