3 Coisas que as Pessoas Precisam Entender sobre Introvertidos

Utilidade pública.

Oi, meu nome é Lara e eu sou uma pessoa introvertida. Eu falo assim, como se fosse uma confissão vergonhosa digna de alguma reunião de clínica de reabilitação, porque aprendi que ser introvertida não é uma coisa boa no mundo em que vivemos. Não, o mundo acha estranho e deficiente o indivíduo que preza o silêncio, que não fala só por falar, que gosta de ficar sozinho e que prefere a observação à participação. E como consequência, nós, os introvertidos, estamos sempre tentando ser algo que não somos: falando abobrinha desnecessária só para ganhar aquela nota de participação na escola; frequentando happy hour depois do trabalho só para não ser mal visto pelos colegas e pelo chefe; e tentando (e falhando) não fazer cara de morte quando ouvimos o entrevistador da dinâmica de grupo falar: “Muito bem, pessoal! Agora vamos jogar a bola um para o outro e cada pessoa que recebê-la tem que falar para o grupo um fato interessante e um fato divertido sobre si mesmo!”

Para ser justa, nos últimos tempos muita coisa positiva tem sido dita a respeito dos introvertidos. Finalmente, a ciência descobriu (antes tarde do que nunca) que ser introvertido não tem nada a ver com falta de vontade ou antissociabilidade, e sim que é apenas a maneira de ser de ⅓ da população – com seu próprio leque de qualidades e benefícios. Entre muitas coisas, Susan Cain, autora do livro O Poder dos Quietos – Como os Tímidos e Introvertidos Podem Mudar um Mundo Que Não Para de Falar, fala que, ao contrário dos extrovertidos, os introvertidos atingem o seu pico quando estão sozinhos e geralmente se saem melhor em atividades criativas, que exigem a solidão.

Veja aqui a palestra de Susan Cain, no TED.

Mas eu não estou aqui para ficar falando sobre as qualidades dos introvertidos (apesar de que, né, seria ótimo se você visse o vídeo e parasse de nos achar estranhos, nerds incorrigíveis e assassinos em potencial), mas sim para falar de coisas que muita gente ainda entende errado sobre introversão. Da minha própria experiência, é urgente que todo mundo entenda que…

Pessoas introvertidas não precisam ser ‘salvas’

Ei, lembra daquele filme em que aquele menino/menina super quieto e esquisito foi acolhido(a) pelo grupinho dos populares, que fez com que ele(a) se soltasse mais e virasse um(a) garanhão/gostosa super desejado(a) e admirado(a) por todos? Provavelmente você lembra e muito provavelmente eu e você não estamos falando do mesmo filme. Isso porque o cinema é cheio dessas histórias de “superação”, que mostram que tudo que uma pessoa introvertida precisa é que uma pessoa extrovertida lhe dê a mão e a ajude a se soltar e a se divertir.

Lamentavelmente, essa ideia não está presente só nos filmes. Que introvertido nunca teve um amigo extrovertido que gosta de contar para deus e o mundo sobre como ele o salvou da solidão do seu próprio mundinho? “Se não fosse por mim, fulaninha nunca teria ido àquela festa e conhecido o namorado”. “Se não fosse por mim, fulaninho nunca teria saído daquela carteira no canto da classe e ficado nosso amigo!”. De certa forma, eu até acho isso meio fofo e reconheço que, em algumas raras ocasiões, a intervenção de uma pessoa extrovertida foi realmente bem executada e bem-vinda na minha vida. Mas na maioria das vezes, a suposição de que introvertido não consegue funcionar socialmente sem ajuda é quase ofensiva e os métodos usados para fazer com que ele “se solte” são de fazer o cu cair da bunda.

Não, eu não quero oferecer abraços grátis com você.

