4 Clássicos Infantis com Histórico Racista (e por que isso importa)
Muitos clássicos infantis com histórico racista continuam não sendo discutidos em sociedades em que ainda há um abismo entre brancos e negros.
Caro leitor. Aconteceu. Chegou o dia de mexer em um vespeiro particularmente cabuloso. Você pode me achar cruel. Pode espernear, se descabelar, sapatear. Pode abrir as janelas e gritar que a vida não é justa, que preferia nunca ter nascido. Nada disso vai mudar a realidade. Caro leitor. Já passou da hora de falarmos sobre o racismo em alguns ícones amados da sua infância.
Ei, senhora! SENHORA! Não é porque é fim de ano que a gente pode parar de problematizar! SENHORA!
Já começo a ouvir o eco de um coro chorão ao fundo. Parece que ele diz algo como: “Ah, vá se catar! São só desenhos, historinhas. Tem coisa muito pior que isso no mundo!”.
Ah é? Tem coisa muito pior do que bombardear crianças em formação com narrativas e estereótipos racistas em um país onde negros ainda são amplamente marginalizados? Sim, suponho que exista coisa pior que isso mesmo. Como a execução de cinco crianças negras pela polícia no Rio de Janeiro, por exemplo. Ou o fato de 77% dos jovens vítimas de homicídio no Brasil serem negros.
Por isso mesmo precisamos falar sobre racismo em desenhos, livros e programas infantis. Fechar os olhos para questões como essa é falhar em entender o racismo como um sistema complexo, que abrange todas as áreas da sociedade de modo a manter a exclusão e vulnerabilidade da população negra.
A manutenção de entretenimento racista para crianças – mesmo que sutil – é uma faceta dessa sistema. Por um lado, ela ajuda a formar nas crianças brancas a ideia de que pessoas negras são inferiores e menos importantes. Habituadas a ver personagens negros como figurantes inferiorizados tanto na televisão como no cotidiano, essas crianças crescerão para, na melhor das hipóteses, se tornar adultos que simplesmente não pensam e nem se sensibilizam com a marginalização e a destituição de direitos da população negra. Isso explica um pouco a nossa empatia seletiva. Inúmeros jovens negros são assassinados todos os anos, inclusive pela própria polícia que deveria protegê-los, mas não fazemos nem um décimo de escândalo e de luto por eles do que quando um jovem branco é a vítima.
Por outro lado, a criança negra também está sujeita a ter a sua formação diretamente afetada pelas narrativas racistas que vemos em clássicos infantis. Autoestima, autoconfiança – tudo isso pode ser afetado na criança negra habituada a enxergar personagens negros serem retratados sempre de forma negativa e inferiorizada. Ou mesmo a não enxergar qualquer personagem negro na ficção. A falta de personagens negros nas histórias é um golpe especialmente perverso, pois fortalece essa noção de que pessoas negras, apesar de serem a maioria no país, são meras figurantes sem importância.
Representatividade importa.
Dessa forma, o entretenimento racista para crianças ajuda – junto com inúmeros outros mecanismos institucionais, linguísticos e midiáticos – a criar tanto o opressor como o oprimido.
Falemos sobre isso, então. E pensemos que os exemplos abaixo são apenas alguns em um mar de racismo que a gente teima em não ver. Vamos começar com um dos meus desenhos favoritos quando criança…
Tom e Jerry
Antes de começar, é preciso falar de dois estereótipos e práticas profundamente racistas que permeiam a mídia e o entretenimento até os dias de hoje.
Em primeiro lugar, temos o arquétipo da Mammy. A mammy seria uma mulher negra de meia idade, escravizada ou ex-escravizada doméstica de uma família branca. Gorda, supersticiosa, assexuada, cozinheira de mão cheia e sempre adornada com um avental e lenço na cabeça, a mammy normalmente atua como ama-de-leite/babá das crianças da família, além de realizar todos os afazeres domésticos e fazer as vezes de conselheira da patroa. Sua vida é servir, o que ela faz com prazer e muito senso de humor. Ah – e como os brancos são muito bonzinhos, a mammy é sempre muito querida e considerada como um membro da família. E não dá pra ser racista se você considera sua empregada negra como parte da família, néam? #sqn
O surgimento do personagem da Mammy aconteceu nos EUA, na segunda metade do século XIX, e dominou por muito tempo o imaginário dos americanos, que tentavam de todo jeito reescrever a história para fingir que a escravidão não foi tão ruim assim. O estereótipo da Mammy é racista, porque essa mulher negra escravizada amada pela família branca nunca existiu. A maioria das escravizadas e servas domésticas eram adolescentes ou jovens – a expectativa média de vida delas era de 33 anos de idade – e elas costumavam ser usadas pelos senhores como escravas sexuais. A mammy é, portanto, um perverso revisionismo, com o objetivo de minimizar as atrocidades da escravidão e manter as mulheres negras confinadas a posições subalternas.
Em segundo lugar, temos a prática racista do blackface. O blackface é o ato de pintar o rosto de preto e os lábios de vermelho de forma caricata, com o objetivo de interpretar uma pessoa negra.
E quando eu digo ‘interpretar’, eu quero dizer ‘esculhambar’.
