5 Coisas Simples que Mulheres Hesitam em Fazer por Medo de Assédio
De pequena em pequena liberdade, as mulheres perdem muito por medo de assédio.
No começo de 2014 uma mulher sofreu uma tentativa de estupro dentro de um metrô lotado na cidade de São Paulo. Com a barbaridade da notícia, veio à tona finalmente todo o assédio (velado ou não) que as mulheres enfrentam diariamente no transporte público por parte de homens imundos que tiram fotos de decotes, bundas e calcinhas, encoxam, apalpam e roçam suas partes íntimas em mulheres desavisadas. Além do ato abusivo em si, os assediadores ainda criam sites e páginas em redes sociais para postar as fotos e contar os “feitos do dia”. Algumas dessas páginas contam com milhares de seguidores.
Então você gosta de abusar de mulheres no metrô? Bem, eu gostaria de empalar pervertidos nesses longos e farpentos pedaços de pau, mas isso não significa que eu posso, não é?
Revoltada, me peguei refletindo sobre essa situação absurda e sobre todas as pequenas coisas de que nós, mulheres, somos privadas de fazer no nosso cotidiano por medo de sofrer algum tipo de abuso – como ficar tranquila dentro de uma droga de trem, por exemplo. O problema é que todas as mulheres já ouviram histórias o suficiente para saber que qualquer assédio, por menor que seja, além de ofender e agredir, pode acabar se tornando um estupro. Por isso nós tentamos evitar ao máximo qualquer comportamento que possa dar margem à liberdades por parte de homens na rua. Isso acaba, por sua vez, nos privando de algumas liberdades pequenas e simples. Entenda, não é que nós não possamos fazer essas coisas. O grande problema é o medo do que pode acontecer. E é por isso que, na maioria dos casos, uma mulher pensa duas, três, quatro vezes antes fazer coisas simples como…
Ser simpática com homens desconhecidos na rua
Na maioria das vezes, nada de mais vai acontecer se você cumprimentar aquele homem que sempre encontra durante sua caminhada diária com o cachorro, ou o gari que está sempre varrendo a avenida perto da sua casa. Na maioria das vezes, eles vão só responder bom dia de volta e voltar às suas atividades. No entanto, vez ou outra, em resposta à sua boa educação, você vai receber um olhar lascivo de volta, ou um sorrisinho safado, ou um bom dia cheio de energia sexual contida. E por mais inofensivas e abstratas que sejam essas reações, elas sempre assustam e fazem com que a gente acelere o passo.
Aquele momento em que você percebe que cometeu um grande erro.
Quando isso passa a acontecer muitas vezes, você começa a se perguntar se vale mesmo a pena ser simpática. Eu não consegui deixar de tentar ser simpática com estranhos que sempre encontro na rua, mas sempre rola uma certa apreensão e, muitas vezes, após uma breve avaliação do indivíduo, eu simplesmente o ignoro. Eu já cheguei a passar 4 anos morando em um lugar sem nunca ter cumprimentado um grupinho de taxistas por que passava todos os dias, porque um dia vi um deles dando um olhar lascivo para uma mulher que passava de minissaia e comentando grosseiramente com o colega ao lado. Meu namorado da época sempre os cumprimentava com familiaridade. Mas eu perdi a prática e as vantagens da boa vizinhança por medo (e nojo). Parece pouco, mas é uma pequena liberdade que se vai e a gente nem percebe.
Sair de casa vestindo o que quiser, independente do destino e do meio de transporte escolhido
Nós lutamos pelo direito de vestir o que quisermos há tanto tempo, mas parece que sempre perdemos a batalha. É sempre o velho discurso: oras, claro que o cara passou a mão em você! Vestida desse jeito! O discurso dói e constrange, mas dói mais ainda ter de aceitar que aparentemente homens são animais descontrolados – e o são com aval da sociedade. Claro que nós temos que lutar pelos nossos direitos e claro que uma saia curta nunca poderia justificar um estupro. Mas estupros acontecem mesmo assim.
