Mulheres nas Olimpíadas: Uma Longa Trajetória
Apenas em 2012 mulheres passaram a poder competir em todas as modalidades olímpicas. Entenda como foi a luta feminina por espaço igualitário nas Olimpíadas.
A participação das mulheres nas Olimpíadas teve uma longa e sofrida trajetória para chegar ao lugar onde está hoje, que apesar de não ser totalmente igualitário, já avançou muito desde os Jogos da Antiguidade. A igualdade nas modalidades veio somente há quatro anos, nas Olimpíadas de Londres, quando as mulheres conseguiram competir em todas as modalidades disponíveis (a última a entrar foi o Boxe).
Nesse ano, na Rio 2016, as mulheres brasileiras atingiram 44,9% dos atletas que disputaram as Olimpíadas: foram 209 mulheres e 256 homens. Algumas delegações, como a dos Estados Unidos e da China, trouxeram mais atletas mulheres do que homens para competir. Mas a história nem sempre foi assim.
Proibição das Mulheres nos Jogos Olímpicos da Antiguidade
No ano de 776 a.C. foram iniciadas as Panatéias, um evento que acontecia de quatro em quatro anos em que os homens se reuniam para honrar os deuses com jogos e lutas. Era um evento religioso, que as mulheres não podiam nem participar, nem assistir. E pior: se uma mulher casada fosse vista assistindo a algum jogo ela poderia ser condenada à morte.
A única presença feminina permitida nos Jogos era a de Sacerdotisas, que eram consideradas “mensageiras dos deuses”, trazendo boa sorte para os competidores. Elas eram as responsáveis pela entrega das coroas de oliveira para os vencedores.
A atriz Katerina Lehou acendeu a chama olímpica que veio para o Brasil na representação das antigas sacerdotisas dos Jogos da Antiguidade
Curiosidade: uma das mais famosas histórias sobre mulheres nas Olimpíadas da Antiguidade vem de uma mulher chamada Kallipateria, treinadora do seu próprio filho, um lutador de boxe chamado Pisidoros. Ela correu risco de morte ao se tornar treinadora, e se vestia de homem para assumir o papel, mas quando seu filho ganhou a luta, ela não se aguentou e acabou se expondo ao público. Felizmente ela foi poupada da morte, mas só porque seu pai, seu irmão e seu filho foram campeões olímpicos.
Você pode estar pensando “ah, mas isso foi lá atrás, antes mesmo de Cristo, não tem influência nos dias de hoje”. Pois saiba que tem, sim.
A sonegação da participação das Mulheres nos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna
Os primeiros Jogos Olímpicos da nossa era (chamada Era Moderna) foram organizados em 1896 por um Barão chamado Pierre de Frédy, que achou que era uma boa ideia seguir as mesmas premissas dos Jogos da Antiguidade. Assim, embora pudessem assistir os jogos, as mulheres não puderam competir nas Olimpíadas.
Pierre de Frédy até reconhecia que as mulheres deveriam ter uma educação esportiva e chegava a incentivar a competição entre elas, mas para ele as Olimpíadas eram coisa de homem por motivos culturais, antropológicos e, principalmente, físicos.
Estádio Panathinaiko onde aconteram os jogos de 1896.
A visão da mulher naquela época era literalmente de sexo frágil. Havia a crença de que as mulheres não tinham físico o suficiente para competir e aguentar competições que tivessem qualquer contato físico.
Como forma de protesto em resposta à essa proibição, uma mulher chamada Stamata Revithi resolveu realizar o percurso da Maratona do lado de fora do estádio, já que ela não podia competir lá dentro. Ela realizou a prova em um tempo menor que alguns homens, mas não foi reconhecida como participante e ainda foi vaiada (e os francês do salto em vara na Rio 2016 reclamando de umas vaiazinhas dos brasileiros, né?).
A primeira participação das Mulheres nas Olimpíadas
Quatro anos depois, nos Jogos Olímpicos de 1900 de Paris, até fingiram aceitar as mulheres competindo, mas na verdade tudo se tratou de algumas lacunas e falta de organização do Comitê Olímpico Internacional (COI).
De qualquer forma, isso deu visibilidade às mulheres, que mesmo competindo em apenas dois esportes – o tênis e o golfe, por serem “bonitos” e não precisarem de contato físico – não ganhavam as coroas de oliveira. Elas eram consideradas participantes extra-oficiais, então só recebiam um certificado de participação nos jogos.