A prática surgiu por volta de 1830, quando homens brancos se pintavam e se apresentavam para a aristocracia branca escravista com o objetivo de ridicularizar a população negra. Mais tarde, a prática se tornou corrente no cinema e na televisão, sendo que ainda hoje vemos gente usando-a como se fosse nada demais.
Esse ano mesmo, pleno 2015, a peça A Mulher do Trem, da companhia teatral Os Fofos Encenam, foi cancelada depois que inúmeras manifestações de repúdio nas redes sociais denunciaram o uso de blackface na peça.
De acordo com a filósofa Djamila Ribeiro, o blackface “serve tanto como estereótipo racista quanto como forma de exclusão, porque se no primeiro caso ridiculariza, no segundo nega papéis a artistas negros.”
Pois bem. Agora que você já sabe tudo isso, vai entender por que a Amazon Prime Instant Video tascou-lhe uma advertência para Tom e Jerry na sua fila de streaming, avisando que “Tom e Jerry pode retratar alguns preconceitos étnicos e raciais que já foram comuns na sociedade americana. Tais representações eram erradas então e são erradas hoje em dia.”
Em suma, o desenho usa e abusa tanto do estereótipo da Mammy – representada pela dona do Tom – como da prática de blackface.
Olha ela aí.
E tem isso também…
E…er..isso.
Ok, já chega, né?
As Aventuras de Babar
Integrando um repertório de programas infantis de qualidade inquestionável da TV Cultura, as aventuras do reizinho elefante Babar foi um clássico da minha infância. É possível que agora, depois de adulto, tudo o que você lembra de Babar seja a sua voz suave e sua predileção por ternos em cor verde vibrante, por isso vou tecer uma singela descrição do desenho pra você:
O desenho As Aventuras de Babar foi baseado nos livros do francês Jean de Brunhoff, Histoire de Babar. Resumidamente, ele conta a história de um elefante chamado Babar que é resgatado por uma senhorinha francesa quando sua mãe é morta por um caçador. Levado para uma grande cidade (Paris, nos livros), Babar é criado como um ser humano. Ao ficar sabendo que seu bando ainda corre perigo por causa do caçador, Babar retorna ao lar, resolve o problema com todo o seu conhecimento humano, e vira rei. Ele, então, introduz a sociedade dos elefantes à cultura européia…er…quer dizer, humana, e todos os elefantes ficam super felizes, vestindo roupas, ouvindo música clássica e sendo governados por um ditador benevolente.
Convenientemente, Babar não aprendeu sobre democracia no seu intercâmbio.
Se Babar parece uma grande propaganda colonialista, com os elefantes sendo “civilizados” com cultura européia e amando tudo isso, é porque provavelmente é. O primeiro livro da série foi escrito em 1931, no auge da colonização francesa na África. Nesse contexto, era comum a ideia de superioridade do “civilizado” povo francês em relação aos “selvagens” africanos – ideia que se traduz em Babar, não só pelo fato de ele ser reverenciado pelos outros elefantes por ter sido criado nos moldes europeus, mas também pelas inúmeras vezes em que regiões fora do governo de Babar são retratadas, sempre populadas por homens violentos e selvagens de pele preta e grandes lábios vermelhos.
Aqui…
E aqui…
Bem, já entendemos, né?
Embora o criador de Babar tenha sido Jean de Brunhoff, grande parte da coleção foi escrita e desenhada pelo seu filho, Laurent de Brunhoff. Hoje com 90 anos, de Brunhoff concorda que os livros contém um claro teor de propaganda colonialista e chegou a pedir ao editor que recolhesse um dos livros – Babar’s Picnic – por sentir vergonha do seu conteúdo.
Tintim no Congo
Ah, quem não lembra com saudosismo das aventuras de Tintim, o repórter que mais se meteu em confusão na história da animação mundial? Embora tenha gozado de imenso sucesso, no entanto, Tintim não ficou livre de incorporar os mais grotescos ideais racistas e colonialistas das primeiras décadas do século XX, sendo que um dos livros da série que originou o desenho chegou a ser banido em algumas partes do mundo. Estou falando do livro Tintim no Congo, lançado na década de 1930 e recheado de estereótipos atrozes de povos africanos.
Basicamente, todas as pessoas que Tintim encontra no Congo são como crianças com graves problemas neurológicos, que o recebem como um grande mestre benevolente que chegou para salvá-los de sua incurável incompetência e inferioridade.
Hergé, o escritor de Tintim, reproduzia em seus livros o pensamento belga da época sobre o Congo – um país que por anos foi propriedade privada do rei belga Leopoldo II, que se esforçou para exterminar metade da população congolesa com seu governo escravista e genocida. Mais tarde, o próprio Hergé, escritor de Tintim, admitiu se sentir envergonhado pelo livro. Recentemente, o livro foi levado a julgamento na Bélgica, mas inocentado, o que nos leva ao último e brasileiríssimo item da lista…
O Sítio do Pica-Pau Amarelo (Monteiro Lobato)
É, é, eu sei. Todo mundo já está careca de saber que Monteiro Lobato era racista confesso. O problema é que mesmo todo mundo sabendo disso, o cara ainda é endeusado como um dos mais importantes escritores brasileiros. Mesmo apresentando personagens negras subservientes, pouco inteligentes e comparando-as a animais como macacos e urubus, e abusando de estereótipos racistas…
A icônica Tia Anastácia é uma clássica representação da mammy, em versão brasileira…
…suas obras continuam gozando de imenso prestígio. Mesmo tendo escrito um livro em que o final feliz é a aniquilação da população negra…
“Acontecem coisas tremendas, mas vence por fim a inteligência do branco” – Lobato resumindo seu livro O Presidente Negro para o amigo Godofredo Rangel. Quando não consegue achar editor nos EUA para o livro, escreve “Meu romance não encontra editor. (…) Acham-no ofensivo à dignidade americana. (…) Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros.”
