7 Estereótipos Femininos que Hollywood Precisa Parar de Usar (Parte 2)
Eu já disse pra parar.
Há um tempo, escrevi a primeira parte deste texto de forma bem informal e sem grandes expectativas. Mal sabia eu, no entanto, que poucas horas depois eu veria meu site quebrar pela primeiríssima vez com a enxurrada de visitas que a postagem provocou.
Eu não tava preparada.
Foi nessa ocasião que eu percebi que não estava sozinha na minha indignação com a representação rasa, repetitiva e cansativa de mulheres no cinema – e que quanto mais discutíssemos isso juntas, melhor. Da discussão vieram muitas outras questões (e muitos outros textos), culminando, inevitavelmente, nesta segunda parte que vos apresento agora, com mais sete estereótipos femininos que Hollywood precisa parar de usar.
Agora, antes de mais nada, é preciso contextualizar e entender que a má representação de mulheres na frente das câmeras têm alguma relação com a sua patente ausência por trás das câmeras. Embora homens e mulheres estejam igualmente representados nas principais escolas de cinema dos EUA, ainda assim elas são ignoradas pelos grandes estúdios. Mesmo cineastas premiadas raramente são convidadas a dirigir filmes dos Big Six (os seis maiores estúdios de Hollywood). Em 2014, por exemplo, apenas 11 dos 100 filmes de maior bilheteria foram escritos por mulheres, e apenas 19 deles tiveram mulheres como produtoras. De 375 filmes feitos pelos Big Six entre 2010 e 2014, apenas 13 foram dirigidos por mulheres.
Dessa discrepância por trás das câmeras surgem inúmeras outras discrepâncias na representação de homens e mulheres nas telas do cinema. Dos 500 maiores filmes entre 2007 e 2012, somente 30,8% dos papéis com fala eram mulheres. Dos 100 maiores filmes de 2014, apenas 21% tiveram mulheres como protagonistas. E claro, além de serem poucas, muitas dessas personagens representam estereótipos e ideais machistas tão naturalizados que muitas vezes nem reparamos o quão absurdos eles são.
Pois reparemos então. Afinal, o poder que a mídia tem de afetar a desigualdade de gênero no mundo é algo que a própria ONU já reconheceu e discutiu vezes sem conta. De acordo com Nanette Braun, da ONU Mulheres: “A mídia cria uma visão de mundo que se entranha profundamente na percepção das pessoas de como as coisas são. A maneira como as mulheres são retratadas perpetua atitudes discriminatórias e sexistas e a noção de que meninas e mulheres ‘não contam’”.
Sem mais delongas, portanto, confira abaixo mais sete estereótipos que contribuem para fortalecer essas noções e já deveriam ter sido aposentados há muito tempo. Estereótipos como…
A Mulher que Usa sua Sexualidade como Arma
Exemplos: 007 (franquia), Segundas Intenções, Uma Cilada para Roger Rabbit, Game of Thrones (série, não livros)
Dona de um corpo escultural e de uma confiança inabalável, A Mulher que Usa sua Sexualidade como Arma é uma das personagens mais temidas em filmes de suspense e ação. Por quê? Oras, porque ela não precisa de nada além do seu próprio corpo para conseguir o que quer.
Mantenha seus amigos perto, e seus inimigos mais perto ainda. – se é que você me entende.
A verdade é que os homens de Hollywood tem tanto medo de uma mulher com autonomia sexual, que esse é o estereótipo número um escolhido por eles quando querem retratar uma mulher poderosa, manipuladora ou temível. Afinal, de que outra forma uma mulher poderia conseguir o que quer, não é mesmo?
Atualmente, a série Game of Thrones usa esse estereótipo a torto e a direito – e sem respaldo nenhum dos livros em que é baseada, diga-se de passagem. Até a Sansa e a Margaery, duas personagens completamente não-sexualizadas nos livros, acabam utilizando esse recurso na série.
A Esposa Chata e Estraga-Prazeres
Exemplos: Escola do Rock, Ligeiramente Grávidos, Se Beber Não Case, Breaking Bad
A Esposa Chata e Estraga-Prazeres está sempre enchendo o saco, falando e falando na orelha do marido sobre como ele é irresponsável e imaturo, e nunca está lá pra ela, e só quer que ele cresça e pare de sair com aqueles amigos imbecis que estão sempre com cheiro de maconha, e se ele podia, por favor, parar de largar a toalha molhada em cima da cama. Em suma, ela está lá para atrapalhar a diversão do protagonista e nos lembrar que esposas são um saco, cara!
