Onde estão as Personagens Femininas Notáveis dos Animes/Mangás (com indicações!)

Falar de representatividade feminina em animes/mangás é mais complexo do que parece, mas selecionamos três com personagens notáveis e discutimos seus pontos positivos e negativos. Confira!

Como assinalou Patrícia Machado, discutir a representatividade feminina na cultura japonesa é muito mais complexo do que parece ser num primeiro olhar. Em seu texto “Mulheres em preto e branco: a representatividade feminina nos mangás”, a jornalista apontou que:

“Parte das feministas japonesas não veem o quadrinho com bons olhos porque julgam que a história só reforça padrões de gênero, como a ultra-feminilidade. Sem falar que apesar das personalidades diversas, todas são magras e esbeltas. Também acusam a animação, principalmente, de objetificar as personagens.”

Apesar disto, como a sociedade japonesa tem papéis de gênero muito rigorosos, sendo a pior no quesito igualdade de gênero entre os países desenvolvidos, esta realidade inflexível faz com que muitas mulheres tenham os mangás como forma de romper com estas barreiras. Dessa forma:

“Dentro de uma sociedade patriarcal e hierárquica como a japonesa, os mangás são uma das poucas áreas onde as mulheres podem ficar em pé de igualdade com os homens, já que uma boa história não é determinada pelo gênero do autor. Trabalhar com quadrinhos, ou tornar-se mangaká já chegou a ser a quarta carreira mais procurada pelas japonesas. Algumas das mulheres mais ricas do Japão são mangakás, como Rumiko Takahashi — criadora de Inuyasha.”

Contudo, Patrícia explica que a representação das mulheres varia muito de acordo com o público-alvo do produto. Assim, histórias voltadas para mulheres tendem a ter mais protagonistas mulheres, enquanto que em produções para jovens garotos – o maior e mais popular gênero – as personagens femininas diminuem de importância e são escassas como protagonistas. Além disso:

“Podem até ir para a batalha junto com os homens, mas poucas são as vezes que roubam os holofotes. Porém, a objetificação aumenta. O tamanho dos seios aumenta, a cintura afina, os cabelos ficam mais compridos, as roupas diminuem de tamanho, às vezes os garotos conseguem ver a calcinha das meninas — que sempre usam saias ou vestidos”.

As fãs de Naruto devem bem lembrar: como pode as mulheres serem tão assustadoramente desprovidas de habilidades se comparadas aos personagens masculinos? Chega a ser irritante a forma como elas são sub-exploradas.

Patrícia também assinala que estes produtos são como “válvulas de escape” em uma sociedade extremamente rígida, que refletem o cenário em que foram criados.

Pensando nisso tudo, separei abaixo três indicações de animes/mangás com personagens femininas notáveis, com seus pontos positivos e negativos (como não podia deixar de ser). São eles:

Akame ga Kill

Anime: 24 episódios

Mangá: 15 Volumes

Um anime de batalha que apesar de ter um protagonista masculino, leva o nome de uma de suas personagens femininas: a guerreira Akame. Isso talvez já seja um indicativo do que vem a seguir: um monte de personagens femininas com papéis de destaque na trama. Como apontou Bárbara para o blog Proibido Ler:

“Não me lembro da última vez em que assisti um anime com uma presença tão significativa de tantas mulheres, […] há muito tempo eu não tinha o prazer de ver tantas mulheres fortes. E não digo fortes apenas de espírito, mas também fisicamente! E elas ocupam todo tipo de posição em Akame Ga KILL!, desde guerreiras com habilidades muito específicas até posições de liderança.”

Resumidamente, a história gira em torno do garoto do interior Tatsumi que vai para a Capital ganhar dinheiro para ajudar a sua aldeia, mas acaba se chocando com a decadência moral da cidade. Depois de cair em uma armadilha, ele acaba entrando no caminho de um grupo de assassinos chamado Night Raid.

Ao longo da história, ele descobre que eles fazem parte de uma força revolucionária com o objetivo de derrubar o império governado pelo primeiro ministro corrupto (que é, aliás, a causa da pobreza de sua aldeia e de grande parte do império). Akame faz parte deste grupo revolucionário e é uma heroína e tanto. Criada desde criança para ser uma assassina do governo, ela se rebela e se junta às forças revolucionárias para pôr um fim no regime.

O anime não é maniqueísta e por isso acabamos nos apegando em personagens de ambos os lados do campo de batalha. Por se tratar de um anime de ação, se prepare para muito sangue, cenas de batalha e personagens morrendo a torto e direito.

Pontos negativos:  

Por se tratar de um Shonen – ou seja, em tese ser direcionado para o público masculino – Akame Ga Kill peca na sexualização de suas personagens. Além disso, como já abordamos aqui no texto Personagens Femininas Incríveis – A Síndrome da Coadjuvante Hiper Competente, por que não a garota que dá nome ao anime ser a protagonista?

Podemos levantar a hipótese de que ter um protagonista masculino – mesmo que não tão interessante – preveniria o anime de ser deixado de lado ou ser considerado “coisa de menininha” se Akame fosse a principal. O que seria bem triste.

Kamisama Kiss/ Hajimemashita

Anime: 25 episódio (1ª e 2ª temporadas)

Mangá: 25 Volumes

Depois de falar de uma produção de ação quase sem nenhum romance, vamos pular do sangue para o vinho! Este anime é um romance entre uma humana e um youkai (uma espécie de demônio da cultura japonesa). É um anime leve e espontâneo, feito para ser uma comédia romântica de fantasia.