…seus livros continuam fazendo parte do Programa Nacional Biblioteca na Escola, sem qualquer exigência de capacitação de professores para discussão e contextualização em sala de aula. Mesmo tendo sido um grande entusiasta do Ku Klux Klan…
“País de mestiços, onde branco não tem força para organizar uma Kux-Klan (sic), é país perdido para altos destinos […] Um dia se fará justiça ao Ku-Klux-Klan; tivéssemos aí uma defesa desta ordem, que mantém o negro em seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca — mulatinho fazendo jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destrói a capacidade construtiva” – em carta de 1928, a Arthur Neiva.
…e da eugenia – inclusive pela literatura…
“É um processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, work muito mais eficientemente” – em carta de 1930, sobre o polêmico livro Caçadas de Pedrinho.
…o Dia Nacional do Livro Infantil, 18 de abril, foi instituído em homenagem a ele, na data de seu aniversário.
Basicamente, no caso de Lobato, a sociedade brasileira não se contenta em simplesmente fechar os olhos e fingir que racismo não existe, como costuma fazer na maioria das vezes. Não, nesse caso ela descaradamente dá de ombros e diz “É, ele e seus livros eram racistas mesmo. E daí?”.
Consideravelmente mais assustador, na minha humilde opinião.
Leia também Que Horas o Cinema Nacional vai se Posicionar; e 8 Estereótipos Racistas que Novelas Brasileiras Precisam Parar de Usar.
Ygor
December 21, 2015 @ 10:31 pm
Ficou otimo, boa materia.
Lara Vascouto
December 22, 2015 @ 9:46 am
Obrigada, Ygor!!
marcao
December 22, 2015 @ 12:37 am
sou negro e nao ligo. Nao vi intenção racista, simplesmente uma falta de intimidade, convivencia com a negada. Mesmo que fosse racista, foda-se. Liberdade de expressão em primeiro lugar, principalmente se a opinião não agradar.
Não li tudo, porque provavelmente é a mesma lenga-lenga de todos textos to tipo. Aqueles papos que a barbie é racista e as bonecas negras são mais baratas, e blabla.
Se voce não acha correto certos pensamentos intolerantes, não os ensine para seus filhos, não os pratique, mas não tente impor sua visão nos outros. Isso vai soar estranho,mas as pessoas são (deveriam ser pelo menos) livres para terem preconceito com o que quiserem. Cada um que se vire com as consequencias dos seus conceitos.
vlw flw
Lara Vascouto
December 22, 2015 @ 9:36 am
Oi Marcão! Penso que a questão não é se há intenção declarada de inferiorizar e ridicularizar pessoas negras ou não (a não ser no caso do Monteiro Lobato, que é verdadeiramente assustador). A questão é que esses clássicos, e muitos outros, revelam em suas histórias e representações um pensamento dominante racista – e, consequentemente, o reforçam. Não é que uma criança vai ver Babar e começar a odiar negros. É muito mais sutil que isso. É uma construção de pensamento que, junto com inúmeras outras representações, vai se moldando de modo a manter uma sociedade em que negros são excluídos e marginalizados sem que as pessoas se sensibilizem. Nossos filhos não aprendem apenas o que nós ensinamos, eles aprendem coisas com livros, com seus professores, com seus colegas e amigos, com seus familiares, com seus videogames e com a televisão, sim. Por isso a indústria de entretenimento tem também responsabilidades e deve, sim, ser criticada, questionada e desconstruída sempre.
Sobre preconceito…Bem, na verdade, eu falo de racismo no texto, não de preconceito. Como um sistema que permeia todas as nossas instituições – da política, à educação, até a mídia (em notícias, filmes, seriados, novelas e, sim, desenhos animados também), o racismo é muito mais complexo. Por isso é preciso abrir os olhos para todos esses casos que contribuem para a sua composição. Nós falamos muito pouco sobre isso aqui no Brasil, o que é um grande problema, pois sem reflexão e conscientização dificilmente as coisas podem mudar.
E mesmo se estamos falando só de preconceito, sou obrigada a discordar veementemente de você, rs! As pessoas não são, nem devem ser livres para ter preconceito, pois essa seria uma “liberdade” (coloco aspas, pois não vejo a possibilidade de sentir ódio e desprezo como uma liberdade; vejo mais como uma prisão) que atrapalha ou impede a liberdade de outros (no caso, de quem sofre o preconceito). Penso que preconceito e ignorância andam de mãos dadas, por isso acredito que educação pode ser o seu melhor antídoto. Uma educação que dialogue, que desconstrua, que inclua e que contemple toda a diversidade que temos no mundo.
Enfim, ficou um pouco longo, desculpe! rs! Obrigada pelo comentário!