O interessante é que por mais sensato e razoável que sejam os pedidos e importunações da esposa, ela é sempre representada como uma chata de galocha irritante que exige demais do pobre marido que só quer se divertir, relaxar, ou cozinhar metanfetamina. Sim, estou falando de Breaking Bad, que teve na Skyler uma Esposa Chata tão odiada pelos fãs que a atriz que a interpretou chegou a temer por sua vida. Conte com Hollywood para conseguir fazer com que uma esposa preocupada com as atividades do marido traficante seja mais odiada como vilã do que ele.
Dá licença.
(Ver também Pais Trapalhões e o Problema do Falso Feminismo)
A Mulher que Vira Troféu do Herói no Final
Exemplos: Karate Kid, Shrek, Superbad, Filmes do Adam Sandler, Homem-Aranha, Homem de Ferro, Transformers
O estereótipo da Mulher-Troféu é um dos mais antigos e funciona de acordo com a premissa de que o herói sempre ganha a mocinha no final. Sim, pode ser que ela relute e tenha suas dúvidas antes de se entregar ao herói, mas todos nós sabemos que ela vai ceder no final.
O estereótipo em si tem sua origem na fábula milenar da donzela em apuros, com a diferença que agora não só a mocinha não precisa mais ser, necessariamente, uma donzela em apuros…
…como o herói também não precisa mais ser digno da mocinha. Na fábula moderna, até o mais babaca dos protagonistas (estou falando com você, Adam Sandler) pode acabar com a moça dos sonhos no final do filme – alimentando a ideia da mulher como um prêmio do homem por direito no imaginário de milhares de cretinos mundo afora.
(Ver também Mulher-Troféu: A Mulher como Recompensa do Herói na Cultura Pop e Beleza Interior? A Misteriosa Síndrome dos Caras “Feios” com Minas Gatas na Cultura Pop)
A Mulher Morta/Sequestrada/Desaparecida que Motiva o Protagonista Homem
Exemplos: Busca Implacável (1 e 2), Coração Valente, Ilha do Medo, O Fugitivo, Gladiador, Star Wars – Ataque dos Clones
Um dos truques mais usados pelos cineastas para colocar uma personagem feminina importante em um filme sem de fato colocar mulher nenhuma no filme é o estereótipo da Mulher Morta/Sequestrada/Desaparecida que motiva a história do protagonista homem. Pode ser que ela seja uma filha raptada, ou mesmo uma amada esquartejada por um serial killer do passado. Não importa. O que importa é que ela não está lá, e a sua ausência é o motivo de o protagonista fazer seja lá o que for que ele faz no filme.
Inclusive desenvolver fúria assassina.
Além da problemática óbvia da ausência da personagem em si, o fato de ela servir inteiramente como um acessório para a construção do protagonista homem eleva a cretinice desse estereótipo a níveis ainda mais altos.
(Esse tipo de personagem é tão comum que tem até nome: Mulher na Geladeira. Leia mais sobre ela no texto de Tita Antunes, em Mulheres na Geladeira – e por que insistem em nos colocar lá).
A Mocinha que Ensina o Herói a Viver a Vida Intensamente
Exemplos: Elizabethtown, Quase Famosos, Garden State – Hora de Voltar, Doce Novembro, Scott Pilgrim Contra o Mundo (filme apenas)
Assim como a Mulher Morta/Desaparecida, a Mocinha que Ensina o Herói a Viver Intensamente (mais conhecida como Manic Pixie Dream Girl) existe unicamente em função do protagonista homem. Adorável, esquisitinha e cheia de energia, seu objetivo de vida é fazer com que o pobre protagonista profundo e deprimido aprenda a olhar para a vida de forma diferente e, com isso, consiga sair do seu status melancólico e encontrar a felicidade.
Suas principais armas: ser fofa e ter bom gosto musical.
Em suma, o arquétipo da Manic Pixie Dream Girl é definido principalmente pelo seu status secundário e por uma falta de vida e história própria. Porque né, mudar a vida do protagonista homem é trabalho em tempo em integral.
(Ver também Será a Manic Pixie Dream Girl a Versão Moderninha de Bela, Recatada e do Lar?)
