Não, você não tem que ser bonita

Aqui está algo sobre beleza que quase nenhuma mulher sabe.

bonita

Vou contar uma coisinha que muitas garotas não sabem:

Você não tem que ser bonita.

A sociedade nos ensinou que grande parte do nosso valor (ou todo ele) está baseado na nossa aparência. Se você não está tentando ser mais bonita (leia-se, socialmente aceita), você é preguiçosa, conformada e indesejável. Se você não está na academia, de dieta, se depilando, usando maquiagem ou fazendo as unhas, você não está nem tentando, então com certeza você não vale nada – porque suas outras características vão ser ignoradas. Não importa se você é inteligente, uma boa musicista, gasta seus finais de semana ajudando os animais ou ganha competições de natação. Você não é padrão, então tchau, próxima.

Faça a conta de quanto tempo e dinheiro você gasta por causa disso. É depiladora, manicure, cabeleireiro, academia, suplementos alimentares, procedimentos estéticos (drenagem linfática, por exemplo), depilação a laser, cirurgia plástica, lâminas de barbear, cremes para o cabelo (porque você estragou ele descolorindo), maquiagem, cremes para pele (porque você estragou ela ao usar maquiagem todo dia), micropigmentação de sobrancelha, creme anti-celulite, creme anti-estria, secador, chapinha, baby liss, roupas… Essa lista vai longe.

Enquanto isso, homens usam esse dinheiro e esse tempo para estudar, viajar, conhecer pessoas, se divertir e trabalhar. Nós estamos tirando isso das garotas. É uma competição injusta. E nada disso, no fundo, faz com que nos sintamos bem. Porque gosto é construção social e nada nega isso. Os padrões de beleza são irreais e inalcançáveis. Ninguém se adequa. A blogueira fitness do Instagram só faz isso da vida – e tem muito dinheiro. Você não vai ficar assim, porque você tem uma vida, você trabalha, estuda e sai com seus amigos. Isso que é importante na vida.

“Ah, mas EU me sinto bem assim”.

Amiga, você não se sente bem porque gosta de unhas pintadas, você se sente bem porque ao pintar as unhas você se adequa à sociedade e a cobrança alivia por um tempo – curto, porque logo surge uma nova moda, uma nova exigência, e o ciclo gira.

O esforço de quebrar esses padrões e desconstruir nossa visão de beleza (e a necessidade de ser bonita) é empoderador e incentiva outras garotas a se libertar também. Vamos nos ajudar. Não é fácil, leva tempo, mas é preciso tomar coragem e dar o primeiro passo. É muito fácil se acomodar no velho discurso individualista de que nos sentimos bem assim, não consigo e pronto. Quebrar seus próprios paradigmas é ajudar a libertar a todas. Não devemos julgar a irmã que (ainda) não desconstruiu, mas vamos aplaudir as que estão tentando.

Se beleza aos olhos da sociedade é um padrão, então nenhuma de nós nunca será bonita de verdade. Temos que nos aceitar e nos gostar. Isso significa olhar para si mesma e não se odiar por coisas naturais do seu corpo: celulite, pelos, gordura, olheiras. É entender que cada mulher tem sua individualidade e que não existe bonito ou feio e que, menos ainda, nosso exterior define nosso valor. Só é possível gostar do próprio corpo e se sentir confortável nele depois de fazer as pazes com ele.

O feminismo tradicional grita aos quatro ventos: “todas somos lindas!”, mas isso não liberta. Porque reforça o valor da beleza e volta a colocar o valor das mulheres em sua carcaça. Faz exatamente o que o patriarcado quer: que as mulheres sejam objetos não-pensantes, vivendo para o prazer masculino. Vamos estudar, vamos entrar na política, vamos dominar as universidades e os locais de trabalho. E vamos juntas, todas nós. As negras, as pobres, as lésbicas, as trans. Vamos lutar por elas, por nós. Eles não farão isso.

Leia também Quem disse que mulheres tem que ser belas?; e O que acontece quando mulheres se recusam a servir de enfeite.

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