Lucas Correa
December 22, 2015 @ 5:15 pm
Sensacional o texto e a sua replica tambem, moca! Conseguiu colocar no papel o que passa pela minha cabeca.
Um abraco aqui da Irlanda!
Walison jean
February 19, 2016 @ 2:08 am
Lara Vascouto seu texto é perfeito. Eu saboreei cada frase e senti a delicadeza da sua forma de lidar com tamanha complexidade qe e o preconceito, e essa associação do preconceito com a ignorância e perfeita para revermos conceitos atuais qe passam despercebidos nos dias de hoje apenas como “forma de expressar os direitos” preconceituosos, racistas, machistas e homofóbico. Obrigado pelo seu texto extremamente produtivo aos bons olhos de quem leu.
-Walison Gean Gonçalves
Tiago
December 22, 2015 @ 8:18 pm
Iara… eu tenho certeza que o Marcão não leu sobre a liberdade abaixo:
“País de mestiços, onde branco não tem força para organizar uma Kux-Klan (sic), é país perdido para altos destinos […] Um dia se fará justiça ao Ku-Klux-Klan; tivéssemos aí uma defesa desta ordem, que mantém o negro em seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca — mulatinho fazendo jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destrói a capacidade construtiva” – em carta de 1928, a Arthur Neiva.
Se ele lê-se… acho que entenderia que no caso do Lobato… não trata-se de liberdade… e inclusive se a vontade do Lobato fosse feita o Marcão teria o risco muito maior de ter sua liberdade roubada e a vida também.
Rô Rezende
December 22, 2015 @ 7:19 pm
Os problemas com Monteiro Lobato não param no racismo. Ele tinha uma visão absurda de várias coisas…
Lívia Vieira
December 23, 2015 @ 1:57 am
Uma coisa que achei muito interessante é que em uma edição de dvd de Tom e Jerry (Não sei qual) colocaram um aviso sobre a existência de conteúdo racista no episódio, que não reproduz a visão atual da empresa e que eles não iriam cortar as cenas pois, ao exclui-las, seria como dizer que o racismo nunca aconteceu.
Como faz bastante tempo que eu vi só achei um anexo em inglês, mas ainda acho bem legal compartilhar
http://www.cinemablend.com/images/sections/67631/_1412272132.jpg
Lara Vascouto
December 27, 2015 @ 9:25 pm
Interessante mesmo, Lívia! Obrigada por compartilhar!
Daniel
December 23, 2015 @ 2:57 pm
Acho que tem uma diferença entre ser racista e mostrar racismo, e as pessoas hoje parecem não se tocar disso. Por exemplo, se eu fosse escrever um livro hoje em que a história se passa nos USA no presente e um dos meus personagens fosse muçulmano, se eu quisesse ser convincente e realista eu com certeza teria que retratar alguns preconceitos contra muçulmanos; isso me torna islamofóbico? Isso torna meu livro islamofóbico? Não, é simplesmente consistente com a época, realista de alguma forma. Já vi várias pessoas dizendo que Game of Thrones é machista pela forma que representa as mulheres; oi?!? A sociedade medieval tratava a mulher exatamente daquele jeito, GoT apenas tenta ser convincente e realista, mesmo que também bastante sombrio. E o mesmo se aplica aqui, esses desenhos mostram o comportamento geral da época que retratam, é natural que mostrem racismo também.
Isso não “inocenta” Monteiro Lobato pelas coisas que ele dizia além dos livros; ele claramente era racista. Mas mesmo com ele esse texto peca; logo no primeiro parágrafo o autor do texto diz implicitamente que não dá pra ser racista e ser um grande escritor. Uma coisa não exclui a outra, é quase uma falácia lógica dizer isso. Há prêmios Nobel misóginos, eles deixam de ser gênios por isso? E praticamente todo mundo antes de 1900 era homofóbico, isso de alguma forma torna todas as grandes figuras dessa época um lixo humano ambulante? Dizer uma coisa dessas é reduzir um indivíduo a uma única das suas características, sabe quem geralmente faz isso? Pessoas preconceituosas, mal intencionadas, ignorantes…
Lucas
December 24, 2015 @ 5:18 pm
Daniel, seus argumentos me trouxeram grande alegria. Com certeza os melhores por aqui. Seu último parágrafo matou a pau! Seria o mesmo que se jogar todo o conhecimento que se tem hoje buraco abaixo, afinal tudo teve base e início há muito tempo e provavelmente com racistas, machistas, homofóbicos e blá blá blá.