As Mulheres Nuas ou com Pouca Roupa que Compõem o Cenário
Exemplos: Projeto X – Uma Festa Fora de Controle, Anjos da Lei, Entourage: Fama e Amizade, Game of Thrones (série apenas), Transformers
É difícil conseguir pensar em um filme que não faça uso da hipersexualização feminina em algum momento. Em alguma medida, a maioria deles faz, principalmente comédias e filmes de ação. Em suma, basta que apareça uma ou mais garotas gratuitamente peladas ou seminuas (às vezes sorrindo safadamente para o protagonista) para que o estereótipo se concretize.
Na maioria das vezes, essas mulheres são figurantes sem falas, mas acontece às vezes de as personagens femininas com falas de um filme serem tão objetificadas que elas acabam preenchendo os requisitos do estereótipo (Megan Fox, em Transformers, vem a mente).
(Leia também Objetificação Feminina: Aprenda a reconhecê-la Através de 43 Pôsteres de Filmes; e Objetificação Masculina NÃO É a Mesma Coisa que Objetificação Feminina. Entenda).
A Mulher que Larga um Homem por Outro no Altar
Exemplos: Homem-Aranha 2, O Melhor Amigo da Noiva, Doce Lar, A Primeira Noite de um Homem, Noivas em Guerra
Então, a história da mulher que troca de homens no altar vai mais ou menos assim:
- Garota gosta de um garoto e vice-versa.
- Mas aí o cara pisa na bola, ou as circunstâncias não colaboram, e no fim vemos a moça no altar com outro cara – o cara errado.
- Mas tudo bem! Porque antes que o padre termine a missa, o herói aparece na igreja, faz um discurso romântico fantástico e a noiva foge com ele, para espanto geral dos convidados.
Dessa forma, a nossa heróina – uma descabeçada que não consegue tomar as próprias decisões – simplesmente troca de mãos no fim do filme.
Atualmente, a variação clássica desse estereótipo – o abandono do noivo no altar – está muito manjada para ser usada, mas as mulheres continuam trocando de mãos o tempo todo nos filmes. Mal sabe Hollywood que é totalmente possível sermos felizes sem um homem do lado.
Não estou procurando um homem, vamos começar por aí!
E não tem problema nenhum com isso.
Leia também 6 Estereótipos Femininos que Hollywood Precisa Parar de Usar (Parte 1).
Ana Victoria
May 21, 2016 @ 4:31 pm
Gente, mas Shrek não tem nada a ver com esse estereótipo. Inclusive foi um dos primeiros fimes onde as princesas não apareceram como coitadinhas.
Lara Vascouto
May 21, 2016 @ 8:23 pm
Oi Ana! Com certeza, a Fiona não é uma donzela em perigo (e isso é ótimo!), mas infelizmente ela entra na leva de personagens que ficam com o herói no final. 🙁 Mas concordo com você que Shrek tem vários pontos positivos. 🙂
Bianca
February 2, 2017 @ 5:37 am
Também não concordei com o uso da Fiona como exemplo. Em nenhum momento entendemos que ela é um troféu, eles simplesmente se apaixonaram. Por que interpretou de maneira negativa o fato dela ficar com o Shrek no final?
Lara Vascouto
February 2, 2017 @ 11:20 am
Oi Bianca! Não interpretei de forma negativa o fato dela ficar com o Shrek no final, apenas identifiquei um padrão. Obrigada pelo comentário!
Júlia
May 22, 2016 @ 1:26 am
É surreal isso, já tentei explicar isso para outra pessoa e acharam q eu estava exagerando. Ainda bem q existem outras mulheres de olhos abertos! Adoro seus textos!
Lara Vascouto
May 22, 2016 @ 7:00 pm
Obrigada, Júlia! Sigamos juntas – e de olhos bem abertos! 🙂
Lilian
May 22, 2016 @ 3:03 am
Gostei bastante do post e do site. Acho que o cinema – principalmente de hollywood – tem que mudar muito! E vejo que muitas pessoas não percebem o quanto esse discurso machista está presente em suas vidas. Temos que questionar! Estou começando um blog sobre personagens femininas fortes no cinema: http://femininoemcena.blogspot.com.br/, gostaria do feedback de vocês…
Lara Vascouto
May 22, 2016 @ 6:58 pm
Oi Lilian! Adorei o seu blog – já estou com vontade de ver vários desses filmes que você comenta que ainda não vi! Parabéns pelo trabalho!
