10 Mulheres Cientistas que Mudaram o Mundo
Inúmeras mulheres cientistas nunca foram reconhecidas por suas contribuições e mesmo as que foram raramente são lembradas. Isso precisa mudar.
“Espero que a fumaça de bruxaria saia logo de nossas vistas”.
Tal frase foi escrita em uma carta de 1953, de Maurice Wilkins a James Watson e Francis Crick – os três vencedores do prêmio Nobel de Medicina pela descoberta da estrutura de dupla hélice do DNA. A “fumaça de bruxaria” de que os três cientistas estavam doidos para se livrar fazia referência a ninguém menos que a biofísica Rosalind Franklin, responsável por tirar a fotografia que possibilitou a descoberta que lhes rendeu a premiação.
Na época, Franklin tentava, como muitos outros, elucidar a estrutura do DNA. Especialmente habilidosa no método de cristalografia de raios-X, ela conseguiu as melhores imagens da época. Sem que ela soubesse, no entanto, essas imagens fora compartilhadas com Watson e Crick por Wilkins.
Na foto, Watson e Crick. Watson é o único que continua vivo – e se envolvendo em polêmicas. Nos últimos anos, ele disse que negros são menos inteligentes e que seria uma ótima ideia usar a genética para deixar todas as mulheres bonitas. (Crédito da imagem: Cold Spring Harbor Laboratory Library)
Infelizmente, sem saber que a descoberta da dupla não teria acontecido sem as suas fotografias, Franklin simplesmente parabenizou os colegas e morreu logo depois, em 1958, antes de receber o devido reconhecimento por uma das maiores descobertas da Ciência.
Watson, Crick e Wilkins poderiam ter, desde o início, dividido o crédito da descoberta com Franklin? Certamente. Mas não é assim que as coisas funcionam para mulheres na Ciência. A frase escrita por Wilkins chamando-a de bruxa é apenas um pequeno exemplo da discriminação que Franklin enfrentava no trabalho simplesmente por ser mulher. Para piorar, a animosidade do trio Watson-Crick-Wilkins contra ela se intensificou ainda mais quando a biofísica fez algo completamente comum e necessário entre cientistas: criticou um de seus trabalhos.
Não foi a primeira nem a última vez que uma mulher passou a ser ridicularizada depois de criticar um homem.
A história de Rosalind Franklin é um ótimo exemplo da discriminação que mulheres cientistas enfrentaram e ainda enfrentam, responsável por milhares de talentos não reconhecidos e trabalhos pioneiros desconsiderados ou atribuídos a colegas homens para que fossem aceitos. Algumas dessas mulheres conseguiram, mesmo que tardiamente, o reconhecimento que merecem. Mas, mesmo assim, nunca ouvimos falar sobre elas.
Vamos mudar isso. Abaixo, você encontra uma pequena amostra de mulheres cientistas incríveis que, assim como Rosalind Franklin, mudaram o mundo.
Barbara McClintock
A botânica americana Barbara McClintock (1902 – 1992) descobriu o fenômeno da transposição genética, o que lhe rendeu não somente um Nobel de Medicina/Fisiologia, mas também o título de uma das três figuras mais importantes da história da Genética.
Por ser mulher, no entanto, o trabalho de McClintock foi recebido inicialmente com imenso ceticismo. Tanto que o seu reconhecimento com o prêmio Nobel só aconteceu em 1983 – nada menos que trinta anos depois da sua descoberta.
Marie Curie
A química e física polonesa Marie Curie (1867 – 1934) foi uma das mais importantes cientistas da História. Conduzindo pesquisas pioneiras na área da radioatividade – termo que ela mesma cunhou – Curie e seu marido, Pierre, desenvolveram técnicas para isolar isótopos radioativos e descobriram os elementos polônio (Po) e rádio (Ra). Iniciaram, com isso, o estudo e uso moderno da radioatividade, incluindo tratamentos atuais de câncer.
Felizmente, Curie teve reconhecimento ainda em vida. Recebeu, por seu trabalho, dois prêmios Nobel – o de Física, em 1903, e o de Química, em 1911 – tornando-se a primeira pessoa no mundo a receber o Nobel duas vezes. Uma cientista exemplar, ela preferiu não patentear seus processos de isolamento do rádio, permitindo que a comunidade científica realizasse suas pesquisas livremente.
Curie morreu aos 67 anos de leucemia, causada pela exposição prolongada à radiação durante suas pesquisas. Em 1995, seus restos mortais foram transferidos para o Panteão de Paris, fazendo dela a primeira mulher a ser sepultada no local. O elemento Cúrio (Cm) foi batizado em sua homenagem.