Lara Vascouto
December 25, 2015 @ 3:00 pm
Oi Daniel! Acho que você foi um pouco injusto no seu comentário, rs! Em nenhum momento do texto eu digo que não dá para ser considerado um bom escritor e racista ao mesmo tempo. Nem chamo ninguém de lixo ambulante (puxa, se eu não estivesse de bom humor, até ficaria chateada por você ter tentado distorcer as minhas palavras de forma tão explícita, rs!). Aliás, inclusive chamo os exemplos que mencionei de clássicos. São histórias aclamadas e não sem motivo. Além disso, concordo plenamente com você quando diz que essas histórias retratam o próprio tempo. Acho que deixo isso claro no texto também. O problema é não reconhecer, discutir e combater o conteúdo racista delas, que é o que fazemos. Ao manter Monteiro Lobato no currículo das escolas, por exemplo, sem que haja contextualização e discussão do texto em sala de aula, todos os estereótipos racistas da obra continuam sendo reforçados para as novas gerações. O mesmo vale para os outros exemplos. O Brasil é um país profundamente racista, muito da mentalidade de 100 anos atrás que geraram esses conteúdos racistas continua ainda hoje – e continua, inclusive, gerando conteúdos racistas na mídia atual. A questão do texto não é a qualidade das obras e o talento dos autores (embora pessoalmente eu tenha dificuldade em continuar achando-as excelentes depois de enxergar tudo isso), mas sim o fato de que continuamos aplaudindo essas obras sem pensar e discutir o que elas trazem de ruim.
Você pergunta: “se eu fosse escrever um livro hoje em que a história se passa nos USA no presente e um dos meus personagens fosse muçulmano, se eu quisesse ser convincente e realista eu com certeza teria que retratar alguns preconceitos contra muçulmanos; isso me torna islamofóbico? Isso torna meu livro islamofóbico?”. Bem, depende. Em primeiro lugar, você não precisa incluir o preconceito contra muçulmanos nos EUA em seu livro simplesmente porque a história se passa lá ou porque um dos seus personagens é muçulmano. Se você o faz, imagino que isso teria um sentido dentro da história. A partir disso, existem duas possibilidades. Se o seu livro retratar o seu personagem muçulmano como fanático religioso ou (potencialmente) terrorista, sem qualquer problematização e complexidade em cima da criação desse personagem (que é o que esses clássicos infantis fazem, retratando pessoas negras com estereótipos racistas), ele é islamofóbico, sim. Pode ter certeza que ele vai figurar em algum texto meu sobre livros inegavelmente islamofóbicos, rs! Agora, se ele retratar o preconceito contra muçulmanos nos EUA problematizando e discutindo de forma informativa e sensível essa questão, então ele não é islamofóbico, e ainda assim pode retratar fielmente o contexto atual.
Sobre Game of Thrones. As pessoas dizem que a série GoT é machista (e é mesmo) porque o conteúdo da série se difere essencialmente do conteúdo dos livros especialmente no que diz respeito à trajetória das personagens femininas e à forma como elas são retratadas. Eu sou uma grande fã de Game of Thrones, li todos os livros mais de uma vez e assisto fielmente a série, e vejo uma verdade imensa nessa crítica de que GoT SÉRIE é machista. Estupros e abusos que nunca aconteceram nos livros acontecem na série, personagens femininas incríveis dos livros foram cortadas e outras tiveram seus papéis e histórias modificados de forma basta negativa e estereotipada. Então, não é que GoT SÉRIE tenta ser convincente e realista. É que ela fez um esforço de mudar o texto original de forma negativa para as personagens femininas para passar na televisão.
Ai, caramba, escrevi demais de novo! Espero que você tenha conseguido chegar até aqui, rs!
Enfim, obrigada pelo comentário e feliz natal! 🙂
Mateus
December 24, 2015 @ 4:14 am
Olá, gostei do texto, mas gostaria de abrir uma ressalva quanto a Monteiro Lobato. Não é uma reclamação do que foi escrito, e sim o meu ponto de vista.
Nas minhas aulas de literatura aprendi que Monteiro Lobato foi um autor integrante do movimento literário Pré-Modernismo. Esse movimento tinha a intenção de criar uma literatura 100% brasileira, livre de qualquer influência da Europa ( uma vez que movimentos literários europeus eram muito valorizados no Brasil na época ).
Esse tipo de literatura tinha como característica mostrar o Brasil com toda a realidade da época, e para isso as obras literárias davam protagonismo a grupos que eram alvo de preconceitos ( nordestino, homem do interior e é claro, o negro ), como uma forma de denúncia a tamanho preconceito.
Ao meu ver Monteiro Lobato, realmente queria expor a realidade do negro no Brasil, por exemplo, no livro Negrinha em que vários termos racistas são usados ao se referirem a criança escrava, mostrando realmente como as crianças negras eram tratadas com desdém e inferioridade.
Essa é a minha opinião. Gostei muito do seu texto, você escreve muito bem.
Bruno
December 26, 2015 @ 11:54 am
artigo péssimo, cresci vendo todos esses desenhos e não tenho nenhum racismo com ngm, inclusive sou o “preto” da galera e estou pouco me fodendo. menos choro vai
Raphael Azevedo Silva
December 26, 2015 @ 10:15 pm
Nossa, vc eh maravilhosa.. De onde vc é? Desculpa a pergunta, é que tô no celular e a navegação é mais complicada. Curso Estudos de Mídia na UFF e suas análises tão sendo super importantes pra mim, e acho que pra todos que estao lendo. Vc poderia me passar seu contato? Parabéns!!
Luiz
December 27, 2015 @ 9:45 pm
Parabéns pelas análises. Concordo com todas elas. Sou professor de educação básica, sempre nas aulas busco discutir com as crianças esse marcador social, e os demais que vão surgindo durante nossos diálogos. Textos como o seu, acredito eu, nos ajudam a reconstruir ideias, nos tiram a noção de “inocência” que algumas pessoas acreditam ter nesses desenhos, livros, enfim…muito bom, parabéns!