Quando eu estava na faculdade, eu usava as roupas que queria para ir ao lugar que bem entendesse. Um dia, no entanto, enquanto esperava o ônibus em um ponto super movimentado da avenida Paulista usando uma minissaia em pleno sábado no auge do verão, eis que sinto que tem alguém me observando. Quando procuro instintivamente o dono do olhar, qual não é o meu choque ao constatar um homem sentado em uma muretinha atrás do ponto, olhando fixamente para mim e batendo uma punheta em minha homenagem. Aquilo me deixou tão ofendida e tão enojada que nunca mais voltei a usar saia ou short no ônibus ou no metrô. Era mais um pedacinho da minha liberdade que eu estava perdendo sem mesmo perceber. Não é que eu ache que eu provoquei aquilo com a minha minissaia. É só que eu não quero passar por isso de novo.
Mandar algum mala grosseiro na balada ir pastar
…por mais grosseira que a cantada dele tenha sido. É muito comum em baladas uma mulher ser encurralada por algum cara mala, ou ter que lidar com algum nojento que decide que você deveria agradecer o fato de ele ter escolhido a sua bunda para passar a mão. É mais comum ainda ver o indíviduo ficar repentinamente surpreso, ofendido e agressivo quando você não fica agradecida pela atenção que ele está lhe dando. Basicamente, o cara se transforma de safado-rei-do-xaveco a machão-injustiçado.
Como assim eu não faço o seu tipo?
Quando adolescente, tive a infelicidade de ser perseguida a noite inteira na balada por um mala peguento que não aceitava minhas negativas educadas. Quando me irritei de verdade e mandei o cara me deixar em paz, fui brindada com uma série de xingamentos agressivos e obscenos, tanto por parte dele como de seus amigos, que se juntaram em defesa do “injustiçado”. Vai então, sua vaca, frígida!, entre outras frases ofensivas e um empurrão. Em outras ocasiões, observei o mesmo tipo de palhaçada acontecendo com as minhas amigas. E conforme fui crescendo, percebi que esse era o tipo de coisa que invariavelmente acontecia com todas as mulheres e até tomava tons realmente violentos em alguns casos – como no caso da garota que teve o braço quebrado por um cara que não aceitou bem a rejeição.
Aos pouco, eu e minhas amigas fomos entendendo a dinâmica das interações na balada e aprendendo a não acabar a noite se sentindo como um monte de merda. Aprendemos a nunca andar sozinhas. Inventamos gestos que deveriam servir como sinais para pedir reforços umas às outras, caso a importunação de algum cara não fosse bem-vinda. Inventamos nomes e números de telefone falsos para dar aos malas, para que eles fossem embora sentindo que ganharam alguma coisa. Basicamente, para que não nos agredissem, física ou verbalmente. Hoje em dia, faço tudo isso sem nem pensar. Ao invés de mandar o cara que me encurralou na saída do banheiro tomar bem no meio do cu dele, que é o que eu realmente tenho vontade de fazer…
…seguido disso…
…eu sorrio gentilmente me desvencilhando e anuncio que estão me esperando para logo em seguida ser resgatada por umas duas amigas fiéis que já estavam por perto de plantão. Talvez ele baixasse a bola se eu fosse mais incisiva. Talvez. Mas eu não quero correr o risco de ser xingada ou agredida ou forçada a fazer alguma coisa. Eu não quero passar por isso de novo. Por isso eu uso estratégias e sou obrigada a sorrir lisonjeada e me esquivar quando na verdade estou irritada e amedrontada. Eu e mais um batalhão de outras mulheres. E é mais uma pequena liberdade que se vai.
Olhar quando alguém chama na rua
Parece realmente idiota, mas recentemente meu marido comentou comigo que eu devo andar realmente distraída pela rua, porque a tia dele já tinha passado por mim duas vezes naquela semana e buzinado e eu não tinha nem olhado. No começo eu fiquei pensando que eu devia estar realmente distraída e me senti meio mal por ter sido tão antipática. Mas aí comecei a pensar sobre isso e cheguei à conclusão que nunca olho quando alguém assovia para mim, chama sem ser pelo meu nome ou buzina. E vasculhando minha memória desde os meus 12 anos até agora consegui entender porque isso acontecia. Simplesmente porque, quando alguém chama na rua, as chances de ser alguém realmente conhecido são ínfimas comparadas às chances de ser um pervertido qualquer com alguma cantada obscena na ponta da lingua.
E essa cara.
Então eu nunca olho, correndo o risco de parecer extremamente antipática para algum conhecido. Eu e mais um batalhão de mulheres. E é mais uma pequena liberdade que se vai e a gente nem percebe.