Tita Antunes
May 22, 2016 @ 5:20 pm
Esse lance da mulher morta/ sequestrada/ desaparecida é bem conhecido, tanto quanto a Manic Pixie, e normalmente é referido como “Woman in Refrigerator”. O termo surgiu no mundo das HQs quando as minas perceberam a quantidade absurda de mulheres que era morta, ferida, destruída, desempoderada apenas para motivar os heróis homens; refere-se a uma história do Lanterna Verde em que ele chega em casa e encontra a namorada morta e enfiada dentro da geladeira…Na história, claro, ele surta e vai atrás do vilão que matou a mina dele!
E não precisa ser namorada-reles-coadjuvante pra estar a mercê de ser enfiada na geladeira não, em A Piada Mortal, o Coringa sequestra, estupra, atira e deixa paralítica, a Barbara Gordon, que era a Batgirl, só pra esfregar na cara do pai dela, o Comissário Gordon e provar pro Batman que homens bons podem ser empurrados ao limite da loucura por situações desesperadoras (desde que as situações não ocorram com eles próprios né?)
Existe uma discussão grande envolvendo essa história pq muita gente não acha que a Barbara foi abusada… eu li, eu sou mulher, pra mim é impensável ler aquilo e considerar que ela não foi… e o peso dela é ZERO na história, ela tá lá só pra sofrer e motivar os homens meeeesmo!!! Sei que o texto se refere aos estereótipos em Hollywood, mas é que pra mim, A Piada Mortal é um dos exemplos mais doloridos de Woman in Refrigerator, e casos de desrespeito mais discarados a uma personagem tão foda quanto a Batgirl da Barbara Gordon.
Lara Vascouto
May 22, 2016 @ 6:52 pm
Nossa, não conhecia esse histórico, Tita! Muito obrigada pela contribuição!
Bru
May 23, 2016 @ 12:17 am
Tenho quase certeza que comentei na parte um desse post ano passado e continuo a acreditar na mesma coisa: A grande causa dos filmes nao retratarem mulheres reais vem do fato que eles nao sao escritos por mulheres. Mulheres nao tem chance nessa industria. Digo isso porque me formei ha um ano em cinema na melhor faculdade, com uma das melhores notas da turma, e to trabalhando de motorista pra sobreviver pq nenhuma empresa quer contratar uma mulher “fraca” pra trabalhar.
Como eu vou contar as minhas historias se eu nao tenho voz? Em uma industria machista, mulher é só um simbolo, um objeto. E mulher bonitona vende, ne?
É uma realidade triste porque o cinema tem uma parte importantissima nas nossas vidas. É importante pros jovens e crianças, pra moldar carater, nao apenas uma forma de diversao. E nos nao temos voz. Ainda.
Lara Vascouto
May 24, 2016 @ 12:52 pm
Concordo totalmente com você, Bru! Não sei se você já faz parte, mas existe um grupo muito bacana de mulheres do cinema e do audiovisual, onde as profissionais da área trocam experiências, informações e até fazem parcerias. Esse aqui ó: https://www.facebook.com/groups/687684634670479/
Tem um post sobre ele aqui no Nó de Oito também, se você quiser saber mais: http://www.nodeoito.com/mulheres-do-cinema-e-do-audiovisual/
Obrigada pela contribuição! 🙂
Hollkman
May 24, 2016 @ 12:53 am
Me desculpe se não eu não me expressar com clareza, pois estou com medo da sua resposta. Ok, desde o início do ano estou escrevendo um livro (que não sei ao certo qual é o gênero dele, se é ficção, fantasia, terror, etc,). No começo estava tudo bem, a história basicamente é baseada na minha experiência com games e tem algumas pitadas da minha vida pessoal. Também resgatei vários personagens de histórias que tinha escrito quando eu era criança, os coloquei no enredo e se encaixaram muito bem. Resolvi aproximar eles o máximo possível de seres humanos para que os leitores se identifiquem com os mesmos. Então comecei a ler resenhas de outros livros para entender o que os leitores acharam legal e o que detestaram, para não cometer os mesmos erros dos seus autores. Até que assisti um vídeo sobre o livro “História sem fim” e moça disse que nele havia uma personagem feminina no poder (a Imperatriz, se não me engano) e um protagonista que não é caucasiano. Daí me dei conta que o protagonista do meu livro é