PS: recado para o Bruno;
Preto da sua galera. Com certeza vc não é o preto da galera dos Felicianos, Bolsonaros…e das demais galeras conservas de plantão! Essas galeras tbm estão pouco se fodendo pra mim, pra vc….
Lara Vascouto
May 8, 2016 @ 11:24 am
Que bom que está sendo útil, Raphael! Pode entrar em contato pelo email nodeoito@gmail.com. Abraço!
Edmundo Santiago
December 27, 2015 @ 10:44 am
Muito bom o texto, em especial a parte do Monteiro Lobato e suas respostas nos comentários (inclusive, parabéns pela paciência nessas respostas tb! Rs).
Acho até importante que determinadas obras sejam trabalhadas na escola – mas precisam ser “trabalhadas”, com professores capacitados para contextualize-las e incentivar o pensamento crítico dos alunos.
Nao acho que todas as obras racistas, misóginas e etc devam ser banidas: um Homem é fruto do seu tempo e não carregará os defeitos de sua época apenas se ele for, literalmente, “um Homem à frente do seu tempo”, um elogio reservado aos gênios. Mas tem sempre de contextualizar. E a dificuldade com as obras infantis é justamente que elas são voltadas para um público que não é capaz de fazê-lo ainda. Enfim… Enfim, complicado…rs
Lara Vascouto
May 8, 2016 @ 11:23 am
Verdade, Edmundo. Tem que contextualizar, desconstruir, discutir. Obrigada pelo comentário!
Drummond
December 27, 2015 @ 12:33 pm
O tema é racismo, mas eu quero problematizar outra coisa. O autor do texto escreve, logo no inicio:
Ei, senhora! SENHORA! Não é porque é fim de ano que a gente pode parar de problematizar! SENHORA!
Por que sempre as mulheres são retratadas como fúteis, que não conseguem encarar uma problematização /discussão/reflexão? É chato perceber a indignação e/ou percepção seletiva. Um texto tão bem escrito não merecia um escorregão desses.
Lara Vascouto
December 27, 2015 @ 9:19 pm
Oi Drummond! Na verdade o “SENHORA!” é uma referência a um vídeo que ficou famoso esse ano, de uma repórter perseguindo uma mulher na rua que não queria responder perguntas que a incriminavam. Dá pra ver essa reportagem inteira aqui ó: https://www.youtube.com/watch?v=GdxPGO10fG4
Virou meme e tudo o mais, e achei que a moça correndo do assunto seria apropriado para esse texto de tema tão evitado, rs! De qualquer forma, obrigada pelo comentário!
Edvaldo Marcilio Junior
December 27, 2015 @ 1:30 pm
Meu Deus, confesso que não sabia sobre o Monteiro. Fiquei horrorizado. Sou professor e trabalho os livros dele com meus alunos. A partir do ano que vem vou começar a debater isso em sala de aula.
Lara Vascouto
May 8, 2016 @ 11:22 am
Que bom, Edvaldo! Obrigada pelo comentário! 🙂
Valdir Almeidão
December 28, 2015 @ 12:59 am
Verdades que muitas vezes não conseguimos ou queremos enxergar. Verdades, ou mentiras dadas em papinhas, caricaturas e desenhos inocentes. Temos que estar atentos, denunciar e cobrar atitudes. Descendente quilombola de Campo do Crioulo/SE.
Lara Vascouto
May 8, 2016 @ 11:20 am
Realmente, Valdir! Obrigada pelo comentário! 🙂
Felipe Rocha
December 28, 2015 @ 8:22 pm
Que text!!
Rosana
December 30, 2015 @ 3:39 pm
Excelente texto! (Aliás, descobri este site hoje, já li várias matérias e estou adorando.) Acho muito preocupante o fato de tantos conceitos ainda estarem arraigados nas mentes das pessoas, em comentários “inocentes”, julgamentos descuidados, enfim. Tive uma educação que sempre repudiou o racismo, o machismo e outras discriminações entre as pessoas, e por muito tempo achei que não havia mais racismo no Brasil (já que não havia na minha casa). E qual não foi minha triste surpresa quando, só depois de adulta, fui me dar conta de que muita gente é racista sim! Ouvir comentários como “fulano fez serviço de preto”, “fulana tem cabelo ruim”, ou “não fica com aquele negrinho” de pessoas com quem você conversa todos os dias, que são religiosas, que se consideram boas pessoas, é trágico e assustador. Acredito sim ser importante atentar a essas coisas em todos os detalhes, pois de que outro modo finalmente seremos capazes de extinguir isso do nosso mundo? Jogar tudo pra baixo do tapete acho que não funciona…impressionante o medo que as pessoas têm de admitir essas coisas – e como esse medo se manifesta em forma de raiva e violência (ainda que verbal)…
Lara Vascouto
May 8, 2016 @ 11:19 am
Tive uma experiência parecida com a sua, Rosana. Durante boa parte da vida acreditei no discurso que diz que racismo não existe no Brasil. Não porque eu ativamente escolhi acreditar, mas porque eu não nunca nem cheguei a pensar nisso (justamente por ser branca e não ser vítima desse sistema). Na escola essa tipo de pensamento simplesmente não era desenvolvido. Por isso acho que quanto mais falarmos sobre isso, melhor. Obrigada pelo comentário! 🙂
Mônica
January 16, 2016 @ 5:00 pm
Gata, estou apaixonada por você!!!!! Vim parar aqui ha alguns dias por algum post do Inatagram ou do Face. E já li alguns textos. Mas este foi o melhor de todos. E até os comentários dá pra ler, coisa rara nesta NET de deus.