Conversar com trabalhadores de construção civil na rua
Ok, esse item é bizarro, mas vou explicar. Sempre me intrigou muito o fato de o meu marido saber tanta coisa em relação a ferramentas, construção, encanamentos, fiação elétrica, mecânica – enfim, tudo que é tipicamente considerado como “coisas de homens”. Ele tem mais ou menos a mesma idade que eu, formação e interesses muito parecidos, mas por algum motivo sabe muito mais do que eu como todas essas coisas funcionam. Um dia desses, depois de ele demonstrar algum conhecimento particularmente absurdo sobre o conserto de alguns canos aqui de casa eu explodi: mas como é possível que você saiba uma coisa dessas? onde raios você aprendeu isso?! Ele parou para pensar um pouco e disse: ah…eu sempre perguntei muito. Sabe, para caras trabalhando em obras na rua. Para o faz-tudo do prédio…Tinha uma obra do lado do escritório durante muito tempo e eu ia lá fuçar de vez em quando…
Claro, eu sei que esse não é o caso de todos os homens, e eu sei muito bem que eu não sei quase nada dessas coisas por falta de interesse mesmo ou até porque essas coisas sempre foram consideradas de interesse masculino e eu sou menina (da mesma forma que eu sei muitas coisas sobre como tratar as unhas, enquando meu marido não sabe nada – mas essa é outra discussão). Mas a resposta dele me intrigou. Porque se eu tivesse interesse em como se faz a fundação de um prédio eu procuraria saber mais através da internet ou de livros. Nunca que eu iria futricar na obra que está rolando do lado da minha casa. Isso porque nós, mulheres, temos um medo patológico de operários de obras. E isso se explica por anos de assédio verbais dessa classe de trabalhadores que todas nós tivemos que ouvir desde o momento que nossos seios começaram a aparecer por baixo do uniforme da escola (é fato que homens em grupo se sentem mais corajosos para falar merda para mulheres na rua – sejam eles operários de obras, sejam executivos de escritório). Mulheres não decidem simplesmente parar na rua para trocar uma idéia com um mestre de obras sobre o melhor tipo de telha para aquela construção. Não que eu ache que uma conversa assim seria impossível. Mas eu não consigo deixar de pensar: E se ele achar que você está afim? E se os colegas dele fizerem algum comentário desagradável? E se depois a desculpa dele for “mas ela estava dando bola, poxa!”. Melhor não arriscar. E mais uma pequena liberdade, a de falar com quem quiser sem medo, de buscar informação, de fazer amizades com pessoas diferentes – tudo isso se perde, entre tantas outras pequenas liberdades que se vão todos os dias sem que a gente se dê conta.
Lembrou de alguma outra coisinha simples que você deixa de fazer por medo de assédio? Compartilha aí embaixo, nos comentários!
*publicado também em obvious e Ano Zero
Leia também sobre os estereótipos femininos que Hollywood precisa parar de usar; sobre as propagandas absurdas do passado (e seus pares absurdos atuais); sobre linguagem corporal e as relações de poder entre homens e mulheres; e sobre a história secular da propaganda antifeminista.
Guilherme
March 4, 2015 @ 2:48 pm
Gostei da parte que você falou de seu marido e conhecimentos adquiridos perguntando.
Realmente é muito legal poder conversar com pessoas diversas e obter mais conhecimento! Sempre se acha um ou outro de bom humor no dia-a-dia, disposto a trocar dois dedos de prosa hehe.
Eu mesmo queria fazer mais isso. Às vezes tenho vergonha ou penso que a pessoa não vai responder. Mas aí penso no outro lado. Acho que se quando eu exercer uma função profissional mesmo vou gostar bastante que as pessoas interajam comigo e que eu possa compartilhar conhecimentos. Acho que rola um pouco dessa expectativa por parte de (alguns) professores universitários, por exemplo, que gostariam de ouvir mais perguntas e ver mais participação de alunos em suas aulas…
Nikole
July 12, 2015 @ 5:12 am
o mais engraçado de tudo é culparem nós mulheres pelo estrupo e abuso !
E sobre a liberdade, eu nunca tinha parado pra pensar nisso, mas quando eu estou na rua me desligou completamente, automaticamente evito passar perto de homens e ignoro qualquer chamada
Lara Vascouto
October 3, 2015 @ 10:40 pm
Pois é, Nikole. O medo se entranha de um jeito que muda o nosso comportamento e a gente nem percebe. Obrigada pelo comentário!