O enredo gira em torno de Nanami, uma colegial que perde tudo por causa das dívidas de seu pai, que foge da cidade e a deixa literalmente na rua. Abandonada ao relento, ela acaba ajudando um estranho a fugir de um cachorro que o perseguia. Este fica profundamente agradecido, ouve a triste história da garota e oferece sua casa em sinal de gratidão para ela ficar.

Chegando no endereço apontado, Nanami pensa que foi enganada, pois o lugar é um templo. Contudo, ela acaba descobrindo que estava correto e que agora havia se tornado a nova deusa daquele lugar sagrado. Lá ela conhece seu futuro amado: Tomoe, um youkai raposa.

Lizandra Souza, em seu blog pessoal, descreveu Nanami como sua personagem feminina favorita de animes.

“Ela é linda, empoderada, determinada, sincera, alegre, inteligente e, apesar da aparência frágil e de ser subestimada por ser uma humana, forte. O que eu mais gosto na Nanami é a determinação, a força de vontade de mudar as coisas, de conseguir vencer e seguir em frente mesmo quando as possibilidades são poucas ou quando ninguém mais acredita nela”.

Assim, temos uma cativante personagem, que mesmo subestimada desde os primeiros episódios pelos demais personagens, sempre mostra sua determinação e sua força de vontade. Diferente de outras protagonistas de romance, ela não ignora os defeitos de Tomoe e nem é sempre salva por ele. Aliás, a própria Nanami o salva diversas vezes.

Com uma arte impecável, trilha sonora envolvente e roteiro amarradinho, Kamissama Kiss é um anime muito bom para deixar o coração bem quentinho.

Pontos negativos:

Como se trata de uma comédia romântica, a produção gera um certo sentimento de previsibilidade inevitável. Sentimos que tudo irá dar certo no final. O anime também às vezes se centra demais na relação amorosa da trama e deixa de explorar o plot de Nanami como uma divindade, que é uma de suas partes mais interessantes.

Claymore

Anime: 26 Episódios

Mangá: 27 Volumes

Voltando à terra das batalhas, o plot da vez fica por conta de guerreiras meio humanas, meio Youmas (monstros que se alimentam de carne humana) encarregadas de combater e matar justamente os Youmas para proteger os seres humanos. A população as nomeia de Claymores e, apesar de precisar de sua ajuda, teme-as como se fossem bruxas.

A protagonista é uma Claymore chamada Clare, que acaba acolhendo um jovem órfão chamado Raki. Por insistência própria, o menino passa a acompanhar Clare em suas viagens e batalhas, mesmo que isso o ponha em risco. Ambos criam forte laço de afeto um pelo outro.

Alexandre Paulo, do SciFi Tupiniquim , se emocionou com o mangá de Claymore:

“A obra deixa uma importante mensagem que muitas pessoas acham piegas, mas que na verdade deveriam ter como um mantra. Não importa tudo de ruim que você tenha passado na vida, o amor sempre será mais forte que o ódio.”

Já Sandy Hime, em seu blog pessoal, apontou que Claymore se diferencia muito da maioria dos animes/Mangás de ação pois:

“As guerreiras são mulheres fortes e batalhadoras, cada uma com seus traumas e medos e também com seus objetivos mostrando que apesar de não serem mais humanas, ainda há um sentimento forte dentro de cada uma.”

Assim, o que chama atenção em Claymore é justamente o grupo de mulheres guerreiras que dá nome ao anime. Diferente de animes tradicionais com grupos de mulheres que lutam, Claymore não traz uma proposta de ser “fofo” ao estilo Sailor Moon.

Os ganchos narrativos da trama também são muito bem empregados. A protagonista Clare é uma guerreira de poucas palavras, sua personalidade é séria, austera e sóbria. É interessante ver como uma personagem que demonstra ter tão pouco sentimento vai desenvolvendo seus laços com Riki, e como isso vai trazendo lembranças de seu passado e também a sua motivação de se tornar uma Claymore.

Um outro ponto trabalhado pelo anime é o preço do poder: como se tornam extremamente poderosas, as guerreiras Claymores passam a ser excluídas da sociedade, construindo laços somente com suas irmãs guerreiras.

Pontos negativos:

Apesar de ser considerado erroneamente como uma obra feminista – por ter como protagonistas um grupo de mulheres fortes – o anime tem estas como as únicas personagens femininas da história. Os demais papéis do anime são compostos por homens, como os chefes da organização das Claymores. Assim, o único motivo para ter mulheres nessa posição é tê-las como guerreiras – um diferencial para se destacar no mercado.

Ao longo da trama se descobre que no começo haviam também Claymores homens, mas por serem homens eles perdiam o controle muito fácil, e por isso a organização passou a somente transformar mulheres. Desse modo, todo o universo do anime é construído em cima dessa suposição de que homens são mais “instintivos” e não conseguem se controlar. Esse tipo de pensamento vem sendo usado por séculos para justificar a violência masculina, tanto contra mulheres, como contra outros homens. Qualquer semelhança com o nosso próprio senso comum não é mera coincidência. Saiba mais aqui.

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E você? Gostaria de indicar algum manngá/anime com personagens femininas notáveis? Deixe nos comentários!