Lara Vascouto
January 16, 2016 @ 10:18 pm
Que bom que você está gostando, Mônica! Fico bem feliz! 😀
Juri Tanaka
April 10, 2016 @ 6:03 pm
Tem um anime para crianças chamado Oden-kun, que se passa em um caldeirão de Oden de, uma sopa japonesa, que é vendido em uma barraquinha. Quando um cliente pede uma das comidas, os moradores são comidos (no sentido literal), mas voltam (sabe lá como). Todos os personagens principais são comidas seguindo uma lógica semelhante ao anime Anpanman. Eles adoram ser comidos, isso dá um status a eles. O protagonista é o Oden-kun que é apaixonado por uma menina ovo, a Tamago-chan, ela simplesmente a menina mais bonita, boazinha, inteligente e delicada da vila, todos os meninos gostam dela. Tamago-chan é também popular entre os humanos, que sempre pedem um ovo. Sua característica mais marcante é que ela é branca e tem um orgulho enorme disso, tanto que ela sempre procura realçar sua brancura passando pó compacto no rosto. Teve um episódio que ela virou deusa e branqueou o rosto de todos os seus amigos pois ficariam mais bonitos. Pra ela sua pele branca é o motivo dos humanos sempre pedirem ela. Sua maior inimiga é a Ganguro Tamago-chan, um outro ovo só que (adivinhem), marrom, pois ela ficou cozinhando no shoyu muito mais tempo que a Tamago-chan. Ganguro Tamago-chan é o “pesadelo” de qualquer garoto, ninguém quer ficar com ela, pois ela é a negra feia, barraqueira, mal educada e invejosa, nenhum humano a come e Tamago-chan esfrega isso na cara da inimiga, ninguém a come porque ela é um “ovo queimado”. O único garoto que gosta dela é o Jagah, o vilão da história que faz bullying com todo mundo, menos com a Ganguro Tamago-chan. Há um episódio que Ganguro Tamago-chan manda uma carta de amor para o Oden-kun (seu interesse amoroso), mas ela não assinou e ainda perdeu a carta, quando Hanpen-kun, um amigo do Oden-kun encontrou a carta, torceu que fosse uma carta pra ele da Sujii (a menina da qual ele é afim, que é tão fofinha e delicada quanto a Tamago-chan) ou da Tamago-chan, mas depois percebeu que a carta não era pra ele, quando Ganguro Tamago-chan encontrou a carta, e confessou que a carta era dela, ele com medo começou a jogar a carta para o Oden-kun, que por sua vez ficou com medo da carta ser pra ele e jogou de volta pro Hanpen-kun. Além do anime ser muito racista nos episódios clássicos, é bem machista, primeiro que todas as garotas que são desejadas são bonitas e delicadas, e a Ganguro Tamago-chan não era nada disso. Segundo, havia uma forte competição feminina. Oden-kun nunca brigou com o menino mais popular da vila pelo fato da Tamago-chan parecer gostar mais dele, pelo contrário, eles eram bons amigos, mas Ganguro Tamago-chan brigava com a Tamago-chan por causa do Oden-kun, e elas eram evidentemente inimigas por outros motivos, sua popularidade, cor de pele, estilo de vida, e elas constantemente queriam jogar uma na cara da outra que era mais bonita. Sem contar algumas partes em que o homem mais velho e sábio da vila aparecia secando meninas muito mais novas que ele. Oden-kun teve um reboot em 2013, o Ganbare! Oden-kun, no qual não tínhamos mais o sábio pedófilo, Tamago-chan foi tida como a metidinha nojenta e Ganguro Tamago-chan como heroína, chegando a salvar o protagonista, mas ainda havia competição feminina e bem maior!
Lara Vascouto
May 8, 2016 @ 11:13 am
Muito interessante, Juri! Obrigada pela contribuição!
Lilian
April 19, 2016 @ 10:32 am
Infelizmente, como branca e classe-média privilegiada, eu nunca havia atentado absolutamente para o quão a ideologia racista está enraizada em minha cultura, de meus familiares. É realmente abominável, terrível. 🙁
Lara Vascouto
May 8, 2016 @ 11:11 am
É sim, Lilian, e aos poucos isso vai se entranhando em nós mesmos também. Por isso precisamos desconstruir sempre. Obrigada pelo comentário! 🙂
Larissa
April 20, 2016 @ 1:06 pm
Ótimo texto. Nós precisamos mesmo identificar esses programas e impedir que as suas ideias racistas atinjam as crianças.