Kesley Géssica
October 3, 2015 @ 1:53 pm
Olá, adorei seu post, estava realmente procurando isso! Hoje vou ao cinema, e quero muito sair de short e bota, mas como vou de bus, e trem sozinha, tenho muito medo! Olha o meu pensamento!! Tivemos que nos adequar ao pensamentos e atitudes deles.. a gente que se lixe… Até quando passaremos por isso? Eu realmente penso 2 vezes ao querer ter uma filha só para viver estes absurdos que passamos.! Bjs e muita proteção e paciência para nós.
Lara Vascouto
October 3, 2015 @ 3:09 pm
Pois é, Géssica! É difícil, mas espero que falando sobre isso as coisas mudem. Obrigada pelo comentário! Beijo!
Lara Vascouto
October 3, 2015 @ 10:49 pm
Também acho, Guilherme! É uma interação muito útil e necessária, mas infelizmente mulheres correm um risco muito maior do que passar vergonha. Vamos mudar isso! Obrigada pelo comentário!
Evelyn Barcelos
March 7, 2015 @ 11:47 pm
Adorei o texto. É triste pensar em todas as coisas que perdemos por sermos mulher. Todas nós passamos por situações, no mínimo, desagradáveis todos os dias.
Acho que uma das coisas que mais me irritam é “não poder” sair à noite sozinha. Morro de medo ser atacada por algum maluco, o que pode acontecer mesmo estando em grupo mas que é mais provável quando se está sozinha.
Isso de “não poder” conversar com as pessoas (homens) também é muito chato. Não se pode ter uma conversa normal e amigável que o cara já acha que você está dando mole ou mesmo dando em cima. Lembro de uma vez que um cara sentou ao meu lado no ônibus e me perguntou alguma coisa sobre o lugar que ele queria descer. Respondi o mais educadamente possível e ele continuou conversando. Só sei que quando descemos no terminal ele segurou a minha mão e não queria me deixar sair até que eu passasse meu telefone. Fiquei bem nervosa e ameacei gritar, só assim ele me soltou. Triste.
Lara Vascouto
October 3, 2015 @ 10:47 pm
É como se eles achassem que a gente deve alguma coisa pra eles, né? Affe. É muito revoltante. Obrigada por dividir sua história, Evelyn! Abraço!
Heloisa
March 8, 2015 @ 4:59 pm
Gostei bastante do texto e infelizmente passamos por esse tipo de situação com muita frequência. Lembrei de outra coisa simples, quando um grupo de homens fecha uma passagem de ambos os lados de forma que todo mundo tem de passar no meio e você sabe que esta sendo analisada e o sentimento de insegurança., principalmente se estiver sozinha. =(
ana
May 1, 2015 @ 1:31 am
caaaaara… “nao poder”…. sempre ter um homem com vc se for sair à noite… caaara… isso é errado em tantos níveis que eu prefiro me alienar e fingir que nao é comigo!! kkkkk triste realidade!
Lara Vascouto
October 3, 2015 @ 10:43 pm
Sim, é MUITO errado, Ana. Vamos mudar isso! Obrigada pelo comentário!
Lara Vascouto
October 3, 2015 @ 10:44 pm
Nossa, isso é horrível. O pior é que em bando eles ficam mais corajosos e as chances de fazerem alguma coisa é maior. Obrigada pelo comentário, Heloisa!
Marianna Straccialini
April 13, 2015 @ 3:57 am
A questão, principalmente em decorrência a essas coisas “ditas de homens” é que não temos nem o espaço e a liberdade pra ir lá e simplesmente conversar. Minha mão é MUITO faz-tudo, desde pequena moramos só entre mulheres e é ela quem troca o chuveiro quando queimar, que instala não sei o que se precisar, que arruma o cano e até ergue parede – sem brincadeiras. Ela tem muitos amigos homens e muitos amigos que fazem esse tipo de trabalho e tem liberdade com eles pra aprender, além de ser uma fuceira e ir aprendendo sozinha…
Mas então ela me pede pra ir até a casa de construção pra comprar uma coisa pra ela e EU ME SINTO MAL só de ENTRAR no estabelecimento e ser olhada como uma criatura de outro planeta devorando a cabeça deles. Aí eu sou ultra mal atendida, praticamente falam “aqui não é o seu lugar, dê o fora”, e quando eles me informam que não tem o que eu preciso e eu pergunto “você sabe onde eu posso achar?” é como se eu cuspisse ácido na cara deles enquanto falo e eles me respondem como se eu tivesse alguma deficiência mental e não fosse entender nada do que eles estão dizendo. Então… infelizmente nessa parte, além de todas as outras estarem corretíssimas, não temos a liberdade pra conversar e aprender com essas pessoas.