Irene Joliot-Curie
Irene Joliot-Curie (1897 – 1956) foi ninguém menos que a filha de Marie Curie. Seguindo os passos da mãe, Irene estudou a radioatividade junto com seu marido, Frederic. Juntos, eles demonstraram a existência do nêutron e foram os primeiros cientistas a criar um elemento radioativo artificialmente, o que lhes rendeu o prêmio Nobel de Química, em 1935.
O trabalho de Irene constituiu uma das maiores contribuições para a descoberta da fissão nuclear – o processo por trás da energia nuclear e de armas atômicas. Infelizmente, assim como sua mãe, Irene também desenvolveu leucemia e morreu jovem, aos 59 anos.
Lise Meitner
Lise Meitner (1878 – 1968) foi a física austríaca responsável pela descoberta da fissão nuclear – o processo por trás da geração de energia nuclear e de armas atômicas. Depois de completar seu doutorado na Universidade de Viena, Meitner partiu para Berlim, onde estudou com o físico Max Planck e trabalhou em parceria com o químico Otto Hahn durante trinta anos no Instituto Kaiser Wilhelm. Nele, Meitner se tornou a primeira mulher a se tornar professora integral de Física na Alemanha.
Em 1938, Meitner, sendo judia, se viu obrigada a fugir da Alemanha para o Instituto Manne Siegbahn, na Suécia, onde conseguiu dar seguimento ao seu trabalho, apesar do preconceito da instituição contra mulheres cientistas. Durante todo o tempo, Hahn e Meitner permaneceram em contato, compartilhando resultados e planejando novos experimentos químicos que demonstrassem a fissão nuclear. Em fevereiro de 1939, Meitner finalmente publicou na Revista Nature a explicação física da fissão nuclear – termo cunhado por ela – demonstrando que a divisão do átomo de urânio libera uma enorme quantidade de energia. Meitner, no entanto, se recusou a colaborar no Projeto Manhattan, cujo objetivo era construir a primeira bomba atômica.
A descoberta da fissão nuclear rendeu a Otto Hahn o prêmio Nobel da Física em 1944, mas infelizmente Meitner foi ignorada pelo comitê. Na década de 1990, os arquivos da época foram abertos e, com base nas informações reveladas, inúmeros cientistas e jornalistas consideraram injusta a exclusão, fazendo com que Meitner recebesse uma série de honrarias póstumas. Em 1997, o elemento meitnério (Mt) foi batizado em sua homenagem.
Amalie (Emmie) Noether
De acordo com Albert Einstein, Pavel Alexandrov, Jean Dieudonné, Hermann Weyl e Norbert Wiener, a alemã Emmy Noether (1882 – 1935) foi a mulher mais importante da história da Matemática. Em uma época em que mulheres eram amplamente excluídas do meio acadêmico, Noether conseguiu aos poucos se infiltrar na área, até que em 1915 recebeu um convite de David Hilbert e Felix Klein para o Departamento de Matemática da Universidade de Gottingen, um renomado centro de pesquisa na área. Infelizmente, o corpo docente fez objeções à sua entrada e somente em 1919 o seu ingresso foi oficializado.
O trabalho de Noether foi fundamental para os campos da física teórica e álgebra abstrata. O teorema de Noether explicou a conexão entre a simetria na física e as leis de conservação, fazendo com que o seu trabalho fosse classificado como “um dos mais importantes teoremas matemáticos já provados a guiar o desenvolvimento da física moderna”.
Em 1932, Noether recebeu o prêmio Ackermann-Teubner Memorial Award por suas contribuições à Matemática – um reconhecimento considerado tardio do trabalho da matemática. Seus colegas também expressaram frustração por Noether nunca ter sido eleita para a Academia de Ciências de Gottingen ou promovida para a função de professora integral na Universidade.
Vera Rubin
Vera Rubin (1928 – atual) é uma astrônoma norte-americana cuja carreira nos dá um vislumbre dos obstáculos que mulheres enfrentaram na Ciência (e ainda enfrentam, em muitos casos). Depois de concluir o bacharelado na Vassar College, ela tentou ingresso na Universidade de Princeton, mas não conseguiu porque mulheres não foram permitidas no programa de graduação de Astronomia até 1975. Ela conseguiu, no entanto, concluir sua especialização na Universidade de Cornell, onde estudou Física com Philip Morrison, Richard Feynman e Hans Bethe.