Vendo isso agora eu fiquei com uma dúvida: Será que as Cronicas de Nárnia (outro clássico infantil) também são racistas? Se você ler os livros, vai ver que em Nárnia existem dois reinos: Os Nárnianos, seres belos, mágicos e perfeitos que amam a natureza e que possuem um Deus amável e bondoso. E tem os carlomanos, que são maus e frios, assasinos cruéis e desonestos,(e eles nem tem um motivo para serem isso, uma história própria, o autor só colocou eles como seres gananciosos e malvados qud odeiam narnianos e pronto) que possuem deuses tão ruins quanto eles. Os calormanos são negros, e os narnianos, todos brancos, não cansam de jogar isso na cara deles, os chamando de “moreninhos”, e o único calormano do bem que apareceu foi o que abandonou seu povo e sua crença para seguir os narnianos no dia do Juízo Final. Ah, é, o resto dos calormanos não foi para o paraíso com os narnianos.
Lara Vascouto
May 8, 2016 @ 11:09 am
Acredito que sim, viu Larissa..Muita gente discute essa questão dos calormanos em As Crônicas de Nárnia. Obrigada pelo comentário!
Ana Tigrinho
May 3, 2016 @ 5:57 pm
Faltou o clássico do (tosco) Pica Pau. Tem cena em que ele canta o “Ten little indians” matando os índios. Existe também um livro muuuito legal que analisa os quadrinhos da Disney, o Para Ler o Pato Donald. Em uma das análises eles falam da figura do selvagem bonzinho, bem ao estilo do congolês do Tin Tin, inocente, que sempre entrega as riquezas aos conquistadores de mão beijada.
Lara Vascouto
May 8, 2016 @ 11:07 am
Vou pesquisar, Ana! Obrigada pela contribuição!
Mariana
May 5, 2016 @ 7:17 pm
Acho esquisito ver uma análise sobre racismo feita por uma branca, sempre me soa hipócrita. É como analisar algo q não se vive com olhos de expert no assunto. Acredito que se a questão é preocupar-se com futuro dos seus filhos, todos desenhos citados nem são da época deles. Qual problema de fazer uma análise dos desenhos atuais? Acredita então que o racismo morreu lá na época do Monteiro. Ao meu ver, q sou negra, o problema maior nas salas de aula são poucas histórias positivas sobre negros e sua cultura, assim como a forma negativa no qual professores tratam os alunos negros, como se eles fossem incapazes de raciocinar. Assim como vc fez com o rapaz que questionou seu texto aqui.
Lara Vascouto
May 6, 2016 @ 12:01 am
Oi Mariana! Escolhi esses desenhos por serem considerados clássicos e ainda serem veiculados. Mas um texto sobre desenhos atuais seria ótimo também! Concordo com você também que faltam histórias positivas sobre negros e sua cultura, e entendo o seu estranhamento pelo fato de eu ser branca e estar falando sobre isso. Eu não sei o que é ser negra. A única certeza que eu posso ter é da minha própria vivência de branca – uma vivência que por muito tempo foi alheia ao racismo. Nunca vivi isso na pele e, como muitas pessoas brancas, passei boa parte da vida numa bolha alimentada por um discurso racista, que vende há décadas a ideia de que o racismo não existe no Brasil. É claro que eu não sei o que é ser vítima de racismo, mas eu sei o efeito que ele teve nos meus pensamentos e na minha consciência, e me assusta saber o quanto eu inconscientemente internalizei uma mentalidade racista antes de entrar em contato com outros discursos. Como branca, eu sei o quanto essa mentalidade parece sutil para nós (justamente porque eu não sou vítima dela) e como ela vai nos sendo alimentada de colheirinha desde o berço (inclusive, pelos desenhos animados), de modo que viramos adultos que reproduzimos racismo, mas não nos reconhecemos racistas (embora sejamos). É com essa motivação que eu escrevi esse texto. Se você for ver, ele é muito mais informativo, no sentido de conscientização mesmo. Eu não o chamaria nem de análise, rs! Não é minha intenção falar sobre algo que eu não vivo na pele, tanto que nunca escrevi sobre vivências específicas que não as minhas. Escrevo como branca mesmo, tentando complementar a discussão com uma visão de como é receber um discurso racista sem ser vítima dele.
Sobre a minha resposta a outro leitor aqui, juro que li de novo e de novo e não consigo ver em como ela difere do meu jeito de responder a todos os comentários aqui no site. Comentei o que ele disse e discordei de algumas partes, nada fora do comum. Mas não sei, acho que às vezes posso soar um pouco didática demais, mas só faço isso porque quero deixar claro o que estou pensando e porque, como isso aqui é a internet, tenho medo de mal-entendidos ou que vejam um tom agressivo onde não tem. Se você for ver, sou meio irritante assim com todo mundo, rs!
Enfim, muito obrigada pela contribuição!
zyro
May 6, 2016 @ 10:17 pm
Esse texto está querendo enfiar goela a baixa o vitimismo, o “coitadismo” nas pessoas.
Inclusive vi uma pessoa que disse que é negra e não viu problema algum nas imagens/desenhos.
É…. Que bom que algumas pessoas ainda pensam.
Ana Vitória
May 19, 2016 @ 10:12 pm
Texto maravilhoso! Eu como menina negra me considerava “privilegiada” por ter sofrido tão pouco preconceito na vida. Mas agora, com esse artigo, me lembro de quantas vezes tive que deixar passar aquele comentário escroto do coleguinha que me inferiorizava justamente por achar como único referencial negro nas histórias discutidas (e quase nunca contextualizadas) o papel de subalterno.