A evolução das Mulheres nas Olimpíadas como Atletas
Com o passar do tempo, o COI foi aos poucos permitindo que as mulheres participassem de modalidades, mas apenas as que evitassem contato físico. Até que em 1917 uma francesa chamada Alice Milliat criou a Federação Esportiva Feminina Internacional (FEFI), a fim de permitir que as mulheres competissem no atletismo.
Alice Milliat em 1913.
A partir da criação da FEFI foram organizados os primeiros Jogos Olímpicos Femininos em 1922. O sucesso foi tanto que resolveram fazer novamente em 1926 e 1930. Em 1932 foi organizado o primeiro Jogos Femininos Mundiais.
Por ter feito um enorme sucesso de público, os Jogos Femininos acabaram chamando a atenção do COI, que em 1936 começou a considerar as mulheres oficialmente como atletas olímpicas.
Ufa! Agora parece que está tudo certo, né? Finalmente, depois de muita luta e muito protesto por parte das minas, elas finalmente foram aceitas como atletas dentro dos Jogos.
Bom, mais ou menos…Apesar de poderem finalmente competir como atletas oficiais, as mulheres não podiam competir em todas as modalidades. Foi só em 2012, há apenas quatro anos, que permitiram que as mulheres competissem em todas as modalidades.
E as atletas brasileiras? Como foi a trajetória delas?
O Brasil não foi diferente do resto do mundo. Nas Olimpíadas de 1932, quando as mulheres ainda não eram consideradas atletas oficiais, o Brasil levou a primeira mulher a competir pela Delegação Brasileira pra Los Angeles. Maria Lenk, nadadora, foi a primeira mulher brasileira (e sulamericana!) a competir, quando tinha só 17 anos!
Getúlio Vargas cumprimenta Maria Lenk pela quebra do recorde mundial na natação em 200m e 400m. (Foto: Gazeta Press)
A participação das mulheres começou a crescer a partir disso, mas ainda assim era precária e, em 1956, nas Olimpíadas de Melbourne, apenas uma mulher brasileira participou dos Jogos – Mary Dalva Proença que disputou os saltos ornamentais.
As primeiras medalhas femininas brasileiras
Lá em 1996, em Atlanta, as mulheres conseguiram um feito inédito! Trouxeram para casa uma medalha de cada cor. Foi um ano memorável e que rendeu muito orgulhos às mulheres brasileiras.
Jacqueline e Sandra Pires no pódio com a primeira medalha de ouro feminina em 1996 (Foto: Reprodução)
Seleção Feminina de Basquete nas Olímpiadas de 1996. (Foto: Reprodução)
A primeira medalha de ouro veio do vôlei de praia, com a Jacqueline e Sandra Pires. A de prata veio da seleção feminina de basquete, que tinha duas das maiores jogadoras brasileiras – a “Magic” Paula e a Hortência, que são referências no basquete até hoje. E o bronze veio do vôlei de quadra que tinha nomes como Fernanda Venturini, Virna, Marcia Fu, entre outras.
Nos jogos de 2008, lá em Pequim, foi a primeira vez que uma mulher brasileira conseguiu uma medalha individual. O feito veio da judoca Ketleyn Quadros, que ganhou uma medalha de bronze. Alguns dias depois a atleta Mauren Maggi foi a primeira campeã olímpica do Brasil competindo pelo salto em distância.
Mauren Maggi comemora a primeira medalha de ouro individual feminina do Brasil.
A participação das mulheres nos Jogos Olímpicos teve uma longa trajetória para chegar até aqui, quando conseguimos atingir 45% dos atletas dentro da delegação brasileira. E o caminho ainda é muito longo para conseguirmos igualdade salarial dentro dos esportes e, principalmente, investimento nessas mulheres que tanto lutam para ter o seu espaço.
Com todas as dificuldades, é lindo ver que as mulheres já chegaram tão longe! Com o destaque da seleção feminina de Futebol nos jogos da Rio 2016, precisamos reconhecer, torcer, e, principalmente, cobrar investimento no futebol feminino e nas demais modalidades. Elas merecem!
Fontes: efdportes.com, ESPNW, ZHEsportes.
Leia também Por que só ‘descobrem’ a seleção feminina quando a masculina vai mal?
thais
August 29, 2018 @ 6:35 pm
Oi, Thais! Tudo bom? Aqui é a Thaís tambem! Pretendo linkar seu artigo no meu blog. Sou formada em Ed Fisica, profa de tenis há 20 anos e estou começando um blog http://www.euamojogartenis.com.br. O tema sobre as mulheres é muito interessante pra mim! Minha irmã inclusive esta indo para um mestrado em Paris nessa área! Tudo bem se eu linkar com seu artigo? aguardo contato!!