Sabe, eu entendo que para uma pessoa que precisa falar bastante, pensar em voz alta, festejar muito e ter sempre muita gente em volta pode parecer que uma pessoa que não faz nada disso precisa de ajuda. Mas, acredite, a maioria de nós é feliz assim! Nós nos sentimos confortáveis com o silêncio; nós somos felizes em ficar em casa lendo no sábado à noite; e nós não vemos problema nenhum em ficar sozinhos. Se você quer mesmo ajudar um introvertido, não comente com todo mundo como nós estamos quietos; não reclame quando nós formos os primeiros a ir embora da sua festa; não nos force a fazer coisas com as quais nós obviamente não nos sentimos confortáveis em fazer. E, acima de tudo, não suponha que nós estamos quietos, queremos ir embora ou nos recusamos a fazer algo porque não gostamos de você. O que nos leva aos próximo item…

Pessoas introvertidas não estão tristes, deprimidas ou bravas com você

“Você está bem?”. Essa é, provavelmente, a frase que uma pessoa introvertida mais ouve na vida. Isso depois de adulto, claro, porque na infância normalmente a frase é “Tá emburrada por quê?”. Eu não sei explicar isso muito bem, mas as pessoas tem formas diferentes de ficar em repouso no mundo. Para os extrovertidos, o mais comum é sorrir ou falar alguma coisa quando está tudo bem. Já para os introvertidos, a coisa é um pouco mais complicada. Falar é uma coisa que a gente já não faz muito. Sorrir até pode ser um pouco mais fácil, mas normalmente exige um esforço consciente e não é sempre que a gente lembra. Então, normalmente, a cara de repouso do introvertido costuma ser essa:

Mais conhecida como “resting bitch face”, ou algo como “cara de repouso puta da vida”, em português.

Eu concordo que não é lá muito amigável e até entendo por que você acharia que tem algo de errado. Mas eu imploro que antes de ficar chateado comigo (porque acha que eu estou brava com você), você pense – uma, duas ou até três vezes – e tente me conhecer um pouco melhor. Se você já me conhece bem e ainda está em dúvida, pode perguntar de boa. Porque em 99% das vezes, está tudo ótimo comigo, com você e com a vida, apesar da minha cara de poucos amigos. Ah, e não fique achando que eu estou fingindo quando eu ficar espantada ao ouvir que você está preocupado comigo por causa da minha expressão de morte. Em 99,9% dos casos, eu não faço ideia que não estou sorrindo. Sério. Uma vez eu gravei um vídeo de mim mesma para enviar para um processo seletivo e fiz o máximo para parecer super amigável e bem-humorada. Quando revi o vídeo, qual não foi a minha surpresa quando vi a minha cara amarrada não expressar um único sorriso! Eu juro que achei que estava sorrindo o tempo todo. Mas não estava.

Sou eu: feliz, triste, brava, animada.

Claro, existe sempre a possibilidade de que eu realmente não estou sorrindo porque te odeio. E essa é mais uma vantagem de ser introvertido: você nunca saberá. 😀

Pessoas introvertidas não são necessariamente mais profundas e/ou inteligentes

Acho que é especialmente importante abordarmos esse tópico principalmente por causa de todas as coisas positivas que o mundo tem descoberto sobre os introvertidos nos últimos tempos. Você já deve ter se deparado com algum artigo por aí (provavelmente escrito por um introvertido) sobre como nós somos mais inteligentes, reflexivos, independentes, equilibrados, refinados e sensíveis que os extrovertidos. Tem gente até se orgulhando de ser introvertido, veja só (embora eu ache isso bom, ainda assim precisamos tomar cuidado pra não virar uma daquelas coisas bizarras das quais as pessoas sentem orgulho). Talvez parte disso seja até verdadeiro – eu sinceramente não sei – mas me parece exagerado (e até meio ridículo) supor que introvertidos são melhores que extrovertidos em tudo, menos falar em público e ser o primeiro da festa a puxar trenzinhos. Eu sei disso por experiência própria: já conheci vários introvertidos que, por trás de uma fachada misteriosa de silêncio e resting bitch face eram burros e rasos como uma porta.

Aceite: babacas vêm em todas as formas e tamanhos – a diferença é que uns falam mais sobre suas babaquices do que outros.

Da mesma forma, já conheci introvertidos brilhantes – e extrovertidos também. Por que a gente sempre tem que criar tantas divisões e ficar discutindo quem é o melhor? Será que eu acho que os introvertidos têm sido maltratados e que o mundo deve se adaptar para dar-lhes o mesmo espaço que os extrovertidos têm? Sim, com certeza. Acho que nós só temos a ganhar com isso. Mas eu não quero que, com isso, os extrovertidos passem a ser ridicularizados, considerados vazios e incapazes. Ao invés disso, o melhor a fazer é aceitar os fatos: introvertidos e extrovertidos se complementam e não são nada uns sem os outros.