Lara Vascouto
April 16, 2015 @ 2:40 pm
Também já passei por esse tipo de situação em loja de construção, viu, Marianna. Detesto isso. Obrigada pela sua contribuição!
ana
May 1, 2015 @ 1:33 am
Não consigo nem expressar o quanto me identifiquei com essa de ser tratada como uma retardada!! kkkkk
Vera
May 30, 2015 @ 1:07 am
Lara, isso é muito chato e eu gostaria de pensar que é diferente onde moro, que é uma cidade pequena. Sim, é mais seguro pois as pessoas se conhecem, ao menos de dia. Mas não deixo minha filha andar sozinha a noite, não gosto que ela coloque roupas provocativas, tenho medo sim! E pensar que já fui jovem e tão contra tudo isso! Dizia para o meu pai que era errado julgar a pessoa pela roupa, etc, etc. Ainda penso assim, mas hoje sei o quanto pesa a roupa que você usa, dependendo do lugar. É questão de segurança e ponto.
Lara Vascouto
October 3, 2015 @ 10:42 pm
Não pode ser assim, né Vera? Precisamos falar mais e mais sobre isso, porque as coisas precisam mudar. Obrigada pelo comentário! 🙂
Ana Ronqui
June 14, 2015 @ 4:14 am
Odeio o fato de amo viajar, conhecer novos lugares e viver a vida fora das selvas de concreto. Odeio simplesmente porque não posso fazer isso da maneira que quero. Que é colocar uma mochilas nas costas, agarrar a minha câmera e andar por aí sozinha, apenas eu, Deus e minhas fotos. Não posso fazer isso porque tenho medo de que se pedir carona irão me estuprar, porque tenho medo de pedir informações para desconhecidos e eles acharam que na verdade estou dando mole para eles! Isso é um absurdo, e eu queria tanto me livrar desses medos e viver a minha vida da maneira como quero, mas não posso, porque quem decide como devo viver a MINHA vida é a nossa sociedade machista e arcaica.
Lara Vascouto
October 3, 2015 @ 10:41 pm
Exato, Ana. Não poder colocar a mochila nas costas e viajar sozinha pelo país é uma coisa que me deixa muito frustrada também. Obrigada pelo comentário!
Kion
July 28, 2015 @ 3:56 pm
O que vc chama de liberdade é o controle do comportamento dos outros! Que nojo! -A-
Lara Vascouto
July 31, 2015 @ 9:59 am
Kion, o que é mais “controle do comportamento dos outros”? Um cara não poder intimidar mulheres na rua ou uma mulher não poder ANDAR NA RUA sem sentir medo por causa desse cara?
Mariana Guimarães
August 13, 2015 @ 5:52 am
Concordo totalmente, principalmente na parte das roupas e de conversar com alguém que mexa em construção. Já perdi a conta de quantas vezes pensei duas vezes antes de colocar uma saia ou um short, vivo em um lugar com vários casos de violência contra mulher, ao ponto que casos de estrupo são totalmente comuns, e como a culpa por um ato desumano desse “é da roupa da mulher” causa medo de sair com algo mais curto. Outra coisa que foi difícil de lidar foi quando decidir fazer curso técnico de edificações, meus pais perguntaram se era realmente o que eu queria, porque trabalhar com pedreiro é muito complico, principalmente para uma mulher, e por isso quase perdi a oportunidade de fazer um curso que adoro. Sem contar que muitos homens, até mesmo parentes, me olham surpresos quando me veem falando de obra.
Não devia mais ser assim, mas muitas vezes para nós mulheres (e até para os homens) fazermos o que queremos, temos que dar a nossa cara a tapa para enfrentar o machismo.
Lara Vascouto
August 13, 2015 @ 5:02 pm
Oi Mariana! Que bom que você conseguiu fazer o curso que queria! Aos poucos a gente vai conseguindo mudar essa história (espero). Obrigada pelo comentário!
