Campanha contra o Racismo na Internet Expõe Comentários Racistas em Outdoors
A iniciativa, conduzida pela ONG Criola, leva a mensagem à região onde o criminoso mora e tem o objetivo de fazer com que a sua comunidade se engaje contra o racismo.
Imagina a cena linda:
Sentindo-se seguro com a impunidade supostamente garantida na internet, o cidadão posta comentário racista na foto de uma pessoa negra no Facebook. Dias depois, dá de cara com nada menos que um outdoor estampando o seu comentário asqueroso na esquina de casa, pra todo mundo ver, seguido do aviso: Racismo virtual. As consequências são reais.
Achou que estava bem escondido, né queridinho!
Parece um sonho, mas isso é de fato o que a ONG Criola, conduzida por mulheres negras, já está fazendo. A iniciativa surgiu depois do caso Maju, em julho desse ano, quando a jornalista Maria Júlia Coutinho foi alvo de comentários racistas na página do Jornal Nacional, no Facebook. E embora o seu caso, assim como o da atriz Taís Araújo, tenham ganhado ampla repercussão na mídia, eles são uma pequena amostra do que acontece todos os dias com milhares de pessoas negras na internet. Apenas em 2014, mais de 86.000 casos de racismo na internet foram registrados no Brasil. Mais de 7000 páginas com conteúdo racista foram retiradas da internet. Com isso, o objetivo da Criola, de acordo com sua fundadora Jurema Werneck, é de fazer com que a mensagem chegue até o criminoso e que sua comunidade se engaje contra isso.
A identidade do agressor é ocultada nos outdoors e busdoors, mas não se engane – tanto a ONG como a Justiça sabem quem eles são.
Aí pode ser que alguém venha com um papo tipo “affe, que desnecessário! tanto problema maior e vocês se preocupando com facebook”. Só que, amigo(a), racismo na internet não é frescura. Não é só xingamento e pessoas sendo desagradáveis. Além de causar constrangimento e danos reais para a vítima, ele é um reflexo do que acontece na vida real. Você acha que não é nada alguém comentar algo nojento sobre o cabelo de uma mulher negra na internet, mas nem imagina que muitas mulheres negras não conseguem emprego por causa do cabelo, né? Ou se veem obrigadas a alisar para serem contratadas.
E esse é só um exemplo. O preconceito racial que se manifesta de pessoa para pessoa pode parecer coisa de poucos indivíduos perturbados tamanha é a nossa ânsia de acobertar todo o nosso racismo sob o mito de democracia racial, mas não se engane. Ele é bem real em toda a sociedade (sim, até em quem não chama negro de macaco – leia esse texto excelente da Joice Berth, faz favor) e peça chave no sistema intrincado que reforça o racismo entre as nossas instituições e estruturas societais.
A iniciativa da Criola foi implementada em parceria com a agência de comunicação W3haus e conta com o apoio do coletivo Meninas Black Power, também conduzido por mulheres negras.
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