#MeuAmigoSecreto e o Poder da Hashtag
A hashtag #primeiroassedio e #meuamigosecreto, entre outras, inauguram um momento de quebra de silêncio praticamente inédito para as mulheres.
A reviravolta começou no final de outubro, quando uma criança de 12 anos, participante do programa MasterChef Júnior, foi vítima de comentários de teor sexual na internet. Enquanto alguns se indignaram e trataram o caso como algo completamente único, decorrente da perversão de alguns poucos, milhares de mulheres se levantaram para mostrar que o assédio de crianças é completamente normalizado em nossa sociedade. Através da hashtag #primeiroassédio, elas tomaram as redes sociais para contar ao mundo as primeiras experiências de assédio de que têm lembrança. Foram mais de 80 mil tweets, que revelaram uma informação assustadora: a idade média do primeiro assédio é de 9,7 anos e grande parte dos crimes são cometidos por conhecidos.
A análise foi conduzida pela ONG Think Olga.
Embora a internet já seja palco há algum tempo de denúncias que mostram o quão profundamente vivemos o machismo, essa foi a primeira vez que houve uma mobilização tão grande em torno de um assunto tão doloroso, escondido sob a teia de culpabilização de vítimas tecida pelo machismo para acobertar comportamentos criminosos de homens. Apoiadas e incentivadas pelos relatos de outras mulheres, a quebra de silêncio foi geral e catártica. Pela primeira vez nossos relatos e traumas tiveram validação. Pela primeira vez, aprendemos que não somos culpadas e não estamos sozinhas.
Estamos juntas e somos incríveis.
Felizmente, esse foi só o começo. Essa semana, embalada pelo Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher, outra hashtag explodiu nas redes sociais. Fazendo uma alusão ao Amigo Secreto, tradicional brincadeira de fim de ano, a hashtag #meuamigosecreto tem como objetivo denunciar comportamentos machistas e violentos de homens próximos de nossa convivência – amigos, familiares, namorados, maridos.
A contribuição genial da talentosa Indira Nascimento, em forma de poema.
Dessa vez, a hashtag está revelando uma infinidade de situações de abusos físicos, psicológicos, materiais e morais que são absolutamente normalizados e presentes no cotidiano de todas as mulheres. A quebra de silêncio, mais uma vez, é não só catártica, como extremamente importante. Como bem disse Pâmela Guimarães da Silva, em texto postado no Geledés, “o movimento proporciona a derrubada dos primeiros (e maiores) obstáculos das vítimas: a vergonha e o silêncio (…). #primeiroassédio e #meuamigosecreto não são apenas relatos, são marcas simbólicas de um movimento de subversão de preconceitos de gênero (e sexualidade). São floradas.”
Muitos homens não estão gostando. Como sempre, muitos tentam deslegitimar, ridicularizar, minimizar. Eles fazem isso tanto numa tentativa de se agarrar a privilégios que estão aos poucos perdendo, como para “se defender”.O machismo é tão parte do funcionamento da nossa sociedade, que mesmo aqueles “caras legais” são certamente culpados de serem machistas em algum aspecto.
E ninguém quer ser vilão. Ficam incomodadíssimos. Então muitos se negam a entender esses movimentos e nos chamam de loucas, ao invés de reconhecer que muitos comportamentos e crenças internalizadas precisam mudar. Empresto algumas reflexões de minas geniais muito pertinentes sobre o fenômeno:
E põe não cola nisso.
Confira abaixo uma compilação de alguns relatos feitos com a hashtag #meuamigosecreto.
Leia também sobre a campanha contra o racismo que expõe comentários racistas em outdoors; e veja as fotos “sexy” que mulheres cientistas postaram no Twitter como resposta ao comentário machista do Prêmio Nobel Tim Hunt.