5 Modas Femininas que Dificultaram a Vida de Mulheres no Passado
Conhecer mais sobre a história da moda feminina pode nos dar um panorama interessante da situação das mulheres em diferentes épocas do passado.
Moda é um negócio difícil. Existem inúmeras complexidades e significados que diferentes itens de moda podem assumir para diferentes grupos e pessoas. Um salto alto, por exemplo, pode significar tortura para muitas mulheres, mas empoderamento para outras. Da mesma forma, a liberdade de poder usar um biquini pode não significar nada se levarmos em consideração as exigências incessantes e vexatórias em relação aos nossos corpos.
Ahh! A liberdade de usar biquíni depois de mergulhar em cera quente e ter ficado ficado três semanas sem comer.
Mesmo itens como o hijab (véu) muçulmano podem significar tanto opressão como libertação, dependendo do contexto. O fato é que a moda é criada de acordo com as hierarquias e dinâmicas de poder na sociedade. Hoje em dia, embora muito da moda ainda seja influenciada pelo olhar masculino e por uma mentalidade predominantemente machista, tudo o que já conquistamos e estamos conquistando em termos de feminismo nos permite fazer escolhas e questionamentos que têm cada vez mais o poder de moldar a moda a nosso favor. Por outro lado, há três séculos atrás, por exemplo, em um mundo pré-feminismo, mulheres tinham muito menos chances de se libertar de modas opressivas.
E quando eu digo modas opressivas, não estou estou exagerando.
Muito da moda feminina européia do passado era basicamente um enorme dedo do meio bem no meio da fuça de qualquer ideal de liberdade feminina. Como a estética feminina nunca deixou de ser algo exacerbado no ideal machista de feminilidade –
– e a ditadura da beleza e do corpo perfeito é apenas a versão atual desse ideal
– conhecer a moda feminina de épocas passadas é também ter um panorama interessante da mentalidade daquelas épocas em boa parte da Europa e seus domínios. Alguns itens de roupa, inclusive, podem ser vistas até como representações literais da prisão moral e social a que mulheres eram confinadas. Pensando nisso, separei alguns particularmente torturantes que foram figurinhas carimbadas da moda européia/ocidental de séculos passados. Itens como…
Petticoats (anáguas)
Os petticoats, ou anáguas, surgiram por volta de 1585 e somente no último século se tornaram o inofensivo tecido fininho que vemos hoje em dia por baixo de vestidos transparentes. Nos seus primeiros séculos de uso, a anágua podia ser volumosa ou dura e sua função era criar volume na região do quadril da mulher, criando a ilusão de uma cintura mais fina e um corpo encorpado – associado à riqueza, saúde e nobreza.
No século XIX, as anáguas tinham tantas voltas e eram tão volumosas que, somado ao espartilho, o seu peso fazia as mulheres desmaiarem frequentemente. Felizmente, depois de quatro séculos de uso, as anáguas caíram em desuso no começo do século XX.
Pannier
Os pannier, ou ancas, eram estruturas imensas feitas de barbatanas de baleia ou galhos de vime/salgueiro usadas por baixo das saias, que se estendiam por até 3 metros para os lados.
Com um pannier, uma mulher da corte podia cumprir com perfeição o seu papel de decoração, pois a peça funcionava como uma tela plana onde enfeites, laços, costuras e bordados podiam ser apreciados de frente. E para melhorar, as mulheres que o usavam se tornavam impossibilitadas de dividir um sofá com alguém, sentar em cadeiras ou mesmo sair da sala, porque né, portas. A peça surgiu no século XVII e foi usada até 1870.
Crinolina/Cage
Por incrível que pareça, a crinolina foi a primeira peça de roupa usada por todas as classes sociais. Feita de barbatana de baleias e, mais tarde, de aço, a crinolina funcionava como uma gaiola (ironicamente, cage, em inglês) que podia chegar até 3 metros de largura, coberta com várias camadas de anáguas, para suavizar e disfarçar a estrutura.
Os problemas com o uso de tal instrumento ridículo são óbvios. Para começar, a mobilidade das mulheres era amplamente restrita, e mesmo atividades corriqueiras – como sentar – se tornavam uma ameaça, pois se não o fizessem da maneira correta (repito: sentar!), a crinolina podia voar em seus rostos. Outros problemas clássicos incluíam: passar por portas, entrar em carruagens, ficar presas em máquinas, pegar fogo.
É. Pegar. Fogo.
O uso da crinolina é um daquelas casos clássicos em que a moda representa bem a mentalidade de uma época. No caso, esse era o século XIX, época em que as mulheres deviam ser frívolas, inativas, delicadas e submissas. Seu uso se tornou popular a partir de 1829 e perdurou até meados de 1870, quando deu espaço à crinolette e, logo em seguida, ao bustle.
Bustle/Crinolette
O crinolette foi uma variação da crinolina, com a frente e os lados mais estreitos e a parte de trás mais volumosa. Rapidamente, no entanto, o crinolette foi substituído pelo bustle, que formava um volume somente na parte de trás, com tecidos pesados.
A ideia era dar às mulheres uma aparência de cintura fina e quadril largo, em conjunto com o espartilho. Seu uso foi popular entre 1870 e 1910.
Espartilho
Hoje em dia o espartilho é visto como uma peça sensual, mas sua história e significados são vastos e diversos. Surgidos por volta de 1500, os bodies – como eram os espartilhos chamados na época – eram usados apenas pela aristocracia européia, para criar uma silhueta altiva e rígida.
Na época, os médicos acreditavam que o uso da peça era necessário para sustentar o crescimento do corpo. A diferença é que os meninos podiam parar de usá-la por volta de 6 anos de idade, enquanto as meninas, vistas como fracas e incapazes de se sustentarem sem apoio, precisavam usá-la a vida toda.
Médicos misóginos, o pior tipo que existe.
Ao longo dos séculos a peça foi mudando de formato e função, ora funcionando como suporte para os seios, ora enrijecendo a silhueta feminina e tornando-a mais atraente, ora afinando-lhe a cintura. Com a Revolução Francesa e a rejeição a tudo que tivesse relação com a aristocracia, os stays – como eram chamados então – foram abandonados. Não demorou muito, no entanto, e eles voltaram do inferno por volta de 1850, na figura do clássico corset vitoriano – ou espartilho – de cintura afinada. Seu uso, extremamente popular com a produção em massa, se tornou uma exigência para as mulheres que queriam parecer atraentes e respeitosas (isto é, todas, dado que mulheres não tinham muitas opções além de se casar).
Como já mencionado acima, o espartilho apertado muitas vezes fazia com que as mulheres desmaiassem. Entre outros efeitos colaterais agradáveis temos também incontinência urinária, azia, hiperventilação e ataques de pânico. Felizmente, a peça caiu em desuso no começo do século XX.
Leia também Alfinetes de Chapéu: A Moda que Virou Arma Contra Assédio há um Século Atrás; e O Véu Muçulmano como Expressão de Beleza.
Flavio loriao
October 9, 2017 @ 1:25 am
Diferenciado, vou seguir a lara a partir deste post. Está de parabens