Alfinetes de Chapéu – A Moda que Virou Arma contra Assédio Há Um Século Atrás
Belo, prático e letal.
Não era nada fácil ser mulher há um século atrás. Além de não poder votar e não ter voz política nenhuma, a moda da época pirava na ideia de mulheres ostentando pequenos animais empalhados em suas cabeças.
Carregar um beija-flor empalhado no chapéu era o ápice da elegância, mas frutas artificiais, penas mil, flores e pequenos roedores e répteis também não eram nada mal.
A moda dos extravagantes chapéus eduardianos começou por volta de 1880 e, como consequência, fez explodir a popularidade dos alfinetes de chapéu, usados em par para prender firmemente a miscelânea de esculturas na cabeça das mulheres. Produzidos em larga escala a partir de 1832, os alfinetes de chapéu logo se tornaram um item de moda em si, ostentando nas pontas todo tipo de ornamento.
Eu queria algo discreto, sabe. Pra não interferir com o meu chapéu de abacaxi e penas de avestruz. Sim, esses de bules de esmeralda são perfeitos!
Inesperadamente, junto com os alfinetes de chapéu veio também a chance de as mulheres se defenderem de ladrões, pervertidos e estupradores. Com mais de 20cm de comprimento, os alfinetes de chapéu – apesar de não serem necessariamente afiados – passaram a ser usados como armas de defesa em todo tipo de situação de perigo que as mulheres enfrentavam.
Em um dos casos, em 1903, uma jovem turista espetou um velho pervertido que a estava perturbando em um bonde em Nova York. Em outro, em 1907, uma jovem de dezoito anos conseguiu evitar um estupro ao espetar o seu atacante no rosto e na barriga. Logo, os jornais da época começaram a transbordar de casos como esses, sempre contados de forma vitoriosa, exaltando as mulheres heroínas. Era a primeira vez que mulheres se defendiam de ataques e eram elogiadas e admiradas por isso (ao invés de virarem motivo de chacota, como costumava ocorrer). Era o começo da aceitação do desejo das mulheres de se tornarem independentes.
Aproveitando a deixa, as sufragistas, que lutavam pelo direito ao voto, passaram a discutir o direito das mulheres de andar sozinhas na rua sem medo de serem atacadas. Contrárias às noções da época, elas rejeitavam a ideia de que mulheres desacompanhadas não deviam usar maquiagem e andar com os calcanhares à mostra, para evitar chamar atenção dos homens.
Vem cá, é impressão minha ou o problema aqui não é a roupa?
Os opositores ao voto feminino, percebendo que não conseguiriam ganhar essa discussão através de sua tática costumeira de xingar as sufragistas de feias, solteironas e mal-comidas, logo adotaram uma tática mais perversa. Em pouco tempo, começaram a pipocar inúmeras histórias duvidosas sobre os perigos do alfinete de chapéu. Teve a história da menina que matou o namorado sem querer com o seu alfinete; o caso do homem inocente que entrou em coma e morreu depois de levar uma espetada acidental no bonde; e até um caso bizarro de uma mulher e a amante do seu marido duelando com seus alfinetes de chapéu até a morte.
Juro que aconteceu! O irmão da amiga do vizinho da minha avó viu tudo!
Não demorou muito e logo os alfinetes de chapéu já eram comparados a espadas por homens que não conseguiam mais assediar livremente. Em 1910, uma lei foi votada em Chicago para multar mulheres com alfinetes de chapéu muito compridos e sem proteção na ponta – uma resolução que viajou por todo os EUA, Europa e até Austrália.
No fim, a discussão sobre os alfinetes de chapéu acabou morrendo com a chegada da Primeira Guerra Mundial e de novas modas. Mas sabe o que continua bem vivo? O assédio e violência contra mulheres nas ruas. Hoje, mais de um século depois dessa história toda, nós ainda não podemos andar nas ruas sem medo de assédio e ainda usamos objetos inusitados como armas contra possíveis ataques. Nesse ano mesmo, a estudante de fotografia Taylor Yocom fez um ensaio fotográfico com suas colegas de sala retratando os objetos que elas usam em pleno 2015 para se proteger nas ruas.
Chaves e sprays de pimenta são os mais populares.
Sinceramente: precisamos mudar mais rápido.
Leia também sobre o fato de assédio de rua ter muito mais a ver com poder do que com sexo; e sobre as coisas simples que as mulheres deixam de fazer por medo de assédio.