Black Mambas – As Mulheres que Protegem a Savana da Caça Ilegal
“Muita gente disse ‘como você pode trabalhar na mata sendo mulher?’. Mas eu posso fazer o que eu quiser”.
A autora da fala acima é Leitah Michabela, sul-africana que há dois anos faz parte das Black Mambas, grupo de guardas florestais na África do Sul composto quase que inteiramente por mulheres. Desarmadas, em sua maior parte, as Black Mambas compõem uma unidade de patrulhamento de uma reserva privada dentro do Parque Nacional Kruger, a maior área de conservação ambiental da África do Sul.
O grupo faz parte um complexo de patrulhamento que trabalha com 26 Mambas, 29 guardas armados e uma equipe de inteligência que busca a localização dos caçadores ilegais antes que eles consigam matar algum animal. Patrulhando quilômetros de área a pé e organizando a fiscalização de veículos e postos de escuta para identificar tiros e vozes, o papel das Mambas é fundamental: ser os olhos e ouvidos da reserva em campo. Facilmente avistáveis, as Mambas funcionam como um inibidor para os caçadores. Um alerta que mostra que aquela não é uma terra sem lei.
“Sou uma mulher e vou ter um bebê. Quero que meu bebê veja um rinoceronte, por isso estou protegendo-o” – Leitah Michabela.
A unidade Black Mambas foi uma ideia concebida por Craig Spencer, ecologista e diretor da reserva, que percebeu que o problema da caça ilegal precisava ser tratado de forma diferente. Desde 2004, a África do Sul está experimentando uma verdadeira epidemia de caça ilegal, principalmente de rinocerontes. Somente em 2014, foram 1215 rinocerontes mortos, o que representa um aumento de 12000% em relação a 2004. Se as coisas continuarem nesse ritmo, o rinoceronte pode desaparecer em 10 anos. Embora grande parte dos caçadores venha de fora, muitos membros das comunidades empobrecidas no entorno do parque integram grupos de caçadores ilegais como uma forma de complementar a renda. Compradores asiáticos, por exemplo, pagam caro pelo chifre do rinoceronte, usado em “curas milagrosas”.
Durante muito tempo, a enorme desigualdade entre as comunidades pobres e as reservas ricas do parque fez com que os membros dessas comunidades vissem com más olhos as unidades de conservação. Observando essa dinâmica, Spencer percebeu que a única forma de ter algum sucesso contra os caçadores ilegais era envolvendo as comunidades nos esforços de proteção. Com isso, contratou vinte e seis mulheres locais desempregadas e as colocou em um programa de treinamento intensivo em técnicas de patrulha e combate.
A estratégia foi um sucesso. Desde a sua criação, em 2013, a unidade das Black Mambas ajudou a prender seis caçadores, reduziu a incidência de armadilhas em 76%, removeu mais de 1000 armadilhas e desativou 5 acampamentos de caça ilegal e 2 “açougues” na mata. No começo do ano a equipe chegou a comemorar 10 meses seguidos sem nenhum rinoceronte morto, enquanto uma reserva ao lado perdeu 23 no mesmo período de tempo.
E esse sucesso não passou despercebido. Esse ano as Black Mambas receberam o prêmio Campeões da Terra, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), na categoria Inspiração e Ação. De acordo com o diretor executivo do programa, Achim Steiner:
“Iniciativas lideradas pelas comunidades são cruciais no combate ao comércio ilegal de vida selvagem, e as Black Mambas destacam a importância e efetividade do conhecimento e compromisso locais. Com cada rinoceronte salvo, as Black Mambas demonstram que ação em nível local é essencial para atingirmos sustentabilidade global”.
Hoje, as Black Mambas não só são um ícone de sucesso da ação local na preservação ambiental, como também quebraram a noção em suas comunidades de que o patrulhamento não era um serviço para mulheres. E o melhor: viraram fonte de inspiração para muitas meninas que também almejam fazer parte da equipe.
Fontes: The Guardian, UN News Centre e vídeo: Black Mambas: Saving the Rhino.