#ILookLikeAnEngineer – A Campanha que Mostrou a Cara de Mulheres Engenheiras

“Ela não parece uma engenheira”, disseram milhares deles. Foi então que Isis Wenger resolveu convocar suas colegas de profissão para dar um basta nessa história de que mulheres não podem ser engenheiras.  

Há um tempo atrás assisti a uma TED Talk com a engenheira Debbie Sterling, responsável pela criação de uma linha de brinquedos desenvolvidos especificamente para despertar o interesse de meninas em engenharia e resolução de problemas.

Essa aqui, lembra?

 

Nela, Sterling fala sobre a dificuldade que enfrentou como mulher para se tornar uma engenheira, principalmente por causa da noção socialmente construída de que mulheres não são tão boas em exatas como homens, e de que a engenharia seria uma profissão “de homem”. O que Sterling percebeu – não só por experiência própria, mas também através de vários estudos e estatísticas – foi que isso faz com que muitas meninas sejam desencorajadas de se tornarem engenheiras, o que acaba perpetuando a desigualdade na área. Afinal, por causa disso (e do descrédito, assédio e intimidação que muitas mulheres engenheiras sofrem) homens ainda são a maioria dos engenheiros em todo o mundo.

Nos EUA, apenas 11% dos engenheiros são mulheres. Além disso, engenheiras de software no Vale do Silício – onde as gigantes da tecnologia estão – ganham 12% menos do que homens na mesma função. A mesma desigualdade se observa na Ciência, Tecnologia e Matemática (STEM).

 

Recentemente, tivemos um exemplo bem claro de como é forte o estereótipo que classifica mulheres como incompatíveis com engenharia. Tudo começou quando a empresa OneLogin lançou uma campanha de recrutamento de novos talentos com fotos de cinco de seus próprios funcionários. Uma delas retratou a engenheira Isis Wenger, na propaganda abaixo:

“Meu time é ótimo. Todo mundo é inteligente, criativo e muito engraçado.”

 

Normal, certo? Bem, não de acordo com milhares de pessoas que viralizaram a propaganda com comentários negativos como:

“Isso não é realista”

“Ela não parece uma engenheira”

“Totalmente implausível”

“Engenheiros não são assim”

“Acho que querem atrair mais mulheres com essa propaganda irrealista, mas desse jeito só vão atrair homens”

Pois é.

 

Mesmo assustada e odiando toda o rebuliço e atenção que a propaganda atraiu para si, Wenger aproveitou a oportunidade para escrever sobre como o machismo é arraigado na engenharia, comentando sobre o assédio e intimidação que recebeu muitas vezes apenas por não corresponder às expectativas da sociedade em relação a como seria um engenheiro.

Rapidamente, o texto se espalhou e centenas de mulheres começaram a compartilhar suas próprias experiências como engenheiras no projeto Everyday Sexism, evidenciando todo o assédio e intimidação que elas sofrem simplesmente por serem mulheres (além do desencorajamento que jovens meninas que tem interesse em ingressar na área experimentam):

“As primeiras palavras do diretor pra mim, na frente de todo o meu time, foram: ‘Ah, você é a garota’. Eu levantei e respondi simplesmente: ‘Não, eu sou a engenheira de computação mais graduada que esta empresa tem na Europa’. Algumas semanas mais tarde, me pediram para organizar um happy hour para o time, em um clube de striptease”.

“Eu informei um colega que uma nova engenheira tinha começado no nosso escritório e ele perguntou ‘Ela tem barba?’”.

“Sou engenheira civil e sempre acham que sou a secretária. É de dar engulhos, pra ser sincera, depois de quase 15 anos na área eu só penso em desistir”.

“O primeiro dia de trabalho como engenheira civil depois de formada quase me fez repensar toda a minha escolha de carreira. Logo de cara o meu chefe insistiu em encontrar para mim um capacete rosa e uniforme de campo rosa. Sério?”

“Uma vez, em uma entrevista de emprego, o engenheiro senior me perguntou como eu reagiria se sujasse minhas lindas unhas de barro”.

“Um professor me disse: ‘Você poderia ser uma engenheira, mas não de verdade. Brincadeira. Mas você sabe o que eu quis dizer’. Mais tarde ele disse: ‘É que não é muito provável, porque você é menina’”.

“A reação geral, tanto da parte de homens como de mulheres, quando eu conto que estou estudando engenharia mecânica é sempre ‘Mas você é uma menina, não é muito sujo pra você?’”

“Minha colega de apartamento estuda engenharia. Um dos seus professores disse às mulheres em sua aula que não sentassem na primeira fileira porque ele conseguia sentir o cheiro da menstruação delas e isso “o distraía”.

Está comigo ainda? Não se atirou pela janela?  Que bom, porque acho que você vai se sentir melhor com o que vem a seguir. Porque além de Wenger denunciar o machismo em sua profissão, ela ainda convidou os leitores a ajudar a redefinir a imagem de profissionais da engenharia através da hashtag #ILookLikeAnEngineer (tradução: #EuPareçoUmEngenheiro).

O resultado foi estrondoso. Em menos de duas semanas, a hashtag já tinha mais de 75.000 tweets, com a adesão massiva de mulheres engenheiras que sofrem discriminação por não se encaixarem no “molde”.

Abaixo você confere algumas dessas postagens. Boa inspiração!

Isis Wenger, na foto que lançou a campanha. “Eu ajudo a desenvolver softwares empresariais”.

 

“Sou a líder da equipe de web da @digitalocean e amo falar em conferências. E também, cupcakes.”

 

Me formei na faculdade de Ciência da Computação e Engenharia Elétrica da MIT e realizei pesquisa em Aprendizado de Máquina na ASIMO. #ILookLikeAnEngineer

 

“Pretendo estudar engenharia de conceitos na Universidade de Princeton.”

 

“#EuPareçoUmEngenheiro porque sou uma”

 

A MIT  (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) também entrou na campanha com este tweet mostrando algumas faces das engenharia na instituição.

 

“Coloquei Java, C#, Ruby, Golang, JavaScript e um bebê em Produção esse ano. #ILookLikeAnEngineer”.

 

“Sou do Benim, na Africa Ocidental. Sou negra. Tenho cabelo curto e sorrio bastante. #ILookLikeAnEngineer”.

 

“Escalando montanhas e resolvendo problemas. Nada demais. #ILookLikeAnEngineer”.

 

“Trabalhando na prova de conceito da minha startup – @astral_ar drone de realidade aumentada. #ILookLikeAnEngineer”

 

“Nós projetamos linhas de força de distribuição. #ILookLikeAnEngineer”

 

“Feliz por ser uma estagiária na NASA! #ILookLikeAnEngineer”

 

“#ILookLikeAnEngineer, UTK BS Engenharia Mecânica”

 

“Selfie com o meu microscópio gigante no laboratório. #ILookLikeAnEngineer”.

 

“A caminho de um trabalho hoje de manhã. Selfie na van era necessária #ILookLikeAnEngineer”

 

Leia também a resposta de mulheres cientistas a comentário machista do Nobel Tim Hunt; Mulheres na NASA – A História que Ninguém Conta; e Por que mulheres deixaram de ser destaque na computação.