O Futuro do Sexo Seguro
Estamos mais próximos do que nunca de uma nova geração de métodos de proteção para a garantia do sexo seguro.
Atualmente, a camisinha (masculina e feminina) é o único método contraceptivo disponível que protege tanto contra uma gravidez indesejada, como contra doenças sexualmente transmissíveis. Porém, sejamos francos, ela não é perfeita. Tanto não é perfeita, que o seu uso ainda é tremendamente impopular: estima-se que apenas 5% dos homens a usam em todo o mundo. Fatores culturais e falta de informação são alguns dos grandes responsáveis, mas mesmo em lugares do mundo onde existe informação e recursos de sobra, a camisinha permanece impopular. A verdade é que ninguém gosta muito dela, por mais que alguns modelos tentem nos cativar com cores, sabores, texturas e brilhos mil.
Os motivos para o desgosto são vários. A camisinha que temos hoje pode causar dor e irritação em homens e mulheres que possuem maior sensibilidade ao látex. Ela também é chatinha de colocar, o que gera certa frustração na hora do ‘vamos ver’. Além disso, para alguns homens, ela fica muito apertada; para outros, fica larga e pode acabar saindo. E por último, ela altera a sensação (e não para melhor).
O fato de a camisinha diminuir o prazer para muitos homens e mulheres explica por que muitas pessoas abrem mão de fazer sexo seguro. Estudos na área comprovam que a maior desvantagem da camisinha é que ela diminui a sensibilidade e, consequentemente, que homens que acreditam que a camisinha diminui o prazer sexual tem maior tendência a esquecê-la para sempre na gaveta. E não são poucos os homens que acham isso: de acordo com o Journal of Sex Research, 80% dos homens já tentaram resistir ao uso da camisinha na hora H.
No fim das contas, quem usa camisinha o faz puramente por motivos de saúde e/ou contracepção. Seu papel no ato sexual está longe de trazer ou adicionar prazer. Na verdade, o máximo de positivo que se pode dizer sobre a camisinha é que ela não necessariamente atrapalha. E isso é verdade há pelo menos trinta anos. Pois desde o surgimento da primeira camisinha moderna, não houve nenhuma grande mudança que tornasse o seu uso mais confortável, vantajoso (em termos de prazer) ou popular.
Isto é, até agora. Nos últimos anos, mudanças significativas em pesquisa vêm acontecendo. Mudanças que podem nos trazer a camisinha do futuro: algo que não só proteja contra gravidez e doenças, mas que também preserve ou aumente o prazer na relação sexual. Em 2013, por exemplo, um programa de bolsas foi lançado pela Fundação Bill e Melinda Gates para o desenvolvimento de uma camisinha melhor. Depois de avaliar 800 pedidos de bolsa, a fundação escolheu 11 protótipos para serem desenvolvidos e testados. O objetivo por trás do programa é fazer com que o uso da camisinha – ou de algo similar – aumente consideravelmente, principalmente em países em desenvolvimento.
Para tanto, a fundação entendeu algo fundamental nessa história toda: adesão universal à camisinha só será alcançada quando ela deixar de ser algo que atrapalha o prazer para se tornar algo que contribui para ele. Ron Frezieres, bolsista da fundação e pesquisador da área há mais de trinta anos, explica de forma bem clara. De acordo com ele:
“Mesmo se uma camisinha tivesse o dobro de chances de estourar…mas se todo mundo a amasse, se ela melhorasse o sexo – talvez só isso já seria realmente incrível: conseguir 100% de utilização de um produto que tem 2% de chance de falha, ao invés de 50% de utilização de um produto com 1% de chance de falha”.
E com isso, estamos hoje mais próximos do que nunca de uma nova geração de métodos de proteção para garantir que as pessoas façam sexo seguro. Confira abaixo algumas possibilidades bem reais para um futuro próximo:
A Camisinha Origami
Mais maleável do que a camisinha de latex, a camisinha origami é mais fácil de colocar e se adequa ao movimento dos corpos durante o sexo.
Camisinha tradicional à esquerda e origami à direita.
Anel vaginal que protege contra o HIV, herpes e gravidez
Carregado com o hormônio levonorgestrel (utilizado em contraceptivos regulares e em pílulas do dia seguinte) e com a medicação Tenofovir (utilizado no coquetel anti-HIV), o pequeno e maleável anel tem a vantagem de poder ser inserido pela própria mulher sem que o parceiro saiba. O anel está na primeira fase dos testes clínicos.
Filme vaginal que protege contra HIV e herpes
Carregado de anticorpos monoclonais (do tipo que combate doenças sexualmente transmissíveis) esse método também é promissor e pode chegar ao mercado nos próximos 10 anos.
Gel vaginal que protege contra HIV e herpes
Mais um método que empodera as mulheres e as torna protagonistas na proteção de sua própria saúde sexual, este gel é composto de Tenofovir e deve ser aplicado diariamente. Já está sendo testado em pacientes na África do Sul e pode atingir o mercado antes de 2025.
Camisinha de Hidrogel
Similar ao material usado em lentes de contato, o hidrogel tem a vantagem de parecer muito mais com a pele humana ao toque do que uma camisinha de látex. Financiada pela Fundação Bill e Melinda Gates, a pesquisa está sendo conduzida na Universidade de Wollongong (Austrália). De acordo com a universidade: “Uma vez que temos um material que é forte, seguro e potencialmente mais prazeroso, passaremos de uma situação em que “temos que usar uma camisinha” para uma em que vamos “querer usar uma camisinha”. Sim, sexo seguro poderá ser mais prazeroso do que sexo desprotegido.
Tablete que protege contra HIV e herpes
Também carregado de Tenofovir, esse tablete se dissolveria na vagina para proteger a mulher contra HIV e herpes. No momento, os pesquisadores estão se esforçando para fazer com que ele se dissolva mais rápido, reduzindo o desconforto.
Gel vaginal que protege contra tudo
A grande promessa é o gel feito com um polímero (Polyphenylene carboxymethylene) que bloqueio o caminho dos vírus. Se os testes forem bem sucedidos, ele poderá proteger contra HIV, clamídia, gonorréia, herpes, HPV e gravidez. Infelizmente as pesquisas ainda estão no início.
Fontes: Slate, NYMag e Elite Daily.