Mulheres na Guerra: 5 Heroínas Incríveis da 2ª Guerra Mundial
Os heróis da Segunda Guerra Mundial não foram todos homens.
Krystyna Skarbek
A polonesa Krystyna Skarbek foi uma das primeiras mulheres a servir como agente britânica na Segunda Guerra Mundial, tendo se alistado meses antes da fundação da Executiva de Operações Especiais (a SOE – criada em 1940 por Winston Churchill com o objetivo de promover sabotagem e espionagem atrás das linhas inimigas).
Inicialmente, Krystyna foi enviada para a Hungria para operar uma rede de espionagem que contrabandeava relatórios de inteligência de guerra e protótipos de armas para o Reino Unido. Mais tarde, Krystyna convenceu o esquiador olímpico polonês Jan Marusarz a atravessar com ela as montanhas Tatra em temperaturas de -30°C para contactar outros agentes e grupos de resistência na Polônia. Em 1941, Krystyna foi descoberta e presa pela Gestapo, mas a história não pára por aí. Em um golpe de brilhantismo, Krystyna mordeu a própria língua e começou a tossir sangue, bradando a plenos pulmões sobre a infelicidade que era ela se tornar prisioneira de guerra justo quando estava sofrendo de tuberculose. Não querendo arriscar a sorte, os oficiais alemães a libertaram.
Deixa eu tirar o sapato pra te mostrar também a minha fasciite necrosante. Sim, é contagiosa.
Em 1944, Krystyna foi enviada para a França com o nome de guerra Madame Pauline, e lá trabalhou recrutando soldados e convencendo tropas inimigas a se render (em uma das ocasiões, ela escalou um penhasco de 610 metros para render uma guarnição de 200 soldados). Demonstrando ainda um talento extraordinário como atriz, Krystyna convenceu dois oficiais alemães a libertar três de seus agentes, fingindo ser a sobrinha do marechal Bernard Montgomery (o homem que planejou o dia D). Com uma gorda propina e um discurso terrorista do tipo “as tropas aliadas estão chegando (…) estou em contato com eles agora mesmo (…) vocês serão executados ainda hoje se não soltarem meus homens (…) se soltarem verei o que posso fazer para protegê-los (…) etc”, ela conseguiu fazer com que os agentes fossem soltos e garantiu a segurança dos oficiais alemães caso eles fugissem imediatamente. Mesmo assim, um deles apareceu misteriosamente morto pouco tempo depois.
Jura? Que coisa.
Krystyna ficou tão famosa, que existem hoje quatro biografias sobre ela e pelo menos duas Bond Girls inspiradas nela: Vesper Lynd e Tatiana Romanova. Sinceramente, acho que ela merecia o papel principal.
Nancy Wake
A neozelandesa Nancy Wake era jornalista em sua terra natal, mas depois de casar com um francês, se mudar para a França e ter seu novo lar ocupado por nazistas, ela decidiu que seu novo trabalho seria ser o pior pesadelo de Hitler.
Olá, meu nome é Nancy Wake e eu sou o pior pesadelo de Hitler.
Logo que a França foi ocupada, Nancy se juntou à Resistência Francesa e trabalhou ajudando soldados britânicos a escapar de volta ao Reino Unido. Em 1940 ela foi capturada, mas encarnando as habilidades de persuasão de Krystyna Skarbek, ela conseguiu convencer os oficiais de guerra que não era a mulher que eles estavam procurando. Depois de escapar, Nancy continuou seu trabalho na Resistência e logo se tornou uma das pessoas mais procuradas pela Gestapo, que oferecia uma recompensa de 5 milhões de francos pela sua cabeça. Mais tarde, ela foi para o Reino Unido e se juntou, como Krystyna Skarbek, à Executiva de Operações Especiais (SOE). Lá, ela descobriu que seu marido havia sido morto pela Gestapo e sua sede de vingança se intensificou.
Em 1944, Nancy foi enviada de pára-quedas de volta para a França para coordenar ataques da Resistência para o dia D. Em Auvergne, ela comandou uma incursão armada à central da Gestapo e a uma fábrica de armas alemã. Em uma dessas incursões, Nancy matou um sentinela alemão com as próprias mãos para impedi-lo de soar o alarme. Quando se viu separada de seu operador de rádio durante um contra-ataque alemão, ela caminhou duzentos quilômetros e pedalou outros 100 para contactar outro operador.
Felizmente, Nancy sobreviveu à guerra e foi reconhecida pelo Reino Unido com a medalha George; pelos EUA com a Medalha da Liberdade; e pela França com a Medalha da Resistência e três Croix de Guerres. Nancy morreu em 2011, aos 98 anos.
