Demônio de Neon – A Nocividade dos Padrões Estéticos e o Terror no Mundo da Moda

O filme Demônio de Neon aborda a nocividade dos padrões estéticos femininos no mundo da moda, utilizando suspense e terror para ambientar a narrativa.
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“Demônio de Neon” (The Neon Demon) é um filme do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn (Drive), estrelado por Elle Fanning (Ginger & Rosa), Jena Malone (Jogos Vorazes), Keanu Reeves (Matrix), Abbey Lee (Mad Max: Estrada da Fúria), Bella Heathcote (Sombras da Noite) e Christina Hendricks (Mad Men). O filme estréia no Brasil dia 29 de setembro e aborda a nocividade dos padrões estéticos femininos impostos pelo mundo da moda, utilizando o suspense e terror como ambientação da narrativa.

Não contém spoilers

Jesse (Elle Fanning) é uma jovem modelo órfã, de 16 anos, que muda sozinha para Los Angeles depois de receber uma proposta para uma sessão de fotos com um fotógrafo que conheceu pela internet, ao mesmo tempo que corre atrás de agências para conseguir a realização de seu grande sonho: fechar um contrato de trabalho como modelo em uma agência famosa. Jesse conhece a maquiadora Ruby (Jena Malone) que, impressionada com a beleza da jovem, a leva para uma festa dos bastidores do mundo da moda, onde a garota passa a ter contato com outras modelos.

A beleza vende. E a beleza branca, magra, loira e de olhos claros vende muito mais. Afinal, esta é uma sociedade capitalista que impõe um padrão de beleza feminino específico – e anula todas as outras formas que não preenchem os requisitos.  Tratada como mercadoria, a mulher tem seu corpo utilizado para vender desde roupas de marcas famosas até joias, maquiagens e tudo relacionado ao “universo feminino”. A publicidade, por sua vez, mostra tudo o que a mulher “precisa” ter, usar, comprar para se integrar num mundo que valoriza mais a beleza estética do que a interior.

Jesse se encaixa muito bem nos rígidos padrões estéticos definidos por nossa sociedade. Todos os personagens que a conhecem ficam impressionados com sua beleza natural, que não precisa de cirurgias plásticas e nem de dietas malucas. Jesse é item raro em um mundo em que muitas mulheres ficam doentes em decorrência desses pré-requisitos de aceitação da “feminilidade” – o preço estabelecido para estar na vitrine do sucesso e do dinheiro, onde tudo é descartado, inclusive se os rostos e corpos já são considerados “batidos”, expostos demais, ou se não aparentam mais juventude, tão cobiçada pelo universo da moda.

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Desde o berço mulheres estão acostumadas a ouvir “elogios” relacionados à sua aparência física. São ensinadas socialmente a enxergar a beleza estética como qualidade essencial para ser uma mulher nesse mundo. Associando esse quesito com o mundo capitalista em que vivem, passam a enxergar seus corpos como fontes de renda, explorando ao máximo oportunidades que recebem através deles.

Jesse, inicialmente ingênua sobre o mercado e solidária com as colegas de trabalho, conhece os bastidores mais obscuros e cruéis do mundo da moda, onde sua beleza passa a ser um instrumento de cobiça – e a partir desse momento ela descobre as piores atitudes para a conquista da fama. Em uma cena do filme, observa-se que o interesse de um personagem – cuja função é selecionar modelos para participar de desfiles de moda – nota unicamente a presença de Jesse na seleção, verificando através de seu olhar e expressão o quanto o mercado pode explorar aquele corpo feminino jovem e natural. O personagem parece entrar em êxtase quando vê Jesse e a reconhece como “uma carne fresca e jovem”. Jesse se transforma para se encaixar neste mundo contemplativo e vazio da beleza estética, onde o clima de suspense e terror começa a se intensificar durante a narrativa em contraposição desse mundo que objetifica mulheres.

Vale destacar a trilha sonora com clima das músicas dos anos 80, composta por Cliff Martinez, que ajuda a construir o clima sombrio e pulsante do filme. A cantora Sia também participou e escreveu uma música especialmente para a obra.

Nota-se também a influência do diretor italiano Dario Argento – conhecido por utilizar cores fortes em neon nas fotografias de suas obras – como ambientação da narrativa. O filme possui diversas cenas em tons neon, principalmente a cor vermelha nos momentos mais tensos da história. Contudo, o filme possui elementos de terror que mais chocam do que assustam.

demônio de neonDemônio de Neon – 2016

 

demônio de neonSuspiria – 1977

“Demônio de Neon” é um filme que nos faz analisar e refletir sobre a nocividade das imposições estéticas. O terror abordado na obra também é psicológico e serve como mecanismo para demonstrar que o mercado destrói e mata muitas mulheres que são ensinadas desde cedo que a beleza estética é elemento imprescindível em suas vidas, fazendo com que elas recorram a inúmeros procedimentos e comportamentos destrutivos para conseguir a tão sonhada fama e dinheiro. Seria o padrão de beleza a maior antagonista na vida de uma mulher? Assista “Demônio de Neon” e tire suas próprias conclusões.

*Texto publicado originalmente em Delirium Nerd.

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