Carolinne
December 23, 2015 @ 3:05 am
Alem das situaçoes citadas na postagem, tambem tenho medo de entregadores (motoboys, correio…), ficar no ponto de onibus quando nao ha mulheres ou a noite (ser assaltada é menor medo), festas onde tem muitas bebidas em sitio, casas ou republicas de pessoas nao intimas, arrecadores ou pedintes de alimentos, agentes da dengue ou qualquer estranho homem que bata no portão, principalmente quando estou sozinha, as vezes finjo que nao tem ninguem em casa pra fugir disso e a pessoa ir embora. Uma coisa que me assustou muito recentemente, ocorreu por volta de umas 19h e eu estava sozinha em casa, quando tocaram a campainha e eu respondi perguntando quem era, ouvi a voz de homem dizendo “eu sou da claroTv e vim atualizar a antena”, eu estranhei pq nao tenho mais a assinatura da clarotv, porem ainda tenho a antena instalada visivelmente no meu telhado. Disse que nao o atenderia pq o responsavel da assinatura nao estava e era pra ele voltar outra hora, porem o homem continuou tocando a campainha incansavelmente, chamando por “moça” e batendo no portao. Fiquei tao assustada, que logo procurei a maior faca que achei e meu celular, e me tranquei dentro de casa. E so retornei as atividades que estava fazendo quando verifiquei que realmente o homem tinha ido embora.
Pode ser bobo para muitas pessoas (homens), mas isso é um medo diario.
Arya
February 5, 2016 @ 6:51 pm
Gente, é triste isso aí tudo. Bem que eu queria que as coisas fossem perfeitas, e que não houvesse nenhum tipo de ameaça, que não houvessem esses perigos, o ideal era que ninguém precisasse se privar de suas liberdades individuais por medo de algum tipo de agressão, qualquer que fosse ela, e no caso de nós mulheres isso é muito mais expressivo, principalmente por causa da nossa estrutura corporal mais frágil como também pela cultura horrorosa em que nós vivemos. Mas como isso é só sonhar, eu penso que o que podemos fazer, além de tentar mudar essa realidade, é continuar tomando precauções, educar nossos filhos pra aprenderem a respeitar e amar o próximo(inclusive ensiná-los a abominar essas coisas) e no mínimo se manter em boa forma física e saber o suficiente de defesa pessoal ou artes marciais pra ter como escapar ou se defender desse tipo de agressão. Não me levem a mal, eu ficaria muito feliz se todas as mulheres soubessem pelo menos o básico de boxe pra nocautear o sujeito ou jiu jitsu/judô pra ter como escapar de possíveis agarrões. Só lhes digo pra não sonharem muito pois duvido que uma mudança de pensamento ou de cultura de uma sociedade vá realmente fazer com que esse tipo de violência suma, não acho que as campanhas e tentativas de conscientizar façam muita diferença, pois a humanidade é podre e corrompida, no final das contas o que a humanidade faz é fingir que criou um conceito novo enquanto continua praticando os mesmos atos odiosos por debaixo dos panos ou por outros meios. A criatividade humana para o mal é ilimitada!
Arya
February 5, 2016 @ 7:00 pm
Caroline, isso que você passou foi muito tenso!! Eu creio que teria feito a mesma coisa, exceto que eu teria dito que não tinha mais essa assinatura de TV, que ele estava equivocado e que fosse embora, acho que ele teria desistido logo ao ver que a farsa caiu, mas sempre há a possibilidade que isso não acontecesse né, e sim, eu teria me trancado também e teria pego uma faca também.
graci
February 16, 2016 @ 1:33 pm
olhar quando alguém te cham na rua.
parece brincadeira, mas é a mais pura verdade.
passei por duas situações assim semana passada!
nunca vou entender de onde saiu esse ser, que se acha macho, e resolveu caminhar pelas ruas assediando quem passe.
eu estava tranquilamente voltando para casa quando ouvi um Psiu. Não sei por que mas sou muito desligada quanto estou caminhando. não poucas vezes encontro amigos e amigas que reclamam que me chamaram na rua e eu não notei. mas dessa vez era dia e a rua estava quase vazia. e instintivamente virei a cabeça na direção do som e um rapaz de bicicleta lançou uma cantada tosca e obscena.
virei o rosto na mesma hora e ouvi ele insistindo no Psiu para no final me blindar com uma frase tão idiota e obscena quanto a primeira.