caucasiano (cabelo castanho e olho azul escuro), a sensação na hora foi como se eu tivesse levado um soco na boca do estômago. Eu fiquei desesperado, porque não criei ele assim intencionalmente, ele existe na minha mente à muito tempo. E sim, tem uma personagem feminina que, se eu deixar o protagonista vivo até o final, eles ficarão juntos. Porém, não criei ela exclusivamente para ser a “mocinha indefesa” ou o “interesse amoroso” do protagonista, ela realmente tem vida própria e não depende em nada dele, simplesmente os dois combinaram de tal forma que parece que se apaixonaram sozinhos. Ah, ela é uma das personagens “resgatadas” daquelas histórias antigas que eu escrevi quando era criança. Depois li uma crítica dizendo que muitos livros acabam da mesma forma, uma mulher e um homem sempre ficam juntos no final, entendi que isso seria algo ruim (me desculpe se eu estou errado), entrei numa agonia mental tão grande que criei um final em que o protagonista literalmente é esmagado como um inseto, claro que não gostei disso, pois tenho uma afeição por ele como se o próprio fosse meu filho. O problema não é só essa parte, eu tenho medo que me vejam como um machista, ou pensem que sou racista. Tenho medo que os leitores me interpretem de um jeito errado, enxergando algo na história que eu tenho certeza que não coloquei. A um tempo me deparei com o fato de que as escritoras tem mais dificuldade em publicar um livro do que os escritores, daí me dei conta que sou um homem branco (e ainda por cima descendente de alemães), cheguei a pensar que não tenho direito de publicar o meu livro porque já existem muitos escritores homens e brancos. Tem muita coisa me afligindo, não sei como colocar tudo aqui, não quero que quem ler esse comentário pense que estou falando mal de alguma coisa, isso é mais um tipo de desabafo. Eu só quero escrever livros, sabe, foi mágico para mim quando percebi que tenho talento para isso, é como se finalmente tivesse encontrado algo de bom na desgraça que é a minha vida. Mas esse medo de ser julgado erroneamente está me comendo vivo, sei que não dá para agradar a todos, mesmo assim a paranóia persiste. Só peço, sei lá, um conselho talvez.
Lara Vascouto
May 24, 2016 @ 12:31 pm
Oi Holkman! Obrigada pelo seu desabafo, acho muito importante falarmos sobre essas questões. Bem, apesar de ter entendido que essas aflições te tiram o sono, não consigo enxergá-las como algo ruim. Esse processo pelo qual você está passando – de entender o seu lugar no mundo, os seus privilégios e reconhecer no próprio trabalho traços desse privilégio de gênero e raça – é doloroso, sim (não tem como não ser), mas extremamente positivo e saudável porque vai te permitir fazer um trabalho consciente. Pra mim me parece que você está entendendo a responsabilidade que é criar arte e conteúdo que vai impactar milhares de pessoas e ajudar a compor a mentalidade de uma época, e isso é muito bom. Não sei se estou na posição de dar conselhos, mas aí vai mesmo assim: aproveite essa desconstrução que está fazendo, tire o máximo que puder dela. E perceba que ela não te enfraquece! Muito pelo contrário. Perceba também que você é o dono das suas histórias e pode reinventá-las para se livrar de traços que reproduzem opressões da vida real. Isso não significa jogar no lixo o que você já fez, mas fazer mudanças onde você acha que elas cabem. O segredo é se fazer perguntas: tenho personagens não-brancos na minha história? Eles tem importância na história, são bem desenvolvidos? Reproduzem algum estereótipo nocivo? Tenho mulheres na minha história? Elas são bem desenvolvidas? Reproduzem estereótipos nocivos? Faz sentido esses personagens ficarem juntos, ou estou fazendo isso porque espera-se que o mocinho fique com a mocinha? Enfim, como eu já disse, acho que esse processo é muito positivo e vai ajudar a enriquecer a sua história.
Espero ter ajudado! Boa sorte! 🙂
Hollkman
May 24, 2016 @ 2:42 am
Me perdoe pelos erros de português, realmente estou muito nervoso sabendo que alguém vai ler esse comentário.