Em 1951, Rubin foi a primeira a argumentar que as galáxias giram em torno de um centro desconhecido, ao invés de continuamente se expandirem, como era a teoria da época. Apesar de hoje serem comprovadas, suas ideias não foram aceitas por seus colegas. Mais tarde, em 1954, concluiu em sua tese de doutorado que as galáxias se aglomeram em grupos, ao invés de serem distribuídas de forma aleatória no universo. Essa teoria, também, só foi levada a sério duas décadas mais tarde.
Para evitar novas controvérsias, Rubin passou para o estudo pioneiro das curvas de rotação de galáxias espirais, descobrindo que a velocidade de rotação nas regiões externas destas galáxias é tão alta que elas se dispersariam se dependessem apenas da gravidade das estrelas e de toda a matéria visível dentro delas. De acordo com os cálculos de Rubin, deveria existir 50% mais massa nas galáxias do que somos capazes de observar. Essas observações foram recebidas com ceticismo na época, mas acabaram confirmadas nas décadas posteriores, e levaram à teoria da matéria escura.
Além de astrônoma respeitada, Vera Rubin é uma grande ativista e defensora de mulheres na ciência, apontando diversas discrepâncias de gênero em relação aos críticos e avaliadores de estudos científicos. Ela foi a primeira mulher a observar do telescópio Palomar (mulheres eram proibidas nesse observatório até então) e a segunda mulher a ser eleita à Academia Nacional de Ciências dos EUA.
Dorothy Crowfoot Hodgkin
Dorothy Crowfoot Hodgkin (1910 – 1994) foi a bioquímica britânica responsável por aperfeiçoar a técnica de cristalografia de raios-x – o método usado para determinar a estrutura tridimensional de biomoléculas. Com isso, ela conseguiu confirmar a estrutura da penicilina e descobrir a estrutura da vitamina B12, o que lhe rendeu o prêmio Nobel da Química, em 1964. Em 1969, depois de 35 anos de trabalho, Crowfoot conseguiu decifrar a estrutura da insulina.
A cristalografia de raios-x se tornou a principal ferramenta para determinar a estrutura de inúmeras moléculas, tendo sido crucial, inclusive, na descoberta da estrutura helicoidal do DNA (lembra? Rosalind Franklin tirou a foto que resolveu essa questão usando a cristalografia de raios-x). Além disso, seu trabalho com penicilina, vitamina B12 e insulina permitiram a modificação e síntese de novas variedades dessas substâncias, contribuindo para o tratamento de doenças e salvando inúmeras vidas.
Apesar disso tudo, Crowfoot foi impedida por anos de participar de reuniões do clube docente de química na Universidade de Oxford – onde ela era professora e pesquisadora – simplesmente por ser mulher.
Nise da Silveira
As contribuições da psiquiatra brasileira Nise da Silveira (1905 – 1999) à Psiquiatria começaram como resultado de uma punição: por não concordar com métodos agressivos de tratamento como eletrochoques, lobotomia e insulinoterapia, Silveira foi transferida para trabalhar na área de terapia ocupacional do Centro Psiquiátrico de Engenho de Dentro – atividade que era menosprezada pelos médicos da época.
Ao invés de se ater a tarefas tradicionais de terapia ocupacional da época, no entanto, Silveira criou ateliês de pintura e modelagem, com o objetivo de fazer com que os pacientes fortalecessem seus vínculos com a realidade através da expressão artística e da criatividade. Tal iniciativa – e outras que vieram depois – revolucionou a psiquiatria da época e a colocou em contato com Carl Jung, que incentivou e orientou e seus estudos. Silveira também foi pioneira na pesquisa das relações emocionais entre pacientes e animais.
Por seu trabalho, Silveira recebeu diversas condecorações, títulos e prêmios e foi membro fundadora da Sociedade Internacional de Expressão Psicopatológica (“Societé Internationale de Psychopathologie de l’Expression”), sediada em Paris.
Rita Levi-Montalcini
A italiana Rita Levi-Montalcini (1909 – 2012) foi a neurobióloga que descobriu o fator de crescimento nervoso (NGF), uma proteína de secreção interna que funciona como molécula de sinalização entre os neurônios e é importante para o crescimento, manutenção e sobrevivência de células nervosas. A descoberta foi fundamental para pesquisas relacionadas ao mal de Alzheimer e a doença de Huntington e lhe rendeu o prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia em 1986. Seus estudos do sistema nervoso lhe renderam também vários outros prêmios.
Em 2009, completou 100 anos de idade e se tornou a primeira vencedora do Nobel a alcançar um século de vida.
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