🙁
no segundo caso eu estava com uma amiga e passou um homem que desandou a falar besteiras obscenas. a cena foi tão irreal que nem me liguei nas palavras dele depois da primeira que ouvi.
quanto as outras situações, só posso dizer que, infelizmente, estamos longe de uma sociedade ideal.
ouvir – na época que isso “bombou” – que uma mulher usando roupas curtas esta pedindo pra ser violentada foi um choque, pra depois uma revolta para mim.
nós, mulheres, não saímos apalpando homem de sunga na praia nem homem bonito no metro.
se podemos “resistir a essas tentações”, por que eles não podem?
Amanda
May 7, 2016 @ 5:18 pm
No andar de baixo da minha casa tem uma barbearia que vive cheia de homens. Evito ao máximo sair de casa e quando vou sair, seja pra onde for, fico decidindo qual roupa chama menos atenção. Minhas amigas passaram a evitar me visitar por causa disso também. Eu já exigi a eles que não me assediassem, mas é muito difícil lidar com isso.
Anna
June 19, 2016 @ 5:06 am
É uma pena mesmo o assédio, eu já fui assediada por homens e mulheres também! Por mulheres duas vezes, uma no shopping e outra no ônibus, no ônibus foi o pior! ela ficava me abraçando e me pegando, uma das piores experiências que eu já tive, eu não via a hora de descer do ônibus e tomar um bom banho depois.
Lindsay Martins
February 16, 2017 @ 1:18 am
É muito complicado pra mim pensar em colocar um short, uma saia, um vestido, uma blusa de alça por medo de ser assediada… Até bijuteria e perfume eu suspendi. Agora que estou tentando sair de bermuda e camisa e, enquanto não tenho experiências ruins, ok. Tento ver o que as moças na rua usam pra ficar despreocupada.
Admiro muito as amigas da faculdade que conseguem colocar shortinho, vestido, blusa etc. Não consigo me sentir bem de usar sozinha. Infelizmente, só me sinto segura de usar se eu estiver com o meu marido… Pensar assim me faz sentir mal, porque só reforça o machismo; ao mesmo tempo, é pra minha segurança. 🙁
Lara Vascouto
March 31, 2017 @ 1:00 pm
Super te entendo, Lindsay. 🙁
Ana
July 13, 2017 @ 5:11 am
Madrugada e eu aqui devorando os seus textos enquanto tento superar a cólica (acredita que ela passou, coincidência? eu acho que não haha :v). E de tantos que eu li e super me apaixonei, esse foi um dos que falaram mais forte comigo justamente por ser algo tão recorrente na minha vida e de tantas outras mulheres que conheço – e que eu não conheço também. Eu pego trem e metrô para ir pra escola desde os treze anos (agora tenho 15), e até hoje do caminho da estação para minha casa passo em frente a uma tapeçaria cujo dono (um homem de meia idade e muito bizarro) sempre me cumprimentava com um tchauzinho amigável – e eu, ingênua, respondia. Até que ele perguntou meu nome um dia, me chamou para conversar no outro, até que uma vez ele veio com umas conversas estranhas falando que eu era linda, se eu já tinha namorado e falando que se eu quisesse eu poderia beijar ele (???) E outras coisas muito constrangedoras aconteceram enquanto eu trava paralisada, sendo educadinha enquantk falava que precisava ir pra casa. Nunca tinha entendido porque agi daquela forma, até agora. O medo de que se eu expressasse revolta na hora, ele pudesse ser mais repugnante, era maior. aquilo nunca tinha acontecido antes, e hoje sempre verifico se ele está na ponta da loja pra passar correndo do outro lado da calçada antes que ele me note. Só contei isso muito tempo depois pra uns amigos, e a única que me deu atenção foi minha amiga, enquanto os dois outros pararam de ouvir como se não fosse nada, o que confesso que no fundo também tinha me chateado. perdão pelo textão e o desabafo, mas obrigada por toda a segurança e consolo que você proporciona entre muitos outros sentimentos com seus textos e sua indignação. é uma pena que nesses casos, a força de ação imediata seja velada pelo medo.
Parabéns pelo blog, pela pessoa incrível que você demonstra ser e por abrir meus olhos e os de tanta gente para assuntos tão relevantes! Sucesso ^.^