Hollkman
May 26, 2016 @ 4:28 am
Primeiramente quero lhe agradecer, realmente o que você disse me esclareceu que esse processo não é algo ruim. Bom, analisando meu livro com a mente mais tranquila percebi que passei no teste de Bechdel e no teste Russo (acho que é assim que se fala) além de ter empodarado muitas personagens femininas (pelo medo de não agradar, mas não importa, ficou legal assim). Só uma delas deixa o poder, mas porque ela quer (aposentadoria), além do mais, essa personagem tem uma importância gigantesca na história. Também detectei alguns estereótipos escondidos pelos cantos do livro (culpa das mensagens subliminares cravadas na minha mente pela mídia, rss). É claro que mesmo que eu tente por anos criar uma história perfeita para não falarem mal de mim, com certeza alguém vai falar. Até mesmo J. K. Rowling foi criticada por motivos bobos, diga-se de passagem, inclusive pelo final feliz que a saga teve (ou o final “comercial de margarina”, como eu li em muitos lugares). Bom, sem querer trazer à tona o assunto sobre o “par romântico” da história ( você deve estar pensando “que saco, esse cara vai falar disso de novo”) o relacionamento entre eles é ligeiramente baseado no dos meus pais. Tem uma parte em que ela consola ele que é inspirada em um momento muito obscuro da minha família (sem dar um de dramático) em que o meu pai teve o seu último surto de esquizofrenia, e a minha mãe cuidou dele até o fim. Acho isso muito nobre da parte dela, existiu um amor muito grande entre eles. Seguindo esse raciocínio decidi que vou me inspirar nas mulheres da minha família para criar as personagens femininas do meu livro, e se alguém quiser fazer uma crítica destrutiva, que faça. Como dizia a minha avó, “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”, :). E obviamente “Hollkman” é um pseudônimo, aprendi não expor meu nome em games sociais, que aliás são ótimos para me trazer inspiração devido à quantidade de personalidades que se encontram neles (e ainda tem político que diz que isso é um entretenimento não produtivo). Mais uma vez agradeço 🙂
Gabriela Veiga da Silva
October 19, 2016 @ 3:42 am
Também me questionei bastante ultimamente sobre essas coisas, estou escrevendo duas historias atualmente, possivelmente HQs, uma estilo Noir e outra fantasia medieval. Em ambas as histórias Tentei colocar pessoas de sexos, orientação sexual, identificação de gênero, etnias e condições sociais diversas. Mas ainda me questiono se não teria esteriótipos escondidos, como por exemplo um dos casais gays de uma das histórias é o que poderia ser considerado “heteronormativo”, e uma personagem negra é a pessoa de mais atitude na história, o que pode ser um esteriótipo que dizem de “negra de opinião, que chama atenção e que fala alto” não lembro o nome desse esteriótipo, mas é o que aparece em filmes tipo As apimentadas. Ai eu fico na duvida do que eu faço com esses personagens, porque como disse o Hollkman ali em cima eu criei eles sem esse proposito, mas eu não quero perpetuar esteriótipos. Também fiquei na dúvida se colocar o sobrenome de um personagem negro de Black e uma mulher branca com um sobrenome que significa branco em outro idioma seria preconceituoso. Fico bem preocupada com essas questões.
T
June 5, 2016 @ 9:23 pm
Se querem mudar o posicionamento da mulher no cinema e tv, tentem mudar a cabeça das pessoas.
O cinema é um negócio, e como tal, atende a demandas.
Catarina
June 23, 2016 @ 1:02 pm
Lol, não acho que a Skyler seja odiada por ser “chata”, mas sim, por ser retratada como uma desgraçada que inclusive, trai o marido com câncer. Apesar dos roteiristas da série forçarem ainda mais o ódio a essa mulher, já que em muitas séries existem traições do tipo e ninguém odeia a pessoa que traiu. Ótimo texto!
Lara Vascouto
March 31, 2017 @ 1:36 pm
Obrigada Catarina!
Maria Luísa Silva
June 26, 2016 @ 5:06 pm
– Mulher Cuja Backstory Inteira É Baseada Em Homens Ou Inveja de Mulheres
Incluindo a Rainha Má de Branca de Neve, pq ela só tem raiva do mundo pq quer ser bonita
Lara Vascouto
March 31, 2017 @ 1:40 pm
Boa!
Carine
July 3, 2016 @ 3:10 am
Escreve sobre filmes que tem enredos que valorizaram as mulheres.
Lara Vascouto
March 31, 2017 @ 1:40 pm
Temos vários textos assim, Carine! Alguns exemplos:
– 3 Filmes Despretensiosos que Desafiam Estereótipos Femininos em Hollywood
– 37+ Filmes e Documentários sobre Mulheres Reais que Marcaram a História
– 12 Filmes e Documentários que Contam Histórias de Lutas Lideradas por Mulheres
– My Mad Fat Diary – Uma Série Adolescente que tem Muito a nos Ensinar
– 7 Protagonistas de Séries de TV que Você Precisa Conhecer
Obrigada pelo comentário!
