Por que Mulheres Deixaram de ser Destaque na Computação?

Mulheres foram destaque na área de Computação até a década de 1980. Entenda o que aconteceu.

computação

Ada Lovelace, matemática nascida em 1815, escreveu o primeiro algoritmo para computador da História. Grace Hopper foi a programadora de um dos primeiros computadores já criados. Muitas outras mulheres foram pioneiras da área de Computação e, durante muitos anos, o número de mulheres estudando Ciência da Computação crescia mais rápido do que o de homens.

computaçãoPrimeira turma de Ciência da Computação da USP, em 1971.

 

Hoje em dia, no entanto, a Computação é dominada quase que inteiramente por homens. Camila Achutti, a engenheira de software e programadora responsável pelo blog Mulheres na Computação, foi a única mulher de sua turma na faculdade, por exemplo. O caso dela não é exceção. A participação de mulheres no mercado de tecnologia da informação no mundo costuma ficar entre 10% e 30% (no Brasil, fica em torno de 25%).

De acordo com Camila, os números de participação feminina na área já foram bastante altos porque a tecnologia estava muito ligada a processamento de dados e organização de arquivos – coisas relacionadas ao trabalho de secretariado, amplamente realizado por mulheres. Mais tarde, criou-se um estereótipo de que TI era para homens, o que criou um ambiente hostil para mulheres dentro da área (os relatos vão desde assédio de professores até falta de banheiro feminino). De acordo com Camila, hoje em dia o índice de desistência entre mulheres no primeiro ano de cursos em TI chega a 79%.

Mas por que surgiu esse estereótipo, afinal? Por que de repente decidimos que mulheres não tem nada a ver com TI?

Para tentar entender isso, precisamos voltar no tempo e ver o que estava acontecendo na época em que os números de participação feminina na computação começaram a cair. Isso nos leva à década de 1980.

computaçãoUm gráfico que não deixa dúvidas de que algo sinistro aconteceu.

 

Foi por volta dessa época que os primeiros computadores pessoais começaram a popular as casas de famílias norte-americanas. Naquele momento, os computadores eram bastante simples, muito mais voltados para jogos. Foi nessa época também que aconteceu uma grande revolução no mundo dos brinquedos infantis. Em primeiro lugar, houve a popularização do ultrassom, que permitiu aos pais saberem o sexo da criança antes do seu nascimento. E em segundo lugar, houve mudanças nas leis que limitavam a publicidade direcionada a crianças nos EUA, assim como uma adesão maciça à TV por assinatura.

Com isso, o marketing descobriu como segmentar e atingir de forma eficaz todo um grupo demográfico altamente lucrativo que havia sido ignorado durante décadas. A partir daí a segmentação de brinquedos por gênero decolou a níveis nunca antes vistos. E por motivos que só podemos imaginar, a indústria decidiu que computadores eram domínio exclusivo de meninos, nascendo, assim, o estereótipo clássico do nerd atual.

Durante décadas a publicidade dos computadores pessoais foi direcionada inteiramente para meninos. Durante esse período, o computador da casa ficava no quarto do filho, por mais que a filha demonstrasse maior ou igual interesse por ele. Como resultado, quando meninas brilhantes em matemática chegavam na faculdade e ingressavam em cursos de computação, desanimavam ao encontrar dezenas de garotos com muito mais familiaridade com a matéria e conhecimentos mais avançados por terem passado anos na infância e adolescência brincando com computadores em casa. Os próprios professores iniciavam seus cursos inferindo que a maior parte dos alunos já chegava com essa familiaridade, o que não era verdade no caso das meninas.

“Lembro de fazer uma pergunta uma vez e o professor parar, me olhar e dizer ‘Você já devia saber isso’. E eu pensar, ‘eu nunca vou ser boa nisso’” – Patricia Ordóñez, gênia da matemática que largou o curso de computação e acabou se formando em Letras. Mais tarde, ela voltou ao curso e completou um doutorado em ciência da computação.

No fim, a ideia de que homens são melhores em computação do que mulheres se enraizou na área e criou uma cultura de exclusão feminina. Muitas das que superam o pouco incentivo durante a infância e adolescência e ingressam em cursos de ciência da computação na faculdade acabam desistindo ao encontrar um mundo masculino que a todo momento desqualifica a sua competência e diminui a sua autoconfiança.

Mudar essa mentalidade é essencial. Afinal, se não fossem as mulheres, a área da computação sequer existiria.    


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