De Cara e Alma Lavada

Sobre como pequenos atos podem ser revoluções dentro de nós.

colbie-caillat-try

Então, eu ia escrever este texto falando sobre maquiagem. Eu sou simplesmente apaixonada por maquiagem, viciadíssima em batom, seguidora de vários canais… E eu ia falar sobre isso, porque eu vou pra escola maquiada em pleno ano de terceirão, e me era estranho ver a reação das pessoas diante disso. Porque ultimamente tem me parecido que temos que ser naturalmente bonitas, sermos notadas sem chamar atenção demais. Termos o “dom da beleza”. Tudo tem que ser perfeitamente bagunçado, desencanado, despretensioso e bem, isso me parece só mais um padrão – artificial, mas que tenta disfarçar a artificialidade.

Aliás se for pintar o cabelo de ruivo, pinta de ruivo natural tá? E se você é negra não pode ser loira.

 

“Como você consegue?”. Bem, a primeira questão é que eu gosto. Adoro. Fui aprendendo e me apaixonando cada vez mais, e se tornou de certa forma uma marca minha – eu faço o que eu gosto. E essa história toda do “você não precisa disso” sempre me pareceu uma forma de  dizer às meninas não pra se aceitarem, mas para se esconderem; ensinando-as a não valorizar nem o que são, e nem o que gostam. “Não precisa encher a cara de reboco, mas você podia dar um jeito nessa cara de sono, né?”

E isso ainda me faz sentido. Eu vejo todos os dias os estereótipos de “cool girl”, “tumblr girl” e da desastrada de Hollywood sendo reforçados. Confesso que eu já quis muitas vezes ser a Jennifer Lawrence ou talvez a Zoey Deschanel. Parecer sempre autêntica e despreocupada, mas ainda assim perfeita. E o mais importante: sem parecer que eu me esforcei pra isso. E se pra isso eu talvez precise aprender umas técnicas de contorno pra disfarçar meu rosto redondo, ou achar um corretivo perfeito pra esconder minha noite mal dormida, que assim seja.

Seria uma pena se eu tivesse uma alergia no rosto. Não foi devido à maquiagem – foi, pasmem, devido ao meu próprio suor – mas de repente senti meu rosto pegando fogo. E me recomendaram suspender a maquiagem durante o tratamento. Ou seja, eu estou sendo obrigada a me olhar no espelho sem maquiagem. E a pior parte é que eu estou gostando. Porque eu acabei percebendo que eu gosto de me maquiar, mas que eu realmente não preciso fazer isso todos os dias pra me sentir feliz. E tudo bem meu olho ser pequeno, tudo bem eu ter olheiras, tudo bem eu parecer cansada vira e mexe, porque bem, eu estou no meu último ano do ensino médio; eu estou cansada. Tudo bem ter rosto redondo. E tudo bem se eu implicar com isso às vezes, mas não significa que eu precise todos os dias “corrigir” isso. São só características minhas que não precisam de disfarces.

Se você nunca viu o clipe “Parfüm” da cantora húngara Boggie, veja. 

 

Minhas amigas me disseram que nunca entenderam porque eu usava base se minha pele era ótima. Disseram que mal notaram a diferença. Uma delas me disse que certo dia eu tinha ido sem maquiagem na escola e ela tinha me achado linda (eu estava doente). Me disseram pra não ficar com vergonha de estar completamente vermelha por causa da minha alergia. E quando me olhei no espelho eu vi o mesmo rosto redondo, com a minha pele se recuperando de uma alergia com meus olhos pequenos e eu não senti necessidade alguma de esconder nada disso. Eu gostei do que eu vi, e pela primeira vez entendi o comentário do “você não precisa disso” sem maldade. Talvez elas só queriam ter me dito antes que minhas características não eram defeitos. E embora eu nunca tenha acordado mais cedo ou me maquiado contra minha vontade, talvez eu tenha cruzado a linha tênue entre só “realçar a beleza” e criar uma máscara.

Eu sempre pensava sobre como se maquiar quando todos parecem impor uma beleza “natural” era um ato de rebeldia. Mas agora eu também penso em como não se maquiar também é um ato de rebeldia. Porque a perfeição nos é imposta de um jeito ou de outro – perfeitamente natural ou glamourosa, a questão é não parecer nem artificial, nem desleixada. Não pode ser nada demais, porque ser mulher significa não poder ser nada em excesso. É “viva com moderação”, é “seja discreta”. Mas querido, eu sou demais. Descarada demais, tímida demais, e desastrada demais (do jeito que paga mico que te faz gargalhar, e não achar bonitinho). Eu sou mulher demais pra você me dizer como ser mulher, e eu estou aqui reivindicando os meus extremos e não sentindo nem um pouco de remorso por isso.

You are beautiful, no matter what they say.

 

Ser mulher é um ato de rebeldia. Ter confiança é um ato de rebeldia. Fazer o que você quer é um ato de rebeldia. Poder “se achar” todos os dias em um mundo que te quer perdida é um ato de rebeldia.

Continuo vendo muitas diferenças entre meus batons vermelhos, e tenho certeza que ainda vou passar muitas horas em frente ao espelho me maquiando e que ainda irei olhar o mundo de cima do meu salto muitas vezes. Mas, se meus pés doerem, eu não vou mais sentir vergonha por descer deles. Porque por mais que eu me sinta poderosíssima com um scarpin, andar descalça sempre me fez feliz também.

Eu botando a cara no Sol, sorrindo com minha cara de Trakinas em plena foto de perfil de facebook sem maquiagem. Ok, estou de batonzinho, mas é só.

 

Leia também Por Que É Importante Amar o Seu Nariz de Jackson 5 – de Ludmilla, Tássia Reis a Formation.

Comentários do Facebook