Juliana de Oliveira Zuanon
February 24, 2017 @ 11:47 pm
Oi, muito legal suas observações. Alguns filmes desconheço e outros já me incomodaram (E MUITO), como a franquia do 007. Por outro lado, discordo da sua colocação do Breaking Bad, no sentindo da série retratar a Skyler daquela maneira. Digo isso pois estou assistindo a Breaking Bad pela segunda vez. Da primeira vez, uns milianos atras e bem pouco “densconstruída”, eu achava a Skyler um grande pé no saco. Hoje, reassistindo, amo ela demais e, pra mim, ela é, de longe, a que mais arrasa. Acho que, nesse caso, não se trata de como ela foi retratada, mas sim de como a sociedade que assistiu a série a viu. TODOS os personagens da série são muito complexos e verossemilhantes e a Skyler, assim como todos os outros personagens, não é um simples estereótipo, do meu ponto de vista. Pra mim, ela é moldada com atitudes e reações que são pra lá de plausíveis quando você descobre que o seu marido é um perigoso traficante de drogas. Pra mim, os criados e produtores não criaram uma personagem esteriotipada, mas quem a estereotipou foi o público da série, como eu uma vez, erroneamente, o fiz e também como esse post a coloca. Muitos machistas odeiam a Skyler, porque ela atrapalha e não engole o ego do Walter White que cresce mais a cada temporada. Não sei se me fiz entender HAHAHAHAHAHAHAH, mas eu a vejo não como estereótipo e sim como personagem complexa e forte, como todas as outras personagens da série.
Lara Vascouto
February 26, 2017 @ 3:08 pm
Sim, faz todo sentido, Juliana! Acho que é isso mesmo!
Renato
April 10, 2017 @ 3:54 am
Parabéns pelo texto e excelente trabalho de pesquisa! 🙂
lEMON
May 29, 2017 @ 6:00 pm
concordo com a matéria, e passei aqui pra te lembrar sobre uma série que está mascarada de feminista, mas é puro machismo, SEX AND THE CITY, ONDE AS MULHERES SÃO SOLTEIRAS, SEM FILHOS, TRABALHAM E SÃO INDEPENDENTES FINANCEIRAMENTE, MAS SOFREM PORQUE NÃO TÊM UM HOMEM, PORQUE ESTÃO FICANDO PRA TITIA, PORQUE NÃO TÊM FILHOS…ENFIM…MUITO CONTRADITÓRIO A COISA TODA…E NO FINAL NO SEGUNDO FILME DA SÉRIE, A ÚNICA QUE MOSTRA SER RESOLVIDA É A SAMANTHA, QUE SE SEPARA MAS CONTINUA FELIZ. DECEPCIONANTE.
daniele Rodrigues
October 20, 2017 @ 1:55 am
Se tiver a parte três, (não sei se já tem porque sou nova no site 😀 ), mas não esqueça de colocar a “personagem que sofreu estupro e se tornou forte”. (ou algum trauma) Meu Deus, como odeio como banalizam o estupro/violencia e mostram que a mulher só se torna forte (nunca já é) a partir de algum trauma e em sua maioria é trauma sexual.
Leandro
April 9, 2021 @ 1:46 pm
O problema é que mulheres e homens são diferentes. Mulher não tem que agir iguais a homens para serem protagonista de filmes. e esse movimento feminista prega isso, mulheres com atitude de homens para mostrarem que são fortes. Mulheres tem suas peculiaridades, assim como homens. Feminilidade não tem nada haver com feminismo. Qual o problema em mulher ser sensual? qual a ofensa nisso, se é natural homens ser atraído por mulheres sensuais e vice versa? Qual o problema em roupas curtas, se hoje em dia o que mais vejo na moda feminina são roupas curtas, vide anitta. esposa “reclamona”…kkkkk, vivo isso no dia dia, porque homens e mulheres se incomodam por coisas diferente, ou seja, a retratação de um fato não significa desvalorização da mulher. estereótipo é querer enxergar discriminação em tudo. e tenho certeza que você já me enxerga como machista, por não aceitar opiniões contrária.
Leandro
April 9, 2021 @ 1:48 pm
desculpe os erros de português, escrevi rápido e não fiz revisão do texto.