Andrée Borrel
Aos dezenove anos de idade a francesa Andrée Borrel não teve dúvidas ao ver o seu país ocupado por nazistas: ela resistiria. Logo após a ocupação, Borrel se uniu à Resistência Francesa e participou ativamente de uma rede que trabalhava para enviar soldados britânicos feridos de volta ao Reino Unido. Em 1941, no entanto, o grupo foi descoberto e Borrel teve que fugir para Lisboa, onde ficou até o ano seguinte. Em 1942, ela foi para Londres e se uniu à – você adivinhou – Executiva de Operações Especiais (SOE).
Não demorou muito e lá estava Borrel aterrisando de volta na França de pára-quedas junto com a também heroína de guerra Lise de Baissac (as duas foram as primeiras mulheres na guerra a serem enviadas de pára-quedas para a França ocupada). De volta em Paris, Borrel trabalhou com espionagem e sabotagem de guerra para a rede Prosper e em pouco tempo já era a segunda em comando na rede. Infelizmente, o grupo foi traído e, em 1943, vários de seus membros (inclusive Borrel) foram presos pela Gestapo e enviados para um campo de concentração. Lá, Borrel e seus colegas receberam injeções letais antes de serem incinerados, mas Borrel não se entregou tão fácil: depois de receber a injeção ela ainda assim acordou e lutou com unhas e dentes, deixando uma grande cicatriz no rosto de um dos executores. Seus esforços, no entanto, foram em vão e ela acabou sendo queimada viva.
Borrel foi reconhecida postumamente pelo governo francês com uma Croix de Guerre e aparece na Lista de Honra do Memorial da Executiva de Operações Especiais. Uma aquarela de Borrel e de suas três colegas mortas no campo de concentração está pendurada no Clube das Forças Especiais, em Londres.
Cecile Pearl Witherington
Cecile Pearl Witherington ingressou na guerra um pouco mais tarde do que as outras mulheres dessa lista, mas nem por isso merece menos reconhecimento. Britânica nascida na França, Pearl fugiu para o Reino Unido quando seu país foi ocupado, mas retornou em 1943 como agente da SOE.
Inicialmente, Pearl trabalhou com espionagem, mas foi quando seu superior foi preso que ela realmente brilhou. Assumindo o seu lugar, Pearl recebeu mais de 1500 soldados que desceram de pára-quedas para a invasão da Normandia do dia D. Em pouco tempo, os alemães já estavam oferecendo uma recompensa de um milhão de francos por sua cabeça, o que não a impediu de lutar. Mais de 1000 soldados alemães foram mortos sob o seu comando, dezenas de comboios atacados, e mais de 800 sabotagens no sistema ferroviário que ligava a Normandia ao sul da França foram executadas pelas suas tropas – e isso só no mês do dia D. Nos últimos dias da ocupação, ela comandou a rendição de cerca de 18.000 soldados alemães.
Pearl foi reconhecida pelo Reino Unido com a Ordem do Império Britânico; e pela França, com a Legião da Honra. Ela morreu em 2008, aos 93 anos de idade.
Virginia Hall
Enquanto todas as mulheres acima lutaram contra nazistas, existe uma que o fez se equilibrando em apenas uma perna. Devido a um acidente no começo da década de 1930, Virginia Hall acabou lutando na Segunda Guerra Mundial com uma prótese de madeira – apelidada de Cuthbert – no lugar de uma de suas pernas.
O acidente aconteceu em 1932, na Turquia, enquanto ela caçava.
Hall era americana, mas estava em Paris quando a guerra estourou. Sem querer ficar parada, ela trabalhou como motorista de ambulância até a ocupação, quando então fugiu para Londres e ingressou na SOE. De volta à França, ela organizou a resistência na região de Vichy, ajudou soldados feridos e comandou incursões sob o disfarce de correspondente estrangeira do The New York Times. Em 1942, os alemães declararam Hall uma das mais perigosas espiãs dos Aliados, apelidando-a de A Senhora que Manca. Essa perseguição fez com que Hall fugisse da França, mas ainda assim ela continuou na ativa. De volta aos EUA, ela logo ingressou na Agência de Serviços Estratégicos (OSS) – o equivalente americano do SOE. Em 1944, Hall foi enviada de volta para a França, onde aterrissou de pára-quedas, com a prótese Cuthbert dentro da mochila.
Em território francês, Hall mapeou zonas para entrega de suprimentos e soldados da Inglaterra, encontrou abrigos, treinou três batalhões de forças da Resistência em táticas de guerrilha contra os alemães, organizou sabotagens e ajudou a Resistência no dia D. Mais tarde, Hall ingressou na CIA, onde trabalhou até se aposentar em 1966.
Sério, Hollywood, cadê o filme contando a história dessa mulher?
Seus esforços foram reconhecidos pelo governo americano com a Distinguished Service Cross – a única condecoração de guerra entregue a uma mulher civil durante a Segunda Guerra Mundial. Hall morreu em 1982, aos 76 anos.
Dicas de livros para quem quer saber mais sobre mulheres incríveis da História:
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